Quando o Federal Reserve (Fed) inicia um ciclo de corte de juros, o movimento costuma reverberar em todo o mercado global. O impacto não se limita aos Estados Unidos: o reflexo chega forte à Bolsa de Valores brasileira, especialmente em setores sensíveis ao custo do dinheiro, como commodities, varejo, bancos e construção civil.

Estudos de grandes instituições, como a XP Investimentos e o Bank of America, mostram que, nas últimas oito vezes em que os juros começaram a cair nos EUA, o Ibovespa teve retorno médio de 32,1% nos 12 meses seguintes, chegando a 41,2% em dólar. Ou seja, historicamente, a queda de juros americana é um combustível poderoso para as ações brasileiras.

No Melhor Investimento, você vai entender por que isso acontece, quais ações se destacam nesse contexto e como o investidor pode se posicionar para aproveitar as oportunidades tanto no Brasil quanto no exterior.

Por que o corte de juros do Fed movimenta as ações brasileiras?

Quando o Fed corta os juros, o rendimento dos títulos públicos americanos diminui, tornando os ativos de risco, como as ações, mais atraentes. Investidores estrangeiros passam, então, a buscar mercados emergentes com maior potencial de valorização, como o Brasil.

Além disso, a queda dos juros nos EUA costuma abrir espaço para cortes na taxa Selic. Isso melhora o cenário para empresas endividadas, reduz o custo do crédito e incentiva o consumo, fortalecendo o lucro corporativo e o desempenho das companhias listadas na B3.

De forma simples: juros menores lá fora tornam o Brasil mais competitivo e atraente para o capital global, impulsionando a Bolsa.

10 ações brasileiras que podem se beneficiar do corte de juros americano

As ações listadas na B3 refletem rapidamente o humor do investidor global. Quando os juros nos EUA recuam, o apetite por risco cresce e o Brasil, por ter um mercado robusto e diversificado, tende a atrair parte relevante desse capital.

Entre os principais destaques estão companhias ligadas a commodities, bancos, varejo e construção civil, além de empresas com alto endividamento que se beneficiam do alívio nas taxas.

1. Vale (VALE3)

A Vale (VALE3) é uma das principais beneficiadas com o corte de juros do Fed. Isso porque a redução das taxas tende a impulsionar o crescimento econômico global, o que aumenta a demanda por minério de ferro e outros metais.

Além disso, o dólar mais fraco costuma favorecer empresas exportadoras. É o caso da Vale, que tem grande parte de sua receita em moeda estrangeira.

Segundo relatórios setoriais, o segmento de mineração e siderurgia tende a apresentar recuperação após o início de ciclos de afrouxamento, o que reforça o potencial da companhia no curto e médio prazo.

2. Petrobras (PETR4)

A Petrobras (PETR4) também se destaca entre as ações que podem ganhar força com a decisão do Fed. Com o aumento da liquidez global e o crescimento da economia, o preço do petróleo tende a se estabilizar em níveis mais altos, o que favorece a estatal.

Além disso, o ETF MSCI Brazil, listado em Nova York, é fortemente ponderado por ações de commodities, o que atrai o investidor estrangeiro quando o apetite por risco aumenta.

O desempenho histórico mostra que as petroleiras têm, em média, retorno positivo de 8,2% nos seis meses após o corte dos juros americanos, segundo estudo da XP.

3. Suzano (SUZB3)

No setor de papel e celulose, a Suzano (SUZB3) costuma ser uma das primeiras a reagir positivamente após o início de um ciclo de afrouxamento monetário.

Antes da decisão, o segmento tende a apresentar leve queda, cerca de 11% abaixo do Ibovespa, segundo os estrategistas da XP, mas se recupera seis meses depois, com desempenho superior ao índice.

O enfraquecimento do dólar e o aumento da demanda por produtos industriais e de consumo reforçam as exportações da Suzano, uma das maiores do mundo em produção de celulose.

4. Klabin (KLBN11)

A Klabin (KLBN11) segue a mesma tendência da Suzano, mas com um diferencial: a diversificação da companhia entre papéis, embalagens e celulose.

Com o estímulo econômico global após o corte de juros, o consumo e o comércio tendem a crescer, elevando a demanda por embalagens e papel para produtos industriais.

Além disso, a Klabin tem gestão financeira sólida e se beneficia de juros menores, que reduzem o custo de capital e melhoram suas margens operacionais.

5. Cosan (CSAN3)

A Cosan (CSAN3) é uma das companhias mais citadas por analistas quando o tema é queda de juros e alívio de endividamento.

Por ser uma holding com participação em setores como energia, logística e agronegócio, a empresa carrega uma estrutura de dívida relevante. Juros mais baixos, especialmente nos EUA, facilitam a rolagem e reduzem custos financeiros, o que tende a aumentar o lucro líquido.

6. Banco Inter (INBR32)

O Banco Inter (INBR32), negociado como BDR na B3 sob o código INBR32, é outro nome que desponta entre os favoritos para o ciclo de corte de juros americano.

Com juros menores, o custo de captação internacional cai, e bancos digitais como o Inter conseguem expandir operações e aumentar a base de clientes.

Além disso, por ter listagem também na Nasdaq, o Inter é visto como uma ponte entre os dois mercados, Brasil e Estados Unidos, o que amplia seu potencial de valorização.

7. Itaú Unibanco (ITUB4)

Entre os bancos tradicionais, o Itaú Unibanco (ITUB4) aparece como destaque. O corte de juros nos EUA tende a impulsionar fluxos de capital estrangeiro para instituições sólidas e bem administradas como o Itaú, que se beneficia do aumento da demanda por crédito e da melhora na inadimplência.

