As eleições americanas de 2024 têm o potencial de ser um evento marcante, com grandes implicações para o mercado financeiro global. A desistência de Biden da disputa já começou a gerar análises e especulação por parte da imprensa especializada, o que por si só já reflete a importância desse processo eleitoral para a economia mundial.

Historicamente, mudanças na liderança dos Estados Unidos têm provocado oscilações significativas nos mercados financeiros. Em síntese, essas variações ocorrem em resposta às novas políticas econômicas, fiscais e comerciais implementadas pelos governos que assumem o poder. 

Panorama da relação entre Estados Unidos e Brasil

A relação entre Brasil e Estados Unidos é marcada por uma história complexa, moldada por uma variedade de fatores políticos, econômicos e culturais. Ao longo dos anos, essa relação tem evoluído em resposta a mudanças no cenário global, refletindo tanto momentos de cooperação quanto de tensão, tornando-se um dos eixos centrais das dinâmicas internacionais envolvendo as duas nações.

Em 2024, os dois países celebram duzentos anos de relações diplomáticas. Os norte-americanos foram pioneiros, no que tange ao reconhecimento da independência brasileira, ocorrido 2 anos após a proclamação. 

Do ponto de vista econômico, os Estados Unidos ocupam a segunda posição como principal parceiro comercial do Brasil. Somente no ano de 2022, o intercâmbio comercial de bens e serviços entre os dois países atingiu a expressiva cifra de 120,7 bilhões de dólares. 

Em geral, as exportações brasileiras incluem principalmente produtos agrícolas, minerais e manufaturados, enquanto as importações concentram-se em tecnologia e produtos industriais.

De todo modo, é preciso salientar que a economia brasileira é diversificada e possui um mercado interno robusto, o que a torna menos dependente dos Estados Unidos ou de qualquer outro país em específico. No entanto, devido à interconexão entre as economias das duas nações, acontecimentos econômicos e políticos nos Estados Unidos tem o poder de influenciar no território nacional.

Eleições presidenciais americanas 2024

Essa perspectiva referente a interconexão entre os dois países faz com que os investidores brasileiros fiquem atentos às eleições americanas, programadas para o dia 5 de novembro deste ano. 

De acordo com uma recente avaliação de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (BC), as promessas de campanha dos candidatos têm o potencial de aumentar a pressão inflacionária nos Estados Unidos. Tal pressão, por sua vez, poderia gerar impactos na economia da China, efeito que pode respingar no Brasil, haja visto que a potência asiática, desde 2009 é a principal parceira comercial do país. 

Entre outros pontos, Campos Neto avalia que um aumento nas tarifas de importação de produtos chineses pode desencadear uma desaceleração econômica significativa na China, com impactos consideráveis entre os emergentes, o que inclui o Brasil.

“Uma queda de crescimento relativamente grande na China e isso afeta muito o mundo emergente e vai afetar bastante o Brasil também”, declarou o presidente do BC, durante audiência pública na Câmara dos Deputados, realizada no dia 8 de agosto de 2024. 

Quem são os principais candidatos à presidência Americana

Concorrendo pelo Partido Republicano, o empresário e ex-presidente dos EUA, Donald Trump, busca retornar à Casa Branca, cargo que ocupou de 2017 a 2021. Para essa nova tentativa, ele escolheu como seu vice o senador de Ohio, J.D. Vance

Nestas eleições, Trump enfrenta a atual vice-presidente Kamala Harris, que assumiu a liderança na candidatura democrata após a desistência de Joe Biden. Como companheiro de chapa, Harris terá o governador de Minnesota Tim Waltz.

Os dois principais candidatos à presidência dos Estados Unidos são amplamente vistos como uma verdadeira antítese um do outro em vários aspectos, representando visões e abordagens completamente divergentes para o futuro do país.

De forma geral, enquanto Trump adota uma plataforma focada em políticas de imigração rígidas, reformas na administração pública e uma abordagem distinta em relação à política externa, Harris concentra sua campanha em temas como a defesa dos direitos reprodutivos, combate às mudanças climáticas e continuidade de várias políticas da administração Biden, que enfrentou Trump nas últimas eleições americanas. 

