A Starbucks, conhecida por seus cafés e ambientes aconchegantes, enfrenta um cenário desafiador no Brasil. Ao que tudo indica, a crise econômica da empresa está intrinsecamente ligada à situação atual da gestora SouthRock Capital, que operava suas lojas em território nacional. 

Desde o início da pandemia de Covid-19, em meados de 2020, a SouthRock viu suas dívidas se acumularem, chegando a R$ 1,8 bilhão. A gestora responsável pelas operações de marcas como Subway, Eataly, entrou com um pedido de recuperação judicial no último ano, o que acabou resultando na rescisão de contrato com a Starbucks Brasil. 

Após o término do contrato, surge uma possível substituta para a vaga deixada. Em recentes movimentações, a Zamp (ZAMP3), conhecida por administrar marcas como Burger King e Popeyes, é potencialmente a gestora que assumirá as operações. Continue acompanhando e entenda melhor o cenário da rede de cafeteria no Brasil. 

Starbucks: uma breve história

A história da Starbucks começa em 1971 nas ruas de paralelepípedos do histórico Pike Place Market, em Seattle. Naquela época, a empresa abriu sua primeira loja, oferecendo grãos de café recém-torrados, cujo destaque era sua torra mais escura, o que naturalmente deixava o café mais incorporado. 

Tais diferenciais surgiram das mentes de três aficionados por café: o escritor Gordon Bowker, e os professores Zev Siegel e Jerry Baldwin. A título de curiosidade, o nome “Starbucks” foi inspirado no clássico livro “Moby Dick”, que tinha entre seus personagens Starbuck, primeiro-imediato do capitão Ahab, evocando assim a tradição marítima dos antigos comerciantes de café.

Cerca de uma década após a fundação, um nova-iorquino chamado Howard Schultz entrou pela primeira vez em uma das 4 lojas da Starbucks, existentes até então. Apaixonado pelo café, em 1982, ele se juntou à empresa e, em 1983, durante uma viagem a Milão, teve a inspiração para trazer a cultura do café italiano para a Starbucks. 

Embora a ideia tenha sido bem sucedida, os donos não se interessaram em dar prosseguimento. Isto fez com que Schultz saísse do seu cargo de diretor de operações de varejo e marketing no Starbucks, e fundasse sua própria cafeteria que abarcaria o conceito italiano com o Caffè Latte no menu.

A empreitada deu tão certo que, junto a outros investidores locais, Schultz conseguiu comprar a marca Starbucks. Assim, em 1987, a empresa trocou seus aventais marrons pelos verdes e se transformou em uma rede de cafeterias.

A partir daí, a expansão da Starbucks foi impressionante: de Chicago a Vancouver, Canadá, e depois para Califórnia, Washington, D.C. e Nova York. A década de 1990 foi marcada por um crescimento acelerado, com a abertura de novas lojas nos Estados Unidos e a internacionalização da marca. 

Em 1996, a empresa cruzou o Pacífico e abriu sua primeira loja no Japão, seguida pela Europa em 1998 e China em 1999. Nas últimas duas décadas, a rede de cafeterias tornou-se parte da rotina de milhões de clientes em todo o mundo, estabelecendo-se em inúmeras vizinhanças. 

Hoje, a Starbucks é uma marca global, conhecida por seus cafés de alta qualidade, com mais de 33 mil lojas em 80 países. 

Trajetória da Starbucks no Brasil

A Starbucks chegou em território nacional no ano de 2006. Sua primeira loja no país, foi inaugurada no interior de uma unidade da livraria Saraiva, localizada no Morumbi Shopping, em São Paulo

Em pouquíssimo tempo, outra unidade da rede de cafeteria foi aberta no mesmo shopping. A marca, já consagrada globalmente, prometia trazer aos brasileiros uma experiência única de café, combinando qualidade, sabor e um ambiente acolhedor.

Para se destacar no mercado brasileiro, a Starbucks adaptou seu menu ao gosto nacional, introduzindo bebidas como o Frappuccino com brigadeiro e o pão de queijo. Nos primeiros anos, a expansão da Starbucks foi gradual, com foco em grandes cidades. 

Após dois anos de seu desembarque no Brasil, em 2008, a marca consolidou sua presença no país com a inauguração de sua primeira unidade carioca, no Rio de Janeiro. Em 2018, a Starbucks deu um passo importante em sua trajetória no Brasil ao firmar um contrato de licenciamento com a SouthRock, empresa brasileira com expertise em operação de marcas de alimentos e bebidas. 

