A gigante do café, Starbucks, passa por um momento de transição no controle de suas operações no Brasil. A Zamp (ZAMP3), empresa responsável por marcas como Burger King e Popeyes no país, anunciou a aquisição da operação da Starbucks no território nacional.

A negociação, que vinha sendo discutida ao longo do último ano, ocorre, em grande parte, devido a dificuldades financeiras da antiga controladora, a South Rock Capital. Desde o início da pandemia de Covid-19, em meados de 2020, a South Rock viu suas dívidas se acumularem, chegando a R$ 1,8 bilhão.

A gestora responsável pelas operações de marcas como Subway, Eataly, entrou com um pedido de recuperação judicial em 2023, o que acabou resultando na rescisão de contrato com a Starbucks Brasil. Após o término do acordo, surgiu a possível substituta para a vaga deixada. Entenda em mais detalhes sobre a história da rede cafeterias sua atuação no Brasil.

Origem da Starbucks

A história da Starbucks começa em 1971 nas ruas de paralelepípedos do histórico Pike Place Market, em Seattle (EUA). Naquela época, a empresa abriu sua primeira loja, oferecendo grãos de café recém-torrados, cujo destaque era sua torra mais escura.

O produto que resultou na grande popularidade da cafeteria, envolvia um café mais encorpado, com sabor forte e de alta qualidade. Tais diferenciais surgiram das mentes de três aficionados pela bebida: o escritor Gordon Bowker, e os professores Zev Siegel e Jerry Baldwin. Os esforços do trio fizeram com que a Starbucks fosse reconhecida como detentora de “um dos cafés mais finos do mundo”.

A título de curiosidade, o nome “Starbucks” foi inspirado no clássico livro “Moby Dick”, que tinha entre seus personagens Starbuck, primeiro-imediato do capitão Ahab. Conforme a própria empresa em seu site, o nome busca relembrar a “tradição marítima dos primeiros comerciantes de café, além de homenagear o antigo romance.

Essa ligação com o mar também aparece em seu símbolo, que apresenta uma sereia de duas caudas. O logotipo é tido como referência a cultura nórdica, cujas tradições históricas estão intimamente atreladas às águas do oceano.

Chegada Howard Schultz

Starbucks
Howard Schultz, ex-CEO da Starbucks (imagem: Reprodução)

Não há como falar sobre a história da Starbucks, sem dar algum destaque para a figura de Howard Schultz, ex-CEO e presidente emérito da companhia. Cerca de uma década após a fundação da cafeteria, o nova-iorquino entrou pela primeira vez em uma das 4 lojas da Starbucks, existentes até então.

Apaixonado pelo café e a qualidade empregada pela empresa, em 1982, ele se juntou à Starbucks, assumindo a posição de diretor de operações de varejo e marketing. Ainda no ano seguinte, Schultz teve a inspiração para trazer a cultura do café italiano para a Starbucks, após retornar de uma viagem em Milão.

Os novos conceitos desejados por ele, mais tarde, seriam percebidos como uma peça-chave para a expansão e consolidação da empresa. Segundo Schultz, a ideia era expandir os horizontes da empresa para além do padrão norte-americano, abarcando modelos de serviços e produtos de outros cantos do globo.

“A indústria do café por lá era muito mais facilitada, tudo muito mais próximo dos consumidores. Porque não expandir as cafeterias para conectar todo mundo? Então pensei: há uma oportunidade nos Estados Unidos para fazer algo parecido”, disse o empresário, em entrevista à CNN Money em 2017.

Contudo, a diretoria não se interessou em dar prosseguimento nas ideias propostas. Isto fez com que Schultz saísse do seu posto na Starbucks, e fundasse sua própria cafeteria que abarcaria o conceito italiano com o Caffè Latte no menu.

Schultz e a aquisição da Starbucks

Um dos pontos mais curiosos da presente história é a reviravolta que marcou a trajetória de um dos seus principais protagonistas. A empreitada de Howard Schultz no novo negócio deu tão certo que, junto a outros investidores locais, ele conseguiu comprar a marca Starbucks. Assim, em 1987, a empresa trocou seus aventais marrons pelos verdes e se transformou em uma rede de cafeterias.

A partir daí, a expansão da Starbucks foi impressionante: de Chicago a Vancouver, e depois para Califórnia, Washington, D.C. e Nova York. A década de 1990 foi marcada por um crescimento acelerado, com a abertura de novas lojas nos Estados Unidos e na posterior internacionalização da marca. 

Em 1996, a empresa cruzou o Pacífico e abriu sua primeira loja no Japão, seguida pela Europa em 1998 e China em 1999. Nas últimas duas décadas, a rede de cafeterias tornou-se parte da rotina de milhões de clientes em todo o mundo, estabelecendo-se em inúmeras vizinhanças.  Hoje, a Starbucks é uma marca global, conhecida por seus cafés de alta qualidade, com mais de 33 mil lojas em 80 países. 

