O que são finanças comportamentais e como impactam os investimentos?
Investir é uma atividade que exige conhecimento técnico e lógica financeira, certo? É o que muitos pensam, mas a verdade é que as decisões de investimento são influenciadas não apenas por fatores objetivos. Por isso, existe o conceito de finanças comportamentais. Significa que fatores emocionais e psicológicos influenciam a forma como um indivíduo faz suas […]

Investir é uma atividade que exige conhecimento técnico e lógica financeira, certo? É o que muitos pensam, mas a verdade é que as decisões de investimento são influenciadas não apenas por fatores objetivos. Por isso, existe o conceito de finanças comportamentais.
Significa que fatores emocionais e psicológicos influenciam a forma como um indivíduo faz suas aplicações financeiras. Trata-se de uma área de estudo recente que considera como os vieses cognitivos e as crenças podem afetar as finanças.
Se você já se perguntou por que até mesmo os investidores mais experientes tomam decisões irracionais às vezes, a resposta pode ser encontrada nesse campo de estudo. Então, acompanhe a leitura para entender o tema com mais detalhes e aprimorar sua educação financeira.
O que são finanças comportamentais?
Finanças comportamentais são uma área de estudo que surgiu na década de 1970 e combina elementos da psicologia, neurociência e economia para explicar como as pessoas tomam decisões financeiras.
Essa abordagem reconhece que os indivíduos nem sempre são racionais em suas decisões. Eles podem ser influenciados por emoções, crenças e vieses cognitivos.
O estudo das finanças comportamentais surgiu da constatação de que os modelos econômicos tradicionais não conseguem explicar completamente o comportamento humano no mercado financeiro.
Ou seja, pela abordagem tradicional, existe a premissa de que os investidores são racionais e tomam decisões apenas com base em informações objetivas. No entanto, a realidade é que as pessoas são influenciadas por fatores subjetivos.
Pesquisadores de finanças comportamentais
Daniel Kahneman e Richard Thaler são pesquisadores reconhecidos neste campo de atuação. Kahneman é um psicólogo israelense que recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 2002 por seu trabalho em finanças comportamentais.
Thaler é um economista americano que também recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 2017, por suas pesquisas sobre o comportamento humano e o impacto dos vieses cognitivos no mundo financeiro.
Outros estudiosos da área são Daniel Simons e Christopher Chabris. Eles são psicólogos conhecidos pelo teste de atenção seletiva. Este teste demonstrou como as pessoas podem se concentrar em uma tarefa e ignorar informações importantes ao seu redor.
No contexto das finanças, os investidores podem se concentrar em informações específicas e negligenciar outros aspectos importantes, seja no modo de agir ou nas escolhas relativas ao dinheiro.
Quais são os vieses cognitivos das finanças comportamentais?
Os vieses cognitivos são erros sistemáticos de julgamento que as pessoas cometem devido a limitações na maneira como o cérebro processa informações. Conheça a seguir alguns desses vieses.
Excesso de confiança
Devido ao excesso de confiança, os investidores acreditam amplamente em suas habilidades e conhecimentos.
Isso pode levar, por exemplo, a tomar decisões financeiras arriscadas e a subestimar os riscos envolvidos.
Efeito manada
O efeito manada se refere à tendência das pessoas de seguir as decisões de outros investidores ou seguir a multidão, mesmo que isso não seja racional ou lógico.
Uma das consequências disso são decisões financeiras equivocadas e a formação de bolhas especulativas no mercado financeiro.
Falácia do apostador
A falácia do jogador é o viés cognitivo em que os investidores acreditam que eventos passados afetam eventos futuros, mesmo que não haja relação causal entre eles.
Por exemplo, um investidor pode investir em ações apenas porque tiveram um bom desempenho no passado, mas podem não ter o mesmo desempenho no futuro.
Aversão à perda
Pela aversão à perda, as pessoas dão mais peso às perdas do que aos ganhos. Consequentemente, essa crença leva a decisões financeiras conservadoras ou à perda de oportunidades de investimentos que poderiam gerar retornos mais significativos.
Lacunas de empatia
As lacunas de empatia acontecem quando os investidores dão menos importância aos interesses e necessidades de outras pessoas. Quando isso acontece, a pessoa não se coloca no lugar do outro e deseja obter ganhos “custe o que custar”.
Ancoragem
A ancoragem é o viés cognitivo em que os investidores se concentram em determinadas informações e usam esses dados como um ponto de referência para fazer suas escolhas financeiras.
Consequentemente, eles podem ignorar informações importantes que não se encaixam em sua âncora ou parâmetro.
Viés de confirmação
O viés de confirmação ocorre quando os investidores buscam informações que confirmam suas crenças e ignoram o que contradiz a forma como pensam.
Um exemplo disso é quando um investidor tem uma crença positiva em relação a uma determinada ação ou setor. Ele busca dados que confirmem essa crença e não considera informações que dizem o contrário.
Contabilidade mental
Pelo viés da contabilidade mental, os investidores separam mentalmente seu dinheiro em categorias, como investimentos, despesas diárias e poupança.
No entanto, eles podem não considerar o impacto total de suas escolhas financeiras, pois confiam de certa forma na intuição, sem fazer uma análise mais profunda das finanças.
