Você já ouviu falar em hidrogênio verde (H2V)? Ele é obtido via eletrólise por meio de fontes de energia renováveis, como a eólica e a solar. Por isso, é considerado uma aposta ESG. Em português, essa sigla significa governança ambiental, social e corporativa.

A expectativa é que, em termos globais, o H2V movimente US$ 350 bilhões até 2030. No Brasil, no mesmo período, o investimento deve ficar em torno de US$ 28 bilhões. Esses números são do estudo Hidrogênio verde: a nova fronteira dos mercados de energia, produzido pela consultoria Thymos Energia.

Neste artigo, conheça o hidrogênio verde, a aposta ESG que deve movimentar bilhões de dólares na economia global. Acompanhe!

O que é o hidrogênio (H2)?

O hidrogênio (H2) é o elemento químico encontrado em maior abundância no universo. No entanto, ele costuma ser encontrado em combinação com outros elementos.

Para obtê-lo, existem diferentes processos e diferentes fontes de energia. Cada tecnologia de produção é classificada com uma cor pela Agência Internacional de Energia (IEA):

  • hidrogênio preto: é produzido por meio de carvão mineral (antracito) sem a captura, utilização e armazenamento do gás carbônico produzido na operação (em inglês, Carbon capture, utilisation and storage – CCUS);
  • hidrogênio marrom: é produzido com carvão mineral (hulha), sem a captura, utilização e armazenamento do gás carbônico produzido na operação (em inglês, Carbon capture, utilisation and storage – CCUS);
  • hidrogênio cinza: é produzido do gás natural sem CCUS, sendo o tipo mais produzido na atualidade;
  • hidrogênio azul: é produzido a partir de gás natural com CCUS;
  • hidrogênio turquesa: é gerado num processo chamado pirólise a partir de fontes de energia renováveis, como a solar e a eólica. Não há produção de dióxido de carbono (CO2);
  • hidrogênio verde (H2V): é produzido a partir de fontes renováveis via eletrólise da água;
  • hidrogênio musgo: é produzido por meio de biomassa ou biocombustíveis, podendo gerar carbono nulo ou negativo. Isso porque as plantas que formam a biomassa capturam CO2 da atmosfera e a quantidade capturada pode ser maior do que a gerada no processo;
  • hidrogênio branco, hidrogênio natural ou geológico: é extraído direto da natureza, sendo muito difícil de encontrá-lo;
  • hidrogênio rosa: é produzido por eletrólise da água, tendo como fonte a energia nuclear;
  • hidrogênio amarelo: é uma variação do H2V, sendo produzido exclusivamente com energia solar.

Quais setores utilizam H2 em suas atividades atualmente?

A indústria química e os produtores de aço são os que utilizam o H2 em suas atividades hoje em dia.

Contudo, como ele é muito versátil, a previsão é que, no futuro, seja usado em outros setores. Isso vale, especialmente, para os que enfrentam mais desafios para diminuir a emissão de carbono.

O que é o hidrogênio verde (H2V)?

Novamente, o hidrogênio verde (H2V) é aquele obtido via eletrólise por meio de fontes de energia renováveis, como a eólica e a solar. Logo, não há emissão de CO2.

Hidrogênio de baixa emissão de carbono e hidrogênio verde são sinônimos?

Não, hidrogênio de baixa emissão de carbono e hidrogênio verde não são sinônimos.

Conforme a definição do Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2), o hidrogênio de baixa emissão é aquele produzido a partir de uma variedade de processos, tecnologias e fontes de energia com baixa emissão de gases de efeito estufa no seu ciclo de vida ou por meio do uso de tecnologias CCUS e, até mesmo, carbono negativas.

O que é agenda ESG?

A agenda ESG é considerada uma das principais tendências para 2024, conforme a Pesquisa Panorama 2024 da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) em parceria com a Humanizadas, agência de Ratings ESG e Inteligência de Dados.

Entre agosto e setembro de 2023, foram entrevistados 694 executivos de todo o país sobre as principais tendências capazes de impulsionar negócios e o quão prontas as empresas estão para incorporá-las.

O resultado é que a Inteligência Artificial (60%) e ESG/Sustentabilidade (51%) são as duas principais tendências de 2024. Além disso, outros dois temas ligados à sustentabilidade também estão crescendo em importância para as empresas: energia renovável e economia circular.

O que esperar da agenda ESG em 2024?

Em entrevista ao Valor Econômico, o consultor de empresas e professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), Edson Ricardo Barbero, disse que a agenda ESG se tornará ainda mais necessária e rigorosa por conta da ação combinada de regulamentações nacionais e internacionais, pressões culturais e de stakeholders e influências globais.

Como exemplos de mudanças regulatórias, ele cita:

  • a entrada em vigor da Resolução nº 59/21 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que obrigou as empresas brasileiras listadas a reportarem suas métricas ESG;
  • a entrada em vigor da Resolução nº 193/23, também da CVM, que demandará das empresas a adoção do padrão do International Sustainability Standards Board (ISSB) para reporte de sustentabilidade;
  • as novas normas da bolsa de valores do Brasil, a B3, sobre emissões e composição do conselho de administração das companhias negociadas na bolsa;
  • o avanço da regulamentação do mercado de carbono no país.

Qual é o cenário do hidrogênio de baixa emissão no país?

No Brasil, em agosto do ano passado, o Ministério de Minas e Energia (MME) lançou o Plano de Trabalho Trienal 2023-2025 do Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2). Ele tem como base seis eixos:

  • fortalecimento das bases tecnológicas;
  • capacitação e recursos humanos;
  • planejamento energético;
  • arcabouço legal-regulatório;
  • crescimento do mercado e competitividade;
  • cooperação internacional.

