Finanças sustentáveis: o que é, e qual sua importância para o investidor
Finanças sustentáveis, práticas ESG e investimentos responsáveis são termos cada vez mais presentes no mercado financeiro. Entenda as tendências que estão moldando o futuro do capital.

Nos últimos anos, o conceito de finanças sustentáveis tem ganhado destaque no mundo dos investimentos. Mais do que uma tendência, trata-se de uma mudança estrutural na forma como empresas, governos e investidores encaram o uso do capital.
Para quem investe, compreender esse movimento vai além de alinhar convicções pessoais aos investimentos; Trata-se de uma forma inteligente de enxergar oportunidades robustas e de longo prazo em um mercado cujas tendências sempre se transformam.
O que são finanças sustentáveis?
Pode-se dizer que o termo “finanças sustentáveis” é abrangente, pois reúne dois conceitos que, por si só, já comportam múltiplas interpretações. Para melhor delinear essa definição, vale recorrer à visão da professora e pesquisadora da FGV, Annelise Vendramini.
Segundo a especialista no tema, “finanças sustentáveis buscam alocar dinheiro em atividades que contribuam para a sustentabilidade, incorporando o valor do dinheiro no tempo e as noções de risco-retorno”. Para sustentar essa ideia, Vendramini se apoia nesses dois fundamentos centrais:
- Valor do dinheiro no tempo: é a ideia de que o dinheiro disponível hoje vale mais do que o mesmo valor no futuro, devido às incertezas e ao potencial de investimento imediato.
- Risco-retorno: toda decisão financeira envolve uma relação entre o potencial de ganho e a possibilidade de perda; quanto maior o retorno esperado, maior tende a ser o risco assumido.
Além destes, é claro, há ainda a noção de sustentabilidade no espectro das finanças, que parte, segundo ela, da ideia de “adequar nossos sistemas econômicos aos limites planetários e resolver importantes problemas sociais”.
Finanças sustentáveis no compasso do mercado
Para afunilar o assunto e dar contornos mais claros, vamos entender como o termo se encaixa dentro do universo do mercado financeiro — que, afinal, é o ponto que mais nos interessa no presente conteúdo. Nesse sentido, vale observar como a Comissão Europeia entende o termo:
Finanças sustentáveis são, segundo eles, o processo de incorporar fatores ambientais, sociais e de governança na tomada de decisões de investimento. Em outras palavras, estamos falando dos já tão comentados princípios ESG — e sim, já vamos chegar neles.
Mas, caso queira acompanhar de forma mais aprofundada, acompanhe nosso artigo completo sobre o tema:
Diferença entre finanças sustentáveis e finanças verdes
Antes de continuarmos, é válido entender como funciona a relação entre finanças sustentáveis e verdes. Elas não são necessariamente dois conceitos distantes entre si, mas também não é correto usá-las como sinônimos, como muitas vezes acontece. Pode-se dizer que a distinção está em uma questão de recorte.
Em suma, finanças verdes representam um subconjunto do que se entende por finanças sustentáveis no mercado, com foco específico em projetos e ativos que promovem benefícios ambientais diretos — como energia renovável, gestão de resíduos e mobilidade limpa.
Já as finanças sustentáveis têm escopo mais amplo. Além do fator ambiental, elas também abrangem questões sociais (como diversidade e inclusão) e de governança (como combate à corrupção e transparência corporativa).
Portanto, ao falarmos em investimento verde, estamos certamente nos referindo a uma prática sustentável. No entanto, quando tratamos de investimento sustentável, ampliamos o foco além das questões ambientais.
Finanças sustentáveis e os princípios ESG

ESG (Environmental, Social and Governance), ou ASG (Ambiental, Social e Governança), é um conjunto de critérios usados para avaliar o desempenho das empresas nesses três pilares. No mercado financeiro, pode-se afirmar que esses princípios formam a base conceitual das finanças sustentáveis.
Veja como cada um deles influencia as decisões de investimento:
E – Environmental (Ambiental): considera o impacto ambiental das atividades econômicas, como emissões de carbono, uso de recursos naturais, desmatamento e poluição.
S – Social: avalia como uma empresa trata seus funcionários, fornecedores e a comunidade, incluindo temas como equidade salarial, direitos trabalhistas e responsabilidade social.
G – Governance (Governança): analisa a estrutura de gestão da empresa, ética corporativa, transparência, composição do conselho e combate à corrupção.
Investidores que integram ESG às suas análises procuram empresas que minimizam riscos e aproveitam oportunidades ligadas à sustentabilidade.
Por que as finanças sustentáveis estão ganhando força no mercado?
O crescimento acelerado das finanças sustentáveis é resultado de uma combinação de fatores que moldam o cenário atual. O conceito tem ganhado cada vez mais destaque, impulsionado pelo interesse em investimentos que priorizam práticas ambientalmente responsáveis.
