Já cogitou investir em ações do agronegócio? O setor de alimentos, sobretudo o agro, é um dos pilares da economia brasileira, destacando-se tanto por sua expressiva contribuição ao PIB (Produto Interno Bruto) quanto por sua posição de liderança no cenário global de exportação de commodities.

Com diversas empresas que vão desde gigantes da produção agrícola até líderes na indústria alimentícia, investir em ações desse setor listadas na bolsa, pode representar uma estratégia interessante para diversificar e fortalecer a carteira de investimentos. 

Neste artigo, você conhece algumas das principais empresas do segmento que possuem suas ações negociadas na B3 – Bolsa de Valores do Brasil

Atuação da indústria alimentícia no Brasil

Com uma participação de 10,7% no PIB nacional, a indústria alimentícia brasileira é um dos setores mais importantes da economia. Responsável por processar mais de 60,9% da produção agropecuária do país, hoje, o setor gera cerca de 2 milhões de empregos diretos. Os dados são ABIA (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos)

No cenário das exportações, o Brasil ocupa uma posição de destaque como um dos maiores exportadores de alimentos industrializados do mundo, comercializando produtos para mais de 190 países. Segundo a associação, o comércio exterior do segmento é o maior do mundo em volume, e o quinto em valor.

Além disso, a produção de alimentos foi a principal atividade industrial no país em 2022, representando 22,5% da Receita Líquida de Vendas (RLV) do setor industrial.

Outros números que ilustram o tamanho da indústria alimentícia brasileira

IndicadorValor
Empregos gerados (incluindo diretos, formais e indiretos)10 milhões
Investimentos totaisR$ 35,9 bilhões
Produção destinada ao abastecimento interno73%
Vendas em 2023R$ 234,9 bilhões
ExportaçõesUS$ 62 bilhões
Participação nas exportações totais brasileiras18,3%
Fonte: ABIA/2024

A importância do Agronegócio na economia

Com raízes profundas na história, o agronegócio e a pecuária sempre foram setores de destaque econômico no contexto nacional. Desde o período colonial, produtos como açúcar, café e algodão impulsionaram a economia brasileira e a projetaram no cenário internacional.

Conforme apuração da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), em 2022, a soma de bens e serviços gerados no agronegócio chegou a R$ 2,54 trilhões (25% do PIB).  

  • A maior parte desse montante é proveniente do setor agrícola, que responde por 72,2% do total, equivalente a R$ 1,836 trilhão. 
  • Já o setor pecuário representa os 27,8% restantes, o que corresponde a R$ 705,36 bilhões.

Os números divulgados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) confirmam a relevância do agronegócio para a economia brasileira. Com um VBP de R$ 2,45 trilhões em 2024, sendo R$ 1,65 trilhão na agricultura e R$ 801 bilhões na pecuária, o setor continua a demonstrar sua força e dinamismo. 

A projeção do centro de estudos é que a participação do agronegócio no PIB brasileiro diminua ligeiramente, passando de 24,0% em 2023 para cerca de 21,5% em 2024.

Exportações do Agro Brasileiro

No primeiro semestre de 2024, as exportações brasileiras do agronegócio atingiram expressivos US$ 82,39 bilhões, marcando o segundo maior valor já registrado na série histórica do setor. Os segmentos que mais contribuíram para esse resultado foram os de grãos, carnes, café e produtos florestais, que continuam a liderar as exportações

  • Complexo soja: US$ 33,53 bilhões (40,7% do total exportado)
  • Setor de carnes: US$ 11,81 bilhões (14,3% do total exportado)
  • Complexo sucroalcooleiro: US$ 9,22 bilhões (11,2% do total exportado)
  • Produtos florestais: US$ 8,34 bilhões (10,1% do total exportado)
  • Setor de café: US$ 5,31 bilhões (6,4% do total exportado)

Os dados, divulgados em junho de 2024, são provenientes da Secretaria de Comunicação Social (SECOM), em colaboração com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Jalles Machado (JALL3)

A Jalles Machado S.A. é uma empresa brasileira original de Goianésia, Goiás, que atua no setor sucroenergético. Fundada em 1980, a empresa possui uma capacidade de moagem de cerca de 5,3 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano, além de contar com duas usinas: Unidade Jalles Machado (UJM) e a Unidade Otávio Laje (UOL).

