A confiança é uma espécie de aspecto invisível que move a economia antes mesmo do dinheiro. No fundo, o desempenho da economia tem tanto a ver com expectativas quanto com números. 

É justamente nessa relação entre dados e otimismo (ou pessimismo) na qual o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) se insere. Em síntese, o referencial representa um dos principais termômetros da atividade econômica no país. Continue sua leitura e entenda melhor sua função e importância. 

O que é o Índice de Confiança do Consumidor? 

Como o próprio nome sugere, o ICC é um índice cuja finalidade é medir o quanto os consumidores brasileiros estão otimistas — ou cautelosos — em relação ao futuro. 

Entender o ICC, portanto, é compreender como o sentimento das pessoas pode mover (ou frear) o ritmo da economia. Sua base reside na premissa de que o otimismo dos consumidores leva a um aumento nos gastos, estimulando o crescimento econômico, enquanto o pessimismo resulta em uma redução do consumo.

A pesquisa teve início em 2002, mas sua metodologia foi aprimorada em outubro de 2005 para se adequar aos padrões internacionais. No formato atual, a coleta de dados ocorre nas três primeiras semanas de cada mês, abrangendo sete das principais capitais brasileiras: 

  • Belo Horizonte;  
  • São Paulo; 
  • Rio de Janeiro; 
  • Brasília; 
  • Porto Alegre; 
  • Recife; 
  • Salvador. 

O levantamento opera com uma confiabilidade probabilística usual de 95% e uma margem de erro de 2,2%.

Você também pode se interessar:

Quem calcula e divulga o ICC no Brasil

O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) é amplamente repercutido pelos principais veículos de comunicação do país, mas sua divulgação oficial é feita pela Fundação Getulio Vargas (FGV), instituição responsável pela coleta e análise dos dados.

A sondagem é realizada nas três primeiras semanas de cada mês e os resultados são divulgados ao público no fim do período, refletindo o sentimento das famílias em relação à economia.

Inspirado em um modelo norte-americano, o estudo segue metodologia semelhante à adotada nos Estados Unidos, onde a pesquisa é conduzida pelo The Conference Board, organização reconhecida por medir o grau de confiança e as expectativas dos consumidores para os meses seguintes.

Como o índice é formado e o que significa cada parte

O ICC é estruturado a partir da análise de três variáveis primárias: a confiança geral do consumidor, o indicador da situação econômica atual e o indicador de expectativa futura. Todas essas variáveis são mensuradas por meio de questionamentos direcionados aos consumidores.

Em termos metodológicos, conforme detalhado no relatório da FGV/IBRE (Fundação Getulio Vargas/Instituto Brasileiro de Economia), é, especificamente, composto por cinco perguntas, que integram a Sondagem de Expectativas do Consumidor.

Duas das questões refletem o momento atual (mês da pesquisa) e, juntas, formam o Índice da Situação Atual (ISA). As três questões restantes avaliam as expectativas para o futuro (o período dos próximos seis meses), constituindo o Índice de Expectativas (IE).

Aspectos avaliados
ISA Situação Econômica Local atual 
Situação Financeira das Famílias atual
IE Situação Econômica Local futura 
Situação Financeira das Famílias futura 
Gastos previstos com compra de bens duráveis
Fonte: FGV IBRE

Como interpretar o resultado do ICC

Segundo a FGV, a padronização dos indicadores é um aspecto crucial, pois facilita a comparação de dados intra e intersetorialmente sem afetar sua solidez estatística. Essa metodologia sistemática define 100 pontos como o nível neutro para a confiança do consumidor.

Essa escala é interpretada da seguinte forma: 

  • Resultados superiores a 100 sinalizam otimismo e satisfação (situação favorável).
  • Resultados inferiores a 100 refletem pessimismo e insatisfação (situação desfavorável).

A premissa básica é que um índice mais alto sugere que o consumidor está mais disposto a consumir, ao passo que um indicador mais baixo representa uma menor intenção de gasto. Contudo, conforme destaca Aloísio Campelo Júnior, superintendente de Estatísticas Públicas da FGV IBRE, também é importante observar o histórico do indicador

 “Se você teve, por exemplo, uma queda muito grande durante três meses e, de repente, você tem uma pequena alta, pode ser que a queda dos três meses anteriores tenha sido influenciada por um excesso de pessimismo, mas não significa que a economia está acelerando.”,  afirmou em fala à PEGN (portal Pequenas Empresas e Grandes Negócios). 

