Kalshi: entenda por que a empresa foi avaliada em US$ 2 bilhões
Kalshi revoluciona o mercado de previsões com contratos sobre eventos reais. Saiba como funciona e o motivo do aporte bilionário.

Fundada em 2018 por Tarek Mansour e a brasileira Luana Lopes Lara, a Kalshi tem chamado atenção de grandes investidores e do mercado como um todo. Recentemente, a empresa foi avaliada em impressionantes US$ 2 bilhões, após levantar US$ 185 milhões em uma rodada de financiamento liderada por gigantes como a Paradigm e a Sequoia Capital.
Mas o que exatamente é a Kalshi? Por que essa empresa está atraindo tanto capital e atenção? E qual é o papel da cofundadora brasileira nessa trajetória de sucesso? Conheça a história da empresa, os fundamentos do seu modelo de negócio, o panorama do mercado de previsões nos Estados Unidos e no Brasil, e os motivos que levaram a Kalshi a se tornar um dos negócios mais promissores da atualidade.
O que é a Kalshi?
Kalshi é uma empresa americana que opera um mercado de previsões regulado, permitindo que investidores negociem contratos sobre o resultado de eventos futuros.
A plataforma oferece a possibilidade de apostar, com base em dados e análises, em questões que vão de eleições presidenciais e decisões de política monetária a resultados de eventos esportivos ou mesmo se determinada temperatura será alcançada em Nova York em uma data específica.
Fundação e primeiros passos: inovação em mercados de previsão
Luana Lopes Lara e Tarek Mansour se conheceram durante os estudos no MIT (Massachusetts Institute of Technology). Após experiências profissionais em grandes instituições financeiras como Goldman Sachs, Citadel e Bridgewater, eles perceberam uma lacuna no mercado: não existia um meio direto e acessível para negociar previsões sobre eventos do mundo real, como eleições, inflação ou decisões de política pública.
Foi com essa visão que criaram a Kalshi, uma proposta que permite que pessoas comuns negociem contratos baseados em eventos futuros, como “O Fed vai subir os juros este mês?” ou “O Partido Republicano vai controlar o Senado após as eleições?”.
Em 2019, a empresa ingressou na aceleradora Y Combinator, onde deu os primeiros passos no desenvolvimento do produto. No mesmo ano, lançou uma versão beta da plataforma, recebendo feedback valioso de usuários iniciais.
O grande avanço veio em 2020, quando a Kalshi obteve aprovação da Commodity Futures Trading Commission (CFTC) para operar como uma bolsa regulamentada (DCM – Designated Contract Market). Com isso, tornou-se a primeira e única plataforma dos EUA autorizada a negociar contratos de eventos, ao lado de gigantes como a CME e a ICE.
Crescimento, investimentos e liderança regulatória
Nos anos seguintes, entre 2021 e 2023, a empresa atraiu investimentos de peso, como Sequoia Capital, SV Angel e nomes como Chuck Schwab (fundador da corretora Charles Schwab) e Henry Kravis, cofundador da KKR. A visibilidade aumentou, com destaque em veículos como The Wall Street Journal, CNBC e The Boston Globe.
Em 2024, a Kalshi quebrou outro marco ao se tornar a primeira plataforma legalmente autorizada em mais de 100 anos a permitir negociações sobre resultados eleitorais nos Estados Unidos. Isso só foi possível após vencer uma disputa judicial contra a própria CFTC, que inicialmente havia bloqueado essa possibilidade. A vitória judicial abriu caminho para contratos envolvendo controle do Congresso e resultados presidenciais.
Hoje, a Kalshi se consolida como a principal referência no segmento de negociação de eventos, combinando inovação tecnológica com rigor regulatório. Seu objetivo é tornar as previsões uma ferramenta acessível para proteção de riscos e leitura das expectativas sociais e econômicas em tempo real.
