Em um setor historicamente dominado por grandes bancos e lideranças masculinas, Cristina Junqueira figura hoje entre os nomes mais influentes do mercado financeiro. Cofundadora do Nubank, a empreendedora saiu de uma promissora carreira como consultora para liderar uma das fintechs mais valiosas do mundo.

A executiva alcançou o status de bilionária quando o banco roxinho estreou na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), em dezembro de 2021. Na ocasião, a instituição financeira foi avaliada em mais de US$ 50 bilhões, consolidando-se como um dos bancos digitais mais valiosos do mundo. Graças ao seu papel estratégico na construção e expansão da empresa, ela figura atualmente na prestigiada lista da Forbes de bilionários que fizeram a própria fortuna. 

Biografia e Formação de Cristina Junqueira

Natural de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, Cristina Helena Junqueira nasceu em 1983 e passou parte da infância e adolescência no Rio de Janeiro. Na capital fluminense, estudou no renomado Colégio Santo Inácio, no bairro de Botafogo. A instituição, conhecida pelo ensino de excelência e pelo alto custo, já formou diversas personalidades de destaque na sociedade carioca, sendo historicamente uma referência em educação.

Ao concluir o antigo colegial – equivalente ao atual ensino médio -, Cristina foi para a capital paulista para cursar Engenharia de Produção na Universidade de São Paulo (USP). Formada em 2004, deu sequência à sua trajetória acadêmica com um mestrado na mesma instituição. Ainda durante essa fase, iniciou sua experiência profissional como analista de sistemas no Unibanco e, posteriormente, como consultora interna na Booz Allen Hamilton.

Dando continuidade ao seu desenvolvimento profissional, Cristina decidiu expandir seus conhecimentos no exterior. Ingressou na prestigiada Kellogg School of Management, da Northwestern University, nos Estados Unidos, onde se especializou em Finanças e Marketing, obtendo seu MBA.

Leia também:

Atuação de Cris Junqueira no Itaú Unibanco e consultorias

Atualmente, Cristina Junqueira é amplamente reconhecida como uma das mentes por trás do Nubank. No entanto, antes de sua ascensão na fintech, ela construiu uma trajetória sólida no mercado bancário e financeiro. Com passagens de destaque pelo Itaú Unibanco e por renomadas consultorias, acumulou experiências valiosas que moldaram sua visão empreendedora e sua expertise no setor.

A trajetória profissional da executiva é marcada por experiências relevantes e conquistas expressivas. A seguir, destacamos alguns dos momentos mais importantes de sua carreira.

  • Após os primeiros estágios, o início da carreira de Cris Junqueira foi no campo de consultorias. Por volta de 2004, ela atuou como analista de sistemas no Unibanco e consultora interna na Booz Allen Hamilton.
  • Em 2007, se mudou para os EUA para fazer seu MBA, projetando, segundo ela, adquirir conhecimento mas também “ganhar acesso a empresas e pessoas” que antes não era possível. 
  • De volta ao Brasil, em 2008, Cristina atuou como superintendente de negócios no Itaú Unibanco, trabalhando na área de seguros para pequenas e médias empresas (PMEs). 
  • Essa experiência fez com que ela assumisse, no ano seguinte, o cargo de Head de Marketing e Produtos na LuizaCred, onde permaneceu por quase três anos.
  • Na sequência, viveu um momento decisivo em sua trajetória, aprofundando seu conhecimento sobre o funcionamento do mercado e as necessidades dos clientes. Como Portfólio Manager do Itaucard, ela apresentou propostas inovadoras que contribuíram para a evolução do setor.

O que se segue, foi a saída do Itaú Unibanco para fundar uma fintech inovadora, junto com David Vélez e Edward Wible. No entanto, essa trajetória merece ser contada com mais detalhes, os quais apresentaremos a seguir.

Quem são David Vélez e Edward Wible?

Fundadores do Nubank
Junqueira à esq.; Vélez no centro; Wible à dir. (Imagem: reprodução)

Como mencionado, o nascimento e o desenvolvimento do Nubank não são atribuídos apenas a Cristina Junqueira. O projeto contou com a participação de outros dois cofundadores: o colombiano David Vélez e o norte-americano Edward Wible.

Vélez é um banqueiro de investimentos formado em Engenharia Elétrica pela prestigiada Universidade de Stanford. O colombiano foi quem veio a ser o primeiro CEO (Chief Executive Officer) do Nubank

Mas, antes de se envolver com a fintech, ele já acumulava uma vasta experiência no mercado financeiro, com passagens por bancos como o Goldman Sachs e Morgan Stanley. No Brasil, o colombiano ganhou notoriedade ao trabalhar no fundo de venture capital Sequoia Capital.

