Investir em empresas estrangeiras pode parecer assustador e burocrático para muitos. Há até quem acredite não ser uma prática permitida. Porém, a verdade é que investir na bolsa de valores americana sendo brasileiro pode ser mais simples do que se pensa. O Brazilian Depositary Receipt (BDR), por exemplo, é uma das alternativas para isso.

Essa modalidade de aplicação consiste em títulos adquiridos pela própria bolsa de valores do Brasil, a B3. Trata-se de uma opção que pode gerar bons lucros e deve ser observada como uma relevante possibilidade para diversificação de portfólio.

Quer entender exatamente como funcionam os BDRs? A seguir, vamos explicar todo o conceito e funcionamento por trás dessa sigla.

O que é BDR?

O BDR é um certificado de depósito negociado na bolsa de valores brasileira, mas com lastro em uma corporação estrangeira. Portanto, é uma forma de investir em ações de grandes companhias mundiais, mesmo que de forma indireta. Assim, você não compra o papel, mas tem a rentabilidade desse ativo atrelada à companhia do exterior.

Tanto a emissão quanto a negociação do Brazilian Depositary Receipt são feitas no Brasil. Com isso, o capital alocado está em reais e você não precisa se preocupar com conversão de moedas e câmbio — mais um fator positivo a considerar.

Essa é uma modalidade de investimento que pode ser considerada pelo investidor quando há interesse em explorar caminhos fora do mercado nacional. Na teoria, são recibos que simbolizam ações emitidas por companhias de outro país.

Todo esse sistema é assegurado por uma instituição depositária. Ela emite os BDRs após adquirir as ações estrangeiras. Além disso, o procedimento é validado no programa de distribuição de Brazilian Depositary Receipts da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Como funciona o BDR?

O BDR funciona com a emissão de um certificado de depósito, que representa as ações de uma empresa estrangeira, como Disney, Apple, Microsoft, Google, entre outras. A aquisição dos ativos no exterior é feita pela instituição depositária. Então, os recibos são expedidos para o Brasil e negociados na B3.

Diferentes tipos de ações podem ser representados em um Brazilian Depositary Receipt. Na maioria das vezes, ele tem como ativo de referência as ações emitidas por companhias estrangeiras na bolsa americana.

Para serem listadas no Brasil, a instituição financeira brasileira com representação nos EUA compra os ativos na bolsa americana e os deixa na carteira. Basicamente, o papel da entidade depositária se resume a isso.

Aqui no Brasil, a instituição cria um recibo que replica as variações dos ativos que foram adquiridos no exterior. Dessa forma, os investidores brasileiros podem aplicar dinheiro em ativos listados no mercado estrangeiro e as empresas de fora do país também conseguem captar recursos no mercado brasileiro.

Vale ressaltar que investir em BDRs não é o mesmo que comprar ações. Isso porque os investidores, quando adquirem um certificado, têm direito aos dividendos da companhia estrangeira, mas não fazem parte dela como sócios.

Sendo assim, os BDRs são recibos, e não as ações em si. Portanto, eles garantem somente o direito à rentabilidade da distribuição dos dividendos.

Novamente, a emissão e a negociação dos certificados são feitas pelas instituições financeiras brasileiras autorizadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Elas são conhecidas como: 

  • depositária: localiza-se no Brasil. Tem a função de emitir e cancelar os certificados na B3;
  • custodiante: é encarregada de administrar a custódia de ativos financeiros. Fica no país de origem da ação estrangeira e faz a compra e o bloqueio dos ativos do exterior para servirem como lastro ao certificado de depósito.

Além disso, essas instituições fazem a proteção dos títulos e ajudam em sua movimentação. Quando os ativos vão para a negociação, o ambiente usado é o da bolsa de valores brasileira (B3).

Custo e tributação dos Brazilian Depositary Receipts

O custo e tributação dos Brazilian Depositary Receipts se refere ao Imposto de Renda (IR) e às taxas da corretora de valores, que variam conforme a instituição financeira. 

Em relação ao IR, o valor é de 15% nas operações de swing trade (que duram alguns dias ou semanas) e de 20% no day trade (que duram apenas algumas horas). Há isenção de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nessa modalidade de aplicação.

Vale a pena destacar que os investimentos em ações são isentos de IR para ganhos de até R$ 20 mil por mês. No entanto, isso não acontece com os BDRs. Com isso, sempre há cobrança dessa tarifa.

Ainda existe o pagamento de dividendos. O valor é convertido em reais e sofre a aplicação de uma taxa de 3% para remuneração à instituição depositária. Também é cobrado o IR conforme a tabela progressiva, que vai de 0% a 27,5%. Essa quantia deve ser recolhida por Carnê Leão até o último dia útil do mês seguinte ao do recebimento.

Código de negociação dos BDRs

O ticker — ou código de negociação — é composto por quatro letras e dois números. As letras indicam o nome da empresa. Já os números sinalizam qual é o tipo de Brazilian Depositary Receipt. Nesse caso, segue-se o seguinte padrão: 

  • BDRs patrocinados: se forem de nível 2, o final é 32. Se forem de nível 3, o final é 33;
  • BDRs não patrocinados: se forem de nível 1, não existe um número fixo. Para o restante, o final é 34 ou 35.

A seguir, você poderá entender mais sobre essas diferentes classificações.

Quais são os tipos e os níveis de BDRs?

Os tipos e os níveis de BDRs são:

1. Patrocinados

A empresa estrangeira tem pretensão de lançar BDRs no Brasil, isto é, ela tem interesse no mercado local. A partir disso, contrata uma instituição financeira brasileira para fazer a oferta de certificados aqui.

No BDR patrocinado, a empresa participa de todo o processo, desde a escolha de qual será a instituição depositária, até a emissão e negociação dos ativos.

