Inovadora por natureza, a Polishop cresceu durante os seus mais de 20 anos, e hoje se consolida como uma das mais conhecidas redes de varejo do Brasil. Seu portfólio diversificado, que inclui eletrodomésticos, produtos de saúde e beleza, entre outros, são amplamente populares entre os brasileiros.

No entanto, a trajetória de sucesso da empresa sofreu um revés significativo com o pedido de recuperação judicial, protocolado recentemente. Com uma dívida acumulada de R$ 395 milhões, a Polishop enfrenta desafios que refletem as dificuldades econômicas pós-pandemia e a crescente competitividade do setor varejista. 

Neste artigo, o Melhor Investimento aborda a ascensão da Polishop, os fatores que levaram à sua crise financeira e os próximos passos pensados para a recuperação da empresa.

João Appolinário: fundador e dono da Polishop

Para compreender o crescimento e a posição de destaque de uma empresa, nada melhor que começar conhecendo seu líder. Tal responsabilidade recai sobre João Appolinário, CEO e fundador da Polishop, e principal responsável pela definição dos valores da empresa.

Nascido em São Caetano do Sul em 1960, Appolinário é frequentemente chamado de “homem da tevê” ou “rei da TV do Brasil” devido à sua estratégia de marketing intensiva na televisão. Ele é precursor na introdução do chamado marketing multinível, uma prática inovadora na época em que o negócio foi estabelecido.

Além de sua atuação na Polishop, ele também é conhecido por sua participação como investidor no programa de TV “Shark Tank Brasil“. Sua trajetória empresarial começou cedo, inspirado pelo pai, e ao longo dos anos, foi ganhando destaque após um tempo fora do país. 

Em seu retorno para o solo nacional, a vida profissional de João Appolinário tomou um novo rumo. Desafiante, decidiu apostar em um produto para emagrecimento, mesmo diante de opiniões contrárias de especialistas. 

Superando as expectativas, o Appolinário vendeu mais de 600 mil kits nos primeiros três anos, faturando R$ 138 milhões. Essa conquista precoce, fruto das estratégias pioneiras do empresário, pode ser considerado um prenúncio do sucesso que ele viria a ter com a Polishop.  

Primeiros anos de operação e estratégia de vendas multicanal

Com o objetivo de expandir seus negócios e alcançar um público ainda maior, João Appolinário fundou a Polishop em 1999. A nova empresa tinha como missão oferecer uma ampla gama de produtos de alta qualidade, com preços competitivos e um atendimento personalizado. Essa visão aliada a uma estratégia de marketing arrojada, moldou a identidade da Polishop ao longo dos anos. 

Como muitos lembram, a televisão foi peça chave no desenvolvimento da Polishop no mercado. Inicialmente com um catálogo de 30 produtos, a varejista realizava suas vendas por meio de infocomerciais, transmitidos em canais de televisão mais alternativos e baratos.

Em 2003, veio a aquisição do canal próprio de televisão, um divisor de águas para a empresa. As características propagandas transmitidas no canal apresentavam os produtos de forma minuciosa. A ideia era demonstrar cada detalhe, característica e benefício, convencendo o consumidor da necessidade de ter aquele produto.

Ao longo dos anos, a Polishop diversificou seus canais de venda, expandindo sua atuação para lojas físicas, catálogos e, posteriormente, para o ambiente online.

Pode-se dizer que o nome “Polishop” simboliza a estratégia de vendas multicanal da empresa, além de refletir sua essência de oferecer uma ampla variedade de produtos e destacar a inovação contínua, que são pilares fundamentais da marca.

Produtos Icônicos da Polishop

A Polishop é vastamente conhecida por oferecer uma ampla gama de produtos, nos quais a inovação desempenha o papel central. No mercado, os itens entraram em evidência, especialmente, por suas características únicas e utilidade prática no dia a dia. 