  • Atuação: empresa de açúcar e etanol
  • Destaque: a empresa se destaca pela produção de açúcar, etanol, energia elétrica, produtos de limpeza, levedura e látex. Desponta como a maior exportadora de açúcar orgânico do globo.

Últimos resultados divulgados

Os resultados da Jalles Machado no primeiro trimestre do ano fiscal 2024/25 foram marcados por uma queda nos principais indicadores. A empresa registrou um prejuízo líquido de R$ 2,4 milhões, revertendo o lucro líquido de R$ 49,5 milhões do período homólogo anterior, enquanto o Ebitda (Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) ajustado caiu 10,1% para R$ 243,9 milhões. A receita líquida também sofreu retração, diminuindo 9,8% para R$ 401,3 milhões.

– Outros indicadores reportados:

  • Processamento de cana-de-açúcar: 3,16 milhões de toneladas de cana-de-açúcar no trimestre, um aumento de 4,7% em relação ao período anterior.
  • Produção de açúcar: cresceu 4,4%, passando de 128,8 mil toneladas para 134,4 mil toneladas, na base anual  
  • Vendas de açúcar: diminuíram 13,8%, totalizando 76,3 mil toneladas.
  • Vendas de etanol: aumentaram 7,7%, atingindo 68,5 milhões de litros.

Camil (CAML3)

A Camil é uma multinacional brasileira com mais de seis décadas de trajetória, consolidada como uma das principais empresas do setor alimentício na América Latina. A empresa possui forte presença em diversos países, como Uruguai, Chile, Peru e Paraguai, onde lidera o mercado de arroz com marcas renomadas como Saman, Tucapel, Costeño e Paisana.

  • Atuação: produção, comercialização e distribuição de arroz e outros produtos, como feijão, pescados enlatados e açúcar
  • Destaque: referência no setor alimentício da América do Sul, com destaque para o mercado de arroz, liderando o beneficiamento, empacotamento, distribuição e comercialização do produto.

Últimos resultados divulgados

Entre março e maio deste ano, a gigante do setor alimentício reportou um lucro líquido de R$ 78,5 milhões, um aumento expressivo de 28,2% em comparação ao mesmo período do ano anterior. O Ebitda também apresentou crescimento significativo, atingindo R$ 255 milhões, o que corresponde a um avanço de 28% na base anual. 

– Outros indicadores reportados

  • Custos das Vendas e Serviços: R$ 2,3 bilhões (78% da receita líquida);
  • Despesas Gerais e Administrativas: R$ 439,6 milhões (15,2% da receita líquida), com queda de 1,4 pontos percentuais na base anual.
  • Endividamento Total: R$ 5,2 bilhões, um aumento de 29,6% em relação ao ano anterior. 

Marfrig (MRFG3)

A Marfrig Global Foods (MRFG3) é uma das maiores empresas de alimentos à base de proteína animal do mundo. Fundada em 2000, a empresa opera em diversos países, com unidades de produção em diferentes continentes, incluindo, América (Sul e Norte) e Europa. 

  • Atuação: foco principal na produção e comercialização de carne bovina, ovina, suína e de aves, além de produtos processados e industrializados.
  • Destaques: Segunda empresa mais proeminente na produção mundial de carne bovina, além de uma expansão global e presença forte na América do Norte.

