Uma recessão é caracterizada por uma contração na atividade econômica de um país, refletindo uma diminuição em seu Produto Interno Bruto (PIB). Em outras palavras, durante uma recessão econômica, observamos uma estagnação na economia do país, indicativa de uma deterioração na atividade econômica geral.

Segundo o relatório Situação Econômica Global e Perspectivas (WESP), divulgado pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da Organização das Nações Unidas (ONU), prevê-se que o crescimento econômico global desacelere para 2,4% em 2024, abaixo da tendência pré-pandemia de 3%.

Por isso, crescem as expectativas de recessões em várias nações pelo mundo.

Diante desse contexto, este artigo visa abordar de forma abrangente o conceito de recessão econômica e quais são os seus impactos no mercado de investimentos.

O que é recessão econômica?

O termo “recessão econômica” descreve uma queda substancial na atividade econômica de um país, persistindo por mais de alguns meses, geralmente mais de dois trimestres consecutivos. Durante esse período, os principais indicadores econômicos, como o Produto Interno Bruto (PIB), renda, emprego, produção industrial e vendas no varejo, refletem esse declínio.

Uma recessão não é apenas uma diminuição temporária na atividade econômica; é um período prolongado de baixa atividade, caracterizado pela subutilização de recursos e altas taxas de desemprego. Na economia, os ciclos seguem uma sequência padrão: expansão, pico da expansão, recessão e depressão. Essas flutuações são normais, pois os países não permanecem constantemente no pico de expansão.

A determinação oficial de uma recessão é mais precisa. Para o National Bureau of Economic Research (NBER), uma recessão é identificada por uma queda significativa na atividade econômica, abrangendo toda a economia e durando mais de um ano. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) define uma recessão como dois trimestres consecutivos de redução do PIB.

Embora as definições possam variar entre economistas e instituições, é crucial compreender que uma recessão representa um período de contração econômica geral, afetando diversos setores e a vida das pessoas.

Quais as consequências de uma recessão econômica?

A recessão econômica vai além de uma mera queda consecutiva do Produto Interno Bruto (PIB) de uma nação. Vários indicadores e consequências aparecem diante deste cenário:

Queda no consumo: Os consumidores reduzem suas despesas, impactando diretamente diversos setores econômicos.

Desemprego em alta: O aumento das demissões e a escassez de oportunidades de trabalho caracterizam o ambiente recessivo, afetando negativamente a estabilidade financeira das famílias.

Restrição de gastos empresariais: As empresas optam por cortes de custos, muitas vezes resultando em demissões e na diminuição de investimentos em novos projetos.

Renda familiar em queda: A redução da renda disponível das famílias é um sintoma claro da recessão, afetando diretamente seu poder de compra e seus padrões de consumo.

Diminuição do consumo de produtos e serviços não essenciais: A priorização de necessidades básicas leva a uma diminuição na demanda por bens e serviços não essenciais.

Decréscimo na produção industrial: O receio dos empresários em investir durante períodos recessivos resulta em uma queda na produção industrial, com implicações diretas na economia.

Esses indicadores muitas vezes funcionam como alertas precoces de uma recessão iminente, enquanto a instabilidade econômica se manifesta através da redução da renda familiar e dos benefícios dos trabalhadores. As empresas, diante da pressão para reduzir custos, muitas vezes são forçadas a demitir funcionários, agravando ainda mais a situação do desemprego.

Bear Market

O Bear Market, ou “Mercado do Urso” na tradução literal, caracteriza períodos de desvalorização na bolsa de valores acompanhados por uma postura pessimista dos investidores. Sua relação com a recessão econômica é íntima, já que ambos representam fases de baixo desempenho econômico e pessimismo nos mercados financeiros.

Funcionamento do Bear Market

Durante um Bear Market, os investidores enfrentam um período prolongado de queda nos preços das ações e um clima de pessimismo generalizado nos mercados financeiros. Esse cenário é frequentemente desencadeado por uma série de fatores econômicos negativos, como recessão, crises em setores específicos da economia, aumento do desemprego, entre outros. A falta de confiança dos investidores leva a uma venda generalizada de ativos, o que intensifica a queda nos preços das ações e prolonga o período de declínio.

