Se você é investidor ou trabalha no mercado financeiro, é bastante provável que já tenha ouvido falar do termo churning. Caso ainda não esteja familiarizado, chegou o momento de entender o que essa prática representa, por que ela é considerada ilegal e como pode impactar negativamente seus investimentos, além de afetar o setor financeiro de forma mais ampla. O churning não só compromete a rentabilidade de seus investimentos, mas também pode levar a penalidades sérias para os profissionais envolvidos.

O Melhor Investimento explora detalhadamente o que é o churning, como ele funciona, os sinais que indicam sua ocorrência e, mais importante ainda, como você pode evitar esse risco, tanto em suas operações no mercado financeiro quanto em empresas em geral.

O que é churning?

O termo churning se refere à prática de realizar transações excessivas em uma conta de investimento com o objetivo de gerar comissões para o corretor ou gestor, em vez de beneficiar o investidor. Em outras palavras, trata-se de uma prática fraudulenta, onde o foco está no lucro do intermediário e não no interesse do cliente. Isso pode ocorrer em diversos tipos de investimentos, como ações, fundos imobiliários e outros ativos financeiros.

Embora o churning seja mais comum no mercado de investimentos, essa prática também pode ocorrer em outros setores, como em empresas que fazem a “rotatividade” de clientes ou que manipulam dados para gerar um ciclo contínuo de vendas.

No entanto, quando se fala de investimentos, o conceito é mais relacionado à troca excessiva de ativos para gerar comissões, sem levar em consideração a saúde financeira do cliente ou os objetivos do investimento.

Como funciona o churning?

Geralmente acontece quando um corretor ou gestor de investimentos realiza um número excessivo de transações em uma conta de cliente, sem que isso seja motivado por uma necessidade legítima ou estratégia de investimento. O objetivo principal é gerar taxas e comissões, muitas vezes à custa do investidor.

Por exemplo, um investidor que tem uma carteira com ações de empresas sólidas e deseja um perfil de investimento de longo prazo pode ser vítima quando seu corretor começa a realizar vendas e compras frequentes dessas ações, sem que haja uma justificativa para isso. Essas transações geram comissões para o corretor, mas acabam prejudicando a rentabilidade do investidor, além de incorrerem em custos desnecessários.

No contexto de empresas, o churning pode ocorrer quando um gestor de clientes ou corretor faz a movimentação de ativos sem justificativa válida, apenas para criar um ciclo constante de vendas e gerar novos contratos, comissões e lucros, independentemente dos benefícios reais para o cliente.

Quais são os três principais tipos de churning?

Existem diferentes maneiras pelas quais o churning pode se manifestar no mercado financeiro. A seguir, explicamos os três tipos mais comuns:

1. Churning excessivo de transações

Esse tipo ocorre quando o corretor ou gestor realiza transações em uma frequência muito alta, sem necessidade, apenas para gerar comissões. Por exemplo, se um gestor compra e vende ações em questão de dias, sem que o investidor tenha solicitado ou se beneficie dessa movimentação, é um exemplo claro.

2. Churning de valor

Aqui, é caracterizado pela movimentação de ativos de valores menores ou maiores, sem qualquer estratégia ou objetivo específico, para garantir comissões. Isso pode ocorrer quando um gestor compra ou vende um grande número de ações de baixo valor, alterando a composição do portfólio sem que haja uma justificativa de rentabilidade.

3. Churning para gerar taxas de administração

Esse tipo de churning ocorre quando o gestor de fundos ou de carteiras de investimento realiza transações para gerar taxas de administração ou performance, em vez de focar no benefício do cliente. Muitas vezes, isso é feito sem levar em consideração o risco envolvido para o investidor.

Regulamentações sobre churning no Brasil e no exterior

Nos Estados Unidos, durante as décadas de 1980 e 1990, era comum a prática de churning por parte de muitos corretores, que realizavam transações excessivas nas carteiras de seus clientes. Contudo, essa prática ilegal foi logo identificada pelos investidores e intensamente combatida pela SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA).

A partir disso, a SEC passou a proibir explicitamente essa ação, considerando-a fraudulenta de acordo com a Rule 15c1-7, quando um gestor realiza operações excessivas em termos de quantidade ou frequência, utilizando os fundos dos investidores.

No Brasil, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) não possui uma legislação específica sobre churning, mas, por ser uma prática fraudulenta, ela fere a Instrução 8 de 1979. Em 2011, a BSM – Supervisão de Mercados, integrante do grupo B3, definiu parâmetros para identificar o churning no país.

