Previdência Privada: como se aposentar com mais de um salário mínimo
Com grande parte das aposentadorias do INSS limitadas ao salário mínimo, cresce o interesse dos brasileiros pela previdência privada como alternativa para manter o padrão de vida.

Entre aqueles que planejam o futuro financeiro, uma das dúvidas mais recorrentes é se vale a pena investir em previdência privada. A recorrência dessa dúvida, entre outros fatores, está intimamente ligada aos valores pouco atrativos da aposentadoria oferecida pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Conforme dados divulgados pelo Governo Federal, cerca de 70% dos pagamentos feitos pela autarquia correspondem ao salário mínimo. Entre aqueles contemplados pelo piso nacional, destacam-se os aposentados por idade, com 11 milhões, entre os 40,7 milhões de beneficiários.
Diante desse cenário, muitos já enxergam nos planos de previdência privada uma opção interessante, no sentido de garantir um orçamento mais gordo na aposentadoria. Por aqui, te contamos mais sobre essa possibilidade.
O que explica esse cenário?
Conforme a opinião especializada, diversos fatores ajudam a explicar por que tantos brasileiros se aposentam com um benefício equivalente ao salário mínimo — que, por definição constitucional, é o menor valor que o INSS pode pagar.
No início deste ano, a revista Veja consultou o especialista em direito previdenciário, Washington Barbosa, que trouxe alguns dos principais pontos que contribuem para esse cenário.
- Achatamento salarial: os reajustes do salário mínimo frequentemente superam os índices de correção aplicados aos benefícios acima do piso, corroendo ao longo do tempo o valor real das aposentadorias mais elevadas.
- Reforma da Previdência: as novas regras de cálculo estipuladas em 2019 tornaram os benefícios menos generosos, usando médias salariais e tempo de contribuição que muitas vezes resultam em valores próximos ao salário mínimo, mesmo para quem contribuiu com valores maiores.
- Baixa renda média dos trabalhadores: talvez o principal fator esteja ligado ao fato de que a maioria dos brasileiros recebe salários baixos e, consequentemente, contribui com valores reduzidos ao INSS, o que impacta diretamente no valor final da aposentadoria, que acaba sendo equivalente ao piso nacional.
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Previdência privada cresce no Brasil
O que se vê atualmente é um notável aumento no interesse dos brasileiros pela previdência privada aberta — uma modalidade em que qualquer pessoa pode investir. Essa modalidade é especialmente conhecida por dois tipos principais: o Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) e o Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL).
Segundo o último relatório da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), em 2024, os aportes em planos de previdência privada aberta atingiram R$ 196,1 bilhões, um aumento de 15,3% em relação ao ano anterior.
Os resgates também cresceram, somando R$ 135,4 bilhões em 2024, alta de 6,5% comparado a 2023. Ainda assim, a captação líquida — que corresponde à diferença entre os aportes e os resgates — chegou a R$ 60,8 bilhões, um crescimento expressivo de 41,2%.
O relatório destaca, ainda, que o total de ativos sob gestão do setor alcançou cerca de R$ 1,6 trilhão no fim de 2024, representando 13,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.
Diferenças entre previdência social x previdência privada
Antes de analisar como funciona o investimento na previdência privada, é importante entender o que a diferencia, essencialmente, da previdência social, já que ambas têm objetivos relacionados à segurança financeira na aposentadoria, mas funcionam de formas bem distintas.
A previdência social é um sistema público, gerido pelo governo por meio do INSS. Seu principal objetivo é garantir uma renda mínima para o trabalhador quando ele se aposenta ou fica incapaz de trabalhar. Como se trata de um sistema coletivo, as contribuições dos trabalhadores ativos financiam os benefícios dos aposentados.
O sistema previdenciário brasileiro ainda possui caráter compulsório para os trabalhadores. Por exemplo, quem tem vínculo empregatício com carteira assinada tem a contribuição previdenciária descontada diretamente do salário. Já os Microempreendedores Individuais (MEI) efetuam o pagamento por meio do DAS, de forma mensal.
Já a previdência privada é uma opção complementar, oferecida por instituições financeiras e seguradoras, onde o próprio investidor escolhe quanto e quando contribuir, com a expectativa de formar uma reserva para o futuro. Diferentemente da previdência social, o valor acumulado depende diretamente do desempenho dos investimentos feitos com as contribuições.