Iniciativas como os Princípios para o Empoderamento das Mulheres (WEPs) e os Princípios de Investimento Responsável (PRI) vêm conquistando a adesão de um número crescente de investidores institucionais.
Para Annelise Vendramini, finanças e sustentabilidade, em essência, já não seguem caminhos opostos. Pelo contrário, ambas partem do mesmo princípio: a capacidade de tomar decisões no presente com consciência sobre seus efeitos no futuro. Assim, quando bem alinhadas, essas duas áreas podem caminhar lado a lado, sem contradições, fortalecendo uma visão de longo prazo.
Em fala à B3 – Bolsa de Valores do Brasil, o consultor independente e especialista em ESG, Roberto Gonzalez, comenta que as finanças sustentáveis já fazem parte do mercado há bastante tempo, como uma maneira de integrar responsabilidade à atuação financeira. No entanto, segundo ele, foi com a criação de instrumentos como os títulos sustentáveis que o conceito realmente amadureceu e passou a viabilizar, de forma mais concreta, a adoção de práticas sustentáveis no setor.
Fatores que contribuem para esse crescimento
Um estudo da iniciativa Finanças Brasileiras Sustentáveis (FiBraS), em parceria com a agência alemã Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), aponta ao menos seis vetores globais responsáveis pelo crescimento do mercado de finanças sustentáveis.
Fator | Descrição |
01. Inovação de produtos | Lançamento e oferta crescente de instrumentos financeiros com foco em sustentabilidade, como títulos verdes, sociais e sustentáveis. |
02. Padronização do mercado | Consolidação de diretrizes e princípios que orientam o uso de instrumentos sustentáveis, promovendo maior transparência e credibilidade. |
03. Legislação favorável | Avanço de marcos regulatórios em diversas regiões do mundo, incentivando estratégias financeiras sustentáveis e compromissos ambientais. |
04. Pressão dos stakeholders | Aumento das exigências de partes interessadas, como consumidores, investidores e governos, além da ampliação dos compromissos corporativos com metas como emissões líquidas zero (net zero). |
05. Alta demanda por parte dos investidores | Interesse crescente — especialmente de investidores institucionais com visão de longo prazo — por ativos sustentáveis, superando a oferta atual. |
06. Benefícios para as empresas emissoras | As emissões sustentáveis proporcionam vantagens como redução do custo de capital, acesso a novos investidores e fortalecimento da reputação corporativa. |
Como o investidor brasileiro pode participar desse mercado?
Talvez o primeiro passo para o investidor que deseja construir uma carteira alinhada com os princípios de sustentabilidade é conhecer os índices ESG disponíveis no mercado nacional. Em síntese, esses indicadores mensuram o grau de comprometimento das empresas com todos os critérios considerados — questões ambientais, sociais e de governança — ou com parte deles.
Na prática, isso significa que essas carteiras teóricas utilizam critérios ESG para selecionar as companhias que, de fato, incorporam esses pilares em suas operações e estratégias.
Principais índices ESG do Brasil
ISE B3
Criado em 2005, o ISE B3 é um índice de retorno total que reúne ações de empresas listadas na B3 com alto compromisso com a sustentabilidade. Ele considera tanto o valor das ações quanto o reinvestimento de dividendos, servindo como referência para avaliar o desempenho de companhias que se destacam em eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa.
ICO2
Mais do que números, o ICO2 busca postura. Criado pela B3 em parceria com o BNDES em 2010 para provocar o debate sobre mudanças climáticas, o índice valoriza empresas que assumem o protagonismo e escancaram seus dados de emissão de gases poluentes — um sinal claro de quem está se preparando, desde já, para um futuro de baixo carbono.
IGCT B3
O IGCT B3 (Índice de Governança Corporativa Trade) reúne ações e units de empresas listadas na B3 que adotam práticas diferenciadas de governança corporativa. Como índice de retorno total, ele mede tanto a valorização das ações quanto os dividendos pagos, refletindo o desempenho de companhias comprometidas com uma gestão ética e responsável
S&P/B3 Brasil ESG
O S&P/B3 Brasil ESG é um índice que reúne empresas do S&P Brazil BMI comprometidas com práticas ambientais, sociais e de governança. Para integrá-lo, é necessário aderir aos princípios do Pacto Global da ONU e estar aberto a investimentos estrangeiros. O índice exclui companhias dos setores de tabaco, carvão e armas, além daquelas sem pontuação ESG ou sem compromisso com o Pacto.
Principais instrumentos de investimento ESG

O mercado de investimentos oferece diversas opções para quem deseja aplicar de forma sustentável. Entre os principais instrumentos estão:
Ações de empresas
Investir em ações de empresas com boas práticas ESG é uma forma de alinhar seu capital a negócios mais responsáveis. O mercado de acionário oferece diferentes oportunidades para quem deseja investir em um futuro onde o equilíbrio entre retorno e sustentabilidade seja prioridade.
