Nos últimos 10 anos, o mercado de capitais passou por uma grande transformação. Esse período não apenas testemunhou avanços nos territórios de regulamentação e tecnologia, mas também marcou uma mudança na forma como os brasileiros investem no mercado financeiro.

Antes, produtos financeiros, especialmente os mais sofisticados, eram inexistentes ou restritos a um seleto grupo de investidores. Hoje, no entanto, vivemos um período marcado pelo crescimento do número de CPFs que participam ativamente na Bolsa de Valores, além de uma maior oferta de produtos em diferentes classes de ativos.

Nesta breve reflexão, falo sobre essa jornada histórica e destaco como o Venture Capital, mercado destinado ao investimento em startups, tornou-se acessível a partir de plataformas de investimento online como a EqSeed.

A evolução do mercado financeiro brasileiro

O mercado financeiro brasileiro se moldou como a “Terra do CDI”. Durante a era de juros exorbitantes, provocados pela hiperinflação, não havia incentivo ao desenvolvimento de investimentos de risco. Naquela época, a inflação fazia com que os investidores buscassem segurança nos rendimentos oferecidos por produtos indexados ao CDI (os mais “experientes” vão lembrar do overnight, aplicação de curtíssimo prazo para proteger poder de compra).

Naquele contexto, um tanto quanto caótico, as discussões sobre diversificação de investimentos eram naturalmente rasas, muitas vezes limitadas a CDBs e ações de grandes empresas estatais, como Petrobras e Banco do Brasil.

Com o passar do tempo, o Brasil conseguiu controlar a inflação e reduzir as taxas de juros para patamares mais palatáveis, embora ainda altas em comparação com o resto do mundo. Esse ambiente mais estável pavimentou o caminho para o desenvolvimento do nosso mercado de capitais. Dessa forma, vimos um aumento na diversidade de produtos financeiros e uma maior disposição dos investidores em explorar opções mais arriscadas e inovadoras.

Educação financeira, regulamentação e tecnologia

E aqui reside um padrão: toda grande transformação do mercado financeiro brasileiro só foi possível pela combinação de três elementos-chave: educação financeira, tecnologia e regulamentação específica. Isso porque, no contexto do Brasil, em que a inclusão financeira tem sido um desafio histórico, a educação se tornou uma ferramenta indispensável para ampliar o acesso a produtos financeiros e promover a participação ativa no mercado de capitais.

A própria XP Investimentos é um exemplo disso. Desde sua fundação em 2001, ela se destacou por sua abordagem, que vai além da simples oferta de produtos financeiros. A empresa implementou uma série de iniciativas focadas em educação financeira a fim de desmistificar o mercado de capitais e capacitar investidores individuais.

A tecnologia chegou para aumentar a velocidade e reduzir os custos das transações, o que foi fundamental para que novos produtos escalassem. A velocidade das operações de câmbio da Avenue também exemplifica o impacto da tecnologia no setor financeiro. Antes, as operações exigiam uma pilha de papelada, incluindo documentações que levavam dias, senão semanas, para serem processadas. Hoje, elas são feitas de forma totalmente digital, sendo concluídas em minutos, ou até mesmo segundos.

Combinadas com regulamentações específicas, essas transformações trouxeram ainda mais segurança para os investidores, garantindo que as operações fossem executadas de maneira eficiente e sob a proteção das diretrizes que regem o mercado financeiro.

Aumento no número de investidores individuais

Os dados sobre o aumento no número de investidores individuais na Bolsa de Valores brasileira são um reflexo claro desse impacto. Nos últimos anos, a B3 registrou um crescimento exponencial no número de CPFs cadastrados. Em 2010, por exemplo, havia aproximadamente 600 mil investidores registrados.

Em 2018, o número era de aproximadamente 800 mil; já em 2020, o número saltou para mais de 3 milhões de CPFs cadastrados. Esse crescimento continuou nos anos seguintes, e em 2023 atingiu o marco de 5 milhões de investidores, representando não apenas um aumento quantitativo, mas também um indicador qualitativo do maior interesse dos brasileiros no mercado de capitais.