Wible, por sua vez, é formado em Ciência da Computação pela Princeton University, além de deter um MBA pelo INSEAD. Ele foi o primeiro CTO (Chief Technology Officer) do Nubank e, atualmente, exerce a função de engenheiro de software na empresa. 

Assim como Junqueira, iniciou sua carreira em consultorias, começando pelo Boston Consulting Group (BCG) e, posteriormente, pelo Francisco Partners. Esta última experiência lhe proporcionou um profundo conhecimento em investimentos voltados para empresas de tecnologia nos Estados Unidos, antes do surgimento do Nubank.

A fundação da startup Nubank

A ideia que deu origem ao Nubank teria surgido da profunda insatisfação de David Vélez com o modelo bancário tradicional brasileiro. Em 2012, ao tentar abrir uma conta corrente no país, o colombiano se deparou com uma série de obstáculos que tornavam a experiência frustrante e burocrática. Desde a necessidade de passar por portas giratórias até o atendimento lento e impessoal, passando pelas tarifas elevadas e pouco transparentes, tudo parecia apontar para um sistema que privilegiava os bancos em detrimento dos clientes.

Diante desse cenário, Vélez, que já acumulava uma trajetória significativa no setor financeiro, especialmente no segmento de investimentos, começou a conceber um novo modelo de banco, mais eficiente, acessível e voltado para as necessidades reais dos usuários. O primeiro esboço do que se tornaria o Nubank começou a tomar forma.

Um encontro de três horas que definiu o futuro

Quase que em paralelo com as investidas do colombiano, Cristina Junqueira vivia sua própria busca por um projeto inovador e desafiador. Após deixar seu cargo no Itaú, onde trabalhava com produtos financeiros, ela sentia que precisava se envolver em algo que realmente causasse impacto. Seu caminho se cruzou com o de Vélez em um encontro que, à primeira vista, tinha poucas informações concretas além do fato de que ele era um investidor com passagem pela Sequoia Capital.

O que começou como uma reunião despretensiosa se transformou em uma conversa intensa de três horas. Ao final, Cristina não teve dúvidas: queria apostar naquele projeto. Como ela mesma relembrou no podcast FodCast, sua motivação ficou clara naquele momento: “Se tem alguém que pode fazer isso aqui dar certo, sou eu.”

O início oficial em uma “casinha” no Brooklin em São Paulo-SP

Com a visão de criar um projeto que desafiasse o status quo do sistema financeiro brasileiro, os dois co-fundadores ainda precisavam de um terceiro pilar para consolidar a parte tecnológica da empresa. Foi então que Edward Wible entrou para o time. O norte-americano, que já havia tentado sem sucesso lançar uma startup de transportes, aceitou o desafio de estruturar a base tecnológica do futuro Nubank.

Em maio de 2013, com a equipe formada, o trio fundou oficialmente a empresa. Com um capital inicial composto pelos recursos privados dos sócios, além de alguns investimentos externos, eles alugaram um pequeno imóvel no bairro do Brooklin, em São Paulo. O local, batizado carinhosamente de “casinha”, tornou-se o primeiro escritório da fintech e o ponto de partida para a transformação do setor bancário no Brasil.

Principais objetivos com a criação do Nubank

Desde o início, o trio de fundadores do Nubank tinha um propósito claro: reinventar a relação dos brasileiros com os serviços financeiros. Eles queriam criar um aplicativo intuitivo e acessível, que permitisse aos clientes realizar transações bancárias sem precisar enfrentar filas, burocracia ou qualquer contato com agências físicas. 

Mais do que apenas um banco digital, o objetivo era oferecer uma alternativa justa e eficiente em um mercado dominado por poucas instituições tradicionais. Entre as diferentes finalidades do projetos, cabe destaque para os seguintes aspectos: 

  • Quebrar o monopólio bancário: na época, cerca de 80% do setor bancário brasileiro estava concentrado nas mãos de cinco gigantes: Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Essas instituições, apesar de registrarem lucros bilionários, operavam com um modelo que impunha juros altíssimos em empréstimos e cobrava tarifas abusivas por serviços essenciais.
  • Eliminar burocracia e melhorar a experiência do cliente: abrir uma conta ou solicitar um cartão de crédito envolvia processos demorados, papeladas extensas e inúmeras idas às agências. Cristina Junqueira destacou essa insatisfação em entrevista à Forbes em 2021: “Eu nunca entendi por que tínhamos que forçar as pessoas a contratarem esses serviços horríveis. Os clientes odiavam.”
  • Tornar os serviços bancários mais acessíveis: outra prioridade do Nubank era democratizar o acesso ao crédito e aos serviços financeiros. Muitos brasileiros, especialmente os que moravam em regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos, enfrentavam dificuldades para abrir uma conta bancária ou obter um cartão de crédito. Com um aplicativo simplificado e um processo 100% digital, a fintech eliminaria barreiras e ampliaria a inclusão financeira no país.