Duração do Bear Market

A duração de um Bear Market pode variar significativamente, dependendo dos fatores econômicos e das condições do mercado. Em média, um Bear Market nos Estados Unidos dura cerca de 14 meses, considerando dados históricos desde o final da Segunda Guerra Mundial. No entanto, há casos em que um Bear Market pode durar apenas alguns meses ou se estender por vários anos. A incerteza do mercado e a interconexão de diversos fatores econômicos contribuem para a imprevisibilidade da duração do Bear Market.

O que fazer durante um Bear Market

Durante um Bear Market, é crucial que os investidores adotem uma abordagem cautelosa e estratégica para proteger seu patrimônio e minimizar perdas. Algumas medidas que os investidores podem considerar incluem:

Manter a calma e ter paciência: Durante um Bear Market, é fundamental evitar o pânico e tomar decisões impulsivas. Os investidores devem entender que os mercados financeiros passam por ciclos e que as quedas nos preços das ações são parte natural do processo.

Diversificar o portfólio: A diversificação é uma estratégia fundamental para mitigar o risco durante um Bear Market. Investir em uma variedade de classes de ativos, setores e geografias pode ajudar a proteger o portfólio contra perdas em um mercado em baixa.

Reavaliar os investimentos: Durante um Bear Market, os investidores devem reavaliar seus investimentos e considerar ajustes em suas carteiras. Isso pode incluir realocação de ativos, redução da exposição a setores mais voláteis e aumento de alocações em ativos considerados mais defensivos.

Buscar oportunidades: Apesar do clima de pessimismo, os Bear Markets também podem oferecer oportunidades de investimento a longo prazo. Durante esses períodos, os investidores podem encontrar ativos com preços atrativos, que podem gerar retornos significativos no futuro.

Consultar profissionais: Durante um Bear Market, é importante buscar orientação e conselhos de profissionais financeiros qualificados, como um assessor de investimentos. Eles podem ajudar os investidores a navegar pelo mercado em baixa e desenvolver estratégias adequadas para proteger e fazer crescer seu patrimônio.

Quais são as causas da recessão econômica?

Uma recessão econômica é um fenômeno complexo que pode ser desencadeado por uma variedade de fatores, tanto internos quanto externos a um país. Esses fatores podem ter impactos significativos na economia, afetando o consumo, investimentos e o emprego.

Fatores internos

Internamente, a queda no consumo é um dos principais impulsionadores de uma recessão. Quando famílias e empresas reduzem seus gastos, isso leva a uma diminuição na produção e, consequentemente, na oferta de empregos. Além disso, altas taxas de juros e aumento de impostos podem desencorajar investimentos, contribuindo para a contração econômica. A queda na confiança dos consumidores e empresas também pode gerar um ciclo de redução nos gastos, agravando ainda mais a situação econômica.

Fatores externos

Além dos fatores internos, eventos externos também podem desempenhar um papel crucial na precipitação de uma recessão. Por exemplo, uma queda nos preços das commodities, uma guerra comercial, desastres naturais ou uma crise financeira global podem ter impactos significativos na economia de um país. A crise financeira global de 2008 e a pandemia de coronavírus em 2020 são exemplos recentes de eventos externos que desencadearam recessões em várias economias ao redor do mundo. Esses fatores externos são muitas vezes imprevisíveis e difíceis de controlar, representando um desafio adicional para a estabilidade econômica de um país.

Quais são os tipos de recessão econômica

Recessão técnica

Recessão técnica ocorre quando há dois trimestres consecutivos de contração no produto interno bruto (PIB) de um país. É uma medida técnica usada para caracterizar a recessão, mas pode não refletir necessariamente uma deterioração significativa na economia.

