Melhor investimento com a Selic em 14,75%: renda fixa é o caminho?
Após quase duas décadas, a Selic retorna ao patamar de 14,75%. É a hora de apostar tudo na renda fixa? Entenda.

Desde o último ano, a Selic vem registrando sucessivos aumentos a cada nova reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), sem que haja, até o momento, sinais concretos de desaceleração no avanço da taxa que serve como referência para os juros da economia brasileira.
Em março, a taxa básica de juros chegou a 12,25%, nível semelhante ao registrado durante o segundo mandato de Dilma Rousseff, em 2016. Agora, nesta quarta-feira (07), o comitê, em linha com as estimativas do mercado, elevou a taxa em mais 0,5 ponto percentual, alcançando 14,75%.
Embora o aumento desta vez tenha sido menos agressivo em comparação aos ajustes anteriores, o novo percentual chama atenção por elevar a Selic ao maior patamar desde 2006. Em outras palavras, o Brasil volta a registrar o nível mais alto de juros dos últimos 19 anos.
Quem tem ao menos uma noção básica sobre investimentos provavelmente já ouviu falar que a alta da Selic tem uma ligação positiva com a renda fixa — e isso é verdade. Quanto maiores os juros, mais atrativos tendem a ser os investimentos nesse segmento. Mas afinal, quais são as opções disponíveis? E será que esse é o único caminho possível? Vamos entender melhor.
O que é a Selic e por que ela está tão alta em 2025?
Antes de explorarmos potenciais ativos para investir, vale a pena entender com mais clareza o que é, afinal, a Taxa Selic e para que ela serve. Se você já domina esse assunto, tudo bem, pode seguir adiante. Mas o ponto é que entender essa taxa é essencial para enxergar, de fato, o impacto que ela tem sobre os investimentos. Então vamos direto aos principais pontos.
- A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Ela serve como referência para todas as outras taxas praticadas no país — como as cobradas em empréstimos, financiamentos e também nos rendimentos de diversos investimentos, especialmente os de renda fixa. A sigla vem de “Sistema Especial de Liquidação e de Custódia”, onde o governo negocia seus títulos públicos.
- O Banco Central é o responsável por definir a Selic, por meio do Comitê de Política Monetária, o Copom. O comitê se reúne periodicamente — geralmente a cada 45 dias — para analisar o cenário econômico e decidir se a taxa será mantida, elevada ou reduzida.
- A lógica básica por trás dessa definição não é tão difícil de se entender. Em suma, quando a inflação está subindo, o BC tende a elevar a Selic para encarecer o crédito, desestimulando o consumo e, com isso, conter a alta dos preços. Por outro lado, se a inflação está controlada e a economia precisa de estímulo, a tendência é de queda na taxa.
Altíssimos patamares marcam 2025
O Brasil atravessa hoje um cenário incomum de juros elevados, em níveis que remetem a períodos economicamente delicados. A última vez que a Selic alcançou os 14,75% foi em julho de 2006. Ou seja, estamos lidando com o maior patamar de juros no país nos últimos 19 anos.
Conforme o levantamento do MoneYou, em janeiro deste ano, o Brasil liderava o ranking global de juros reais — taxa que considera o juro nominal descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses. Na atualização mais recente da pesquisa, o país aparece na quarta posição, com um juro real de 8,79%, atrás apenas de Rússia (8,91%), Argentina (9,35%) e Turquia (11,9%).
E os sinais de alívio ainda não são claros. Segundo o último Boletim Focus, o mercado projeta mais uma alta de 0,25 ponto percentual na Selic em junho, elevando a taxa para 15%. Para o fim de 2025, a expectativa é que a Selic feche em 14,75%.
Esteja 100% entendido do assunto:
Vantagens de investir em renda fixa com a Selic alta
Antes de falar sobre as vantagens de investir com a Selic alta, é preciso ser realista. Quando os juros estão elevados — principalmente no nível atual —, isso é sinal que a inflação também está pressionada. Para ter uma ideia, o IPCA acumulado nos últimos 12 meses foi de 5,48%. Em 2025, até o momento, o índice já acumula 2,04%, enquanto em 2024 havia encerrado o ano com 1,42%.