A experiência do usuário simples e intuitiva, combinada com a proposta inovadora do Nubank, atraiu milhões de clientes no Brasil. Esse fenômeno abriu caminho para a expansão da empresa em outros mercados latino-americanos, como México e Colômbia.

Expansão e crescimento da empresa

Cristina Junqueira
Imagem: Reprodução/Nubank

Ainda em 2014, o Nubank deu um passo ousado ao lançar um cartão de crédito sem anuidade, algo extremamente raro no Brasil na época. O produto conquistou rapidamente o público, recebendo o apelido carinhoso de “roxinho” devido à sua cor característica. Sua proposta era simples, mas revolucionária: um cartão 100% digital, sem burocracia, taxas abusivas ou necessidade de intermediação de bancos tradicionais.

O sucesso do roxinho abriu caminho para a expansão da fintech. Em pouco tempo, o Nubank passou a oferecer novos serviços, incluindo conta-corrente e uma opção de poupança. Com o passar dos anos, a empresa ampliou ainda mais seu portfólio, lançando empréstimos pessoais, soluções de investimento e até um seguro de vida acessível e descomplicado.

A trajetória inovadora da fintech logo começou a ser reconhecida internacionalmente. Em 2019, o Nubank foi eleito a Empresa Mais Inovadora da América Latina pela Fast Company, figurando na 36ª posição entre as 50 empresas mais inovadoras do mundo. No mesmo ano, recebeu o título de Melhor Banco Brasileiro pela Forbes e passou a integrar o ranking dos melhores bancos do mundo, consolidando-se como referência no setor financeiro.

Nos anos seguintes, o reconhecimento pela capacidade de inovação do Nubank só cresceu. Em 2024, a empresa voltou a ser destacada pela Fast Company como uma das empresas mais inovadoras do mundo, reforçando sua posição de liderança global no setor financeiro. Entre os principais avanços que contribuíram para essa conquista, um dos destaques foi o lançamento do Modo Rua, em 2023. 

A funcionalidade trouxe mais segurança para os clientes ao permitir que desativassem determinadas transações do aplicativo ao estarem fora de locais confiáveis, reduzindo riscos em situações de perda ou roubo do celular.

Nubank entra para a bolsa de valores

A entrada de Cristina Junqueira na lista de bilionários da Forbes foi impulsionada por um marco histórico para o Nubank: sua abertura de capital. Pouco mais de oito anos após sua fundação, no dia 9 de dezembro de 2021, o Nubank passou a ser negociado na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) sob o ticker “NU“. 

A decisão de listar suas ações em uma bolsa estrangeira foi estratégica, uma vez que o mercado acionário dos Estados Unidos é considerado um dos mais dinâmicos e atrativos do mundo, oferecendo maior visibilidade e acesso a investidores globais.

No entanto, o Nubank não deixou os investidores brasileiros de fora dessa nova fase. Simultaneamente à listagem na NYSE, a empresa disponibilizou BDRs (Brazilian Depositary Receipts) na B3, permitindo que os investidores locais também participassem de seu crescimento. No Brasil, a fintech é negociada sob o código ROXO34

Detalhes do IPO 

Preço inicial das açõesUS$ 9
Valor captado no IPOAproximadamente US$ 2,4 bilhões
Instituições líderes na ofertaMorgan Stanley, Goldman Sachs, Citigroup
Participação de investidores de varejoIncluindo clientes do Nubank através do programa “NuSócios”
Avaliação do Nubank no momento do IPOAproximadamente US$ 41,5 bilhões

Mediante a sua estreia no mercado acionário, o banco roxinho alcançou o status quo de fintech mais valiosa do mundo. Saiba mais sobre os papéis da fintech:

Nubank ultrapassa Itaú em valor de mercado

Atualmente, Nubank e Itaú (ITUB4) disputam o posto de maior banco da América Latina em valor de mercado, alternando posições ao longo do tempo. Em diferentes ocasiões, a fintech superou o banco tradicional. Um exemplo se deu poucos dias após sua estreia na bolsa, quando a cotação do Nubank atingiu US$ 11,85, impulsionando sua avaliação de mercado e garantindo, naquele momento, a liderança no setor. No entanto, essa supremacia está longe de ser definitiva.

