Por que investir apenas no CDI pode ser um erro
Saiba por que investir apenas no CDI pode ser um erro para sua estratégia de longo prazo e como a diversificação pode aumentar seus rendimentos.
Por que investir apenas no CDI pode ser um erro. Imagem Gerada por IA
O CDI (Certificado de Depósito Interbancário) é um dos indicadores mais populares entre investidores brasileiros e foi criado em 1980 pelo Banco Central, com o objetivo de impedir que instituições financeiras como bancos, terminassem o expediente com o caixa negativo. Em síntese, o CDI é um título de curtíssimo prazo (1 dia) onde um banco empresta dinheiro a outro, a fim de manter-se com o caixa positivo.
Tecnicamente, quando falamos em “investir no CDI”, estamos nos referindo, na realidade a investimentos em títulos pós-fixados. Associado à rentabilidade de grande parte dos produtos de renda fixa pós-fixados como CDBs, fundos DI e até Tesouro Selic — ele representa uma forma segura e previsível de rentabilizar o patrimônio. Contudo, embora o CDI ofereça estabilidade no curto prazo, ele pode se revelar um mau negócio para quem pensa em multiplicar capital no longo prazo.
Os títulos pós-fixados são o melhor investimento?
Atualmente, o CDI está em torno de 14,9 % ao ano, o que parece atrativo à primeira vista. No entanto, esse rendimento deve sempre ser observado com um olhar crítico: qual é o ganho real, isto é, acima da inflação?
Para responder a essa pergunta, temos que recorrer à fórmula matemática do juro real:
Em um exemplo prático, temos hipoteticamente que o CDI de um determinado ano foi de 14% e a inflação acumulada no mesmo período foi de 4,5%. Aplicando a fórmula acima, chegamos ao resultado que o juro real foi 9,09%.
Outro fator que deve ser olhado quando investimos somente em títulos pós-fixados deve-se à variação da Taxa Selic, que é a taxa básica de juros do Brasil. A Selic por sua vez é definida em reuniões, onde os 9 membros do COPOM (Comitê de políticas econômicas) reúnem-se a cada 45 dias para determinar qual será a taxa básica.
Após a definição da taxa pelo Copom, o CDI imediatamente passa a render sempre 0,1% abaixo da taxa Selic, ou seja, se a Selic de um determinado período está em 15%, como atualmente, os títulos indexados ao CDI terão rentabilidade de 14,90%.
Sendo assim, quando ouvimos que um CDB está pagando 100% do CDI, significa atualmente, que esse título está dando 14,9% ao ano de retorno ao investidor.
Uma taxa nesses patamares não é comumente encontrada em outros países, o que faz com que o Brasil seja conhecido internacionalmente como o “paraíso dos rentistas”.
Para ser mais preciso, o Brasil ocupa o 2º lugar entre os países com maiores juros real (descontando a inflação) do mundo.
Exemplos de títulos pós-fixados (CDI)
O mercado financeiro tem se desenvolvido nos últimos anos e vem simplificando a forma de investir, justamente para captar potenciais investidores. A porta de entrada para as aplicações são os títulos pós-fixados, muito utilizados pelas fintechs que até denominaram com nomes mais comerciais, como “Caixinha do Nubank”, “Porquinho do Inter”, “Conta rendeira do Pagbank”, que em geral remuneram o investidor com 100% do CDI.
“Essas aplicações são, na prática, CDBs — títulos pós-fixados atrelados à variação da taxa Selic.”

Vale ressaltar que apesar do grande apelo comercial das contas de investimento automático apresentado pelas fintechs, existem soluções alternativas com maior rentabilidade e segurança, como LFT (Letra financeira do tesouro) e fundos de investimento pós-fixados.
Por que outros países não tem a “Selic” tão alta quanto o Brasil?
Sem adentrar questões econômicas e políticas, quando falamos de juros nesses patamares, há um risco implícito já precificado pelo mercado, o chamado “Risco de Crédito”, ou popularmente “risco de calote”.