Últimos resultados divulgados

A Marfrig apresentou uma boa recuperação em seus resultados no segundo trimestre deste ano, revertendo o prejuízo de R$ 784 milhões registrado no mesmo período de 2023 para um lucro líquido de R$ 75 milhões no 2T24. O desempenho positivo foi acompanhado por um aumento de 64,8% no Ebitda ajustado consolidado, atingindo R$ 3,4 bilhões.

– Outros indicadores reportados:

  • Receita Líquida: crescimento de 16,5% em relação ao 2T23, alcançando R$ 34,7 bilhões.
  • Redução da Alavancagem: A relação dívida líquida/Ebitda caiu para 3,4x, uma leve melhora em relação aos 4x do segundo trimestre de 2023
  • Desempenho da BRF: A receita da BRF cresceu 22%, refletindo em um aumento de 5% no volume de vendas.

JBS (JBSS3)

A JBS S.A. é uma multinacional brasileira e uma das líderes globais na indústria de alimentos. Fundada em 1953 em Goiás, a empresa tem sede em São Paulo e está presente em mais de 20 países. Com mais de 270 mil colaboradores, a JBS é conhecida por seu amplo portfólio de produtos, que inclui carnes bovina, suína, ovina, de frango, de peixe e produtos plant-based.

  • Atuação: concentra-se na produção de proteínas, entretanto, também atua em áreas correlacionadas, como couro, biodiesel, colágeno, envoltórios naturais, higiene pessoal e limpeza, embalagens metálicas, entre outras.
  • Destaques: entre os fatores que consolidam a empresa no mercado global, evidencia-se sua diversificação geográfica, seus produtos variados, e o seu posicionamento como a maior produtora de proteínas do mundo.

Últimos resultados divulgados

No segundo trimestre de 2024, a companhia alcançou uma receita líquida recorde de R$ 100,6 bilhões, um crescimento de 12,6% em relação aos mesmos três meses de 2023. O resultado robusto se refletiu no lucro líquido da companhia, que atingiu R$ 1,7 bilhão, no período. 

– Outros indicadores reportados:

  • Ebitda: ficou em R$ 9,9 bilhões no 2T24, resultado positivo frente aos R$ 4,5 bilhões no mesmo período do ano anterior.
  • Alavancagem: a dívida líquida/Ebitda caiu de 3,66x no 1T24 para 2,77x no 2T24.
  • Liquidez: o Caixa ficou positivo em R$ 21,4 bilhões ao fim do trimestre. Além disso, a JBS reportou a Disponibilidade de US$ 3,3 bilhões em linhas de crédito rotativas, equivalentes a R$ 18,6 bilhões no câmbio de fechamento do período.

Minerva (BEEF3)

A Minerva Foods (BEEF3), empresa brasileira de alimentos fundada em 1924 em Barretos, São Paulo, tem se destacado no mercado global de carnes. Desde seu IPO em 2007, a companhia ampliou significativamente suas operações, consolidando-se como um importante player internacional. Além de suas operações no Brasil, a Minerva está presente em países como Paraguai, Argentina, Uruguai e Colômbia, e conta ainda com plantas especializadas em ovinos na Austrália.

  • Atuação: comercialização de carne in natura, couros, derivados e na exportação de gado vivo, além de processar carnes.
  • Destaques: forte presença nos mercados internacionais, haja visto que a empresa comercializa para mais de 100 países. Além disso, a Minerva é referência na exportação de carne bovina na América do Sul, 

Últimos resultados divulgados

Conforme o divulgado, no 2T24, o frigorífico Minerva (BEEF3) registrou um lucro líquido de R$ 95,4 milhões, uma queda de 21% em relação ao período homólogo de 2023, impactado principalmente pela variação cambial sobre o endividamento. Quanto ao Ebitda, o indicador somou R$ 744,6 milhões entre abril e junho, representando um crescimento de 4,7% na base anual.