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O início do mercado de Venture Capital no Brasil

Há algumas décadas, o mercado de Venture Capital era praticamente inexistente no Brasil. As startups enfrentavam enormes desafios para obter financiamento, já que os instrumentos tradicionais não atendiam às suas necessidades de crescimento rápido. A falta de um ecossistema robusto significava que muitas ideias promissoras nunca saíam do papel, devido à escassez de capital disponível e um mercado ainda pouco desenvolvido.

Quando o mercado de Venture Capital começou a se desenvolver no Brasil, o acesso a esse tipo de investimento era extremamente limitado. Os fundos eram formados por investidores institucionais, como grandes bancos e corporações multinacionais. Essa exclusividade criava uma barreira que impedia que investidores menores participassem diretamente do crescimento das startups brasileiras — e a falta de informações contribuía ainda mais para essa restrição. 

Além disso, a infraestrutura de suporte para startups no Brasil ainda era escassa. A falta de aceleradoras, incubadoras e redes de mentoria especializadas, como o Cubo Itaú, representava um obstáculo para o desenvolvimento e a maturação das empresas iniciantes, que muitas vezes precisavam de mais assistência além do investimento inicial.

A transformação do ecossistema de Venture Capital

Nos últimos anos, no entanto, o cenário mudou através da mesma lógica: educação financeira, regulamentação específica e tecnologia — ganhando força com o surgimento de plataformas de investimento online. Regulamentações como a Lei das Startups (2021), a CVM 588 (2017) e ICVM 88 (2022) criaram um ambiente regulatório robusto e moderno, favorecendo o desenvolvimento desses negócios, proporcionando mais segurança jurídica e democratizando o acesso ao Venture Capital.

A EqSeed, em particular, tem liderado essa transformação com iniciativas que estão desenvolvendo ainda mais o mercado. De um lado, ajuda empreendedores do Brasil inteiro a acessarem o mercado de capitais. Do outro, possibilita que investidores tenham acesso a startups criteriosamente selecionadas, dentro de um ambiente 100% digital e regulado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários)

Inovações recentes e parcerias estratégicas

Mais recentemente, a EqSeed fechou uma parceria com a B3 no desenvolvimento de uma solução tokenizada para o mercado secundário de startups, algo impensável há poucos anos. Em breve, será oferecido um ambiente personalizado, prático e seguro para a compra e venda de ativos — tudo isso com a tecnologia da B3.

Além disso, também foram fechadas parcerias com o Banco Itaú e a InvestSmart, um dos maiores escritórios da XP Investimentos com mais de R$ 23 bilhões sob custódia. Esse movimento consolida o investimento em startups como deve ser: uma classe de ativos que pode fazer parte da estratégia de diversificação de investidores pessoa física que desejam e tenham perfil.

O potencial do investimento em startups no mercado brasileiro

Os resultados do benchmark da EqSeed no Reino Unido evidencia o potencial do investimento em startups. A Seedrs surgiu como uma referência no mercado de equity crowdfunding, levantando milhões de libras em investimentos para diversas startups. Até 2023, ela acumulou um volume total de investimento avaliado em aproximadamente R$ 19,6 bilhões. 

A Seedrs, que foi comprada pela Republic, anunciou seu rebranding na semana passada, começando a negociar sob a nova insígnia. O sucesso da empresa demonstra o potencial que o nosso mercado possui, especialmente com o contínuo interesse por investimentos em startups. À medida que o cenário brasileiro cresce, o acesso ao investimento em startups fica cada vez mais próximo dos investidores pessoa física.

Igor Monteiro

Sócio e CEO da EqSeed. Igor é Ph.D em Finanças (PUC-RJ) com extensão nos EUA e especialista em valuation com vasta experiência em M&A e Venture Capital. Liderou processos de investimentos em startups e operações de M&A, no Brasil e exterior. Acumula passagens por boutique de M&A, Family-office e instituições financeiras. Foi professor do MBA de Gestão de Investimentos da PUC-Rio.