FGTS liberado: Vale Investir ou Pagar Dívidas?
Ao sacar o FGTS, é importante pensar com cautela aonde alocar os recursos resgados. Afinal, é melhor investir esse dinheiro, ou quitar dívidas?

Mediante a liberação do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), já há quem pense no que fazer com o dinheiro. Em meio às possibilidades, um dilema, em especial, costuma ser mais pertinente: ao sacar, é preferível investir ou pagar dívidas?
Falamos no escopo do “quando”, porque, na maioria das vezes, o saque do FGTS não é exatamente uma escolha. Ele acontece em situações específicas, como em casos de demissão sem justa causa, por exemplo. Porém, ainda há aqueles que efetuam o saque parcial anualmente no mês de aniversário, o que abre espaço para um melhor planejamento financeiro.
Essas e outras possibilidades vamos abordar ao longo deste artigo, com o objetivo de oferecer um panorama claro e útil sobre essa questão que intitula o conteúdo. Siga a leitura e entenda o que pode fazer mais sentido para o seu bolso.
Vale a pena sacar o FGTS?
Julga-se importante começar por essa pergunta, pois é costumeiro que certos trabalhadores questionem se é válido sacar o FGTS ou deixar na conta. Afinal, apesar de o resgate ser um direito, ele não é obrigatório. E, embora não pareça, essa é uma pergunta complexa que gera algumas reflexões.
Rentabilidade do fundo
Muito se discute sobre a rentabilidade do fundo. Historicamente, o FGTS tem um rendimento inferior ao de outras aplicações de renda fixa — inclusive títulos públicos. Ainda que costume superar a inflação, continua sendo visto como uma opção de baixo retorno.
Nesse sentido, a equipe da XP já compartilhou insights relevantes sobre essa decisão. Rodrigo Sgavioli, Head de Alocação da corretora, diz que o FGTS “te força a poupar”, o que pode ser visto como vantajoso para quem tem dificuldade de guardar dinheiro. Entretanto, ele enfatiza que o fundo conta com “retornos muito menores do que os investimentos mais conservadores”.
“Então vale muito sacar, caso você já tenha o costume de investir e o apoio de um assessor para alocar esse dinheiro”, completa.
Também vale refletir: FGTS em sua função central
Para Paula Sauer, professora da FIA Business School, é fundamental compreender a função original do FGTS. “Ele foi criado como uma poupança obrigatória. Usar o fundo para consumo distorce seu propósito, que é proteger o trabalhador”, afirma em fala ao portal da B3 (Brasil Bolsa, Balcão).
Sobre a ideia de sacar o valor para investir em outros ativos, Sauer ressalta que o sucesso da estratégia depende do perfil do investidor e de seus objetivos com o recurso. “O FGTS tem como foco a proteção do trabalhador — não a busca por rentabilidade”, reforça.
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É válido utilizar o FGTS para pagar dívidas?
Embora cada situação exija uma análise individual, de modo geral, o FGTS pode ser um recurso valioso para quitar dívidas — especialmente quando a pessoa já não está mais dando conta de pagar ou em casos de juros elevados.
Em resumo, dívidas têm juros, e isso significa que elas ficam mais caras com o passar do tempo, principalmente quando não são pagas no vencimento. Utilizar o FGTS para quitá-las pode ser uma forma eficaz de evitar aquele efeito bola de neve, quando os juros começam a se multiplicar sobre eles mesmos.
“Sempre recomendamos que avalie se não vale usar esse dinheiro para quitar dívidas, pois elas custam muito caro, com taxas que são muito altas”, pontua Sgavioli da XP Investimentos.
Sob essa perspectiva, se houver a possibilidade de sacar o FGTS, utilizar o saldo para quitar dívidas pode ser um passo importante rumo à organização das suas finanças.
Vale lembrar que a inadimplência ainda é um desafio para muitos brasileiros. Segundo o Indicador de Inadimplência da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com o SPC Brasil, cerca de quatro em cada dez adultos (41,50%) estavam com o nome negativado em fevereiro de 2025 — o equivalente a 68,76 milhões de consumidores.