A partir dessa parceria, a SouthRock se tornou a operadora licenciada da Starbucks em todo o território nacional, assumindo a gestão das lojas e a expansão da marca no país. Fundada em 2015, a gestora já possuía um portfólio multimarcas de sucesso, incluindo nomes como TGI Fridays e Subway.

Inicialmente, a união entre a Starbucks e a SouthRock se mostrou um grande acerto. Afinal, a parceria entre elas, que perdurou até o último ano, marcou um significativo período de expansão da rede de cafeterias pelo Brasil. 

Crescimento e Expansão da Starbucks no País

Como anteriormente mencionado, a gigante global do café, durante um bom tempo atuou exclusivamente nas grandes metrópoles da região sudeste do Brasil. Durante 11 anos em solo brasileiro, a Starbucks somente tinha unidades em São Paulo–SP, e no Rio de Janeiro–RJ. 

O cenário mudou em 2019. Após mais de uma década consolidando sua presença nas capitais paulista e carioca, a Starbucks deu um passo ousado e cruzou a Serra do Mar, inaugurando suas primeiras lojas na região Sul, em Santa Catarina. Florianópolis e Joinville já são cidades agraciadas com a experiência da cafeteria. 

Entre 2019 e 2023, a expansão da empresa foi caracterizada por significativos marcos, A seguir, veja alguns dos principais: 

  • Em dezembro de 2020, a marca aportou na capital federal, Brasília
  • Em 2021, a Starbucks acelerou o ritmo da expansão, chegando em mais três estados: Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná
  • Em 2023, anunciou seu plano de conquistar o Nordeste, com a Bahia sendo a porta de entrada para essa nova etapa. A primeira loja baiana da Starbucks foi inaugurada em março na cidade de Salvador. 

Conforme reportagem da Folha de São Paulo datada de abril de 2023, a Starbucks se consolidava no Brasil, com 190 lojas e mais de 2,5 mil funcionários. Em escala global, a gigante do café atingiu 36.170 unidades e um quadro de empregados superior a 400 mil.

Onde tem Starbucks no Brasil?

Atualmente, a maior parte das unidades ainda estão alocadas no eixo Rio-São Paulo. No entanto, já é possível encontrar uma loja do Starbucks em diferentes unidades federativas do Brasil. Ao todo, são 9 distribuídas em 4 regiões:

SudesteSulCentro-OesteNordeste
São PauloSanta CatarinaGoiásBahia
Rio de JaneiroRio Grande do SulDistrito Federal
Minas GeraisParaná
Com dados da Starbucks Histórias Latin América

Desafios enfrentados pela Starbucks no mercado brasileiro

Quando chegou no Brasil em 2006, a empresa se deparou com um mercado já dominado por cafeterias tradicionais e precisava conquistar o paladar do público local. No entanto, esses não foram os únicos obstáculos encontrados. 

Em suma, a saga da Starbucks em terras brasileiras é marcada por um sabor agridoce. De um lado, o sucesso estrondoso da marca, que permitiu uma expansão significativa. Do outro, os desafios que testam a resiliência da gigante do café em um mercado competitivo, com hábitos de consumo distintos, fora o cenário macroeconômico

Mercado competitivo 

Neste aspecto, o mercado brasileiro de café, considerado uma paixão nacional, já era altamente competitivo na época. A empresa precisou se diferenciar para conquistar seu espaço, destacando a qualidade do café, a variedade de produtos e a experiência do cliente. 

Além disso, ao longo do tempo outras marcas internacionais foram introduzidas no país e começaram a atrair a atenção dos consumidores interessados em experiências premium. Bons exemplos desse movimento são como Kopenhagen, Nespresso, Havana, entre outros. 

Cultura brasileira do café

A cultura do café no Brasil é diferente da americana, embora os países sejam parecidos quanto ao alto volume de consumo do produto. No entanto, aqui, o foco está voltado ao consumo rápido e no cafezinho curto e forte. 

Assim, a Starbucks precisou se adaptar a essa realidade, oferecendo opções que agradassem o paladar brasileiro, como bebidas com leite e doces, tarefa que ao ver de muitos não foi sucedida da forma ideal. 

Preços e cenário econômico

Muitos também destacam como obstáculos para o Starbucks, os preços acima da média. Os preços dos produtos da Starbucks eram considerados altos por muitos consumidores brasileiros, acostumados com a cultura do cafezinho a preços mais populares. 