Quando questionado sobre o sucesso dos produtos da Polishop, Appolinário destacou que o bom desempenho da empresa está diretamente relacionado aos benefícios oferecidos por seus produtos. 

“Minha tese é que cada vez mais as pessoas não estão preocupadas em comprar por comprar. Elas querem benefícios. E nós somos baseados em um tripé de benefícios: saúde, beleza, tempo. Para ser um produto Polishop, tem que ter um benefício. E qualquer produto que tenha inovação cabe na loja”, disse o empresário à revista Forbes em 2020, ano em que a empresa celebrou seus 20 anos de existência.  

Durante mais de duas décadas de atividade, a Polishop lançou uma série de produtos que marcaram o mercado do varejo, e se tornaram verdadeiros clássicos. Relembre alguns deles:

  • Grill George Foreman: em parceria com a empresa do ex-pugilista George Foreman, a Polishop lançou o famigerado grill elétrico capaz para grelhar carnes e vegetais de maneira uniforme.
  • Air Fryer: talvez um dos bens de consumo mais desejados pelos brasileiros, a panela é conhecida por permitir frituras sem óleo, proporcionando refeições mais saudáveis.
  • Pipoqueira Elétrica: outra solução proposta pela Polishop para dispensar o uso do óleo, foi sua pipoqueira elétrica. Com o produto, o consumidor pode preparar pipocas sequinhas, com praticidade, e sem a sujeira do fogão.
  • Panela elétrica: ainda na lógica das atividades culinárias, a Polishop inovou ao lançar modelos de panelas que simplesmente fazem tudo. Ela cozinha uma variedade de alimentos, incluindo arroz, sopas e até feijão, de forma prática e segura.
  • Escova Rotating Diamond Brilliance Air Brush: entre os produtos mais vendidos, a escova secadora se tornou um ícone ao propor um resultado profissional em casa, seja para cabelos secos, úmidos ou molhados.
  • Vaporizador: produto que ficou famoso por limpar diversos tipos de superfícies usando apenas vapor de água, sem produtos químicos.

Expansão e crescimento

A Polishop, que começou com infocomercias seguidos de uma única loja em São Paulo, expandiu-se rapidamente se estabelecendo por todo território nacional ao longo dos anos. Em 2019, a gigante do varejo somava 280 unidades físicas distribuídas por diferentes estados brasileiros. 

Além das lojas físicas, o e-commerce se consolidou como um dos principais motores de crescimento da Polishop. Em 2020, no início da crise sanitária de Covid-19, a empresa registrou um aumento de 170% na receita online. 

Durante boa parte de sua história, a Polishop vivenciou um crescimento exponencial, atingindo um pico de receita superior a R$ 3 bilhões e expandindo sua rede para mais de 300 unidades. Em seu auge, a empresa lançava, em média, mais de 150 novos produtos por ano. 

Problemas financeiros e crise

 O mercado de varejo tradicional vive um momento de turbulência. Conforme relatório do Bank of America do último ano, o comércio, especialmente, os shopping centers estão enfrentando mais fechamentos de lojas do que aberturas nos últimos tempos. 

A Polishop, por sua vez, foi a que mais reduziu sua presença física em 2023, liderando o ranking de fechamentos de lojas, tanto no acumulado do ano quanto no mês. Tal cenário já vinha seguindo a tendência de 2022, ano no qual a empresa fechou as portas de mais de 100 unidades. 

É bem verdade que a pandemia da Covid-19 sacudiu o varejo brasileiro, e gigantes como Casas Bahia e Marisa não ficaram livres dos seus efeitos. Ainda sim, a Polishop se posiciona no centro desse período de turbulência.  Devido ao fechamento de suas lojas físicas, a empresa chegou a registrar uma queda de 70% no seu faturamento em 2024. 

A alta dos juros, que consequentemente encareceu o crédito, agravou a situação financeira da empresa, levando à demissão de cerca de 2.000 funcionários, reduzindo seu quadro de 2.532 para menos de 500 colaboradores. 

