Irã e Israel: entenda o conflito e os impactos globais, após a última escalada
Ameaças, ataques e represálias são apenas alguns dos elementos que compõem o conflito entre Israel e Irã, que já dá sinais de poder envolver grandes potências no cenário geopolítico.

Diante dos desdobramentos iniciados na última sexta-feira (13), o já tenso conflito entre Irã e Israel ganhou novos e preocupantes capítulos. A escalada recente foi impulsionada por questões envolvendo o programa nuclear iraniano, além de declarações contundentes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que voltou a direcionar ameaças ao regime islâmico.
Não é de hoje que os embates no Oriente Médio ocupam espaço nos noticiários. O conflito religioso e militar entre Israel e o povo palestino está entre os mais duradouros da história moderna — uma disputa multifacetada que já se arrasta há quase um século.
O conflito entre Israel e Irã combina fatores ideológicos, territoriais, religiosos e geopolíticos. Ao longo dos anos, essa rivalidade tem se manifestado por meio de guerras, levantes, ataques e constantes represálias. Entenda melhor os elementos históricos que alimentam essa disputa e os fatores que contribuíram para a atual escalada de tensão.
Contexto Histórico dos Ataques
Para melhor ilustrar as características históricas do conflito, recorremos a conteúdos especializados a fim de destacar alguns pontos-chave que ajudam a compreender o cenário atual de tensão entre Irã e Israel.
Origens do conflito
O conflito tem raízes na disputa por territórios historicamente ocupados por hebreus e filisteus — ancestrais de israelenses e palestinos — marcados por sucessivas guerras, expulsões e reconquistas. Mas pode-se dizer que na história moderna, os conflitos remontam do final da primeira guerra mundial.
Após o conflito global, o Reino Unido assumiu o controle da Palestina, antes sob domínio otomano. A tensão entre judeus e árabes cresceu com o apoio britânico à criação de um lar judeu na região, apesar da promessa de proteger os direitos dos árabes locais.
Entre 1920 e 1940, o número de judeus na região aumentou, impulsionado pela perseguição na Europa e, mais tarde, pelo Holocausto. Em 1948, com a saída de cena do Reino Unido, líderes judeus declararam a criação do Estado de Israel. A nova nação foi oficialmente reconhecida pela ONU no ano seguinte.
Guerra de 1948
A criação do Estado de Israel não foi bem aceita nas regiões palestinas. No dia seguinte à declaração de independência, o país foi imediatamente atacado e cercado por exércitos de cinco nações árabes.
Como ocorre em muitos eventos históricos, o conflito é marcado por diferentes narrativas e por tragédias humanitárias. Para os israelenses, esse recorte histórico ficou conhecido como a Guerra de Independência, enquanto para os árabes, é lembrado como Nakba — ou “Catástrofe”.
A guerra terminou com Israel controlando cerca de 75% do território. Acordos posteriores deixaram o Egito com a Faixa de Gaza, a Jordânia com a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, enquanto Israel manteve Jerusalém Ocidental.
Cerca de 750 mil palestinos foram forçados a deixar suas casas, fugindo das áreas que passaram a compor o novo Estado. Ao mesmo passo, nos anos seguintes, centenas de milhares de judeus também deixaram ou foram expulsos de países de maioria muçulmana no Oriente Médio e no Norte da África.
Guerra dos 6 dias e conflitos posteriores

O conflito conhecido como Guerra dos Seis Dias, em 1967, redesenhou as fronteiras do Oriente Médio. Após uma escalada de tensões, Israel lançou um ataque contra a força aérea egípcia.
Ao fim dos combates, o país havia conquistado a Península do Sinai e a Faixa de Gaza, do Egito; grande parte das Colinas de Golã, da Síria; além de Jerusalém Oriental e a Cisjordânia, da Jordânia.
Seis anos depois, em 1973, Egito e Síria tentaram reverter essas perdas na Guerra do Yom Kippur. Embora Israel tenha mantido os territórios conquistados, dobrando sua extensão territorial, os conflitos deixaram profundas marcas na região.
A ocupação israelense persiste até hoje. Em 1979, Israel devolveu o Sinai ao Egito após um acordo de paz, mas anexou Jerusalém Oriental e as Colinas de Golã — medidas não reconhecidas pela maior parte da comunidade internacional.
Nota: Estes são apenas alguns dos aspectos que marcam os intensos conflitos entre árabes e judeus. Como mencionado, trata-se de uma disputa histórica longa, atravessada por processos complexos e diversas interpretações ao longo do tempo. Os pontos apresentados aqui são apenas recortes de um embate muito mais amplo.
O que é o programa nuclear iraniano?
É importante reservarmos um espaço de destaque para o programa nuclear do Irã, um dos principais fatores por trás da recente escalada do conflito em 2025.
Segundo o historiador brasileiro Moniz Bandeira — em informações divulgadas pela Agência Brasil — o programa teve início na década de 1960, com apoio dos Estados Unidos e da Alemanha, durante o governo do xá Reza Pahlavi, que permaneceu no poder por 25 anos.