Nos últimos anos, a CVM e o sistema judiciário brasileiro aplicaram diversas punições a empresas e indivíduos envolvidos com essa prática, com penalidades que incluem multas e restrições temporárias para atuação no mercado financeiro.

Por que o churning é ilegal?

O churning é considerado ilegal por diversas razões, sendo a principal delas o fato de prejudicar o investidor. Quando um corretor ou gestor realiza transações excessivas com o objetivo de gerar comissões, ele está comprometendo a rentabilidade e o bem-estar financeiro do cliente.

Além disso, a prática também envolve manipulação e má-fé, pois os profissionais envolvidos sabem que suas ações não têm um propósito legítimo, mas estão apenas buscando benefício próprio. Esse comportamento vai contra as regras éticas do mercado financeiro e pode levar a sérias consequências legais e financeiras.

Por fim, viola o princípio da transparência, que é fundamental no setor de investimentos. Os investidores devem ter confiança de que seus gestores e corretores estão tomando decisões baseadas em seus melhores interesses, e não em interesses pessoais ou financeiros.

E por que o churning acontece?

Embora o churning seja uma prática ilegal, ele ainda acontece por diversos motivos, principalmente relacionados à pressão por resultados e comissões. Profissionais de investimento, como corretores e gestores, podem ser incentivados a realizar transações em grande volume para aumentar suas comissões ou atingir metas de vendas.

Em algumas empresas, a estrutura de remuneração baseada em comissões pode levar os profissionais a buscar maneiras de maximizar suas receitas, mesmo que isso prejudique os investidores. Isso acontece especialmente em mercados onde as comissões são uma parte significativa da remuneração dos profissionais.

Além disso, a falta de regulamentação mais rígida e a supervisão insuficiente podem permitir que práticas ocorram, sem que sejam detectadas rapidamente.

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Como identificar o churning?

A detecção geralmente só é possível após uma análise técnica minuciosa, uma vez que a fraude já foi realizada.

Com o crescente número de investidores na Bolsa, práticas fraudulentas como o churning têm se tornado mais frequentes. Por isso, identificar essa prática não é uma tarefa simples.

Isso acontece porque os profissionais envolvidos frequentemente utilizam tecnologias automatizadas que operam com base em algoritmos, realizando transações em grande escala de forma individualizada.

Indicadores de churning

A fraude de churning pode ser difícil de detectar, mas há alguns sinais que podem ajudar a identificá-la. Além do valor do patrimônio, dois indicadores são comumente utilizados para verificar possíveis irregularidades cometidas por gestores de investimentos: o giro da carteira de investimentos (turnover ratio) e a taxa de custos de negociação (cost/equity ratio).

Turnover Ratio

O Turnover Ratio é um indicador que mede a frequência com que um portfólio é renovado, ou seja, quantas vezes os ativos são comprados e vendidos em um determinado período, geralmente um ano. Um turnover ratio muito alto pode ser um sinal de negociações excessivas, típicas do churning. Isso ocorre quando o gestor realiza transações frequentes, muitas vezes sem justificativa, gerando custos adicionais para o investidor.

Cost/equity Ratio

O Cost/Equity Ratio compara o total das despesas de corretagem e taxas de negociação com o valor médio da carteira do investidor. Um índice elevado pode indicar que o investidor está pagando custos altos em relação ao tamanho da sua carteira, o que pode ser um indicativo de churning, quando o gestor realiza muitas transações para obter comissões, prejudicando o investidor. Esse indicador ajuda a avaliar a eficiência das negociações em relação ao valor investido.

Embora esses indicadores não sejam perfeitos e possam ter limitações, quando analisados de maneira cuidadosa e adaptada ao perfil de cada investidor, eles podem fornecer indícios importantes de churning.

Como evitar o risco de churning?

Mão interrompendo a queda de peças de dominó, simbolizando a prevenção do churning e a retenção de clientes.

Evitar o risco exige atenção constante e uma abordagem estratégica ao selecionar seus gestores e corretores. Veja algumas dicas para proteger seus investimentos:

  • Escolha profissionais confiáveis: certifique-se de trabalhar com corretores e gestores registrados e bem avaliados no mercado. Verifique se eles seguem as melhores práticas e estão comprometidos com seus interesses.
  • Estabeleça metas claras de investimento: ao definir seus objetivos financeiros, deixe claro seu horizonte de investimento e seu perfil de risco. Isso ajudará a evitar que transações excessivas sejam realizadas sem sua autorização.
  • Monitore suas transações: acompanhe regularmente suas transações e revisite sua carteira para garantir que não há movimentações desnecessárias ou sem justificativa.
  • Reveja a estrutura de custos: conheça as taxas associadas às transações em sua conta. Se perceber que os custos são elevados em relação à sua estratégia de investimento, investigue o motivo.