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A trajetória de Luana Lopes Lara e sua relação com a Kalshi
Filha de diplomatas brasileiros, Luana teve uma infância marcada por viagens e vivências em diversos países, o que moldou sua perspectiva internacional e aguçou seu senso crítico em relação à economia global. Durante o MIT, ela se destacou em áreas como finanças, estatística e tecnologia, além de participar de iniciativas de empreendedorismo. Foi nessa época que, junto com Tarek Mansour, idealizou a Kalshi.
Luana é hoje uma das vozes mais influentes no cenário de tecnologia financeira dos Estados Unidos e referência internacional como empreendedora mulher em um setor majoritariamente masculino. Sua história inspira jovens, especialmente mulheres, a se lançarem no competitivo mundo das startups.
Como funciona o negócio promissor da Kalshi?
O diferencial da Kalshi está no que se chama de “mercado de eventos”, um modelo que permite a negociação de contratos que pagam com base no resultado de acontecimentos futuros. Esses contratos são limitados a uma quantia máxima por operação, justamente para evitar a caracterização como jogos de azar e manter a viabilidade regulatória.
Exemplo: um contrato pergunta “O CPI (índice de inflação dos EUA) vai subir mais de 0,5% em julho?”, o usuário pode comprar “sim” ou “não” por um valor entre US$ 0 e US$ 1. Se o evento se confirmar, o contrato de quem acertou vale US$ 1; se não, vale zero. Assim, o lucro é obtido comprando previsões subvalorizadas e acertando o resultado.
A Kalshi atua nesse nicho com a proposta de tornar essas previsões instrumentos financeiros legítimos. Em vez de meras apostas, os contratos são apresentados como uma forma de hedge (proteção) ou especulação com base em eventos que impactam a economia e o cotidiano.
Além disso, os dados coletados pelos mercados de previsão tendem a ser mais precisos que pesquisas tradicionais, já que agregam a sabedoria das multidões com incentivo financeiro: quem aposta, pensa com mais critério. Isso é particularmente útil em áreas como política, clima, inflação, economia e até tecnologia.
Por que a Kalshi foi avaliada em US$ 2 bilhões?
A nova avaliação da Kalshi, impulsionada pela rodada de US$ 185 milhões liderada pela Paradigm, reflete uma combinação de fatores estratégicos e conjunturais. Em primeiro lugar, o modelo de negócios da plataforma é pioneiro: trata-se da única bolsa de previsões totalmente regulamentada pela CFTC nos Estados Unidos, o que a posiciona à frente de concorrentes não regulados como a Polymarket.
Além disso, a Kalshi vem surfando uma onda de interesse crescente por mercados de previsão, impulsionada tanto por avanços em tecnologia quanto pelo amadurecimento do ecossistema cripto. Com a valorização recente do Bitcoin (acima de US$ 100 mil) e instabilidade nos mercados acionários, investidores estão buscando alternativas mais flexíveis e baseadas em expectativas reais, uma proposta que a Kalshi entrega com solidez.
Outro fator-chave é o apoio de investidores de renome. Além da Paradigm, nomes como Sequoia e Multicoin reforçam a credibilidade e o potencial de longo prazo da empresa. A destinação dos recursos para integrar novos corretores e aproximar a plataforma do mercado financeiro tradicional também mostra que a Kalshi está se preparando para uma nova fase de escala e institucionalização.
Por fim, a fala de Matt Huang, da Dragonfly Capital, resume bem o entusiasmo dos investidores: os mercados de previsão ainda são uma classe de ativos incipiente, mas com potencial trilionário, e a Kalshi está na linha de frente dessa revolução.
Comparativo: mercado de câmbio e o papel do mercado de previsões
No mercado tradicional de câmbio (forex), os investidores apostam em pares de moedas, como dólar e euro, com base em fundamentos macroeconômicos e expectativas de políticas monetárias. Trata-se de um setor que movimenta trilhões diariamente, altamente especulativo e regulado. O diferencial é que o forex está ligado a ativos reais (moedas), enquanto os mercados de previsão lidam com possibilidades futuras.