O Melhor Investimento oferece artigos detalhados sobre o perfil de ambos os candidatos à Casa Branca. Saiba mais sobre a trajetória Donald Trump e Kamala Harris para entender melhor o viés de cada um deles. 

Importância das Eleições dos EUA para a economia global

Não é exagero afirmar que a disputa presidencial norte-americana transcende as fronteiras dos Estados Unidos. Afinal, o país detém a economia mais proeminente do globo. As políticas econômicas propostas pelos candidatos, especialmente aquelas relacionadas ao comércio, impostos e regulamentação, têm um impacto direto nas economias globais

O cenário global é moldado por uma complexa rede de fatores interligados. Neste sentido, políticas de comércio exterior, com suas flutuações tarifárias e acordos bilaterais, exercem um papel central nessa dinâmica. 

Paralelamente, as decisões do Federal Reserve, o banco central dos EUA Unidos, reverberam nos mercados emergentes. Alterações nas taxas de juros americanas influenciam diretamente os fluxos de capital para essas economias, desencadeando uma série de efeitos dominó.

Outro aspecto relevante é a política ambiental e energética. A administração Biden, por exemplo, tem uma agenda voltada para a sustentabilidade e redução das emissões de carbono, incentivando energias renováveis, algo previsto nos planos de Harris, mas pode não ser colocado como prioridade em novo governo Trump. 

Em resumo, as eleições dos EUA têm um impacto profundo e multifacetado na economia global. As decisões tomadas pelo novo presidente influenciam não apenas o comércio e as políticas monetárias, mas também questões ambientais e energéticas, afetando diretamente países ao redor do mundo, incluindo o Brasil.

Histórico de impactos das eleições americanas no mercado financeiro

A alternância de comando nos EUA conta com um largo histórico de influência no mercado. Neste contexto, muito se fala nas oscilações de preço que costumam marcar a bolsa de valores durante as eleições americanas. 

A bolsa norte-americana exibe uma volatilidade intrínseca, todavia, o que se vê é que referencial se acentua consideravelmente durante os períodos eleitorais. No decorrer das eleições de 2016, por exemplo, os mercados futuros dos EUA sofreram uma queda brusca, após a vitória surpreendente de Trump. 

Contudo, pouco tempo depois, observou-se uma significativa recuperação desses mercados, com o Dow Jones Industrial Average atingindo novas máximas históricas logo após o fim das eleições americanas.

Outros exemplos históricos

Um exemplo notável ocorreu na eleição de Barack Obama em 2008, quando as expectativas de regulamentações mais rigorosas para o setor bancário e financeiro em geral, já abalado pela crise financeira global, geraram um efeito negativo nos preços das ações das empresas desse segmento. 

Em 2020, quando Joe Biden foi eleito, as expectativas de políticas econômicas expansionistas e estímulos fiscais influenciaram as previsões referentes às políticas do Federal Reserve. As consequências se fizeram sentir nas taxas de juros, e por conseguinte nos mercados de ações e de títulos.

Sob a Administração Trump, a adoção de medidas protecionistas, tais como a imposição de tarifas sobre produtos importados da China, resultou em disrupções nas complexas redes de produção globais e fomentou um ambiente de incerteza nos mercados financeiros.

Administrações democratas e republicanas

Nos Estados Unidos, as administrações democratas e republicanas têm historicamente representado abordagens distintas em relação a políticas econômicas, sociais e internacionais. Essas diferenças refletem as filosofias subjacentes de cada partido e influenciam significativamente a direção do país durante seus mandatos.

Em geral, o Partido Republicano, é tradicionalmente associado a políticas conservadoras e ao liberalismo econômico, que por sua vez, contrasta com o Partido Democrata, que tende a apoiar políticas econômicas progressistas e intervenções sociais mais robustas.

Essa dicotomia partidária define a agenda política do país, bem como afeta as decisões legislativas, a dinâmica eleitoral e, em última análise, o rumo da nação e de seus respectivos impactos econômicos. 

Sobre os ciclos econômicos históricos de cada partido

Contando do final da Segunda Guerra Mundial (1945) até o momento atual, democratas e republicanos, curiosamente se revezaram de forma igualitária no poder, com onze presidentes eleitos para cada lado, no período. 

