Setores que ganham e perdem com a alta dos juros: o Impacto nas ações e o cenário econômico
A alta das taxas de juros no Brasil está impactando diretamente diversos setores da economia, com especial atenção para aqueles que enfrentam alta alavancagem financeira, como propriedades comerciais, transportes e agronegócio.

A alta das taxas de juros tem sido um tema central no Brasil nos últimos meses, gerando impactos significativos em diversos setores da economia. De acordo com um relatório recente da XP, empresas de setores com alta alavancagem financeira são as mais afetadas pelo aperto monetário, o que pode impactar suas perspectivas de lucro. Neste cenário, é essencial entender como os setores mais sensíveis e aqueles mais protegidos podem se comportar frente ao aumento da Selic e quais ações podem se destacar.
Setores mais afetados pela alta dos juros
Empresas com alta dependência de capital de terceiros, como os setores de propriedades comerciais, transportes e agronegócios, são as mais impactadas pelo aumento das taxas de juros. Esses setores enfrentam uma alavancagem financeira significativa, o que significa que suas dívidas são amplamente atreladas ao CDI, indicador que segue de perto a taxa básica de juros.
O setor de propriedades comerciais deve enfrentar uma redução considerável em seus lucros, variando entre 9% e 17%, dependendo do aumento da taxa CDI para 14,5% ou 17,5%, respectivamente. Esse impacto ocorre principalmente devido à alta alavancagem e ao fato de que uma grande parte da dívida do setor está vinculada ao CDI. Empresas que operam com propriedades comerciais têm uma estrutura de dívida muito sensível ao aumento da taxa de juros, o que resulta em maiores custos financeiros.
No setor de transportes, a projeção de queda nos lucros é ainda mais severa, podendo variar de 19,3% a 44,6% com o aumento das taxas de juros. Isso ocorre porque, além da alavancagem financeira, muitos contratos do setor estão sujeitos a variações nos custos de financiamento, tornando-os vulneráveis ao aperto monetário.
O agronegócio também enfrenta desafios, com uma possível redução nos lucros entre 5,4% e 14,5%, especialmente devido à dependência de crédito para financiar suas operações e à exposição a variações nas taxas de juros. Apesar de ser um setor essencial para a economia brasileira, os altos custos financeiros podem prejudicar a rentabilidade das empresas agrícolas, que são sensíveis a esses aumentos.
O futuro da Taxa Selic
A expectativa do mercado é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central continue a elevar a taxa Selic nos próximos meses. De acordo com previsões de analistas, a taxa pode atingir 13,25% nesta quarta-feira (29) e chegar a 15% até o final do ano. Alguns economistas mais pessimistas, como o relatório da XP, sugerem que a Selic pode alcançar até 15,5% até o pico do ciclo de aperto monetário, previsto para junho de 2025.
Esse movimento de aumento da taxa de juros é visto como uma medida necessária para controlar as expectativas de inflação desancoradas e para equilibrar a taxa de câmbio, que tem sido afetada por fatores internos e externos em 2024. A XP afirma que, além de controlar a inflação, o aumento da Selic também visa proteger o valor do real frente ao dólar, o que, por sua vez, afeta diretamente empresas com exposições cambiais.
Setores menos impactados pela alta dos juros
Apesar de alguns setores sofrerem mais com a alta das taxas de juros, há áreas da economia que apresentam maior resistência. O setor de bens de capital, por exemplo, é um dos menos impactados. Empresas desse segmento, que incluem fabricantes de máquinas e equipamentos, devem ver um pequeno crescimento em seus lucros, de 1,2% a 2,0%, caso o CDI atinja 14,5% ou 17,5%, respectivamente.
Outro setor que se beneficia da alta das taxas de juros é o de óleo, gás e petroquímicos, com uma redução marginal nos lucros projetada entre 0,0% e -0,6%. Isso ocorre porque a maior parte da receita do setor está atrelada ao dólar, o que ajuda a proteger as empresas contra os efeitos da alta das taxas de juros no Brasil. No caso de papel e celulose, embora a contração de lucros seja projetada entre -0,7% e -1,4%, a estrutura de dívidas em dólar e a proteção cambial conferem certa estabilidade ao setor.
Esses setores possuem uma estrutura de dívida mais diversificada e uma maior exposição ao mercado internacional, o que ajuda a mitigar os efeitos da alta dos juros no Brasil. Empresas de transportes, como o setor de papel e celulose, também estão protegidas pela exposição em dólares, além de implementarem estratégias de hedge eficientes.
Cesta de ações com baixa alavancagem financeira
Para os investidores em busca de ações com menor exposição à alavancagem financeira, a XP selecionou uma lista de papéis que podem se sair bem no cenário de juros altos. Essas ações pertencem a empresas com pouca dependência de endividamento e que demonstraram resistência nas últimas semanas.
A cesta de papéis recomendados pela XP inclui empresas de diferentes setores, todas com baixa alavancagem financeira e boas perspectivas de lucro. Entre os nomes selecionados estão:
- Irani (RANI3): Setor de Papel & Celulose, com valor de mercado de R$ 1,66 bilhões.
- Iguatemi (IGTI11): Propriedades Comerciais, com valor de mercado de R$ 2,72 bilhões.
- Dimed (PNVL3): Varejo, com valor de mercado de R$ 1,23 bilhões.
- Boa Safra Sementes (SOJA3): Agro, com valor de mercado de R$ 1,37 bilhões.
- Natura (NTCO3): Varejo, com valor de mercado de R$ 16,9 bilhões.
- Plano & Plano (PLPL3): Construção Civil, com valor de mercado de R$ 1,85 bilhões.
- Vivara (VIVA3): Varejo, com valor de mercado de R$ 4,7 bilhões.
Essas ações se destacam por apresentarem uma dívida líquida/EBITDA inferior a 2,0x e uma sólida geração de fluxos de caixa. Além disso, muitas delas apresentam proteção contra a inflação, um fator importante no cenário econômico atual.