5 dicas para reduzir a taxa de churn

Confria as principais estratégias para ajudar a reduzir a taxa e proteger seus investimentos.

1. Estabeleça um plano de investimento de longo prazo

Ter um plano de investimento de longo prazo é uma das melhores maneiras de proteger seu portfólio contra práticas de churning. Isso significa definir metas claras, como a aposentadoria, compra de uma casa ou educação dos filhos, e escolher uma estratégia de alocação de ativos que seja compatível com seu perfil de risco.

Quando você se compromete com essa estratégia, evita agir por impulso, o que pode resultar em negociações excessivas. Isso é importante porque, muitas vezes, o churning ocorre quando os investidores são persuadidos a comprar e vender repetidamente sem uma justificativa sólida, apenas para gerar comissões para o corretor.

2. Defina seus objetivos financeiros e de risco

Ao definir claramente seus objetivos e o nível de risco que você está disposto a assumir, você cria uma estrutura que orienta suas decisões de investimento. Isso ajuda a minimizar os erros cometidos devido a decisões impulsivas ou influenciadas por fatores externos, como flutuações momentâneas do mercado.

Se seu objetivo é a aposentadoria, por exemplo, sua estratégia provavelmente incluirá ativos mais conservadores e uma alocação de longo prazo. Com isso, fica mais fácil perceber quando um corretor ou gestor está agindo de forma excessiva e fora do plano, tentando gerar comissões rápidas.

3. Acompanhe suas transações regularmente

Acompanhar as transações realizadas no seu portfólio é essencial para garantir que você não está sendo vítima de churning. Isso não significa que você precisa verificar sua conta a cada momento, mas revisá-la periodicamente pode ajudá-lo a detectar padrões suspeitos de compra e venda excessivas.

Se perceber que há muitas transações em um curto período, sem uma razão lógica ou estratégia, você pode levantar uma bandeira vermelha. Fique atento também aos custos associados a essas transações. Se o seu portfólio está acumulando corretagens excessivas sem justificação clara, isso pode ser um indício de que o corretor está gerando comissões indevidas.

4. Escolha gestores éticos e transparentes

Quando se trata de investimentos, a confiança no seu gestor de carteira é fundamental. Optar por um gestor ético e transparente pode reduzir significativamente os riscos de churning. Profissionais que agem com integridade fornecem relatórios claros e detalhados sobre o desempenho do portfólio, sempre alinhando suas ações com a estratégia acordada.

Verifique as licenças e registros do gestor junto aos órgãos reguladores, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e, se possível, converse com outros clientes para saber mais sobre a reputação do profissional. Quanto mais transparente for o gestor, mais fácil será detectar e evitar práticas fraudulentas.

5. Revise sua carteira periodicamente

Revisar sua carteira de investimentos é uma prática recomendada para garantir que seus investimentos ainda estão alinhados com seus objetivos financeiros. No entanto, isso não significa que você deve fazer transações frequentes. A revisão periódica ajuda a identificar se sua alocação de ativos ainda está de acordo com seu perfil de risco e se os investimentos estão performando como esperado.

Além disso, a revisão da carteira permite perceber quando um gestor ou corretor está realizando transações sem justificativa, como no caso de churning. Um ajuste pontual no portfólio é saudável, mas ajustes constantes podem ser prejudiciais, gerando custos desnecessários e comprometendo os retornos.

Com essas práticas em mente, você pode reduzir significativamente o risco de ser vítima de churning. Lembre-se de que investir é um processo de longo prazo, e a paciência, aliada ao acompanhamento atento, é a chave para alcançar seus objetivos financeiros de maneira eficaz e ética.

O churning é uma prática fraudulenta que prejudica o investidor e compromete a integridade do mercado financeiro. Ao compreender o que é, como ele funciona e como identificar essa prática, você pode se proteger e garantir que seus investimentos estejam sendo geridos de maneira ética e profissional.

Manter o foco em uma estratégia de longo prazo, escolher bons gestores e monitorar suas transações são passos fundamentais para evitar o risco e proteger seu patrimônio.

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Carolina Gandra

Jornalista do portal Melhor Investimento, especializada em criptomoedas, ações, tecnologia, mercado internacional e tendências financeiras. Transforma temas complexos como blockchain, inteligência artificial e estratégias de mercado em conteúdos acessíveis e envolventes. Com análises atuais e visão estratégica, ajuda leitores a decifrar o futuro dos investimentos e identificar oportunidades no mercado financeiro.