Investir nos EUA. Por que e como começar
Veja o porquê e como devemos dolarizar parte do patrimônio e investir nos EUA.

O Brasil é considerado internacionalmente como o “paraíso dos rentistas”, ou seja, é um excelente país para fazer investimentos e receber juros, devido ao histórico de elevadas taxas básicas de juros, a chamada taxa SELIC.
Mas afinal, vale a pena deixar todo o dinheiro no Brasil, já que possui retornos tão atrativos?
Veja o porquê e como devemos dolarizar parte do patrimônio e investir nos EUA.
O real tamanho do Brasil
Sabemos que o Brasil é um país com proporções continentais, sendo o 5º maior em extensão territorial do mundo, ficando atrás apenas de Rússia, Canadá, China e Estados Unidos. Em termos de habitantes, somos o 7º maior do planeta, com população estimada em 215 milhões de acordo com o IBGE e ainda a 10ª maior economia do mundo, com PIB de R$11,7 trilhões.
É evidente que o Brasil assume um protagonismo em relação aos seus pares, principalmente em comparação às economias emergentes, pois possuímos um agronegócio forte, e grande reserva mineral que serve como matéria prima de exportação.
Renda fixa Brasil x Renda fixa EUA
Quando falamos de investimentos, o Brasil torna-se destino de grandes instituições financeiras globais que procuram países com bom risco x retorno para alocar seu capital. Há no mercado financeiro mundial, um termo padronizado internacionalmente conhecido como “risk free” ou “taxa livre de risco”, que seria o investimento de cada país com o menor risco, sendo geralmente títulos de dívida pública.
Nos EUA esse título “risk free” é um ativo chamado “T-Bond” e está pagando ao investidor aproximadamente 4,33% ao ano atualmente. Já no Brasil, a taxa livre de risco é a chamada “taxa SELIC” e atualmente está pagando ao investidor 14,25% ao ano.
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Sendo assim, vale a pena então deixar todo o dinheiro na SELIC?
A resposta de imediato é não. O motivo é simples: o risco. Apesar de serem chamadas de “taxa livre de risco” há uma enorme diferença no risco dos EUA em honrarem o pagamento de sua dívida e o risco do Brasil de quitar esses compromissos. Esse risco é o chamado risco de crédito.
Para explicar melhor essa diferença de rendimento investidos dos EUA e investindo no Brasil, vamos fazer uma analogia didática:
No primeiro caso um parente seu muito rico, com vários bens e ótimo histórico de convivência familiar e aceitação na sociedade pede-lhe R$100.000,00 emprestados porque precisa comprar um carro, porém seu dinheiro está todo investido sem liquidez, então não pode retirar imediatamente. Você com certeza emprestaria porque sabe que irá receber, então combina com esse parente de te pegar 5% ao ano, como forma de reajustar. Em resumo, há um baixíssimo risco de crédito, então você pode cobrar juros mais baixos.
No segundo caso, um parente seu com sérios problemas financeiros, desempregado e com nome restrito para tomar crédito em bancos lhe procura pedindo os mesmos R$100.000,00. Você emprestaria? Pode ser que sim, porém certamente iria cobrar um juro de pelo menos o dobro do parente do caso anterior, devido ao elevado risco de calote.
Traduzindo ao mundo dos investimentos, o parente do primeiro caso seria os EUA e o parente do segundo caso seria o Brasil. Os estrangeiros só investem no Brasil, porque os juros internos são extremamente altos, ou então, ninguém aportaria capital em um país subdesenvolvido e com sérios problemas econômicos como o nosso.
Bolsa de valores no Brasil x Bolsa de valores nos EUA
No Brasil, só há uma Bolsa de Valores, a B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), que conta com 439 empresas listadas onde é possível comprar e vender ações. O mercado brasileiro corresponde a 0,5% da carteira de investimentos global e é somente a 20ª maior bolsa, em termos de capitalização de mercado, somando atualmente US$917 bilhões.
Os EUA por sua vez possuem 13 bolsas de valores, dentre elas a NYSE, NASDAQ, Dow Jones, entre outras, que somam 4900 empresas listadas. A bolsa americana é a maior do mundo, representando cerca de 50% da carteira global e sua capitalização de mercado na casa dos US$40 trilhões.