Entrada da Starbucks no Brasil

A Starbucks chegou em território nacional no ano de 2006. Sua primeira loja no país, foi inaugurada no interior de uma unidade da livraria Saraiva, localizada no Morumbi Shopping, em São Paulo

Em pouquíssimo tempo, outra unidade da rede de cafeteria foi aberta no mesmo shopping. A marca, já consagrada globalmente, adaptou seu menu ao gosto nacional, introduzindo bebidas como o Frappuccino com brigadeiro e o tradicional pão de queijo. Nos primeiros anos, a expansão da Starbucks foi gradual, com foco em grandes cidades. 

Após dois anos de seu desembarque no Brasil, em 2008, a marca inaugurou de sua primeira unidade carioca, no Rio de Janeiro. Cerca de 10 anos depois, a Starbucks firmou um contrato de licenciamento com a SouthRock, que assumiu a gestão das lojas e a expansão da empresa no país.

Fundada em 2015, a gestora já possuía um portfólio multimarcas de sucesso, incluindo nomes como TGI Fridays e Subway. Inicialmente, a união entre a Starbucks e a SouthRock se mostrou um grande acerto. Afinal, a parceria entre elas, que perdurou até 2023, marcou um significativo período de expansão da rede de cafeterias pelo Brasil. 

Crescimento e expansão da Starbucks no Brasil

A gigante global do café, durante um bom tempo atuou exclusivamente nas grandes metrópoles da região sudeste do Brasil. Durante 11 anos em solo brasileiro, a Starbucks somente tinha unidades em São Paulo–SP, e no Rio de Janeiro–RJ. 

O cenário mudou em 2019. Após mais de uma década consolidando sua presença nas capitais paulista e fluminense, a Starbucks deu um passo ousado e cruzou a Serra do Mar, inaugurando suas primeiras lojas na região Sul. Entre 2019 e 2023, a expansão da empresa foi caracterizada por significativos marcos:

  • Em dezembro de 2020, a marca aportou na capital federal, Brasília
  • Em 2021, a Starbucks acelerou o ritmo da expansão, chegando em mais três estados: Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná
  • Em 2023, anunciou seu plano de conquistar o Nordeste, com a Bahia sendo a porta de entrada para essa nova etapa. A primeira loja baiana da Starbucks foi inaugurada em março na cidade de Salvador. 

Conforme reportagem da Folha de São Paulo de abril de 2023, a Starbucks se consolidava no Brasil, com 190 lojas e mais de 2,5 mil funcionários. Em escala global, a gigante do café atingiu 36.170 unidades e um quadro de empregados superior a 400 mil.

Desafios enfrentados pela Starbucks no mercado brasileiro

Produtos do Starbucks no Brasil
Foto: Divulgação/Starbucks

Quando chegou no Brasil em 2006, a empresa se deparou com um mercado já dominado por cafeterias tradicionais e precisava conquistar o paladar do público local. No entanto, esses não foram os únicos obstáculos encontrados. 

Em suma, a trajetária da Starbucks em terras brasileiras é marcada por um sabor agridoce. De um lado, o sucesso estrondoso da marca, que permitiu uma expansão significativa. Do outro, os desafios que testam a resiliência da gigante do café em um mercado competitivo, com hábitos de consumo distintos, fora o cenário macroeconômico

Mercado competitivo 

Neste aspecto, o mercado brasileiro de café já era altamente competitivo na época. Afinal, estamos falando de uma paixão nacional. Diante disso, a empresa precisou se diferenciar para conquistar seu espaço, destacando a qualidade do café, a variedade de produtos e a experiência do cliente. 

Além disso, ao longo do tempo outras marcas internacionais foram introduzidas no país e começaram a atrair a atenção dos consumidores interessados em experiências premium. Bons exemplos desse movimento são Kopenhagen, Nespresso, Havana, entre outros. 

Cultura distinta

A cultura do café no Brasil é diferente da estadunidense, embora os países sejam parecidos quanto ao alto volume de consumo do produto. No entanto, aqui, o foco está voltado ao consumo rápido e no cafezinho curto e forte. 

Assim, a Starbucks precisou se adaptar a essa realidade, oferecendo opções que agradassem o paladar brasileiro, como bebidas com leite e doces, tarefa que ao ver de muitos não foi sucedida da forma ideal. 

Preços e cenário econômico

Muitos também destacam como obstáculos para o Starbucks, os preços acima da média. Os preços dos produtos da Starbucks eram considerados altos por muitos consumidores brasileiros, acostumados com a cultura do cafezinho a preços mais populares. 

