O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o principal indicador utilizado para medir a inflação no Brasil. Em 2024, ele tem mostrado variações preocupantes, refletindo a volatilidade econômica, com fatores como o aumento da taxa Selic e a alta do dólar pressionando os preços dos produtos e serviços consumidos pelos brasileiros.

Vale lembrar: a inflação é o aumento generalizado e contínuo dos preços de bens e serviços em uma economia ao longo do tempo. Uma inflação alta resulta na perda do poder de compra da moeda, ou seja, o dinheiro passa a valer menos, pois uma mesma quantidade de dinheiro compra menos produtos ou serviços do que antes.

Inflação e a redução do poder de compra do real

A imagem abaixo ilustra o impacto da inflação no poder de compra do real ao longo dos últimos 30 anos. Desde a implementação do Plano Real, uma nota de R$ 100,00, que tinha seu valor integral em 1994, atualmente possui o poder de compra equivalente a aproximadamente R$ 14,57.

Isso reflete a desvalorização da moeda em decorrência da inflação acumulada ao longo desse período, evidenciando a perda significativa de poder aquisitivo dos brasileiros.

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Descrição gerada automaticamente

IPCA hoje e em 2024

Segundo informações do IBGE, o IPCA registrou uma variação de 0,39% em novembro de 2024. Ao longo do ano, entre janeiro e novembro, o índice apresentou flutuações mensais que refletem as dinâmicas econômicas e os desafios enfrentados no período. As variações mensais observadas foram as seguintes:

  • Jan/2024: a variação foi de 0,42%,
  • Fev/2024: Houve um aumento significativo para 0,83%, a maior variação no período.
  • Mar/2024: caiu para 0,16%, mostrando uma desaceleração após o pico de fevereiro.
  • Abr/2024: subiu novamente para 0,38%.
  • Mai/2024: continuou a tendência de alta com uma variação de 0,46%.
  • Jun/2024: a variação diminuiu para 0,21%, refletindo uma desaceleração.
  • Jul/2024: houve um aumento para 0,38%, retomando o ritmo de crescimento.
  • Ago/2024: variação de -0,02%, a única variação deflação registrada no período.
  • Set/2024: a variação subiu novamente para 0,44%.
  • Out/2024: aumento para 0,56%, alcançando o segundo maior valor no período.
  • Nov/2024: 0,39%, uma leve desaceleração em comparação com o mês anterior.

O índice é calculado e divulgado pelo IBGE de forma sistemática desde 1980, desempenhando um papel central na medição da inflação no Brasil. Ao longo dessas mais de quatro décadas, a maior variação mensal ocorreu em março de 1990, quando atingiu impressionantes 82,39%, reflexo do cenário hiperinflacionário enfrentado pelo país na época.

IPCA acumulado em 2024

Para quem não está familiarizado com o tema, o termo “IPCA acumulado” refere-se à soma das variações mensais do IPCA ao longo de um período específico. Esse acumulado é frequentemente calculado em intervalos de 12 meses, no ano corrente (de janeiro até o mês mais recente) ou em períodos personalizados, servindo como uma medida ampla da inflação nesse intervalo.

Segundo dados do IBGE, no acumulado dos últimos 12 meses, o índice atingiu 4,87%, enquanto no ano corrente até novembro, a alta foi de 4,29%.

DataVariação no ano corrente (%)Acumulado 12 meses (%)
Janeiro0,424,51
Fevereiro1,254,50
Março1,423,93
Abril1,803,69
Maio2,273,93
Junho2,484,23
Julho2,874,50
Agosto2,854,24
Setembro3,314,42
Outubro3,884,76
Novembro4,294,87
Dezembro

Variação do IPCA acumulado nos últimos 10 anos

Abaixo você confere o IPCA acumulado nos 12 meses (jan-dez) de cada ano, na última década, ou seja, contando a partir de 2014 até o presente momento:

AnoIPCA Acumulado em 12 meses (%)
20146,41%
201510,67%
20166,26%
20172,95%
20183,75%
20194,31%
20204,52%
202110,06%
20225,79%
20234,62%

*Em breve, o IBGE irá divulgar o fechado para o acumulado do referencial inflacionário de 2024.

Fatores que influenciam o aumento da inflação

De acordo com o assessor de investimentos Antonio Nogarotto, sócio do escritório da InvestSmart na filial de Santo André, o aumento da inflação em 2024 pode ser atribuído a vários fatores, com destaque para:

  • A alta do dólar: A desvalorização do real frente ao dólar tem pressionado os preços de produtos importados, como combustíveis, alimentos e eletrônicos. O custo desses itens, cotados em moeda estrangeira, encarece a vida do consumidor brasileiro.
  • Alta dos combustíveis: Produtos derivados do petróleo, como a gasolina, têm sido grandes responsáveis pela pressão inflacionária. Com a alta no preço do barril do petróleo no mercado internacional, o impacto é sentido diretamente no IPCA.