Essa barreira se tornou ainda mais imponente com a desvalorização do real em relação ao dólar, encarecendo ainda mais os produtos da marca para o público local. No entanto, a verdadeira tormenta veio com os impactos da Covid-19, que culminou em um endividamento substancial da operadora SouthRock. 

Produtos do Starbucks no Brasil
Foto: Divulgação/Starbucks

Endividamento e rescisão com a SouthRock

Em meio ao cenário pandêmico marcado isolamento social, as dívidas da SouthRock dispararam, atingindo a marca alarmante de R$ 1,8 bilhão. A situação se agravou nos anos seguintes, levando a uma queda vertiginosa nas vendas. 

O alto endividamento fez com que a gestora entrasse com um pedido de recuperação judicial, no final de outubro de 2023. Em suma, trata-se de um procedimento legal especial que visa auxiliar empresas em dificuldades financeiras graves a se reestruturar e evitar a falência.

Nesta perspectiva, a medida teve como finalidade “proteger financeiramente suas operações no Brasil, atrelado a decisões estratégicas para ajustar seu modelo de negócio à atual realidade econômica”, declarou a gestora na época. 

Em meio a crise, a Starbucks Coffee International enviou um pedido de rescisão de contrato à SouthRock. A decisão de rescindir a licença teria sido motivada pela inadimplência da operadora, que deixou de cumprir algumas obrigações relacionadas à licença, como o pagamento de royalties.

Fechamento das lojas Starbucks no Brasil

De acordo com o documento protocolado na 1ª Vara de Falências da Justiça de São Paulo, a rede teria 187 lojas ativas. Dessas, 43 já haviam sido fechadas. Até o final de 2023 esse número subiu para 55 unidades encerradas. 

Relatos nas redes indicam fechamentos de lojas em grandes capitais como Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Essa situação levantou questionamentos sobre o futuro da Starbucks no Brasil. Afinal, o Starbucks vai fechar no Brasil? 

Futuro da Starbucks no Brasil

Em 2024, a SouthRock chegou a se movimentar protocolando um plano voltado à reestruturação da empresa. Conforme o divulgado, a iniciativa da operadora envolvia desde estratégias para liquidação das dívidas, até meios para gerar fluxo de caixa e recursos para prosseguir com as atividades. 

No entanto, conforme informações recentemente divulgadas, tudo indica que o Starbucks irá promover mudanças em suas operações no Brasil. Em meio à turbulência, a Zamp entrou em cena. A operadora é responsável por marcas consolidadas no Brasil, como Burger King e Popeyes.

Em fevereiro de 2024, a Zamp deu início às negociações para adquirir as operações da Starbucks no Brasil, com a aprovação do contrato por parte de seus conselheiros. Sem entrar em detalhes, em nota, a Starbucks confirmou que a negociação envolve a gestão das lojas no Brasil. 

A potencial futura operadora do Starbucks, confirmou ter avançado nas negociações. Neste mês de junho, foi apresentada uma proposta para assumir as operações da rede de cafeterias no Brasil, por uma cifra de R$ 120 milhões.

Apesar do valor cotado ainda poder sofrer reajustes, a depender do número de unidades adquiridas e nível de estoque, ele já foi aprovado por todos os membros do conselho da operadora.

Conforme comunicado da Zamp, a efetivação dos contratos está condicionada à aquisição pela Zamp da NewCo, uma empresa que será proprietária de “determinados bens e direitos que compõem as operações das lojas Starbucks no Brasil”. 

“A companhia informa, ainda, que chegou a um acordo com a Starbucks Corporation quanto aos termos e condições dos principais contratos que deverão ser celebrados para a exploração da marca e desenvolvimento das operações Starbucks no território brasileiro”, declarou a operadora em comunicado ao mercado. 

 

O que muda após a compra pela Zamp?

Embora a aquisição ainda não seja oficial, a Zamp já demonstra planos ambiciosos para revitalizar a Starbucks no Brasil. Isto considerando que a empresa possui pretensões de expandir no mercado nacional em 2024. 

Apesar de um início de ano desafiador, com prejuízo líquido de R$ 91 milhões nos três primeiros meses (64% menor que o mesmo período em 2023), a Zamp dá sinais de confiança nas negociações com a Starbucks. Parte desse prejuízo, inclusive, se refere a investimentos em aquisições.

Lucas Machado

Redator do Melhor Investimento e psicólogo de formação, com mais de dois anos de experiência em redação de artigos relacionados aos mais variados assuntos e campos do saber.