Donald Trump: “Vou transformar os EUA em uma superpotência de Bitcoin”

No último sábado (27), o ex-presidente dos EUA e atual candidato pelo partido Republicano Donald Trump, causou alvoroço no mercado mundial de criptomoedas, devido ao discurso proferido na Bitcoin Conference, em Nashville, Tennessee.

Durante toda a semana, havia uma grande expectativa em relação à presença de Trump no Bitcoin Conference, um dos maiores eventos de criptomoedas do mundo, relacionado à possibilidade do apoio e a apresentação de medidas para o fomento do mercado de criptoativos nos Estados Unidos. Após uma hora de atraso, Donald Trump chegou ao evento e já em suas primeiras frases, superou as expectativas do mercado: “Vou transformar os EUA em uma superpotência de Bitcoin”.

“Se as criptomoedas vão ser importantes no futuro, ela será minerada, cunhada e produzida na América. Se o Bitcoin vai para a Lua, como vocês dizem, eu quero que seja a América que o envie para lá.”

Trump também previu que “um dia o Bitcoin ultrapassaria o ouro”, dizendo que “o Bitcoin não é apenas uma maravilha da tecnologia, como você sabe, é um milagre da cooperação e da realização humana”, dando destaque à intenção de tornar os EUA o centro mundial do mercado de criptoativos.

Oposição de Kamala Harris sobre o Bitcoin

Em outro momento, Donald Trump partiu aos ataques à sua opositora política Kamala Harris, atual candidata substituta à corrida presidencial após a desistência de Joe Biden. “Tenho uma opositora de baixo QI, não estou falando dele, estou falando dela”. A audiência aplaudiu o candidato neste momento, devido ao fato de sua opositora Harris, ser publicamente contra o Bitcoin e ter afirmado recentemente que o “Bitcoin é dinheiro de criminosos”.

As posições antagônicas dos candidatos à presidência dos Estados Unidos, maior potência econômica mundial, refletem diretamente na volatilidade dos preços do Bitcoin já que ao assumir o posto da cadeira presidencial teriam poder para ditar os rumos do mercado, podendo inclusive proibir mineração, auto custódia, entre outros.

Demissão do presidente da SEC, Gary Gensler

Donald Trump afirmou posteriormente que demitiria no primeiro dia de mandato o atual presidente da SEC (Securities and Exchange Commission) Gary Gensler, cujo mandato só termina em 2026. Gensler desde que assumiu a SEC, fechou o cerco em relação à regulação de criptoativos, multou diversas corretoras como “Kraken” e “Coinbase”, negando diversos pedidos de autorização de ETF de Bitcoin feitos por gestoras de ativos. Posteriormente, os ETF Spot de Bitcoin foram autorizados pela justiça e hoje são comercializados pelas bolsas de valores norte americanas.

Criação de um conselho de criptomoedas e as CBDC’s

“Ao assumir o cargo, nomearei imediatamente um Conselho Consultivo Presidencial sobre Bitcoin e Cripto. Alguém gostaria de estar nesse conselho em particular? Por favor? Você? … A tarefa deles será elaborar uma orientação regulatória transparente para o benefício de toda a indústria, e eles farão isso em 100 dias. Teremos regulamentações, mas de agora em diante, as regras serão escritas por pessoas que amam sua indústria, não odeiam sua indústria”, afirmou Donald Trump.

Outro ponto do discurso que chamou a atenção, foi quando o candidato afirmou que “nunca haverá uma CBDC enquanto for presidente dos EUA”, indo na contramão de países como China, Brasil e Rússia, que já estão em fase de teste dos seus ativos digitais.

Para contextualizar, CBDC significa “Central Bank Digital Currency” ou “Moeda Digital Emitida por Banco Central”, ou seja, criptoativos regulados e controlados pelos bancos centrais diferente da tecnologia utilizada pelo Bitcoin, onde há descentralização e não é possível o controle estatal do ativo. O presidente do Banco Central Brasileiro (BACEN), Roberto Campos Neto já afirmou inclusive que está em fase de desenvolvimento o “DREX”, a moeda brasileira lastreada e pareada com o Real, porém sem data de implementação definida.

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Estados Unidos possui 210.000 Bitcoins

Trump afirmou aos presentes: “Muitos americanos não percebem que o governo dos Estados Unidos está entre os maiores detentores de Bitcoin. Alguém sabe disso? Que tal isso? O governo federal tem quase 210.000 Bitcoins ou 1% da oferta total que existirá. Mas por muito tempo nosso governo violou a regra fundamental que todo bitcoiner (usuário de bitcoin) sabe de cor: nunca venda seu Bitcoin.”

De fato, os EUA possuem 210.000 Bitcoins em sua custódia que vão desde compras feitas pelo governo até confiscos realizados de cidadãos americanos. O candidato à presidência enfatizou que muitos americanos não sabiam desse dado, porém não só os Estados Unidos, mas diversos países já estão comprando Bitcoin como política econômica.