A resposta do Banco Central com o aumento da Selic

Em sua última reunião de 2024, realizada no início de dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic de 11,25% para 12,25% ao ano. A medida reflete a necessidade de alinhar as expectativas de inflação, que permaneciam acima da meta estipulada pela instituição financeira.

Conforme divulgado pelo Banco Central, “o comitê entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação (trazer os índices de inflação para perto da meta definida pelo Banco Central) para o redor da meta ao longo do horizonte relevante.” 

Além de visar a estabilidade de preços e preservar o poder de compra, o Copom ressalta que a decisão também objetiva efeitos secundários, como:

  • “Suavizar flutuações na atividade econômica”, ou seja, reduzir instabilidades no crescimento econômico.
  • “Promover o pleno emprego”, ao evitar choques econômicos que prejudiquem o mercado de trabalho.

O ajuste ocorre em um cenário de incertezas fiscais, marcado pelo aumento da dívida pública e pela cautela do mercado diante do pacote de medidas econômicas proposto pelo governo. Além disso, a desvalorização do real tem desempenhado um papel significativo, com o dólar superando a marca histórica de R$ 6,08, o que intensifica a pressão cambial e, por consequência, impacta os preços.

Projeção do IPCA para 2025

As perspectivas de inflação para 2025 continuam em alta. Em seu relatório de inflação do quarto trimestre, divulgado no dia de 19 dezembro, o Banco Central confirmou o que o mercado já previa: a meta de inflação para 2024 não será atingida. A instituição central admitiu que o IPCA deverá fechar o ano acima do teto estabelecido pelo sistema de metas

De acordo com o mais recente Relatório Focus, a mediana das projeções subiu pela nona semana seguida, atingindo 4,60% e superando o teto da meta estabelecida pelo Banco Central em 4,50%. Essa marca representa um aumento de 0,48 ponto percentual em relação ao mês anterior. As projeções mais recentes, considerando apenas as últimas 52 estimativas, apresentaram um leve recuo, passando de 4,73% para 4,63%.

A partir do próximo ano, a meta de inflação será definida de forma contínua, com base no IPCA acumulado nos últimos 12 meses. O centro da meta permanece em 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Conforme o Banco Central, qualquer mudança na meta de inflação ou em sua margem de tolerância deve ser comunicada com pelo menos 36 meses de antecedência. Essa medida, segundo BC, garante previsibilidade aos agentes econômicos, melhorando a capacidade de planejamento das famílias, empresas e governo, e evita sobressaltos na condução da política monetária pelo BC.

Estimativas das instituições financeiras

  • XP – Segue com sua previsão de 4,7%.
  • BTG Pactual – Alterou sua projeção de 4,2% para 4,8%.
  • Itaú Unibanco – Atualizou sua previsão para 2025, passando de 4,2% para 5%.
  • Genial Investimentos – Está revisando suas estimativas, apontando um valor próximo de 5%.

Impacto da inflação: consumidor, investimentos e economia 

Segundo Antonio Nogarotto, a elevação da Selic, embora necessária para controlar a inflação, traz consigo o risco de desacelerar o crescimento econômico. Ele observa que o crédito mais caro, resultante da alta na taxa de juros, reduz o consumo de bens e serviços. Isso pressiona as empresas a conter investimentos e projetos de expansão, impactando diretamente sua produção e, consequentemente, a geração de empregos.

Além disso, Nogarotto pontua que o aumento dos custos de crédito, aliado a um ambiente de incerteza econômica, faz com que os investidores busquem ativos de menor risco, como títulos de renda fixa, em detrimento de ações. Essa migração afeta negativamente o setor produtivo e pode dificultar a recuperação econômica no longo prazo, ao reduzir o fluxo de investimentos em áreas mais dinâmicas da economia.

Outro ponto crítico levantado por Nogarotto é a desvalorização do real frente ao dólar, que encarece o custo das importações, aumentando os custos de produção em setores dependentes de insumos estrangeiros. Isso resulta em produtos mais caros para o consumidor final, o que agrava ainda mais a pressão inflacionária, mesmo em um cenário de consumo desacelerado.

Por fim, o assessor alerta que, embora a política de juros altos seja fundamental para conter a inflação, é igualmente importante que o governo busque medidas que incentivem o crescimento econômico sustentável. A instabilidade cambial, combinada com um ciclo prolongado de juros elevados, pode levar a um mercado de trabalho fragilizado e à estagnação econômica, causada por um consumo interno retraído e preços em alta.

Pedro Gomes

Jornalista desde 2021, com experiência em jornalismo esportivo, mercado imobiliário e EdTechs (startups de educação). Desde 2023, faz parte da equipe do Melhor Investimento, onde produz conteúdos focados no mercado financeiro. Suas áreas de interesse incluem renda fixa, bolsa de valores e mercado esportivo. Com o objetivo de simplificar temas complexos e tornar as informações acessíveis e relevantes, busca auxiliar os leitores na tomada de decisões estratégicas e na identificação de tendências e oportunidades de investimento.