Esses tipos de Brazilian Depositary Receipts são divididos em três níveis. Eles variam segundo a categoria de distribuição permitida para cada um dos investidores e o volume de informações compartilhadas com eles.

1.1. Nível I

É um tipo de BDR com oferta simples e restrita a investidores específicos. As operações devem acontecer em um mercado não organizado, por meio de oferta secundária. Por exemplo, uma empresa estrangeira procura investidores específicos no Brasil sem o intermédio da bolsa de valores.

Isso porque o ativo não deve estar listado publicamente na B3. A empresa emissora também não precisa fazer registro na CVM e, além disso, contém limitação máxima de 50 investidores.

1.2. Nível II

Esse tipo de BDR permite que o ativo seja listado publicamente na B3, porém, com esforços restritos. Quaisquer 50 investidores podem participar, sendo este o número máximo. No entanto, nesse nível, a empresa emissora do ativo precisa fazer registro na CVM.

1.3. Nível III

O nível três oferece uma oferta pública normal, ou seja, qualquer investidor pode participar e não há limite na quantidade, como nos níveis I e II. A empresa emissora do ativo também precisa realizar o registro na CVM.

2. Não-patrocinados

Nessa categoria, a intenção de colocar os certificados no Brasil parte da instituição depositária. Dessa forma, é uma instituição financeira brasileira que lança ações de uma empresa estrangeira. Em contrapartida, faz a colocação no mercado exterior.

Quais os outros tipos de BDRs?

BDR de ETF

Os BDRs de ETFs são uma forma de investir em ETFs estrangeiros sem a necessidade de abrir uma conta em um mercado estrangeiro ou lidar com questões cambiais.

Esses BDRs espelham o desempenho do ETF original em sua moeda de origem, e seu preço no mercado brasileiro é afetado tanto pelas oscilações dos ativos do ETF no exterior quanto por mudanças cambiais.

BDR de REITs

Os BDRs de REITs (Real Estate Investment Trusts) são títulos lastreados em ações de REITs estrangeiros e negociados no mercado brasileiro. Os REITs são empresas de investimento imobiliário que operam de forma similar aos fundos de investimento imobiliário, mas com algumas diferenças significativas, dependendo da legislação de cada país.

Assim, os BDRs de REITs permitem que investidores brasileiros acessem o mercado imobiliário estrangeiro sem a necessidade de investir diretamente no exterior. Ao comprar BDRs de REITs, os investidores participam do desempenho dos ativos imobiliários detidos pelo REIT estrangeiro subjacente.

Quais são as vantagens dos BDRs?

As vantagens dos BDRs são a facilidade de acesso, já que não é necessário ter uma conta em corretora de valores estrangeira, e o elevado potencial de rentabilidade. Afinal, é possível comprar ativos de grandes empresas do mercado, como a Apple, Nike, Microsoft, Coca-Cola e outras, sem sair do Brasil. 

Além disso, mesmo sendo um investimento com lastro internacional, é negociado com base no real. Isso elimina taxas e muitas burocracias relacionadas à conversão de câmbio.

Os Brazilian Depositary Receipts também trazem outros benefícios tais quais: 

  • possibilidade de diversificação de investimentos, inclusive com relação ao mercado, o que eleva o potencial de rentabilidade;
  • possibilidade de investir em outras oportunidades, como ações de setores sem representantes brasileiros listados na B3.

Quais são os riscos de investir em BDRs?

Os riscos de investir em BDRs, normalmente, estão relacionados ao crédito, isto é, à possibilidade da empresa emissora do recibo não pagar a dívida. Isso é semelhante ao que acontece com as debêntures brasileiras.

Ademais, há outros possíveis prejuízos que os investidores em BDRs devem considerar ao traçar suas estratégias: 

  • risco de mercado: é gerado pela alta volatilidade dos ativos;
  • cambial: é o risco de desvalorização do dólar, o que gera uma queda de rentabilidade;
  • liquidez: a possibilidade de resgate dos ativos é menor, o que pode gerar um spread maior, ou seja, distanciar o valor de compra e de venda do recibo.

Como investir em Brazilian Depositary Receipts?

Para investir em Brazilian Depositary Receipts, realiza as etapas abaixo:

Analise o seu perfil de investidor

Comece fazendo um teste para identificar qual é o seu perfil de investidor, também conhecido como teste de suitability. Verifique se esse tipo de investimento está alinhado aos seus objetivos e se você tem tempo para fazer essa alocação de capital.

Abra uma conta em uma corretora de valores

Você fará a compra dos ativos por meio do home broker. Por isso, precisa ter uma conta em uma corretora de valores. O ideal é buscar uma que alie praticidade e taxas mais baratas.

Além disso, considere uma assessoria de investimentos. Dessa forma, você terá um suporte qualificado na área para tomar suas decisões com base em informações sólidas.

Escolha os BDRs

Defina quais ativos comprará e em qual quantidade que será adquirida. Isso pode ser feito por conta própria ou com base em recomendações de especialistas do mercado.

No caso do BDR, ainda que represente uma modalidade relativamente simples de investimento e com bom potencial de rentabilidade, ele não despreza a importância de decisões bem fundamentas em relação ao atual panorama do mercado. 

Novamente, neste quesito a assessoria de investimento tende a fazer uma grande diferença. Por isso, vale a pena pesquisar uma que tenha profissionais capacitados e experientes, como a InvestSmart

Dessa forma, você conseguirá tomar a decisão de investimento de forma mais condizente com suas metas e a realidade da economia nacional e global.

E você, achou interessante essa possibilidade de alocar seu dinheiro em ativos de outros países? Veja como investir em dólar e diversificar a carteira em investimentos no exterior.