O cenário continua dinâmico e competitivo. Em fevereiro de 2025, após a divulgação dos resultados do quarto trimestre, as ações do Nubank registraram uma queda expressiva de 18,89%, o que permitiu ao Itaú retomar a liderança. Na ocasião, o banco tradicional foi avaliado em US$ 52,98 bilhões, enquanto o Nubank passou a valer US$ 51,38 bilhões.

Já em março de 2025, o jogo virou mais uma vez. Mesmo apresentando um lucro menor no período, o Nubank ultrapassou novamente o Itaú em valor de mercado. Conforme as análises mais recentes, a fintech alcançou uma capitalização de US$ 58 bilhões (R$ 343,7 bilhões), superando o Itaú, avaliado em R$ 298 bilhões.

Liderança, maternidade e o equilíbrio entre carreira e família

Cristina Junqueira, capa da Forbes
Imagem: Reprodução/Forbes Brasil

Não há como falar sobre Cristina Junqueira sem destacar seu papel como mãe. Em diversas ocasiões, a empresária trouxe para o debate o como julga importante conciliar a maternidade com uma carreira de alto impacto. Ela é casada com Rubens Pereira, executivo da Gerdau, e mãe de três meninas: Alice, Bella e Anna. Sua jornada como mãe começou praticamente junto com o Nubank — tanto que ela brinca que sua primogênita e a fintech são como “gêmeas”.

A chegada de Alice coincidiu com o IPO do Nubank na Bolsa de Nova York. O ritmo intenso da vida profissional ficou ainda mais evidente nesse período. Cristina relembra que deu à luz em uma quarta-feira e, já na segunda-feira seguinte, estava de volta ao trabalho. “Quando você está grávida, tem que fazer”, afirmou em entrevista, enquanto esperava sua terceira filha.

Em mais de uma ocasião, Cristina enfrentou o mercado financeiro com a barriga à mostra. Em 2020, ela foi a primeira mulher a aparecer visivelmente grávida na capa de uma revista brasileira de negócios, ao posar para a Forbes Brasil na edição especial “Mulheres de Sucesso”. O ensaio aconteceu três dias antes do nascimento de sua segunda filha. Ainda naquele ano, também foi destaque na edição “As Mulheres Mais Poderosas do Brasil”, da mesma publicação.

Atualmente, Cristina Junqueira se consolidou como uma grande defensora da conciliação entre carreira e maternidade, usando sua própria trajetória como inspiração. Para ela, desempenhar bem ambos os papéis exigem compromisso, dedicação, mas torna mais eficiente. “Eu coloco uma barra muito alta para mim mesma em relação à maternidade”, declarou no PrimoCast. 

Como Cristina Junqueira se tornou bilionária? 

Como se pode deduzir, a fortuna de Cristina Junqueira foi diretamente impulsionada pelo crescimento exponencial do Nubank. Com a abertura de capital da fintech, ela foi oficialmente posicionada na lista de bilionárias da Forbes, consolidando seu nome como uma das empreendedoras mais influentes do setor financeiro.

Atualmente, aos 42 anos, Cristina ocupa a quarta posição entre as mulheres mais ricas do Brasil, com uma fortuna estimada em R$ 8,61 bilhões. No ranking geral do país, ela é a 41ª pessoa mais rica. Em 2024, o prestigiado Financial Times incluiu-a entre as 25 mulheres mais influentes do mundo, destacando sua relevância global.

Em 2021, Cristina assumiu o cargo de CEO do Nubank Brasil, enquanto David Vélez ficou com a presidência global da empresa, liderando as operações no México e na Colômbia. Recentemente, Cristina passou o bastão da liderança para a executiva Livia Chanes.

Gostou deste conteúdo? Siga o Melhor Investimento nas redes sociais: 

Instagram | Linkedin

Lucas Machado

Redator e psicólogo com mais de 3 anos de experiência na produção de artigos e notícias sobre uma ampla gama de temas. Suas áreas de interesse e expertisse incluem previdência, seguros, direito sucessório e finanças, em geral. Atualmente, faz parte da equipe do Melhor Investimento, abordando uma variedade de tópicos relacionados ao mercado financeiro.