Resumindo
- Gestão – Previdência social é pública; previdência privada é administrada por instituições financeiras.
- Contribuição – Na social, a contribuição é obrigatória para trabalhadores formais; na privada, é voluntária.
- Benefícios – Previdência social paga benefício definido; privada depende do valor acumulado e rentabilidade.
- Flexibilidade – Previdência privada oferece mais opções de planos e prazos; a social tem regras fixas.
Como complementar a aposentadoria via previdência privada?
Mais do que uma simples alternativa para complementar a aposentadoria, a previdência privada deve ser encarada como uma forma de investimento. Trata-se de uma construção de longo prazo, pensada justamente para ser utilizada no fim da vida laboral.
De modo geral, quando se fala nesse tipo de investimento, o foco costuma estar na modalidade “aberta”. Isso porque a versão “fechada” é voltada a grupos específicos, como servidores públicos, profissionais de determinada categoria ou colaboradores de uma empresa. São os chamados fundos de pensão — e por aqui, temos um artigo completo sobre o tema.
Já a previdência privada aberta, nosso foco neste conteúdo, é oferecida por instituições financeiras e está disponível para qualquer pessoa interessada. Vamos aos detalhes.
Entenda o investimento
1. Período de acumulação
É a fase em que você faz os aportes financeiros, ou seja, investe regularmente no plano. O objetivo aqui é formar um patrimônio ao longo do tempo, aproveitando os rendimentos gerados sobre os valores aplicados. Quanto mais cedo começar, maior tende a ser o montante acumulado no futuro.
2. Período de recebimento da renda
Chegando ao fim do contrato, inicia-se a fase de usufruir o que foi construído. Aqui, o investidor pode escolher entre receber uma renda mensal, resgatar o valor de forma única ou combinar diferentes formas de saque, dependendo das regras do plano contratado. É o momento de transformar o investimento em segurança financeira para o futuro.
Processo para investir
Contratar um plano de previdência privada é um processo que exige atenção e planejamento. Mas basicamente, consiste em escolher a instituição financeira e a modalidade que melhor se adequa a você.
Cada instituição financeira oferece diferentes planos de previdência, com variações nas taxas de administração, rentabilidade e opções de fundos. É fundamental comparar essas opções, realizar simulações e analisar qual plano se alinha melhor aos seus objetivos e perfil de investidor. Quanto às modalidades disponíveis, você confere em maiores detalhes a seguir.
Tipos de planos: PGBL x VGBL
Ao considerar investir em previdência privada, é essencial entender as diferenças entre os principais tipos de planos oferecidos: o PGBL e o VGBL. Ambos têm o mesmo objetivo — formar uma reserva financeira para o futuro —, mas funcionam de formas distintas, especialmente quando o assunto é tributação. A escolha entre um e outro depende do seu perfil como contribuinte e da forma como declara o Imposto de Renda.
Quando escolher PGBL
O PGBL é indicado para quem faz a declaração completa do Imposto de Renda. Isso porque permite deduzir as contribuições feitas ao plano em até 12% da renda bruta anual tributável. Na prática, isso pode gerar uma economia tributária significativa no curto prazo.
No momento do resgate ou recebimento da aposentadoria, o imposto de renda incidirá sobre o valor total acumulado, ou seja, tanto sobre os aportes quanto sobre os rendimentos.
Costuma ser ideal para:
- Quem declara o IR no modelo completo
- Quem contribui regularmente para o INSS
- Quem busca vantagens fiscais no presente
Quando optar pelo VGBL
O VGBL é mais indicado para quem faz a declaração simplificada do Imposto de Renda ou é isento. Diferente do PGBL, ele não permite deduzir os aportes da base de cálculo do IR.
A principal vantagem está na tributação no momento do resgate: o imposto incide somente sobre os rendimentos, e não sobre o valor total acumulado. Isso torna o VGBL atrativo para quem visa maior eficiência na hora de usufruir o dinheiro no futuro.
Costuma ser ideal para:
- Quem declara o IR no modelo simplificado
- Quem já atingiu o limite de dedução com o PGBL
- Quem quer pagar menos imposto no momento do resgate
Leia também: Como declarar a previdência no Imposto de Renda?