Em 1979, com a Revolução Iraniana, o xá foi deposto, encerrando — nas palavras de Moniz Bandeira — “a subordinação do Irã às potências ocidentais”. Após a revolução, o aiatolá Ruhollah Khomeini, então líder supremo, declarou que as armas nucleares eram incompatíveis com os princípios do Islã e emitiu um fatwâ (espécie de decreto religioso) proibindo seu desenvolvimento.
Somente em 1989, após a morte de Khomeini, o novo líder, aiatolá Ali Khamenei, retomou o programa nuclear, embora sempre negando qualquer intenção de produzir armamentos. Em 2005, Khamenei emitiu um novo fatwâ, reafirmando a proibição de produzir, armazenar ou usar armas nucleares. Desde então, o Irã tem buscado acordos com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
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Se não armas, para que serve o programa?
O analista geopolítico Ali Ramos avalia que o programa nuclear do Irã sempre teve como principal motivação a demanda por energia.
“O Irã tem um problema histórico, desde a época do xá, para criação de energia, para desenvolver sua indústria. O Irã tem algumas usinas nucleares por isso”, disse o especialista, à Agência Brasil.
O especialista também ressalta o uso de urânio na produção de isótopos essenciais para o tratamento de câncer e leucemia. Já o historiador Moniz Bandeira compara o programa nuclear iraniano à nacionalização da indústria do petróleo promovida por Mossadegh antes do golpe de 1953.
A AIEA, por sua vez, declarou que “não está em condições de garantir que o programa nuclear do Irã seja exclusivamente pacífico”. A manifestação ocorreu um dia antes do recente ataque de Israel ao país, acompanhada da afirmação de que o Irã não está cumprindo as obrigações previstas no Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP).
Acordos e rupturas quanto à questão nuclear
Em 2015, o mundo presenciou um momento histórico nas relações entre o Ocidente e o Irã com a assinatura do Plano de Ação Integral Conjunto (JCPOA). O acordo visava limitar o programa nuclear iraniano em troca do alívio de sanções econômicas.
No entanto, ao longo dos anos, reviravoltas políticas, principalmente nos Estados Unidos, colocaram em xeque a continuidade do pacto.
- 2015 – O presidente Barack Obama assina o JCPOA, acordo entre Irã e o grupo P5+1 (China, Rússia, França, Reino Unido, EUA e Alemanha), com o objetivo de limitar o programa nuclear iraniano em troca do alívio de sanções. O Irã teria cerca de US$ 100 bilhões em ativos descongelados.
- 2016 – A AIEA confirma que o Irã está cumprindo os termos do acordo, incluindo a reformulação de sua matriz nuclear para inviabilizar a produção de plutônio e urânio enriquecido em níveis bélicos.
- 2018 – O então presidente Donald Trump retira os EUA do acordo de forma unilateral, sem consultar os parceiros europeus. As sanções contra o Irã são restabelecidas, o que agrava as tensões no Oriente Médio. Trump classifica o JCPOA como um “acordo desastroso”.
- 2018–2020 – Os países europeus tentam manter o acordo vivo, mas fracassam diante da pressão econômica e diplomática dos EUA.
- 2021–2024 – O presidente Joe Biden não retoma oficialmente o acordo, mantendo o impasse com Teerã, apesar de acenos diplomáticos.
- 2025 – Durante o novo mandato de Trump, o Irã retoma negociações com os EUA em Omã. As conversas avançam até a sexta rodada, mas são interrompidas após um ataque de Israel ao território iraniano. Teerã suspende o diálogo e acusa os EUA de cumplicidade com o governo de Benjamin Netanyahu.
Com dados da Agência Brasil.
A Escalada Atual (2024–2025)

Com os devidos contextos estabelecidos, chegamos à atual escalada do conflito no Oriente Médio, marcada por uma sucessão de eventos em poucos dias.
Segundo amplamente divulgado pela grande mídia, a troca de ataques entre Israel e Irã teve início na madrugada da sexta-feira de 13 de junho, quando Israel lançou uma ofensiva direcionada ao programa nuclear iraniano e a líderes militares de alto escalão.
A partir daí, teve início uma intensa troca de ataques entre Israel e Irã. O Exército israelense declarou ter atingido três instalações nucleares iranianas nas regiões de Natanz, Arak e Isfahan. No mesmo dia em que esses ataques foram confirmados, mísseis iranianos atingiram o principal hospital no sul de Israel e outros alvos, incluindo a capital Tel Aviv, deixando ao menos 47 pessoas feridas em todo o país.
Cerca de uma hora após o início dos bombardeios, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, declarou que o país não participou da ação. Apesar disso, a Casa Branca foi previamente informada sobre os planos de Israel. Em entrevista à Fox News, Trump afirmou já saber do ataque e enfatizou que o Irã “não pode ter uma bomba nuclear.”