Essa barreira se tornou ainda mais imponente com a desvalorização do real em relação ao dólar, encarecendo ainda mais os produtos da marca para o público local. Contudo, tormenta veio, de fato, com os impactos da Covid-19, que culminou em um endividamento substancial da operadora SouthRock. 

Endividamento e rescisão com a SouthRock

No contexto pandêmico de 2020, as dívidas da SouthRock dispararam, atingindo a marca alarmante de R$ 1,8 bilhão. A situação se agravou nos anos seguintes, levando a uma queda vertiginosa nas vendas. O alto endividamento fez com que a gestora entrasse com um pedido de recuperação judicial, no final de outubro de 2023. Para os menos familiarizados, a medida é um procedimento legal especial que visa auxiliar empresas em dificuldades financeiras graves a se reestruturar e evitar a falência.

Sobre a decisão, a operadora apontou a necessidade “proteger financeiramente suas operações no Brasil, atrelado a decisões estratégicas para ajustar seu modelo de negócio à atual realidade econômica”, declarou na época

Em meio a crise, a Starbucks Coffee International enviou um pedido de rescisão de contrato à SouthRock. A decisão de rescindir a licença teria sido motivada pela inadimplência da operadora, que deixou de cumprir algumas obrigações relacionadas à licença, como o pagamento de royalties.

Fechamento das unidades brasileiras

De acordo com o documento protocolado na 1ª Vara de Falências da Justiça de São Paulo, a rede teria 187 lojas ativas. Dessas, 43 já haviam sido fechadas. Até o final de 2023 esse número subiu para 55 unidades encerradas. 

Relatos nas redes indicam fechamentos de lojas em grandes capitais como Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Essa situação levantou questionamentos sobre o futuro da Starbucks no Brasil. Afinal, o Starbucks vai fechar no Brasil? 

Zamp assume operações brasileiras

Zamp compra operações da Starbucks no Brasil
Imagens: Reprodução

Em 2024, a SouthRock chegou a se movimentar protocolando um plano voltado à reestruturação da empresa. Conforme o divulgado, a iniciativa da operadora envolvia desde estratégias para liquidação das dívidas, até meios para gerar fluxo de caixa e recursos para prosseguir com as atividades. 

Mas, em meio à turbulência, a Zamp entrou em cena. A operadora é responsável por marcas já consolidadas no Brasil, com um destaque especial para o Burger King. Ainda em fevereiro de 2024, a companhia deu início às negociações para adquirir as operações da Starbucks no Brasil, com a aprovação do contrato por parte de seus conselheiros.

Em outubro do mesmo ano, a Zamp anunciou a conclusão da compra dos ativos das lojas Starbucks no Brasil. Inicialmente, o valor acordado para a aquisição era de R$ 120 milhões, mas o montante final foi ajustado com base na quantidade de lojas transferidas, no nível de estoques e na dívida líquida na data do fechamento. Com esses ajustes, o valor final da transação foi de R$ 101,8 milhões, representando um desconto de 15,16%.

Conforme divulgado, a Zamp participou de um processo competitivo de propostas fechadas. Além disso, a empresa garantiu condições favoráveis nos principais contratos firmados com a Starbucks Corporation para a exploração e o desenvolvimento das operações da marca no Brasil.

Qual a situação do Starbucks no Brasil?

Agora, sob o controle da Zamp, a Starbucks projeta uma expansão no mercado brasileiro. A holding é de propriedade do fundo do fundo Mubadala Capital que, por sua vez, já se comprometeu em reverter o cenário de fechamento de lojas que marcou os últimos anos.

“Ainda há pendências existentes, mas pretendemos voltar a expandir a rede no ano que vem”, declarou Leonardo Yamamoto – diretor-executivo da Mubadala Capital -, em um evento do Banco UBS em 2024. […] “As pessoas vão continuar indo fisicamente a restaurantes e praças de alimentação”, complementou ao discutir as tendências do varejo.

Onde tem Starbucks no Brasil?

Até o momento, a Starbucks ainda tem uma presença mais concentrada no eixo Rio-São Paulo. No entanto, a marca já conta com unidades em pelo menos quatro regiões do país:

SudesteSulCentro-OesteNordeste
São PauloSanta CatarinaGoiásBahia
Rio de JaneiroRio Grande do SulDistrito Federal
Minas GeraisParaná

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Lucas Machado

Redator e psicólogo com mais de 3 anos de experiência na produção de artigos e notícias sobre uma ampla gama de temas. Suas áreas de interesse e expertisse incluem previdência, seguros, direito sucessório e finanças, em geral. Atualmente, faz parte da equipe do Melhor Investimento, abordando uma variedade de tópicos relacionados ao mercado financeiro.