Como mencionado anteriormente, na B3, você encontra índices financeiros que ajudam a identificar empresas realmente comprometidas com práticas ESG. Mas vá além desses referenciais! Também é importante acompanhar relatórios de sustentabilidade, notícias e análises de especialistas para tomar decisões mais seguras.
Alguns especialistas questionam o uso exclusivo dos índices ESG, porque a forma de avaliar as empresas pode variar bastante, dificultando comparações. Por isso, sempre que puder, busque a ajuda de um profissional para orientar suas escolhas.
Títulos Verdes (Green Bonds)
Os títulos verdes, ou green bonds, são instrumentos de dívida emitidos para captar recursos destinados exclusivamente a projetos com benefícios ambientais claros e mensuráveis. São aplicados em iniciativas como:
- Geração e investimentos de energia renovável (solar, eólica, biomassa);
- Reflorestamento e preservação ambiental;
- Gestão de resíduos e saneamento básico;
- Transporte público de baixa emissão.
Esses títulos funcionam de maneira semelhante a outros investimentos em renda fixa: o investidor “empresta” dinheiro ao emissor (que pode ser uma empresa, banco ou governo) e recebe pagamentos de juros periódicos, além do valor principal no vencimento. A diferença está no destino dos recursos, sempre atrelado a metas ambientais específicas e auditáveis.
Fundos ESG
Fundos ESG (ambientais, sociais e de governança) são fundos de investimento que selecionam ativos com base em critérios de sustentabilidade. Em vez de olhar apenas para os indicadores financeiros, os gestores também avaliam o comportamento das empresas em aspectos como: Impacto ambiental de suas operações; Condições de trabalho e políticas de inclusão; Estrutura de governança e combate à corrupção.
Essa abordagem permite que os investidores tenham acesso a uma cesta de ativos, cuidadosamente filtrada para incluir apenas empresas comprometidas com boas práticas ESG. Fundos desse tipo podem conter ações, títulos de renda fixa, debêntures e até mesmo outros fundos.
Cabe salientar que, como qualquer investimento coletivo, fundos ESG podem envolver taxas de administração, performance e outros custos, que devem ser considerados pelo investidor antes da aplicação.
ETFs Temáticos Sustentáveis
Os ETFs (Exchange Traded Funds) temáticos também podem ser classificados como fundos de investimento ESG, porém com um foco mais específico. Isso porque eles replicam índices formados por empresas que atuam em setores ligados a temas sustentáveis, o que reduz um pouco o escopo em relação aos fundos ESG tradicionais.
Ao adquirir uma cota de um ETF ESG, o investidor passa a ter exposição a um conjunto de companhias selecionadas com base em sua performance ambiental, social e de governança. Existem ETFs focados em setores específicos, como:
- Tecnologia limpa e inovação verde;
- Energias renováveis;
- Economia circular e reciclagem;
- Empresas com alta pontuação ESG global.
Alguns exemplos incluem:
Código | Nome | Índice |
ESGB11 | BTG PACTUAL ESG FUNDO DE ÍNDICE S&P/B3 BRAZIL ESG | S&P/ B3 Brasil ESG |
ISUS11 | IT NOW ISE FUNDO DE ÍNDICE | ISE B3 Sustentabilidade Empresarial |
GOVE11 | IT NOW IGCT FUNDO DE ÍNDICE | IGCT B3 Governança Corporativa Trade |
Futuro das finanças sustentáveis no Brasil
O mercado brasileiro vem demonstrando um amadurecimento crescente no campo das finanças sustentáveis. De acordo com Roberto Gonzalez, há um avanço notável no desenvolvimento de títulos sustentáveis e nos índices criados pela B3, que refletem esse compromisso. O tema tem ganhado destaque nas discussões do setor e, em 2025, figura entre os principais assuntos da Semana Mundial do Investidor (WIW).
No plano regulatório, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) conta com o Plano de Ação de Finanças Sustentáveis, um documento bienal que estabelece metas e diretrizes para integrar a sustentabilidade ao mercado de capitais brasileiro. A proposta busca promover mais transparência e estimular decisões de investimento baseadas em critérios responsáveis e duradouros.

Também em 2025, a Barclays Investment Bank reuniu líderes do setor para discutir inovação financeira e a mobilização de capital sustentável. Arthur Gonçalves, do Banco do Brasil, destacou o potencial do país para gerar até US$ 125 bilhões em créditos de carbono nos próximos anos.
Carlos Braga, professor e ex-diretor do Banco Mundial, acrescenta que a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris criou um vácuo na liderança climática global — cenário que oferece ao Brasil a oportunidade de assumir o protagonismo. O evento “Finanças Sustentáveis e Investimentos Responsáveis” reforçou o papel do país como um dos centros globais no debate sobre a transição verde.
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