Com a expectativa de queda na Selic como consequência do movimento do Fed, o ambiente fica ainda mais positivo para o setor bancário nacional, fortalecendo os lucros e o preço das ações.

8. Cyrela (CYRE3)

O setor de construção civil é um dos mais sensíveis às variações de juros, e a Cyrela (CYRE3) é uma das grandes apostas para o novo ciclo.

Com taxas mais baixas, o financiamento imobiliário se torna mais acessível, estimulando a compra de imóveis e novos lançamentos.

Segundo analistas, a Cyrela tende a se beneficiar especialmente no segmento de médio e alto padrão, impulsionando margens e volume de vendas.

9. Magazine Luiza (MGLU3)

Entre as varejistas, a Magazine Luiza (MGLU3) costuma liderar os ganhos quando o crédito fica mais barato e o consumo reacende.

A queda dos juros nos EUA, seguida por reduções na Selic, melhora o ambiente de consumo e reduz custos financeiros das empresas do setor.

10. Grupo Casas Bahia (BHIA3)

Outro nome relevante no varejo é o Grupo Casas Bahia (BHIA3), que atravessa um processo de reestruturação financeira e busca retomar rentabilidade.

A queda dos juros é fundamental para esse movimento, pois reduz o peso das dívidas e melhora o poder de compra dos consumidores.

Com o cenário de crédito mais acessível, a empresa pode retomar o crescimento e recuperar margens, especialmente em 2026.

E as ações americanas? Quem ganha com o corte de juros nos EUA

Nos Estados Unidos, o movimento de corte de juros também cria um ambiente mais favorável às ações de tecnologia e instituições financeiras.

Com o crédito mais barato, empresas inovadoras voltam a ter maior capacidade de investimento em P&D, fusões e aquisições. Isso fortalece a expectativa de crescimento, algo que o mercado de tecnologia valoriza bastante.

Entre as favoritas dos analistas estão:

  • Microsoft (MSFT34);
  • Apple (AAPL34);
  • Amazon (AMZN34);
  • Alphabet (GOGL34), dona do Google

Essas companhias lideram o grupo conhecido como “Sete Magníficas” e tendem a capturar a maior parte do fluxo de capital global quando os juros recuam.

Bancos e gestoras americanas também se beneficiam de um cenário de juros mais baixos. O aumento na demanda por crédito e investimentos melhora os resultados do setor.

A Brookfield (B1AM34) é um dos nomes recomendados. A empresa tem exposição global e se beneficia da valorização dos ativos de infraestrutura em períodos de crescimento econômico.

Outros bancos, como JP Morgan (JPMC34) e Goldman Sachs (GSGI34), também costumam apresentar bom desempenho em ciclos de afrouxamento monetário.

Histórico reforça o otimismo dos investidores

O histórico mostra que o otimismo é justificado. Conforme dados da XP Investimentos, nas últimas oito vezes em que o Fed iniciou cortes de juros, o MSCI Brasil registrou retorno médio de 41,2% em dólar e 32,1% em reais no período de 12 meses seguintes.

Isso significa que, em cerca de 62,5% das vezes, o mercado brasileiro apresentou desempenho positivo, superando, inclusive, índices como o MSCI Mercados Emergentes e o MSCI ACWI ex-EUA.

Nos Estados Unidos, o S&P 500 também costuma avançar em ciclos semelhantes, impulsionado pelo apetite dos investidores por risco e pela melhora nos fundamentos das empresas.

Como o investidor pode se posicionar para aproveitar o momento?

Para quem busca aproveitar o ciclo de corte de juros do Fed, a diversificação é essencial. Uma estratégia equilibrada pode combinar:

  • Ações de commodities e exportadoras, como Petrobras e Vale, que se beneficiam do aumento da demanda global.
  • Ações domésticas e sensíveis à Selic, como bancos, varejistas e construtoras.
  • BDRs de empresas americanas, especialmente de tecnologia, que capturam a retomada de crescimento nos EUA.

Investir em ETFs também é uma boa alternativa para acessar o movimento de forma ampla e diversificada. O EWZ, por exemplo, replica o índice MSCI Brazil e tende a reagir positivamente a fluxos estrangeiros de capital.

Olhando adiante: o que esperar do mercado de ações em 2026

O corte de juros do Fed em 2025 abre caminho para um novo ciclo de valorização das ações, tanto no Brasil quanto nos EUA. A combinação de juros menores, inflação controlada e retomada do consumo cria um ambiente mais favorável para o risco.

Embora volatilidade de curto prazo seja inevitável, o cenário estrutural aponta para uma tendência de recuperação consistente.

Empresas com fundamentos sólidos, boa gestão de dívidas e exposição a setores estratégicos devem liderar a performance das bolsas em 2026.

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As informações apresentadas neste conteúdo têm caráter informativo e educacional, com base em dados públicos e análises de mercado. Elas não constituem recomendação de investimento, compra ou venda de ativos. Antes de investir, consulte seu assessor financeiro e avalie seu perfil de investidor, bem como os riscos associados ao mercado de ações.

Carolina Gandra

Jornalista do portal Melhor Investimento, especializada em criptomoedas, ações, tecnologia, mercado internacional e tendências financeiras. Transforma temas complexos como blockchain, inteligência artificial e estratégias de mercado em conteúdos acessíveis e envolventes. Com análises atuais e visão estratégica, ajuda leitores a decifrar o futuro dos investimentos e identificar oportunidades no mercado financeiro.