Vale a pena sacar o FGTS para investir?
Quando o assunto é investimento, o uso do FGTS para tal também vem como uma alternativa interessante. O principal argumento nesse sentido está no retorno historicamente baixo do fundo — ainda que, na maioria das vezes, ele consiga ao menos preservar o poder de compra frente à inflação.
A rentabilidade do FGTS é composta por juros de 3% ao ano, acrescidos da TR (Taxa Referencial). Esse retorno, na maioria das vezes, tende a ser inferior ao de muitos investimentos mais conservadores. Ativos de renda fixa, em geral, apresentam menor risco, com retornos inferior em relação aos da renda variável, mas ainda assim costumam oferecer ganhos maiores do que os proporcionados pelo fundo.
Avalie onde investir
Lembrando que há diferentes classes de investimento, cada uma adequada a perfis e objetivos distintos. Se você optou por investir o FGTS, agora é o momento de decidir como alocar esse dinheiro.
No Melhor Investimento, oferecemos conteúdos completos sobre diferentes categorias de investimentos, incluindo as mais populares e amplamente utilizadas:
- Renda Fixa – Investimentos com retorno previsível, geralmente mais seguros, como CDB, LCI/LCA e Tesouro Direto. Esses títulos costumam ser uma forma de buscar segurança e previsibilidade.
- Renda Variável – Investimentos com retorno variável, mais arriscados, mas com potencial de alto lucro, a exemplo de Ações, ETFs, fundos de ações. Geralmente são aportes para maior rentabilidade no longo prazo.
- Fundos Imobiliários (FIIs) – Investimentos que também podem ser em imóveis, com distribuição periódica de rendimentos. Exemplos incluem fundos de shopping centers, lajes corporativas e por vezes residenciais. Costuma ser recomendado para investidores que buscam renda passiva com menor risco que ações.
- Criptomoedas – Moedas digitais com alto risco e alta volatilidade, mas grande potencial de valorização. Costuma atrair pessoas com apetite por risco e interesse no setor de tecnologia.
- Previdência Privada – Investimentos voltados para aposentadoria, com benefícios fiscais, a exemplo do PGBL e do VGBL. Público recomendado: Quem busca planejamento para a aposentadoria, com vantagens fiscais.
Uma decisão de investimentos pode demandar certa complexidade, por isso, é altamente recomendada a consulta a um assessor ou consultor financeiro para orientar na escolha mais adequada.
Afinal, é melhor investir o FGTS ou usá-lo para pagar dívidas?

Essa questão entre um e outro, na prática, costuma revelar uma questão de prioridade financeira. Em muitos casos, manter débitos em aberto enquanto se tenta investir pode ser uma decisão prejudicial.
No que tange ativos de renda fixa, em praticamente todas as situações, os juros cobrados sobre as dívidas costumam ser bem mais altos do que os rendimentos oferecidos por investimentos conservadores.
Em suma, as taxas de juros cobradas pelos bancos — principal causa da inadimplência no Brasil — costumam ser bastante elevadas, o que torna inviável compensá-las com os rendimentos obtidos em investimentos de renda fixa.
Prioridade para as dívidas
Como vimos, o FGTS pode ser útil tanto para quitar dívidas quanto para investir. A dúvida, no entanto, costuma ser: o que fazer primeiro? Segundo a XP, se você tem dívidas em aberto, a prioridade deve ser a quitação. Isso porque, como dito, os custos com juros, na maioria das vezes, superam com folga os rendimentos de qualquer aplicação financeira.
A corretora destaca que, em “raríssimos casos”, pode haver exceções — como dívidas prefixadas contratadas em períodos de juros historicamente baixos ou aquelas que não oferecem desconto no pagamento antecipado. Nesses cenários, vale uma análise mais cuidadosa antes de decidir entre quitar a dívida ou investir.
Resumindo
Em geral, a orientação dos especialistas tende a seguir a seguinte linha:
- Priorize a eliminação das dívidas, sobretudo, aquelas com juros mais altos;
- Depois, procure estabelecer uma reserva de emergência;
- Só quando matar essas etapas, considere investimentos de maior risco, ainda assim alinhados com seu perfil e objetivo.