Vale ressaltar um dado interessante: cerca de 3% dos brasileiros investem na bolsa de valores do Brasil, já nos EUA, cerca de 61% investem na bolsa americana.
Ibovespa (Brasil) x S&P 500 (EUA)
Como forma de avaliar o desempenho das bolsas de valores pelo mundo, foram criados índices de referência que traduzem exatamente os movimentos de mercado das empresas que os compõem.
No Brasil utilizamos o Ibovespa, que é composto pelas 87 ações de empresas que possuem maior volume de negociação no Brasil. Nos EUA é utilizado o índice S&P 500 (Standard and Poor’s 500) que é composto pelas 500 maiores ações negociadas nos EUA, com base na capitalização de mercado.
O retrospecto de quem investiu no Ibovespa através de ETF (Exchange Traded Fund) BOVA11 nos últimos 10 anos, foi um ganho acumulado de 132,74% sobre o capital investido.
Já quem investiu no ETF da bolsa americana, aqui no Brasil comprando o IVVB11, teve um ganho acumulado de 405,81%.
Maior empresa do Brasil (Petrobras) x Maior empresa dos EUA (Apple)
A Petrobras (PETR4) é a maior empresa negociada na B3 com um desempenho excelente nos últimos 5 anos, dando 93,42% de retorno ao capital investido. A petroleira brasileira de capital misto, possui capitalização de mercado de aproximadamente R$ 412 bilhões, sendo a 4ª maior empresa do ramo no mundo. Como essa ação é negociada na bolsa brasileira, esse retorno é sempre em reais.
Já a Apple (AAPL) é a maior empresa da bolsa americana NASDAQ com incrível valor de mercado de US$ 2,9 trilhões. Quem investiu na empresa fabricante do iPhone, iPad e demais eletrônicos, obteve incríveis 173,06% de rentabilidade. Por ser negociada na NASDAQ, diretamente nos EUA, essa rentabilidade é em dólar, ou seja, o investidor fica exposto à variação cambial e pode lucrar tanto com a alta do dólar quanto a alta da empresa, já que recebe os valores diretamente em dólar americano.

Comparando 3 investimentos distintos: CDI x DÓLAR x DÓLAR +5%
No gráfico abaixo, é apresentada a comparação entre os 3 investimentos em um período de 10 anos. Fica evidente que o CDI perdeu tanto para o dólar quanto para os investimentos dolarizados, como Bonds, Treasuries e outros títulos norte-americanos de curto prazo. Há uma frase dita erroneamente no Brasil de que “nada bate o CDI”, porém se estudarmos a fundo e com dados reais como estes apresentados, observaremos que isso não é verdade. Inclusive, em períodos maiores de tempo, a diferença de rentabilidade é ainda mais discrepante, o que evidencia a importância de dolarizar parte do patrimônio.
Para termos uma ideia clara de como o momento está propício para investir fora do Brasil, no gráfico abaixo demonstramos que a taxa de retorno das Treasuries de 10 anos, que são basicamente títulos do governo americano, considerados um dos investimentos mais seguros do mundo, justamente por ser emitido pelos EUA que são a maior economia e são emissores da moeda mais forte do planeta.
A atual taxa de 4,5% só ocorreu em 1,5% do tempo nos últimos 15 anos, em outras palavras, é um fenômeno que ocorre raramente, abrindo uma janela de oportunidade de curta duração, historicamente.
Qual a melhor forma de investir nos EUA?
Existem diversas formas de investir nos EUA, para todos os perfis de investidores, desde conservadores até arrojados. Aqui estão alguns:
1. Ações (Stocks)
- O que são: Representam a propriedade parcial de uma empresa. Quando você compra uma ação, torna-se sócio daquela empresa.
- Risco/Retorno: Alto risco, mas potencialmente alto retorno no longo prazo.
- Exemplo: Comprar ações da Apple (AAPL) ou Google (GOOGL).
Comentário: a bolsa americana subiu mais de 100% nos últimos e 5 anos, porém tiveram ações que caíram 90% e outras subiram 1000%. Em resumo é um investimento excelente, porém requer estudo e de preferência ajuda profissional.