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele tornou o Bitcoin moeda oficial do país e possui 5.750 unidades de BTC, equivalente ao valor atual de R$ 2,2 bilhões e tem publicamente dito que outros países deveriam fazer o mesmo, colocando-o como reserva internacional assim como hoje é feito com o dólar.

Outro país que tornou o Bitcoin moeda de curso legal foi a República Centro-Africana, um dos mais pobres da África e que possui moeda (Franco CFA Central) extremamente desvalorizada frente ao dólar. Os legisladores do parlamento votaram por unanimidade tornando legal o uso do Bitcoin como moeda nas transações, a fim de minimizar a extrema pobreza que assola o país, onde cerca de 71% dos 5,5 milhões de habitantes, vivem abaixo da linha da pobreza, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).

Países que mais possuem Bitcoin

*Vale ressaltar que o governo alemão vendeu nos últimos dias toda sua posição (US$ 3,3 bilhões) em Bitcoin, dado ainda não atualizado pelas agências de pesquisa.

Mudança de tom em relação à opinião do passado

Enquanto era presidente, Trump mostrou ceticismo em relação às criptomoedas, afirmando que “não era um fã” e que seus valores eram “como vento”, porém em sua campanha presidencial de 2024 ele mudou o discurso, destacando repetidamente o Bitcoin e angariando os entusiastas e o mercado de criptoativos como um todo.

Os doadores da indústria de criptomoedas investiram mais dinheiro nas eleições de 2024 do que em todos os ciclos anteriores combinados, de acordo com a OpenSecrets. Os opositores de Trump afirmam que esse apoio irrestrito é somente por este fato, e que assim que assumisse o cargo, hipoteticamente, mudaria o discurso e tomaria medidas centralizadoras e arrecadatórias em relação ao Bitcoin.

Resumo das declarações/promessas de Trump na Bitcoin Conference:

1. EUA serão uma superpotência do Bitcoin;
2. Impedirá a criação das CBDC (moeda do Banco Central);
3. Protegerá a mineração e auto custódia do Bitcoin;
4. Demissão de Gary Gensler, chairman da SEC;
5. Aumentar a geração de energia para minerar BTC;
6. Acabar com as operações contra criptoativos como “Chokepoint 2”;
7. Criação do Conselho Presidencial Consultivo do Bitcoin;
8. Proporcionar clareza regulatória e expansão das stablecoins;
9. Comutar a sentença de Ross Ulbricht (preso político devido ao Bitcoin) para uma sentença de tempo cumprido;
10. Manter em caixa todos os Bitcoins do governo dos EUA o os que forem adquiridos no futuro.

O preço do Bitcoin pouco movimentou-se com as falas do candidato à presidência, o que causou certa estranheza aos mais entusiastas do mercado cripto. Porém, tal comportamento do preço do Bitcoin reflete a incerteza que paira sobre as eleições presidenciais, onde as pesquisas mostram uma vantagem muito pequena de Donald Trump em relação à sua opositora Kamala Harris.

As posições dos candidatos são opostas e o mercado já precificou este cenário. Uma vitória de Trump pode significar uma possibilidade de alta exponencial, porém o contrário também é verdade, sendo nebuloso o cenário futuro de criptoativos em um hipotético governo de Harris.

A ascensão do Bitcoin no cenário político mundial

De fato, excluindo o jogo político e as crenças ideológicas o Bitcoin e sua tecnologia chegaram às pautas eleitorais. Os partidos e seus candidatos adotam estratégias para absorver a parte liberal do mercado, representada pelos entusiastas de criptoativos. O bitcoin hoje tomou tamanha proporção que faz parte do plano de governo dos candidatos na corrida presidencial da maior e mais poderosa nação do planeta.

O bitcoin foi inserido nas pastas ministeriais e de secretários da presidência de forma que equiparam-se atualmente à políticas econômicas de reserva de valor e comparação com o ouro, o ativo mais antigo e confiável que possuímos.

Estamos passando por um momento de metamorfose econômica, onde novas tecnologias como os criptoativos e blockchain têm conquistado espaço e adoção em massa, aumentando a confiabilidade da população. Os governos já identificaram esse fato e digladiam-se internamente em relação às posições políticas e ideológicas de seus partidos para mitigar os conflitos de interesse econômicos frente a escalabilidade dos instrumentos descentralizados.

No resumo da ópera, o Bitcoin tomou sua cadeira na pasta econômica e não é mais um “dinheiro de mentira”, passando para um ativo desejado por governos de todo mundo, compondo parte da reserva internacional bilionária de potências mundiais.

O que será do Bitcoin caso o candidato ao cargo mais poderoso do planeta vença as eleições e cumpra as promessas de campanha?  Para onde irá o preço? O Bitcoin realmente substituirá o ouro enquanto reserva de valor? Não temos as respostas, mas somente pelo fato de ser pauta nos discursos dos presidenciáveis, tomando posição de destaque na pasta econômica de partidos de direita, centro e esquerda, fica claro que tomou uma importância inimaginável e absolutamente surpreendente.

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