Jamais veremos países como EUA, Japão, Alemanha e outros desenvolvidos, com taxa básica de juros na casa de 2 dígitos, como no Brasil. Primeiro devido ao fato da inflação nesses países ser infinitamente inferior ao Brasil, sendo desnecessários medidas restritivas como aumento de juros.
Segundo, porque o risco de crédito dessas nações é praticamente inexistente, sendo países mais seguros ao investidor, ou seja, caso o Brasil queira competir pela captação de investidores, precisará pagar um “prêmio” maior, ou seja, oferecer maiores retornos aos investidores.
Para termos uma ideia em termos práticos, hoje no Brasil temos títulos de crédito privado pós-fixados (debêntures, CRI’s, CRA’s) oferecendo até CDI + 2% para os investidores, que em termos percentuais significam que a cada R$ 100.000,00 investidos, há ganho de aproximadamente R$ 17.000,00 ao ano, isento de imposto para pessoa física.
Comparando aos EUA, em caso de títulos de renda fixa como “bonds”, temos taxas de no máximo 6% para títulos com mesmo prazo. Toda essa diferença obviamente tem um motivo: o risco de crédito. É muito mais seguro investir em uma empresa sólida, dolarizada, do que em um título emitido por uma empresa brasileira, com moeda fraca, risco fiscal e jurídico.
Para resumir e comparar com o exemplo extremo, temos o Japão. A renda fixa que hoje paga 15% no Brasil, paga 0,5% no país asiático. Isso porque o Japão está passando por um momento de aumento de inflação, já que o normal é a taxa ser negativa, ou seja, caso o investidor deixe o dinheiro “parado” ele desvaloriza. Essa medida do governo japonês é justamente para impedir que o país seja um “paraíso dos rentistas” como no caso do Brasil, e que os japoneses invistam seu capital em empreendimentos, inovações, gere empregos, renda e circulação da economia.
Investir no CDI x investir em inflação
Os títulos indexados ao IPCA (o Tesouro IPCA+ ou NTN-B) geralmente superam o CDI no longo prazo. O índice IMA-B5+, que representa essa classe, teve desempenho superior ao CDI nos últimos 10 anos, como no gráfico abaixo:
A linha azul representa o CDI (143,14% e a linha vermelha representa o IMA-B5+ (158,73%). Vemos que a grande diferença entre os dois índices é a volatilidade, devido à marcação à mercado. Porém, quando olhamos rentabilidade, poucos momentos o CDI superou os títulos atrelados à inflação, sendo nessa comparação, 15,59% superior ao longo de 10 anos.
Investir do CDI x investir no IBOVESPA
O Ibovespa é o índice de ações mais utilizado no Brasil. Ele reúne 87 ações das 84 empresas com maior negociação na bolsa brasileira. Esse índice é rebalanceado à cada 4 meses.
Quando olhamos no gráfico, a linha azul do CDI (58,87%) supera o Ibovespa (linha laranja) em grande parte dos últimos 5 anos. Isso deve-se principalmente ao atual ciclo de baixa da bolsa brasileira, que é inversamente proporcional à taxa básica de juros, a Selic.
Em outras palavras, assim que a taxa Selic iniciar o fechamento, ou seja, diminuir dos atuais 15%, a tendência é que os ativos de renda variável como ações, fundos imobiliários e outros, tenham bom desempenho, oferecendo maiores retornos aos investidores.
Por fim, mesmo que atualmente o CDI esteja rendendo mais do que a bolsa brasileira, a tendência de longo prazo nos mostra o oposto, e que haverá uma inversão dos papéis.
Investir do CDI x investir na bolsa americana
Comparar investimentos pós-fixados com a bolda americana pode parecer injusto. Quando comparamos o CDI com ativos de renda variável americano, em todos os intervalos de tempo de médio e longo prazo, a bolsa americana vence, como no gráfico abaixo:
Nos últimos 10 anos, houve um pequeno período em que a linha azul do CDI (143,01%) superou a linha vermelha da bolsa americana (412,99%). Quanto maior o intervalo de tempo na comparação, maior a diferença de retorno ao investidor.