No Brasil, os produtos que mais se aproximam do que a Kalshi oferece são os contratos futuros da B3 (como contratos de dólar, juros ou commodities) e apostas esportivas reguladas. Mas o conceito de um mercado regulado de previsões ainda é embrionário ou inexistente, o que destaca a inovação da Kalshi.
Enquanto no Brasil o mercado de apostas é frequentemente associado ao setor esportivo ou cassinos, nos EUA empresas como Kalshi buscam legitimar a prática com uma roupagem institucional e de utilidade econômica, inclusive com suporte de corretoras como Robinhood e Webull, que já integram os contratos da plataforma.
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A ascensão dos mercados de previsão e sua conexão com o setor financeiro
O interesse crescente em mercados de previsão tem fundamentos claros:
- Eficiência informacional: quando dinheiro está em jogo, os participantes têm maior incentivo a prever corretamente. Isso torna os mercados de previsão ferramentas úteis para gerar sinais econômicos mais apurados que pesquisas.
- Utilidade para hedge e planejamento: empresas podem usar mercados de eventos para se proteger contra incertezas, por exemplo, prever decisões de juros do Fed, ações climáticas ou políticas tarifárias.
- Inovação regulatória: o avanço da Kalshi só foi possível porque ela superou barreiras com a CFTC, o que a diferenciou de concorrentes como a Polymarket, que ainda não é regulada.
- Integração com corretoras: ao ser incorporada em plataformas como Webull e Robinhood, a Kalshi passa a alcançar usuários que já operam ativos financeiros, expandindo sua base com rapidez.
Há, no entanto, uma polêmica contínua sobre a natureza desses contratos. Críticos alegam que isso seria uma forma disfarçada de jogo de azar, ainda que empresas como a Kalshi argumentem que se trata de um instrumento financeiro inovador, e que a regulamentação é o melhor caminho para prevenir abusos.
A corrida entre empresas como Kalshi e Polymarket é similar à observada em outros setores disruptivos (como criptomoedas e fintechs), com investidores despejando recursos em busca de retornos altos no futuro.
Kalshi está listada na Bolsa de Valores?
Apesar do crescimento e do interesse dos investidores, a Kalshi ainda não está listada na Bolsa de Valores americana (NYSE ou Nasdaq). O modelo atual da empresa é o de startup privada, que recebe aportes de venture capital em rodadas de investimento.
O mais recente desses aportes, anunciado em junho de 2025, levantou US$ 185 milhões, um salto significativo em relação às rodadas anteriores.
Essa rodada foi liderada pelo fundo Paradigm, especializado em investimentos no setor cripto e tecnológico, e contou com a participação de gigantes como:
- Sequoia Capital;
- Multicoin Capital;
- Neo Capital;
- Bond Capital;
- Peng Zhao, CEO da Citadel Securities.
O valor captado será usado para expandir a equipe de tecnologia e aumentar a presença da Kalshi em corretoras, além de integrar novos tipos de contratos e ampliar a base de usuários.
Com o sucesso da Kalshi, a possibilidade de um IPO (Oferta Pública Inicial) nos próximos anos não está descartada, especialmente se o ambiente regulatório continuar favorável e o mercado de previsões se consolidar como uma nova classe de ativos nos Estados Unidos.
Uma empresa disruptiva com DNA brasileiro
A Kalshi representa a união entre inovação financeira, tecnologia e dados, em um modelo de negócios que transforma previsões em ativos negociáveis. Sua regulamentação federal e sua presença crescente em plataformas populares como Robinhood mostram que a empresa está muito além de uma simples casa de apostas; ela está criando um novo segmento de mercado.
Com Luana Lopes Lara como cofundadora e referência no ecossistema de tecnologia global, a empresa também é um exemplo de como o talento brasileiro está presente na linha de frente da inovação internacional.
Agora, resta a pergunta: estaremos em breve vendo as ações da Kalshi sendo negociadas na Nasdaq ou na NYSE?
Se isso acontecer, será mais um passo rumo à consolidação de um setor que promete transformar a maneira como lidamos com incertezas, tanto na economia quanto no cotidiano.
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