Fundos Temáticos: vale a pena investir em tendências como ESG, tech e energia limpa?
Alinhar investimentos a causas, valores e tendências é possível — mas exige atenção ao tema escolhido, ao perfil de risco e às oportunidades disponíveis no mercado.

Hoje, muitos investidores já se perguntam se vale a pena apostar nos chamados fundos temáticos — produtos criados para oferecer exposição a setores ou recortes específicos do mercado. Mais do que rentabilidade, esses fundos permitem que o investidor alinhe sua carteira com valores pessoais, interesses, ideologias ou temas com os quais se identifica.
Em termos gerais, é possível dizer que aí reside, sim, uma oportunidade — e, quem sabe, até um incentivo a mais para investir o seu dinheiro. No entanto, como sempre reforçamos, todo investimento envolve riscos e benefícios, o que exige uma análise cuidadosa e criteriosa antes de tomar qualquer decisão.
Qual é a “pegada” dos fundos temáticos?
Como o próprio nome sugere, fundos temáticos são aqueles que investem em torno de um tema específico. Essencialmente, esses produtos foram criados com o objetivo de unir, em uma única aplicação, o interesse pessoal por determinado assunto com a busca por bons rendimentos.
Aqui no Melhor Investimento, costumamos ressaltar a importância de uma análise criteriosa antes de aplicar seu dinheiro. Isso inclui entender a estratégia do fundo, os setores aos quais ele está exposto, seu desempenho histórico, as taxas envolvidas, o perfil dos gestores, os riscos associados e, claro, o alinhamento com seus objetivos e horizonte de investimento.
Quando colocamos os fundos temáticos em foco, um novo fator passa a entrar na equação. A lógica é simples: além de considerar o retorno financeiro, o investidor também começa a se perguntar para onde está direcionando seu dinheiro.
Em outras palavras, o investimento passa a carregar um propósito — será que ele está alinhado com os meus valores ou interesses, com as causas que apoio, com a forma como enxergo o mundo?
Temas para você investir no mercado
Entre os fundos temáticos mais populares estão aqueles que investem em empresas comprometidas com os princípios ESG — sigla para Environmental, Social and Governance (em português, ambiental, social e governança). Em resumo, esses fundos priorizam companhias que adotam práticas sustentáveis, promovem responsabilidade social e mantêm uma gestão transparente, ética e bem estruturada.
O foco, portanto, vai além do lucro: trata-se também de gerar impacto positivo e promover responsabilidade no uso dos recursos. Entretanto, os temas disponíveis nesse universo vão muito além do ESG. É possível encontrar fundos voltados para tecnologia e inovação, criptomoedas e, acredite se quiser, até mesmo o uso medicinal da cannabis já aparece como uma tese de investimento.
Mais adiante, vamos explorar melhor cada um desses temas e entender como eles vêm ganhando espaço no mercado como opções reais — e, em muitos casos, promissoras — para quem busca investir com propósito.
Fundos de investimento ESG

Os ditos fundos ESG são investimentos formados por ativos que assumem um compromisso sólido com a sustentabilidade. Apesar disso, essas companhias, como qualquer negócio, buscam rentabilidade, acima de tudo. A diferença está na forma como são geridas, pautadas por três pilares fundamentais:
- E – Environmental (Ambiental): refere-se ao compromisso das empresas com a preservação do meio ambiente, incluindo práticas de redução de impactos, uso responsável dos recursos naturais e ações contra a poluição e as mudanças climáticas.
- S – Social: envolve a forma como as empresas cuidam das relações com seus colaboradores, comunidades e clientes, priorizando direitos humanos, diversidade, inclusão, segurança e desenvolvimento social.
- G – Governance (Governança): diz respeito à transparência, ética e qualidade da gestão corporativa, incluindo estruturas de controle, prestação de contas, conduta dos executivos e alinhamento com os interesses dos acionistas.
O mais desejável é que as empresas apresentem um bom desempenho nos três pilares do ESG, o que demonstra um compromisso mais amplo com a sustentabilidade. Ainda assim, é possível encontrar casos em que uma companhia se destaca fortemente em apenas um dos aspectos, revelando um foco mais específico dentro da agenda ESG.
Índices ESG
Pode-se dizer que os principais norteadores dessa classe de investimento são os índices ESG. Cada um, à sua maneira, busca identificar e reunir as empresas que melhor se enquadram nos critérios socioambientais e de governança corporativa. Veja alguns exemplos:
- Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE);
- Índice Carbono Eficiente (ICO2 B3);
- S&P/B3 Brasil ESG;
- Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada (IGC);
- Índice de Governança Corporativa Trade (IGCT).