Em termos simples, isto quer dizer que tudo cobrado em produtos e serviços está mais caro. Um bom exemplo é a inflação dos alimentos: entre março de 2024 e março de 2025, os preços desse grupo acumularam alta de 7,10%. Entre os maiores aumentos estão o café moído (66,18%), o óleo de soja (23,39%) e as carnes (21,98%).
Ainda assim, é verdade que quem tem uma boa quantia aplicada em renda fixa tende a se beneficiar nesse cenário. Com recursos disponíveis, é possível superar a inflação e, ao mesmo tempo, manter o investimento em ativos de menor risco. Nesse contexto, a XP Investimentos, por exemplo, mantém uma perspectiva otimista para o setor.
“Permanecemos com uma visão positiva para a renda fixa de maneira geral, incluindo pós-fixados e, sobretudo, títulos atrelados à inflação (IPCA+) com vencimentos intermediários (cerca de cinco anos de duration), uma vez que os juros nominais e reais permanecem em patamares elevados, permitindo retorno atrativo aos investidores”.
Melhores investimentos com Selic a 14,75%

Se tratando de renda fixa, entenda o que dizem os analistas do mercado diante do alto patamar da Selic.
Tesouro Direto (Tesouro Selic e Tesouro IPCA+)
O Tesouro IPCA é quase uma unanimidade entre as recomendações dos analistas. Segundo a equipe da XP, a inflação deve seguir acima da meta estabelecida pelo Banco Central nos próximos anos, o que reforça a importância de manter ativos atrelados ao IPCA na carteira. Entre as sugestões da corretora para este mês de maio, ganha destaque o Tesouro IPCA+ (NTN-B) com vencimento em maio de 2029.
“Consideramos importante manter parte da carteira indexada ao IPCA como proteção contra a perda do poder de compra ao longo do tempo”, analisa a XP.
A Toro Investimentos também chama atenção para o Tesouro Selic. De acordo com a equipe de analistas da corretora, o título é uma alternativa interessante em cenários de juros elevados, já que sua rentabilidade acompanha diretamente a variação da Selic. Trata-se de uma “boa opção para quem deseja manter o valor investido com poucas chances de perdas”, diz.
Crédito privado: CDBs, LCIs, LCAs, debêntures
Aqui vale a diversificação — e o crédito privado oferece boas oportunidades nesse sentido. Os CDBs, por exemplo, são títulos emitidos por bancos que oferecem rentabilidade atrelada ao CDI. Já as LCIs e LCAs também seguem essa lógica, mas contam com o diferencial de serem isentas de Imposto de Renda para pessoas físicas.
Para o mês de maio, entre as recomendações da XP nesse segmento estão:
- CDB do Agibank – Vencimento em abril de 2028, com rentabilidade de 107% do CDI.
- LCA do Sicoob – Vencimento em abril de 2028, pagando 105,8% do CDI, com isenção de IR.
- Debênture da Eletrobras (ELET16) – Título com vencimento em setembro de 2034, emitido pela Eletrobras (ELET3).
Além do investimento direto nos produtos financeiros, os fundos de crédito privado também merecem atenção. É o que diz Andressa Bergamo, especialista em mercado de capitais e sócia-fundadora da AVG Capital. Segundo ela, esses fundos tendem a oferecer retornos mais elevados em períodos de Selic alta, já que as empresas costumam pagar prêmios maiores para compensar o risco de crédito e atrair investidores.
“Esses fundos podem oferecer um rendimento superior ao de fundos de renda fixa tradicionais, embora com um risco adicional relacionado ao crédito dos emissores”, pontua a especialista.
Fundos de Renda Fixa
Bergamo destaca que, para os investidores com perfil mais conservador, os fundos de renda fixa continuam sendo uma opção interessante — especialmente aqueles de curto prazo. Nesse cenário, Thiago Nigro, o Primo Rico, compartilha insights valiosos para quem busca diversificar a carteira utilizando esses instrumentos.