Um levantamento da Stake de 2021 aponta que o partido republicano apresentou um histórico mais oscilante, com sete períodos de crescimento intercalados por dez fases de declínio. Por outro lado, o partido Democrata mostrou um comportamento mais estável, com apenas dois grandes períodos de alta e cinco momentos de retração.  É importante salientar que os dados do estudo não consideraram a gestão de Joe Biden.

Potenciais impactos no mercado financeiro 

Influência no mercado de ações

Quanto ao impacto no mercado acionário, William Castro Alves, sócio e estrategista-chefe da digital Avenue, alerta para um cenário, “no mínimo, contraintuitivo”. 

Segundo ele, embora se espere que as incertezas relacionadas às eleições impactem negativamente o mercado, dados históricos mostram que o índice S&P 500 teve retornos médios positivos em anos eleitorais, superando a média geral.

O estrategista cita um estudo da Blackrock revelou que, surpreendentemente, o terceiro trimestre dos anos eleitorais, período de maior incerteza, apresentou os melhores retornos, com uma média de 6,2%.

Efeitos no mercado de renda fixa

Embora as pesquisas ainda indiquem Trump como favorito, a saída de Biden introduziu uma nova dinâmica à disputa, tornando o cenário mais incerto. 

Essa mudança no panorama político gera uma maior incerteza, o que, por sua vez, pode desencadear instabilidade no mercado de renda fixa. Analistas apontam que os títulos do Tesouro estadunidense (Treasuries) e, consequentemente, os títulos brasileiros podem apresentar maior volatilidade até que o quadro eleitoral se estabilize.

Políticas econômicas esperadas dos candidato à presidência

A seguir elencamos algumas das principais propostas apresentadas por cada candidato até então, no escopo da economia estadunidense. 

Trump 

  • Energia: em comício, Trump prometeu cortar pela metade os preços da energia e eletricidade em 18 meses, caso eleito. Em meio exposição das propostas, o ex-presidente se posicionou em apoio ao retorno aos combustíveis fósseis em detrimento às energias renováveis;
  • Previdência social: o republicano também direcionou promessas referente às questões fiscais atrelada aos benefícios concedidos aos idosos. “Para ajudar os idosos com renda fixa que estão sofrendo os estragos da inflação, não haverá imposto sobre a Previdência Social. Vamos parar com isso”, afirmou em um comício, na Carolina do Norte. 
  • Tarifas extras sobre importações: Trump propõe a imposição de uma tarifa mínima de 10% sobre todas as importações de qualquer país e uma tarifa mais elevada, de 60%, especificamente sobre os produtos importados da China. “Teremos tarifas de 10 a 20% sobre países estrangeiros que vêm nos enganando há anos”

Harris

  • Preço de alimentos: Harris, recentemente declarou que, caso seja eleita presidente, irá implementar a primeira legislação federal para proibir práticas de preços abusivos no setor alimentício.“Como presidente, eu vou assumir os altos custos que mais importam para a maioria dos americanos, como o preço dos alimentos”, disse a atual vice-presidente dos EUA.
  • Classe média no foco: em comício, a democrata destacou a importância de construir uma “economia de oportunidades” para a classe média, um modelo econômico em que “todos podem competir e ter uma chance real de sucesso”, definiu Harris
  • Moradia: uma das prioridades de Harris é ampliar o acesso à moradia. Para tal, o plano democrata propõe diversas medidas, que incluem a concessão de subsídios de até US$ 25 mil para a compra da primeira habitação e a utilização de terrenos federais para a construção de moradias populares.

Afinal, o que esperar das eleições americanas de 2024?

No dia 5 de novembro de 2024, os cidadãos norte-americanos irão às urnas fazer suas escolhas para: 

CargoQuantidade de Assentos
Presidente e Vice-Presidente
Câmara dos Representantes435
Senado34 dos 100 instituídos
Governos estaduais e territoriais13

Até a data prevista, especialistas e investidores estarão atentos a diversos fatores que podem influenciar os resultados das eleições. Entre os aspectos considerados mais relevantes, destacam-se as políticas econômicas, questões de sustentabilidade e a política externa adotada pelo candidato eleito.

Lucas Machado

Redator do Melhor Investimento e psicólogo de formação, com mais de dois anos de experiência em redação de artigos relacionados aos mais variados assuntos e campos do saber.