Por que o ICC é importante para a economia?

Como já mencionado, o ICC é um dos termômetros mais relevantes da economia brasileira, pois antecipa tendências de consumo e ajuda a compreender o comportamento das famílias diante do cenário econômico. 

Em outras palavras, o indicador reflete o cenário macroeconômico ao captar o sentimento dos consumidores em relação ao desemprego, à inflação e à sua capacidade de compra futura. Como o consumo é um dos motores centrais do Produto Interno Bruto (PIB), mudanças na confiança tendem a influenciar diretamente o ritmo da atividade econômica.

O ICC também desempenha papel estratégico na formulação de políticas públicas e na análise macroeconômica. Economistas, gestores e autoridades utilizam o índice para avaliar o humor do mercado e medir os efeitos de medidas econômicas adotadas pelo governo.

Além disso, o índice orienta decisões de investimento. Empresas e agentes econômicos, incluindo investidores, podem utilizar o ICC para planejar suas ações. Quando a confiança do consumidor está em alta, há maior disposição para produzir, contratar e investir em expansão, na expectativa de uma demanda mais forte no futuro.

Efeitos do ICC sobre investimentos e o mercado

Agora que você já entendeu melhor sobre a finalidade e importância do ICC, já é de se imaginar seu poder de influência no mercado. Alguns aspectos básicos que podem ser destacados nesse âmbito são:

Renda Variável (Ações)

Em períodos de alta do índice, as ações de setores cíclicos — como varejo, construção e turismo — tendem a se valorizar, impulsionadas pela expectativa de aumento nas vendas. Esse cenário cria um ambiente de mercado otimista, favorecendo ativos de maior risco

Por outro lado, em momentos de baixa, observa-se desvalorização das ações de consumo, especialmente no varejo, com migração de capital para setores defensivos, como energia e saneamento, que apresentam menor sensibilidade às oscilações econômicas.

Renda Fixa (Juros)

O crescimento do consumo costuma elevar o risco de inflação, pressionando o Banco Central a manter ou elevar a taxa Selic para conter pressões sobre os preços. Já uma desaceleração na demanda reduz a pressão inflacionária, criando espaço para cortes na Selic e estimulando a atividade econômica.

Investimento Real (Empresas)

Períodos de expansão econômica incentivam investimentos produtivos (Capex), promovendo ampliação da capacidade operacional e aumento das contratações. Em cenários de retração, as empresas tendem a adiar decisões de investimento, reduzir estoques e adotar cautela nas contratações, o que atua como um freio para o crescimento do PIB.

Histórico e comportamento recente do índice

Ao divulgar o histórico da sondagem de comportamento, a FGV disponibiliza os dados organizados em duas séries:

  • Original: é a série de dados do ICC exatamente como foi coletada na pesquisa, mês a mês. O valor do índice inclui a influência de todos os fatores que atuam no período, sejam eles cíclicos (econômicos), irregulares (eventos pontuais) ou sazonais.
  • Dessazonalizada: É a série de dados do ICC que passou por um tratamento estatístico para remover a influência das variações sazonais. O valor do índice após a remoção dos efeitos previsíveis e recorrentes de calendário. O objetivo é isolar a tendência do ciclo econômico e os movimentos irregulares (como choques de política ou crises).
PeríodoICC (Ori.)ICC (Des.)Diferença anual (período homólogo)Diferença para o mês anterior
mai/2585,486,7-2,71,9
jun/2585,185,9-5,2-0,8
jul/2585,286,7-6,40,8
ago/2586,686,2-6,9-0,5
set/2588,287,5-6,41,3
out/2590,288,5-4,31,0
Fonte: FGV IBRE / ICC Out. 2025

Achou este conteúdo útil?
Siga o Melhor Investimento nas redes sociais:  Instagram | Facebook | Linkedin

Lucas Machado

Redator e psicólogo com mais de 3 anos de experiência na produção de artigos e notícias sobre uma ampla gama de temas. Suas áreas de interesse e expertisse incluem previdência, seguros, direito sucessório e finanças, em geral. Atualmente, faz parte da equipe do Melhor Investimento, abordando uma variedade de tópicos relacionados ao mercado financeiro.