Com base na análise dos especialistas da Finclass, o empresário e educador financeiro apresenta sugestões alinhadas à expectativa de uma queda da Selic no longo prazo, com foco na diversificação do portfólio. Entre os destaques estão os ETFs FIXA11, composto por 82% em Tesouro Selic e 18% em Tesouro Prefixado, e o IDKA11, que reúne uma carteira concentrada em títulos prefixados.
Bônus: dolarizar os investimentos?
Uma dica extra para o investidor vem, desta vez, do Primo Pobre. Segundo Eduardo Feldberg, os níveis extremamente altos da Selic são “mais um motivo para você não ter todo o seu patrimônio no Brasil”.
A sugestão do influenciador e educador financeiro é clara: dolarize parte da sua carteira. Afinal, como ele mesmo aponta, “um país com economia boa não tem a taxa de juros que a gente tem aqui”.
“Além de diversificar o portfólio, o investimento na moeda americana pode ser uma estratégia de proteção contra a volatilidade e maximização de oportunidades globais”, diz Tiago Villas Bôas, Sócio e Superintendente Comercial da Investsmart.
- Por aqui, contamos com um conteúdo exclusivo de Villas dedicado a essa estratégia de investimentos. Para quem se interessa em saber mais, vale conferir:
E a renda variável? Vale a pena?
De forma geral, a renda variável tende a se tornar menos atrativa em cenários de juros elevados — especialmente quando se trata da Bolsa de Valores.
Mas sobre esses aspectos, cabe destacar aqui, a interessante visão do empresário e escritor Eduardo Mira, mais conhecido como “Professor Mira”. Ele é especialista em finanças e investimentos, analista CNPI-T (Anbima) e investidor profissional.
Para Mira, “a questão não é o agora, e sim o que vem depois”. Ele reconhece que a renda variável envolve riscos e exige disciplina, planejamento e uma visão de longo prazo. No entanto, ignorar esse tipo de investimento pode significar perder oportunidades de ganhos que só se realizam com o tempo e com a valorização consistente dos ativos.
“Minha orientação continua a mesma: tenha clareza sobre seus objetivos, prazos e necessidades. Coloque tudo no papel. Planeje. Porque é só assim que você vai conseguir tomar decisões alinhadas com o que realmente importa: o futuro que você quer construir”, diz o professor em publicação no portal da B3.
Perspectiva da XP para o mercado acionário
A XP destaca que a elevação dos juros costuma exercer pressão negativa sobre empresas e ativos de risco em geral. Isso acontece porque, com taxas mais elevadas, o custo de capital aumenta, tornando mais caro o financiamento das atividades empresariais.
“Juros mais altos tendem a ser negativos para empresas e ativos de risco de forma geral. Afinal, isso piora a relação risco-retorno das ações e outros ativos de risco, e encarece o custo de capital para as empresas, que tendem a pagar mais para financiar suas atividades”, comenta a equipe da XP.
No entanto, a corretora pondera, destacando que o impacto não é uniforme entre os diferentes setores da economia. Segmentos que dependem fortemente de capital costumam ser os mais afetados, “já que costumam apresentar uma alavancagem financeira mais elevada e um caráter cíclico”, diz.
É possível prever a taxa selic até 2027?
Não exatamente! Como se pode deduzir, o que existe são projeções feitas por economistas, instituições financeiras e o próprio Banco Central, baseadas em modelos econômicos e nas condições atuais da economia. Essas projeções, no entanto, estão sujeitas a mudanças frequentes, pois a Selic é definida pelo Copom, periodicamente.
A título de exemplo, atualmente, o consenso de mercado aponta uma leve queda na Selic para o fim deste ano, passando de 15,00% para 14,75%. Para os anos seguintes, as projeções permanecem estáveis: 12,50% em 2026 e 10,50% em 2027. Já a taxa terminal da Selic — ou seja, o juro esperado para o encerramento do atual ciclo de alta — continua estimada em 15,00%, mesmo com a expectativa de recuo em 2025.
Nota: este conteúdo não deve ser interpretado como uma orientação personalizada, sendo ele meramente informativo. Ou seja, ele não se dispõe a recomendar ou desaconselhar qualquer tipo de investimento mencionado.