Polishop pede recuperação judicial

O cenário adverso fez com que a Polishop ingressasse com um pedido de recuperação judicial em 15 de maio deste ano. Para quem não é íntimo do tema, uma solicitação dessa natureza ocorre quando uma empresa, em situação de crise, requere à Justiça a possibilidade de renegociar suas dívidas e elaborar um plano de recuperação, com o objetivo de evitar a falência.

Cinco dias após a solicitação da Polishop, a 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo acatou o pedido de recuperação judicial da empresa.

Quem são os credores da Polishop

Dos R$ 352,19 milhões da dívida declarada, os credores trabalhistas representam apenas 0,74%, enquanto as micro e pequenas empresas detêm 0,05%. A maior parte do montante sujeito à recuperação judicial, é composta por credores sem garantias que respondem por 99,1% do total (equivalente a R$ 349,401 milhões). 

Entre os principais credores da empresa estão: 

CredorCódigoValor (R$)
Banco do BrasilBBSA324,5 milhões
BradescoBBDC411,3 milhões
Itaú UnibancoITUB47 milhões
Safra5,1 milhões

Planos de recuperação e futuro da Empresa

Em um extenso documento de 311 páginas, a empresa apresentou seu plano de reestruturação à Justiça, propondo um complexo esquema de pagamento que inclui um desconto sobre a dívida, um período de carência de e um prazo limite para quitação.

Segundo o documento obtido pela Bloomberg Línea, foi proposta uma redução de 90% no valor nominal da dívida, com um período de carência de 20 meses e um prazo total de 15 anos para quitação.

A próxima etapa do processo de recuperação judicial consiste na convocação da Assembleia Geral de Credores (AGC) para deliberar sobre o plano de recuperação judicial apresentado. A votação final deve ocorrer até 17 de outubro. 

“As projeções demonstram que a recuperanda tem plenas condições de liquidar suas dívidas constantes na forma proposta, bem como os créditos não sujeitos à recuperação judicial”, alegou a Polishop no plano, conforme divulgado pela Bloomberg. 

Vale lembrar que em março, a empresa divulgou um plano de reestruturação que prevê a conversão do seu modelo de negócio para o sistema de franchising. A meta anunciada, entre outros pontos, previa um total de 314 unidades franqueadas até 2028, com um crescimento progressivo, conforme projetado: 102 unidades em 2025, 182 em 2026 e 266 em 2027.

Como a situação da Polishop afeta o setor de varejo no Brasil

A crise de uma grande varejista pode desencadear uma série de consequências para o setor, incluindo aspectos como redução no fluxo de consumidores, demissões em massa, ajustes nas estratégias dos concorrentes, entre outros. De todo modo, mensurar o real impacto da condição de recuperação judicial da Polishop, demanda tempo e análises criteriosas por parte de especialistas no assunto. 

Por aqui, pode-se dizer que o cenário da Polishop exemplifica os desafios enfrentados pelo setor de varejo no Brasil. A expressiva redução no número de lojas físicas e a queda acentuada no faturamento da empresa podem sinalizar uma crise mais ampla no mercado.

Nesta linha, é preciso pontuar que a Polishop não está sozinha. Além da empresa de Appolinário, outras grandes varejistas brasileiras buscaram essa proteção, em grande parte, por conta de fatores como a pandemia, a inflação e os altos juros.

A onda de pedidos de recuperação judicial no varejo brasileiro inclui nomes como Subway, que acumulava uma dívida de R$ 482 milhões em março de 2024, Casas Bahia, com uma dívida superior a R$ 4,1 bilhões em agosto de 2023, e Lojas Americanas, que entrou com o pedido em janeiro de 2023 com uma dívida de R$ 43 bilhões.

Lucas Machado

Redator do Melhor Investimento e estudante de Psicologia, com mais de dois anos de experiência em redação de artigos relacionados aos mais variados assuntos e campos do saber.