Viés de familiaridade
O viés de familiaridade acontece quando os investidores preferem investir em setores com os quais já têm familiaridade. Significa que evitam-se riscos e novas oportunidades de investimentos.
Para exemplificar, suponha que você decida investir todo o seu dinheiro em ações de uma empresa de tecnologia, pois trabalha nesse setor há anos e conhece bem essa área.
Embora seja compreensível que escolha investir em uma área em que tenha mais conhecimento, ao apostar apenas em um setor ou empresa, você pode estar colocando todos os ovos em uma mesma cesta.
Efeito de enquadramento
Nessa situação, o investidor é influenciado pela forma como as informações são apresentadas a ele. No entanto, tais informações poderiam ser analisadas sob diferentes perspectivas.
Efeito de disposição
O efeito de disposição acontece quando os investidores preferem correr menos riscos para obter ganhos, ao mesmo tempo, em que correm mais riscos com as perdas.
No caso da renda variável, essas pessoas preferem vender ações que têm um bom desempenho e manter ações que têm um mau desempenho.
Por exemplo, quando um investidor compra uma ação que sobe rapidamente: em vez de manter a posição, ele decide vender para obter um lucro rápido.
Por que as finanças comportamentais influenciam nas decisões de investimentos?
As finanças comportamentais podem ter impactos nas escolhas financeiras. Muitas vezes, sem que o investidor tenha ciência disso.
Influência emocional
O comportamento humano é influenciado por emoções e sentimentos, e os investimentos não são exceções. A tomada de decisões envolve questões como o medo, a ganância ou o otimismo, que tendem a fomentar comportamentos irracionais.
Portanto, as finanças comportamentais observam como as emoções estão envolvidas nas decisões financeiras das pessoas.
Considerando, por exemplo, a aversão ao risco, alguns investidores os evitam com medo de perder dinheiro. Já o excesso de confiança pode fazer com que investidores sejam muito confiantes em suas habilidades, levando-os a agir de forma imprudente.
Questionamento do senso comum
As finanças comportamentais têm um papel importante no processo de decisão de investimentos, pois questionam o senso comum e a abordagem tradicional. Por isso, essa vertente considera a influência da psicologia humana no mundo financeiro.
Alguns pontos relativos ao aspecto emocional são os seguintes:
- os investidores tendem a se concentrar em ganhos potenciais em vez de perdas potenciais;
- as pessoas podem ser influenciadas pelo comportamento do grupo, seguindo a multidão em vez de tomar decisões independentes;
- pode haver apego a investimentos passados, mesmo que não sejam mais viáveis;
- existe a tendência de subestimar o risco de investimentos complexos ou desconhecidos;
- a influência de informações que confirmam crenças preexistentes.
Esses fatores podem ser gatilhos para decisões impulsivas, como comprar ou vender ações com base em notícias recentes, ou em especulações.
As crenças pessoais também podem influenciar as decisões, como acreditar que uma determinada ação é uma boa oportunidade, sem fazer uma análise adequada dos riscos.
Por sua vez, a compreensão das finanças comportamentais auxilia os investidores a reconhecerem seus próprios vieses e tomar melhores decisões.
Além disso, os profissionais de investimento também podem usar ferramentas e estratégias baseadas em finanças comportamentais para ajudar seus clientes a fazer melhores escolhas e evitar erros comuns.
Planejamento financeiro
Para lidar com as emoções, é importante entender os vieses comportamentais que afetam o processo de tomada de decisão. A partir daí, você poderá desenvolver habilidades para controlar essas emoções.
Confira como essa área do conhecimento pode ajudá-lo a ter um melhor planejamento financeiro!
Definição de metas financeiras
As finanças comportamentais podem ajudar as pessoas a definirem metas financeiras realistas.
Por exemplo, em vez de simplesmente definir uma meta como “economizar mais dinheiro”, que pode estar ancorada no viés da contabilidade mental, existe outra alternativa.
Você pode definir uma meta específica e concreta, como “não usar cheque especial este mês” ou “economizar R$ 500 por mês para uma viagem de férias no final do ano”.
Planejamento para contingências
É possível também se planejar para contingências, como imprevistos financeiros ou mudanças na situação pessoal ou profissional, seja com uma reserva de emergência ou com o investimento em ativos que você não havia considerado antes.
Controle de gastos
Outro ponto em que o conhecimento dos vieses cognitivos ajudam no planejamento financeiro é quando as pessoas se tornam mais cientes dos seus gastos.
Ou seja, ao evitar compras impulsivas, que podem ocorrer pelo viés da aversão à perda, e avaliar se uma compra é realmente necessária.
Gostou de saber mais sobre finanças comportamentais?
Leia também o artigo: Decisão de investimento: como uma assessoria especializada pode te ajudar?
Resumindo
Qual é a importância de entender as finanças comportamentais?
Entender as finanças comportamentais nos ajuda a investir de forma inteligente e a tomar decisões financeiras sensatas. Trata-se do estudo de como as emoções, crenças e vieses cognitivos afetam as decisões financeiras.
Quais os vieses comportamentais?
Alguns exemplos são: o viés de confirmação — faz com que as pessoas procurem informações que confirmem suas crenças; o viés de aversão à perda — leva a decisões mais arriscadas para evitar perdas; e o viés de ancoragem — o apego a um valor de referência.