Investir do CDI x investir em Bitcoin
Essa é uma comparação até difícil de ser realizada, devido ao fato de serem ativos, classes e finalidades completamente distintas. Enquanto o CDI é para investidores que desejam a menor volatilidade e risco implícito, o Bitcoin e as criptomoedas são exatamente o oposto, sendo utilizados por investidores agressivos e com desejo de maiores retorno ao longo dos anos.
Nos últimos 5 anos, a linha azul do CDI mostra um retorno na casa de 59%, enquanto o Bitcoin em reais (R$) apresentou incríveis 1.229% de retorno acumulado. Assim como na comparação anterior, do CDI com a bolsa americana, vemos que o Bitcoin apesar do alto retorno, também apresenta alta volatilidade, sendo que em alguns casos perde mais de 50% do seu valor em questão de meses.
Como ocorre em todos os ativos, esse maior risco implícito determina um maior potencial de retorno no decorrer do tempo.
Investir do CDI x Investir em títulos fixa pré-fixados
Títulos pré-fixados são títulos que o investidor sabe exatamente quando receberá no vencimento. Exemplificando, caso aplique R$ 100.000,00 em uma LTN (Letra do Tesouro Nacional) pagando 13%, receberá exatamente R$ 13.000,00 brutos ao fim do ano.
Esses títulos são muito bem visto pelos investidores devido à essa previsibilidade de recebimento, porém devemos levar em conta a volatilidade desse título, que é muito sensível à taxa de juros (Selic). Quanto maior a taxa de juros, menor o valor do título, o que em termos práticos significa que quando olhamos na carteira da corretora, o título pode estar negativo, devido ao fenômeno da marcação à mercado.
Existe um índice que reúne os títulos públicos LTN’s (Letra do Tesouro Nacional) e NTN-F’s (Nota do Tesouro Nacional série F) com mais de 1 ano de vencimento, chamado IRF-M1+. Quando olhamos em vencimentos curtos, de até 5 anos, o CDI mostra retornos maiores. Porém, quando vemos períodos de 10 anos, como na imagem acima, praticamente em todos os períodos, os títulos pré-fixados venceram do CDI.
No período em questão, desde 2015, a linha vermelha do IRF-M1+ (172,28%), superou o CDI (143,38%), mostrando-se mais vantajoso ao investidor, se tivesse alocado em títulos pré-fixados de vencimento longo.
Importância da Carteira diversificada
Sendo assim, ficaria fácil chegar à conclusão óbvia: quem não quiser risco, investir tudo em CDI e quem quiser risco investir tudo em Bitcoin, correto?
A resposta é NÃO.
É amplamente reconhecido no mercado financeiro o valor de montar uma carteira diversificada. Já foram validados todos os estudos sobre o quão conseguimos aproveitar os benefícios de cada ativo, mesmo em carteiras para investidores de perfis diferentes.
Mesmo que um determinado indivíduo seja muito conservador, devemos adicionar renda variável, por exemplo, mesmo que em menor proporção. Ficou claro nos gráficos apresentados acima que no longo prazo, uma carteira com ativos de renda variável tende a performar melhor do que uma carteira somente com títulos pós-fixados.
Em outras palavras, devemos aproveitar sim o fato do Brasil ser a 2ª maior taxa real de juros do mundo, proporcionando investimentos razoavelmente seguros e com bons retornos. Porém temos que também aproveitar as oportunidades que o mercado oferece em economias tão assimétricas quanto à brasileira, seguindo a premissa de que quanto maior o risco, maior o retorno potencial.
O mercado financeiro oferece ampla diversidade de títulos, prazos, classes e emissores, abrangendo todo tipo de investidores, desde os conservadores até os agressivos.
O que devemos levar em consideração é que mesmo existindo perfis e preferências, nunca podemos negligenciar as informações de estudos validados ao longo dos anos.
Não há uma “receita de bolo”, pois como mostrados nos dados anteriores, o investidor que aplica o seu capital na totalidade em títulos pós-fixados, está literalmente perdendo dinheiro no longo prazo.
É claro e fácil entender que independente dos gostos pessoais, temos que investir em títulos com fundamentação técnica e diversificar entre as mais variadas classes de ativos, a fim de aproveitar os benefícios de cada uma, de forma simples e funcional.
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