– Outros indicadores reportados: 

  • Receita Líquida: avanço de 5,4% em relação ao 2T23, totalizando R$ 7,66 bilhões.
  • Receita Bruta: Totalizou R$ 8,162 bilhões, um crescimento de 5,2% comparado ao 2T23.
  • Mercado Externo: Contribuição de R$ 5,01 bilhões para a receita bruta no 2T24, queda de 1,9% na base anual.
  • Mercado Doméstico: Contribuição de R$ 3,15 bilhões para a receita bruta, com alta de 18,9% em relação ao 2T23.

São Martinho (SMTO3)

A São Martinho S.A. é uma das maiores empresas do setor sucroenergético no Brasil. Fundada em 1914, a companhia tem sede em São Paulo e opera quatro usinas: São Martinho, em Pradópolis (SP), Iracema, em Iracemápolis (SP), Santa Cruz, em Américo Brasiliense (SP), e Boa Vista, em Quirinópolis (GO). Atualmente, a empresa possui uma capacidade de moagem de 24 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, aspecto pelo qual ela é amplamente reconhecida. 

  • Atuação: focada na produção de açúcar, etanol e energia renovável a partir da cana-de-açúcar.
  • Destaques: forte integração vertical no setor sucroenergético, além de se destacar entre as companhias mais inovadoras do mercado nacional. 

Últimos resultados divulgados

Nos resultados do primeiro trimestre do ano-safra  2024/25, a São Martinho (SMTO3), registrou uma queda de 51,7% no lucro líquido, que totalizou R$ 106,32 milhões. Por outro lado, o Ebitda reportado foi de R$ 672,34 milhões, representando um avanço de 20,7% em comparação ao período homólogo de 2023. Quanto à margem Ebitda ajustada, o indicador ficou em 40,6%.

– Outros indicadores reportados: 

  • Alavancagem: 1,27 vezes a dívida líquida sobre o Ebitda ajustado no final do 1T25.
  • Receita Líquida: R$ 1,655 bilhão no 1T25, com crescimento de 22,3% em comparação ao 1T24.
  • Despesas Gerais e Administrativas: R$ 97,4 milhões no 1T25, avanço de 2,0% frente ao 1T24.

Vale a pena investir em ações do Agronegócio?

Quem já é investidor há mais tempo, deve imaginar que não há uma resposta única para essa pergunta. A aplicação em ações do agronegócio, pode ser uma opção interessante para diversificar a carteira, especialmente considerando a robustez do setor em pleno crescimento. No entanto, o que vai determinar, antes de tudo, se essa é a decisão certa depende do perfil e dos objetivos individuais de cada investidor.

Neste contexto, é importante considerar fatores como a tolerância ao risco, o horizonte de tempo e as metas financeiras. Além disso, a diversificação é uma estratégia essencial para mitigar riscos. Investir em ações do agronegócio pode servir como um contraponto a setores mais voláteis, dado que o Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de commodities agrícolas.

De todo modo, a decisão de investir no agronegócio não se resume à atratividade do setor, mas também deve abarcar a adequação dessa escolha ao perfil do investidor e ao alinhamento com seus objetivos de curto, médio e longo prazo. 

Avaliar o cenário econômico, as condições do mercado e o potencial de crescimento das empresas também é crucial para fundamentar a decisão de forma consciente e estratégica. Esse processo costuma demandar certa complexidade, portanto, é altamente recomendável contar com o auxílio profissional especializado, antes de qualquer escolha. Assim, o investidor pode considerar a consulta de um assessor financeiro.

Lembrando que este artigo tem viés informativo, logo, não recomenda tampouco desaconselha o investimento em qualquer das ações aqui supracitadas.

Lucas Machado

Redator e psicólogo com mais de 3 anos de experiência na produção de artigos e notícias sobre uma ampla gama de temas. Suas áreas de interesse e expertisse incluem previdência, seguros, direito sucessório e finanças, em geral. Atualmente, faz parte da equipe do Melhor Investimento, abordando uma variedade de tópicos relacionados ao mercado financeiro.