ETFs ESG na B3
Considerando esses índices como importantes referências, no Brasil, os ETFs (Exchange Traded Funds — ou fundos de índice) costumam ser uma das formas mais comuns de investir com foco em ESG. Alguns exemplos incluem:
Código | Nome | Índice |
ESGB11 | BTG PACTUAL ESG FUNDO DE ÍNDICE S&P/B3 BRAZIL ESG | S&P/ B3 Brasil ESG |
ISUS11 | IT NOW ISE FUNDO DE ÍNDICE | ISE B3 Sustentabilidade Empresarial |
GOVE11 | IT NOW IGCT FUNDO DE ÍNDICE | IGCT B3 Governança Corporativa Trade |
ECOO11 | ISHARES ÍNDICE CARBONO EFIC. (ICO2) BRASIL-FDO ÍND | ICO2 B3 – Índice Carbono Eficiente |
ELAS11 | Safra ETF Mulheres na Liderança Fundo de Índice de Ações | Teva ESG Mulheres na Liderança |
Fonte: B3 (Brasil, Bolsa, Balcão).
Vale lembrar que esses são apenas alguns exemplos de ETFs do segmento listados na B3, a bolsa de valores brasileira. Ainda há fundos dessa classe que não são necessariamente ETFs, além de diversas opções internacionais. Um exemplo é a BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, que é uma das principais defensoras da adoção de práticas ESG no mercado financeiro.
Finanças descentralizadas (DeFi) e criptoativos

Embora já esteja bastante presente no imaginário coletivo, o universo das criptomoedas, blockchains e NFTs ainda é relativamente novo — e em constante expansão — dentro do mercado financeiro. O próprio conceito de finanças descentralizadas (DeFi) carrega um viés revolucionário, ao propor maior autonomia frente aos bancos centrais.
Nesse contexto, surge uma verdadeira legião de entusiastas que não se interessam apenas pelo potencial de retorno desses ativos, mas também pela ideologia que eles carregam — marcada por valores como descentralização, liberdade financeira e quebra de intermediários tradicionais.
Entre os adeptos desse movimento, os produtos temáticos relacionados ao universo cripto têm se expandido rapidamente. Segundo o Valor Econômico, até mesmo gestores de ativos do mercado financeiro tradicional estão demonstrando maior abertura e interesse por esse setor em ascensão.
Entre alguns exemplos mencionados na matéria está a Verde Asset, gestora comandada por Luis Stuhlberger, revelou ter montado uma pequena posição em Bitcoin antes da eleição do ex-presidente americano Donald Trump. No Brasil, os ETFs de criptomoedas das principais gestoras desse segmento — Hashdex, QR Asset e Itaú — já acumulam, juntos, R$ 8,6 bilhões em patrimônio líquido.
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Fundos de criptomoedas
Além de comprar criptoativos propriamente ditos, investidores brasileiros já encontram na B3 opções de fundos para se expor ao setor de forma indireta. Há alternativas que vão desde modelos mais tradicionais até ETFs que acompanham índices ligados aos principais criptoativos, como Bitcoin, Ethereum, Litecoin, entre outros. Veja alguns exemplos:
Código | Nome | Índice de Referência |
HASH11 | Hashdex Nasdaq Crypto Index | Nasdaq Crypto Index |
BITH11 | Hashdex Nasdaq Bitcoin Reference Price | Nasdaq Bitcoin Reference Price |
QBTC11 | QR CME CF Bitcoin Reference Rate | CME CF Bitcoin Reference Rate |
ETHE11 | Hashdex Nasdaq Ethereum Reference Price | Nasdaq Ethereum Reference Price |
QETH11 | QR CME CF Ether Reference Rate Fundo | CME CF Ether Reference Rate |
Fonte: B3
Temáticos já exploram tecnologia, inovação e minérios
Além dos grandes polos temáticos — como criptomoedas e ESG — o mercado ainda oferece opções mais segmentadas, voltadas para setores como tecnologia, small caps e minérios. No universo tech, por exemplo, os fundos podem se dividir em categorias como capital semente, venture capital e fundos de ações de empresas de tecnologia já listadas, cada uma com características e níveis de risco específicos.
A gestora Global X ETFs é um exemplo de quem aposta nesse tipo de diversificação, com produtos voltados tanto para tecnologia quanto para commodities. “Temos um mix bem diverso e com boa aceitação no varejo”, afirmou Flávio Vegas, especialista de produtos da gestora, em fala ao Valor Econômico. Segundo ele, o destaque da casa é o ETF AIQ, focado em ativos de inteligência artificial, que já soma US$ 5 milhões em patrimônio líquido no Brasil.