Regimes de tributação: progressivo e regressivo
Além de escolher a modalidade do plano, o investidor deve considerar com atenção o regime de tributação que melhor se adequa a sua situação. As alíquotas do Imposto de Renda variam conforme o regime adotado, que pode ser progressivo ou regressivo.
Tabela Progressiva
A tributação pela tabela progressiva segue os mesmos moldes da tabela do Imposto de Renda aplicada aos salários e rendimentos em geral. As alíquotas variam de 0% a 27,5%, de acordo com o valor sacado no momento do resgate ou recebimento da aposentadoria.
Base de cálculo (R$) | Alíquota IR | Parcela a deduzir (R$) |
Até 2.259,20 | 0% (isento) | – |
De 2.259,21 a 2.826,65 | 7,5% | 169,44 |
De 2.826,66 a 3.751,05 | 15% | 381,44 |
De 3.751,06 a 4.664,68 | 22,5% | 662,77 |
Acima de R$ 4.664,68 | 27,5% | 896,00 |
Tabela Regressiva
Já a tabela regressiva funciona como uma forma de incentivo ao investimento de longo prazo. Nesse modelo, quanto maior o tempo de permanência dos recursos no plano, menor será a alíquota do Imposto de Renda no momento do resgate. As alíquotas vão de 35% (para retiradas em até 2 anos) até 10% (para retiradas após 10 anos ou mais).
Período de investimento | Alíquota IR |
Até 2 anos | 35% |
de 2 a 4 anos | 30% |
de 4 a 6 anos | 25% |
de 6 a 8 anos | 20% |
de 8 a 10 anos | 15% |
Mais de 10 anos | 10% |
Mas enfim, qual regime escolher?
Com a entrada em vigor da Lei 14.803/2024, o processo de escolha do regime de tributação tornou-se significativamente mais simples. Agora, o investidor pode definir o regime tributário no momento do resgate, e não mais no início do plano.
Antes da nova legislação, essa escolha precisava ser feita até o último dia útil do mês seguinte à contratação, ou seja, praticamente no momento do primeiro aporte. Como se trata de um investimento de longuíssimo prazo, essa decisão antecipada acabava afastando muitos investidores, que temiam comprometer-se com uma escolha tão precoce.
Em suma, o regime regressivo tende a ser mais vantajoso para quem mantém o investimento por um longo período — com alíquota mínima de 10% após dez anos —. Em situações de resgates antecipados ou períodos mais curtos de aplicação, o regime progressivo pode ser mais adequado, por possibilitar tributação menor ou até isenção, dependendo do valor resgatado.
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Escolhendo o plano ideal de previdência privada
Até aqui, você já entendeu que é fundamental avaliar com cuidado tanto a modalidade do plano quanto o regime de tributação mais vantajoso para o seu perfil. Mas, para finalizar, separamos outros pontos importantes que também merecem atenção na hora de escolher o plano mais adequado.
Como não existe uma única resposta para definir “o melhor plano de previdência privada”, aqui vão alguns fatores que valem ser considerados nesse momento.
- Rentabilidade do plano – Compare o desempenho dos fundos nos últimos anos. A rentabilidade passada não garante o futuro, mas é um bom indicativo de gestão.
- Perfil de risco do fundo – Escolha um plano compatível com seu perfil de investidor (conservador, moderado ou arrojado). Isso influencia diretamente a composição da carteira e a volatilidade dos rendimentos.
- Taxas cobradas – Taxas menores fazem uma grande diferença no longo prazo. Fique atento, sobretudo, às taxas de:
- Carregamento (na entrada ou saída de recursos);
- Administração (cobrada anualmente sobre o valor investido);
- Performance (Incide sobre o que exceder o referencial do fundo); Esta nem sempre está presente.
- Reputação da instituição – Escolha uma seguradora ou instituição financeira sólida, com boa reputação no mercado e experiência na gestão de planos de previdência;
- Benefícios adicionais – Por fim, vale mencionar que alguns planos oferecem coberturas adicionais, como seguro de vida ou pensão por morte. Avalie se essas vantagens fazem sentido para você.
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