“Para quem já tem essa reserva, vemos como uma oportunidade para ter retornos maiores, com mais risco também, mas sempre adequando ao seu perfil de investidor”, considera o head da XP, Rodrigo Sgavioli.
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Como o FGTS é pago? De onde vem o seu saldo?
O Fundo de Garantia é essencialmente um direito do trabalhador, que visa ampará-lo em momentos de emergência. É comum dizer que ele funciona como uma poupança compulsória, ou seja, é uma economia “forçada”, onde o trabalhador não tem controle direto sobre os depósitos e saques, mas é beneficiado com o acúmulo do valor ao longo do tempo.
Ao falar do FGTS, também estamos nos referindo a uma obrigação do empregador. A empresa/patrão deve depositar mensalmente o equivalente a 8% do salário do funcionário, sem qualquer desconto no valor pago ao trabalhador. A grosso modo, esse depósito é um pagamento adicional, que não afeta o salário recebido pelo empregado.
Todo o dinheiro depositado no FGTS é do trabalhador, um direito adquirido, e isso não vai mudar. A questão está no acesso a esse recurso, que precisa ser autorizado pelo governo. E é aí que entra o ponto crucial: quando posso sacar o FGTS?
Quando o FGTS é liberado?
A lei prevê diversas situações em que o saque do FGTS é autorizado. As normas básicas para o saque do saldo são estabelecidas na Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990.
Ao todo são 14 possibilidades de saque. Entre as circunstâncias mais comuns que garantem o direito ao resgate, estão:
- Demissão sem justa causa: permite o saque integral do saldo da conta do FGTS, incluindo a multa rescisória de 40% paga pelo empregador.
- Rescisão consensual (por acordo): o trabalhador pode sacar até 80% do saldo do FGTS. Nesse caso, a multa rescisória é de 20%.
- Aposentadoria: ao se aposentar, o trabalhador pode sacar todo o valor disponível em sua conta do FGTS.
- Aquisição da casa própria: o saldo pode ser utilizado para compra, construção ou amortização de parcelas do financiamento de imóvel residencial próprio.
Saque-aniversário vale a pena?
Desde 2019, o saque-aniversário passou a ser uma alternativa ao modelo tradicional de resgate do FGTS, conforme previsto na Lei nº 13.932, homologada naquele ano. Como o próprio nome sugere, o trabalhador pode, se optar por essa alternativa, retirar anualmente uma parte do saldo disponível no mês de seu aniversário.
A decisão sobre aderir ou não ao saque-aniversário é bastante individual. Para alguns, o resgate anual pode representar um alívio financeiro importante e pode até facilitar um melhor planejamento do uso do recurso. Por outro lado, essa modalidade possui regras específicas que devem ser observadas com atenção. São elas:
- O saque é parcial: o trabalhador só pode retirar uma parte do saldo disponível, conforme a faixa de valor da conta.
- Causa perda do saque-rescisão: quem opta pelo saque-aniversário perde o direito de sacar o valor total do FGTS em caso de demissão sem justa causa.
- Existe um período de permanência obrigatória: após a adesão, é preciso permanecer na modalidade por, no mínimo, 24 meses antes de voltar ao saque-rescisão.
Como sacar o FGTS?
Para sacar o FGTS, é preciso seguir algumas etapas:
- Verifique sua elegibilidade: consulte as situações que permitem o saque (demissão sem justa causa, aposentadoria, compra de casa, etc.).
- Em caso de positiva, solicite o saque no app ou site do FGTS; Também é possível fazer o pedido pessoalmente em alguma agência física da Caixa.
- Apresente documentos que comprovem o motivo do saque.
- O dinheiro pode ser retirado em agências, lotéricas ou transferido para conta bancária, informada no app.
No caso do saque-aniversário, é necessário optar por essa modalidade no aplicativo do FGTS. Após a escolha, o saque pode ser solicitado na mesma plataforma no mês do aniversário ou nos dois meses seguintes.