Recessão de fato

É quando há uma diminuição real na atividade econômica, independentemente de atender ou não aos critérios técnicos de duas quedas consecutivas no PIB. É percebida pela redução do emprego, do consumo e da produção.

Recessão de crescimento

Ocorre quando a taxa de crescimento econômico de um país se torna negativa. Isso pode resultar em diminuição do investimento, aumento do desemprego e queda na produção.

Recessão cíclica

É uma fase do ciclo econômico onde há uma contração geral na atividade econômica devido a uma queda na demanda agregada. É parte natural do ciclo econômico, caracterizada por diminuição na produção, aumento do desemprego e redução do investimento.

Recessão estrutural

Ocorre devido a mudanças profundas e duradouras na estrutura econômica de um país. Pode ser causada por mudanças tecnológicas, mudanças nos padrões de comércio global ou mudanças na demografia, e pode levar a desequilíbrios persistentes na economia.

Recessão financeira

Desencadeada por problemas no sistema financeiro, como uma crise bancária, colapso do mercado de ações ou um evento de crédito. Isso pode levar a uma contração significativa na atividade econômica devido a restrições no crédito e confiança reduzida nos mercados financeiros.

Recessão global

É quando a atividade econômica diminui em múltiplos países ao redor do mundo simultaneamente. Geralmente é desencadeada por eventos sistêmicos, como crises financeiras internacionais ou pandemias globais, e pode ter efeitos devastadores na economia global, incluindo queda no comércio internacional e aumento do desemprego.

Qual o histórico de recessão econômica global?

A recessão econômica global é um fenômeno recorrente que afeta diversas nações em diferentes momentos e por uma variedade de razões, como vimos anteriormente. Ao longo da história, várias recessões significativas deixaram marcas na economia global. A seguir, confira os principais casos:

A crise de 29 – 1930-1932

A Grande Depressão, também conhecida como Crise de 1929, iniciou-se com o crash da Bolsa de Nova York em 1929, sendo considerada a pior recessão econômica do século 20 no sistema capitalista. O dia 24 de outubro de 1929, conhecido como ‘Quinta-Feira Negra’, marcou o início da queda drástica dos valores das ações na bolsa de valores de Nova York. Essa quebra desencadeou uma rápida deterioração econômica, levando ao fechamento de empresas e indústrias e resultando em demissões em massa em vários países, incluindo o Brasil.

A “marolinha” – 2009

A recessão de 2009 foi desencadeada pelo colapso do mercado imobiliário nos EUA durante a crise financeira de 2007-2008 e a crise das hipotecas subprime. Isso levou ao resgate de várias empresas e bancos por governos em todo o mundo. Embora tenha sido descrita pelo FMI como a pior crise desde a Grande Depressão, seu impacto foi variado globalmente. Enquanto muitas economias desenvolvidas entraram em recessão, países emergentes como o Brasil sofreram menos. O então presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, minimizou a crise, chamando-a de “marolinha”.

2020 – Crise pandêmica

A pandemia de COVID-19 resultou em uma previsão de queda global na economia de mais de 5%, de acordo com o Banco Mundial. Isso ocorreu devido às restrições impostas para conter a propagação do vírus, impactando severamente as trocas econômicas. Economistas do Banco Mundial afirmaram que essa recessão será a mais profunda desde a Segunda Guerra Mundial, com a maioria das economias enfrentando declínios no PIB per capita, superando até mesmo a Grande Depressão de 1930-32 em termos de proporção de economias afetadas.

Japão e Reino Unido – 2024

Tanto o Japão quanto o Reino Unido entraram em recessões técnicas no início deste ano, marcando o segundo trimestre consecutivo de contração do PIB. No Japão, a diminuição da população tem contribuído para essa contração econômica, limitando o crescimento do país. Por outro lado, no Reino Unido, apesar do crescimento populacional e dos salários, houve uma queda nos gastos dos consumidores, um dos principais impulsionadores da economia.

Como a recessão econômica impacta os investimentos?