Entre as prioridades está o aumento de quase sete vezes dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação em hidrogênio de baixa emissão de carbono por ano.

Isso significa R$ 200 milhões por ano em 2025. Do total de 65 ações previstas para os próximos anos, 32 delas já estão em andamento.

A estratégia do PNH2 conta com três marcos temporais:

  • em 2025, disseminar plantas piloto de hidrogênio de baixa emissão de carbono em todas as regiões do país;
  • em 2030, consolidar o Brasil como o mais competitivo produtor de hidrogênio de baixo carbono no mundo;
  • em 2035, consolidar polos (hubs) de hidrogênio de baixo carbono no país.

Qual é o cenário do hidrogênio verde?

Na visão do BNDES, para que seja viável o uso do H2V no Brasil, será preciso uma forte redução do seu custo de produção e uma política que onere a emissão de gases de efeito estufa.

Assim, atualmente, o H2V ainda não se mostra competitivo em relação a outras tecnologias de produção de hidrogênio.

O que é a certificação de hidrogênio de baixo carbono?

Em 2022, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) lançou a primeira certificação de hidrogênio do mercado nacional, a fim de atestar a origem da produção a partir de fontes de baixa emissão de carbono em projetos-piloto no país.

A CCEE também vem atuando na criação de um padrão global das certificações de hidrogênio. O objetivo é que os países que vendem e os que compram hidrogênio tenham critérios comuns para analisar seus atributos.

Quais são os benefícios do hidrogênio verde?

Os principais benefícios do hidrogênio verde são:

100% sustentável

O H2V é considerado 100% sustentável, porque não emite gases poluentes no seu processo de produção nem na sua combustão.

Para ter uma ideia, na combustão pura do hidrogênio, o único subproduto gerado é a água. Além disso, ele apresenta uma alta densidade energética, ou seja, é capaz de produzir até três vezes a energia da combustão da gasolina por unidade de massa, conforme estudo da Thymos Energia.

Fácil de ser armazenado

Como o hidrogênio é fácil de ser armazenado, é possível utilizá-lo posteriormente, ou seja, em outro momento que não seja o da sua produção.

Fácil de ser transportado

Para completar, o hidrogênio pode ser misturado ao gás natural em até 20%, fazendo uso da infraestrutura do gás.

Quais são os desafios para o hidrogênio verde?

Os maiores desafios em relação ao hidrogênio verde são:

Requer maior gasto de energia

A produção do H2V demanda mais energia do que outros combustíveis. Além disso, o custo de produção do H2V é influenciado pelo custo da energia e pelo custo do eletrolisador. Para ter uma ideia, o custo da energia equivale a mais de 50% do custo de produção.

É muito volátil e inflamável

O hidrogênio é um elemento químico muito volátil e inflamável. Por conta disso, para não haver risco de fuga ou explosão, é preciso serem cumpridos elevados requisitos de segurança.

Como investir em hidrogênio verde?

Diante da expectativa de crescimento da demanda de H2V nos próximos anos, as empresas produtoras desse combustível se tornam atraentes para os investidores.

A EDP Brasil, por exemplo, lançou o seu projeto-piloto no Porto do Pecém (CE) em janeiro de 2023. No entanto, em julho, ela foi uma das companhias que cancelaram seu registro na B3.

Na opinião dos analistas da XP ouvidos pelo Estadão, as ações da Raízen (RAIZ4) e da AES Brasil (AESB3) são opções interessantes para quem tem como foco empresas ligadas ao H2V.

Além disso, como sua produção requer fontes de energia renovável, vale a pena ficar de olho nas ações Cesp (CESP6), Ômega (MEGA3), Aeris (AERI3) e Weg (WEGE3), que podem ser impactadas de maneira indireta.

Quais são as perspectivas para o hidrogênio verde em termos mundiais?

De acordo com o mais recente relatório da IEA sobre energias renováveis, somente 7% dos projetos de H2V anunciados no mundo (com exceção da China) devem estar em operação até 2030. O motivo disso seria a lentidão de investidores para concretizarem as iniciativas e o custo de produção mais elevado.

No lançamento de Renewables 2023, o diretor-executivo da IEA, Fatih Birol, afirmou que essa tendência desaponta, porque acredita que o H2V pode ter um papel importante na solução da crise do clima, para a garantia da segurança energética e também para a diversificação da matriz.

“O maior problema é criar demanda para os projetos e ter uma boa regulamentação, para criar estímulo do lado do consumo”, disse.

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Resumindo

O que é hidrogênio verde?

O hidrogênio (H2) é o elemento químico encontrado em maior abundância no universo. No entanto, ele costuma ser encontrado em combinação com outros elementos.

Para obtê-lo, existem diferentes processos e diferentes fontes de energia. Cada tecnologia de produção é classificada com uma cor pela Agência Internacional de Energia (IEA).

Assim, o hidrogênio verde (H2V) é aquele obtido via eletrólise por meio de fontes de energia renováveis, como a eólica e a solar. Logo, não há emissão de CO2.

Por fim, vale mencionar a existência do hidrogênio preto, do marrom, do cinza, do azul, do turquesa, do musgo, do branco, do rosa e do amarelo.

Quais as desvantagens do hidrogênio verde?

As desvantagens do hidrogênio verde são:

  • requer maior gasto de energia: a produção do H2V demanda mais energia do que outros combustíveis. Além disso, o custo de produção do H2V é influenciado pelo custo da energia e pelo custo do eletrolisador. Para ter uma ideia, o custo da energia equivale a mais de 50% do custo de produção;
  • é muito volátil e inflamável: o hidrogênio é um elemento químico muito volátil e inflamável. Por isso, deve-se cumprir elevados requisitos de segurança.
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