Ainda nesse movimento de diversificação temática, a gestora Régia Capital — uma joint venture entre a JGP e a BB Asset — pretende lançar, até o fim de julho, um fundo de private equity com foco no setor de mineração.
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Produtos de investimento com foco em cannabis no Brasil

Outra categoria bastante nichada entre os fundos temáticos é a dos voltados à Cannabis — ou, em bom português, à popular maconha, planta da família Cannabaceae. Mais recentemente, no Brasil, o tema ganhou novo fôlego após o STF decidir manter a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal, estabelecendo o limite de 40 gramas para diferenciar o usuário do traficante.
Especialistas apontam que o avanço dessa tese de investimento está diretamente ligado à expansão do uso medicinal da planta, além da legalização do uso recreativo em diversas regiões do mundo. Essa tendência internacional impulsionou o surgimento dos primeiros fundos brasileiros focados no setor ainda em 2019.
As carteiras disponíveis no Brasil concentram seus investimentos principalmente em empresas estrangeiras. Entre os principais fundos desse segmento estão os oferecidos pela Vitreo e pela XP Investimentos, sendo a maioria estruturada como multimercado. Ao apresentar o veículo de alocação Trend Cannabis FIM, a XP destaca que
“À medida que a ciência avança cada vez mais na comprovação irrefutável sobre os benefícios à saúde gerados por alguns produtos medicinais com base na Cannabis e seus derivados, também cresce proporcionalmente o interesse de investidores por tentar se aproveitar e lucrar com essa revolução”, observa a equipe XP.
Quais fundos deste tipo estão aí para o investidor brasileiro?
Entre os produtos disponíveis no mercado brasileiro, destacam-se o Trend Cannabis FIM RL, o Ingenious Vitreo Cannabis e o Vitreo Canabidiol FIA IE.
Segundo Fabrício Gonçalvez, presidente da Box Asset Management, esses fundos podem incluir empresas que atuam em toda a cadeia da Cannabis — desde o cultivo e produção até a comercialização de produtos, além de companhias que prestam serviços ao setor, como tecnologia e consultoria.
Para quem pensa em começar a investir nesse segmento, os especialistas fazem alguns alertas importantes. Gonçalvez reforça que os fundos de Cannabis ainda são considerados investimentos de alto risco, já que se tratam de um mercado relativamente novo, sujeito a mudanças regulatórias e em constante transformação.
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Mas afinal, vale a pena investir em fundos temáticos?
Não há uma resposta única para essa pergunta, pois tudo depende, em primeiro lugar, do perfil e dos objetivos de cada investidor. Ainda assim, para quem considera aplicar em fundos temáticos, é essencial entender que esses produtos estão atrelados a grandes tendências globais e, portanto, envolvem uma visão estratégica de longo prazo.
Segundo João Piccioni, gestor da Empiricus, esses ativos, por serem menos convencionais, tendem a apresentar maior volatilidade — o que exige atenção redobrada por parte do investidor. “Pode ser uma alternativa interessante para quem já possui investimentos no exterior e deseja alocar uma pequena parte do portfólio nesses fundos, ampliando sua exposição internacional”, considera.
Assim como qualquer modalidade de investimento, os fundos temáticos envolvem tanto oportunidades quanto riscos. Para uma avaliação mais precisa, é fundamental realizar uma análise aprofundada — não apenas do mercado como um todo, mas também do produto específico de interesse.
Esse processo pode ser complexo, por isso, contar com a orientação de um profissional especializado é sempre uma escolha acertada. Ainda assim, para oferecer um ponto de partida, é possível destacar algumas vantagens e riscos que merecem atenção antes de decidir pela aplicação. Veja um quadro comparativo simplificado.
Potenciais riscos e vantagens
Benefícios | Riscos |
Fácil compreensão: o investidor sabe exatamente onde o fundo está investindo | Volatilidade: pode ser elevada, dependendo dos ativos do tema escolhido |
Foco no longo prazo reduz oscilações de curto prazo | Risco dos ativos: empresas do setor podem ter desempenho abaixo do esperado |
Permite exposição a setores de interesse sem aplicar diretamente | Risco de concentração: temas muito restritos podem gerar baixa diversificação |
⚠️Nota: As informações disponibilizadas nesta página têm caráter informativo e não configuram recomendação, sugestão ou indicação de compra, venda ou manutenção de ativos financeiros.
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