2. ETFs (Exchange Traded Funds)
- O que são: Fundos que replicam índices (como o S&P 500) e são negociados como ações.
- Risco/Retorno: Risco moderado a alto; oferecem diversificação com baixo custo.
- Exemplo: SPY (ETF que replica o S&P 500).
Comentário: é a forma mais simples e funcional de investir dos EUA. Existem aproximadamente 3 mil ETF’s disponíveis o que enquadra todos os perfis de investidores.
3. REITs (Real Estate Investment Trusts)
- O que são: Fundos que investem em imóveis e distribuem a maior parte dos lucros como dividendos. São como os Fundos Imobiliários, no Brasil.
- Risco/Retorno: Moderado, com foco na geração de renda.
- Exemplo: Realty Income (O), um REIT focado em imóveis comerciais.
São investimentos relativamente estáveis que geram dividendos ao investidor. Foco principal não é o ganho de capital, e sim o recebimento de rendimentos de cotas.
4. Renda Fixa (Bonds)
- O que são: Empréstimos que você faz para governos ou empresas, que pagam juros com prazo determinado.
- Risco/Retorno: Baixo a moderado risco, com retornos mais estáveis.
- Exemplo: Treasury Bonds (títulos do governo dos EUA).
Excelente forma de investir em dólar, pois são títulos menos arriscados e com retornos pré-fixados, ou seja, o investidor já sabe quanto receberá no vencimento.
5. Fundos Mútuos (Mutual Funds)
- O que são: Fundos geridos por profissionais que reúnem dinheiro de vários investidores para comprar uma cesta de ativos. São como os fundos de investimentos, no Brasil.
- Risco/Retorno: Varia conforme a estratégia do fundo; geralmente mais caro que ETFs.
- Exemplo: Fundo mútuo de ações de tecnologia.
São fundos administrados pelas maiores gestoras do mundo, como BlackRock, Vanguard, Fidelity, Invesco, entre outras gigantes. A maior vantagem é o nível de qualidade da gestão dos ativos, sendo muitas vezes os investimentos mais rentáveis dos EUA e com melhor risco x retorno.
Conclusão
O PIB do Brasil é cerca de 7% do PIB norte americano. Somente o estado do Texas possui o PIB maior do que todo o Brasil. O real brasileiro possui 31 anos de existência, desde a criação do plano real em 1994. O dólar, por sua vez, possui 249 anos de existência. Nesse mesmo período, o Brasil já teve 9 moedas fiduciárias.
Todos os países do mundo possuem parte ou totalidade da Reserva Estratégica em dólar, devido à alta validação ao longo dos anos e pela força comercial implícita. Inclusive as Reservas Internacionais do Brasil são em dólar, na casa dos 300 milhões.
Fica um questionamento: Por que o Brasil, que justamente criou e emite o real através da Casa da Moeda, não faz a sua reserva internacional em reais e sim em dólar?
A resposta é simples: a moeda do Brasil já foi trocada 9 vezes, desvalorizando-se a passos largos, sendo que somente em 2024, desvalorizou 21,82% frente ao dólar americano, considerando a PTAX, que é a taxa oficial de câmbio.
Não sabemos qual será a moeda do Brasil daqui a 30 anos, mas provável e quase certamente o dólar será a moeda dos Estados Unidos, como nos últimos 249 anos.
Também não sabemos qual será a moeda mais forte do mundo daqui a 30 anos, porém sabemos que não será o real.
Como dito anteriormente, a bolsa brasileira não foi a que melhor performou no Brasil, porém sabemos que a bolsa americana segue em forte tendência de alta em qualquer período superior a 5 anos.
Por fim, se nem o governo brasileiro, que emite nossa moeda, confia 100% no seu poder de compra e perpetuidade, por que nós, meros investidores, deveríamos manter todo o patrimônio no Brasil, sendo que os EUA fornecem todos os tipos de investimentos que temos, porém com maior diversidade e na moeda dominante globalmente?
Fica aqui uma frase de Warren Buffet, o maior investidor do mundo: “Never bet against America”, traduzindo, “Nunca aposte contra a América”.
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