Suspeitas sobre o programa nuclear iraniano
Certas potências ocidentais, como EUA e Israel, suspeitam que o Irã busca desenvolver armas nucleares, o que Teerã nega, alegando fins civis. No entanto, o rápido avanço no enriquecimento de urânio levanta preocupações: segundo a AIEA, em três meses, o Irã dobrou seu estoque de urânio enriquecido a 60% bem acima do necessário para uso civil. Oficialmente, o país não possui armas nucleares.
Segundo a Arms Control Association, apenas nove nações têm esse tipo de armamento: EUA, Rússia, China, França, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte.
Troca de ameaças entre Trump e Khamenei
Em meio ao agravamento do conflito, instalou-se uma troca de ameaças entre o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei. Ao ser questionado sobre uma possível intervenção americana, Trump respondeu de forma enigmática: “ninguém sabe o que eu vou fazer”, e emitiu um ultimato exigindo a rendição total do Irã.
Trump também insinuou que Khamenei seria “um alvo fácil”, alegando que os EUA sabiam onde ele “se escondia”. Afirmou ainda que não pretendiam matá-lo “por enquanto”, mas advertiu que “a paciência está se esgotando”.
Em resposta, por meio de um pronunciamento lido na TV estatal, Khamenei rejeitou categoricamente as ameaças. “Aqueles que conhecem a história e o espírito da nação iraniana jamais se dirigiriam a ela em tom ameaçador”, declarou, alertando que qualquer envolvimento direto dos EUA no conflito trará “danos irreparáveis”.
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Impactos Geopolíticos Globais
A escalada de tensões entre potências globais e os desdobramentos no Oriente Médio colocam o mundo diante de um cenário instável e preocupante. Com o fracasso das negociações nucleares e o avanço das hostilidades, a comunidade internacional observa, com apreensão, os próximos passos.
Aliados tradicionais de ambos os lados manifestaram-se em defesa de princípios como o direito à legítima defesa, a soberania nacional e a busca por acordos de paz. No entanto, até o momento, há poucos sinais de que alguma medida concreta será adotada pelas potências globais para conter a escalada do conflito.
Alinhamentos de potências
EUA e Israel
Historicamente, os Estados Unidos têm apoiado Israel desde a criação do Estado. Embora o governo norte-americano negue envolvimento direto nos recentes ataques, a tentativa de se distanciar do conflito não parece se refletir nas declarações do presidente Donald Trump.
Trump criticou o Irã por não ter aceitado o acordo nuclear que estava em negociação e afirmou ter “total controle sobre os céus iranianos”. Disse ainda que Teerã havia entrado em contato com os EUA para retomar o diálogo, mencionando um convite para um possível encontro na Casa Branca — sem, no entanto, especificar a origem da proposta.
“Eu disse que agora é tarde demais”, declarou. Trump também afirmou ter recomendado ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que mantivesse a ofensiva, embora não tenha sinalizado apoio militar direto.
Rússia, China e Irã
Do outro lado, o Irã conta com o respaldo de dois aliados estratégicos: China e Rússia. Ambos condenaram o ataque israelense. Apesar de não haver um acordo formal de defesa mútua entre Irã e Rússia, os países mantêm uma aliança sólida.
O vice-chanceler russo, Sergei Riabkov, declarou que Moscou está disposta a atuar como mediadora no conflito e até a receber o excedente de urânio enriquecido iraniano como forma de conter a escalada.
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, condenou o ataque israelense, classificando-o como uma “violação da soberania, segurança e integridade territorial do Irã”. Ele também reforçou o direito do país persa à legítima defesa. Além disso, a China se ofereceu para mediar o conflito e apelou para que ambas as partes contenham as tensões.
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Impactos Econômicos
Conflitos em escala global — especialmente em regiões estratégicas — têm forte impacto sobre os mercados internacionais e carregam o potencial de desencadear efeitos econômicos em cadeia.
Diante dos recentes ataques, investidores passaram a temer interrupções no fornecimento global de energia. A ameaça do Irã de fechar o Estreito de Ormuz — caso os Estados Unidos se alinhem militarmente a Israel — contribuiu para elevar ainda mais as tensões na região.
Cerca de 20% do petróleo mundial passa por esse corredor marítimo estratégico, e qualquer bloqueio ou interferência na navegação pode comprometer seriamente o fluxo da commodity, abalando os mercados internacionais de energia.
Além disso, paira no ar o risco de retaliações contra navios e infraestruturas energéticas, o que amplia a percepção de instabilidade. Analistas da DNB Markets avaliam que o conflito no Oriente Médio “continua em trajetória de escalada, mas a situação é fluida”.
Já segundo a Oxford Economics, mesmo que os ataques cessem, a imposição de sanções mais severas ao Irã pode levar a uma queda de até 700 mil barris por dia na produção global de petróleo — fator que tende a pressionar ainda mais os preços do Brent.
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