A recessão econômica gera um impacto significativo nos investimentos, devido à incerteza e instabilidade no ambiente econômico durante o período. Essa conjuntura leva os investidores a adotarem uma postura mais cautelosa e estratégias de investimento conservadoras.

Uma das principais consequências da recessão na esfera dos investimentos é a diminuição dos retornos financeiros. Com a queda na atividade econômica, muitas empresas estão registrando reduções nos lucros, impactando diretamente o desempenho dos investimentos em ações e outros ativos de renda variável.

Além disso, a recessão pode prejudicar o desempenho dos investimentos em renda fixa. Isso ocorre porque, durante crises econômicas, empresas e governos podem enfrentar dificuldades para cumprir suas obrigações financeiras, aumentando o risco de inadimplência.

Por outro lado, a recessão também pode abrir oportunidades em alguns segmentos de investimento. Por exemplo, durante períodos de recessão, os preços dos ativos financeiros tendem a cair, o que pode beneficiar investidores com uma perspectiva de longo prazo. Além disso, investimentos em setores defensivos, como saúde, alimentos e serviços essenciais, podem oferecer alternativas para investidores que buscam minimizar os impactos da recessão em suas carteiras.

Nova recessão à vista? Perspectivas futuras para as economias globais

Um relatório recente publicado pelo Banco Mundial, instituição financeira internacional que concede empréstimos a países em desenvolvimento, oferece insights sobre as perspectivas econômicas globais. Abaixo estão resumidas as projeções regionais:

  • No Leste Asiático e Pacífico, é esperado um declínio no crescimento para 4,5% em 2024, seguido por uma leve queda para 4,4% em 2025.
  • Na região da Europa e Ásia Central, prevê-se um crescimento moderado de 2,4% em 2024, aumentando para 2,7% em 2025.
  • Para a América Latina e Caribe, as projeções indicam um aumento no crescimento para 2,3% em 2024 e 2,5% em 2025.
  • No Oriente Médio e Norte da África, espera-se um crescimento de 3,5% em 2024, mantendo-se estável em 2025.
  • No Sul da Ásia, antecipa-se uma diminuição no crescimento para 5,6% em 2024, com uma recuperação para 5,9% em 2025.
  • Para a África Subsaariana, prevê-se um aumento significativo no crescimento, alcançando 3,8% em 2024 e 4,1% em 2025.

Resumo

Em síntese, a recessão é definida como uma queda prolongada na atividade econômica, marcada por indicadores como o PIB, emprego e consumo. Suas consequências incluem desemprego, queda no consumo, restrição de gastos empresariais e redução da produção industrial.

Durante uma recessão, os mercados financeiros podem entrar em um período conhecido como Bear Market, caracterizado pela desvalorização de ativos e pessimismo entre os investidores.

As causas da recessão podem ser internas, como queda no consumo, ou externas, como crises financeiras globais. Existem vários tipos de recessão, incluindo recessão técnica, de fato, de crescimento, cíclica, estrutural, financeira e global.

Durante uma recessão econômica, os investimentos são significativamente afetados. Os preços das ações tendem a cair, reduzindo os retornos financeiros e aumentando o risco de inadimplência em investimentos de renda fixa. No entanto, esse cenário pode criar oportunidades de investimento a longo prazo, especialmente em ativos subvalorizados. Setores defensivos, como saúde e alimentos, tornam-se mais atraentes, e a diversificação do portfólio se torna crucial para mitigar riscos.

Pedro Gomes

Jornalista desde 2021, com experiência em jornalismo esportivo, mercado imobiliário e EdTechs (startups de educação). Desde 2023, faz parte da equipe do Melhor Investimento, onde produz conteúdos focados no mercado financeiro. Suas áreas de interesse incluem renda fixa, bolsa de valores e mercado esportivo. Com o objetivo de simplificar temas complexos e tornar as informações acessíveis e relevantes, busca auxiliar os leitores na tomada de decisões estratégicas e na identificação de tendências e oportunidades de investimento.