Sem modelo um modelo de negócios validado, uma startup é apenas uma boa ideia.
Entenda o que diferencia startups de negócios tradicionais e por que isso importa para quem quer investir.

O termo startup se espalhou como sinônimo de inovação, tecnologia e crescimento acelerado. Mas o que, de fato, define uma startup? Por que elas funcionam diferente dos negócios tradicionais? E, talvez, a principal pergunta seja ainda mais peculiar: o que torna o investimento nelas tão atrativo para perfis específicos de investidores?
Hoje, quero falar um pouco do universo das startups, partindo do básico para construir, com você, uma boa introdução sobre esse tipo de empresa que vem movimentando o ecossistema de inovação e, cada vez mais, o mercado de investimentos.
O que são startups — e por que não são apenas “empresas em estágio inicial”
A definição de startup ganhou muitas versões ao longo do tempo. Eu poderia voltar lá atrás e dizer que o termo remonta à década de 70, com menções em artigos da Forbes, e que só ficou mais conhecido nos anos 90 com a popularização do Vale do Silício — mas imagino que, a essa altura, você já conhece a história da Apple, do Google e das demais big techs. Vamos expandir nossos horizontes.
Para simplificar, gosto de uma explicação que é bastante objetiva: startups são empresas que desenvolveram um modelo de negócios disruptivo capaz de solucionar problemas reais dos mais variados segmentos de mercado.
No geral, estão associadas à ideia de inovação, impacto e tecnologia — e testam, com muita agilidade, maneiras de escalar esses modelos de forma exponencial.
Ou seja, uma startup não é só uma empresa “jovem”. Mas, sim, é uma empresa que ainda está experimentando (muitas vezes com recursos limitados) a melhor forma de entregar valor para um mercado. E é importante dizer que isso vale tanto para startups em estágios mais iniciais (pré-seed, seed) quanto para aquelas que já estão avançadas, mas seguem ajustando seus modelos rumo à escala.
Startups são sempre de base tecnológica?
Nem sempre, mas quase sempre. A tecnologia não é o fim, mas o meio pelo qual startups buscam entregar valor.
Na prática, uma startup pode atuar em praticamente qualquer setor (de logística à saúde, de energia à educação) mas a presença da tecnologia como motor de escalabilidade é quase fundamental. É ela que permite criar soluções replicáveis, automatizar processos e reduzir custos marginais.
Em outras palavras, tecnologia sem escalabilidade é inovação tímida. Inovação sem modelo de negócios validado é apenas uma boa ideia.
O que distingue as startups não é só o uso da tecnologia, mas a forma como ela é usada para escalar o negócio de maneira eficiente.
Exemplo prático: Nubank
O banco digital nasceu com tecnologia no core business, mas o diferencial não está apenas no aplicativo. O modelo de negócios do Nubank foi desenhado para escalar desde o início: uma estrutura sem agências físicas, com onboarding automatizado, atendimento 100% digital e produtos desenvolvidos para gerar receita recorrente com custo operacional baixo.
Essa combinação de tecnologia e escalabilidade transformou o Nubank num dos maiores bancos digitais do mundo, com mais de 90 milhões de clientes na América Latina. Um exemplo de como a tecnologia é o caminho, e não o “destino”.
Como as startups se diferenciam de empresas tradicionais?
Empresas tradicionais, via de regra, operam com receitas previsíveis, margens ajustadas e clientes recorrentes. Já as startups operam com outra lógica. Mesmo quando já geram receita ou possuem uma base de clientes expressiva, elas estão numa constante adaptação — buscando tração e espaço no mercado.
Trata-se de testar modelos pouco explorados e garantir relevância rápido o suficiente para validar a proposta de valor antes da concorrência — ou das limitações operacionais pisarem no freio. Elas nascem sob o risco, mas também sob a ambição de transformar mercados inteiros.
Como são caracterizadas: MVP, modelo de negócios e crescimento acelerado
Essa lógica pode parecer contraintuitiva para quem está acostumado ao modelo tradicional de negócios. Em vez de buscar a perfeição antes de lançar um produto, elas fazem justamente o oposto, colocando no mercado uma primeira versão simples (o MVP, ou Produto Mínimo Viável) e a partir daí testam, aprendem e iteram rapidamente.
Ao lançar um MVP, a startup consegue testar hipóteses com agilidade, validando (ou refutando) premissas com base no comportamento real dos clientes, e não em suposições. É um processo guiado por dados, não por achismos.
Dessa forma, evita-se investir tempo e capital em funcionalidades desnecessárias ou caminhos pouco promissores. Cada nova versão do produto nasce de aprendizados do mercado, em ciclos curtos de desenvolvimento, testes e ajustes. Isso reduz o risco de falhas no longo prazo e permite que o produto evolua com mais rigor.
Mas lançar rápido não basta. O que torna uma startup escalável é, de fato, o modelo de negócios. Ele precisa ser replicável e com custo marginal decrescente — ou seja, a cada novo cliente, os custos adicionais devem crescer numa proporção menor (ou até próxima de zero). O SaaS é um ótimo exemplo: depois de desenvolvido, pode ser vendido infinitamente com custos operacionais quase nulos.
E aqui entra o conhecido crescimento acelerado. Enquanto empresas tradicionais crescem de forma linear (como uma padaria que precisa abrir novas lojas para aumentar a receita), startups buscam crescer atingindo milhares ou milhões de clientes com o mesmo produto, o mesmo time e os mesmos canais.
Inclusive, esse potencial de multiplicação é um dos diversos critérios que investidores de startups avaliam antes de fazerem seu aporte. Porque, se der certo, o retorno pode ser fora da curva. Mas, claro, o risco acompanha a ambição. O caminho é cheio de incertezas — e é por isso que esse ciclo de aprendizagem é tão importante quanto o perfil do investidor qualificado para essa modalidade de investimento.
Startups como classe de ativo
Do ponto de vista de quem investe, startups são mais do que apenas empresas em crescimento. Ao contrário de ações listadas, imóveis ou renda fixa, elas oferecem um potencial de retorno diferente e acima da média.
Justamente por estarem em estágios iniciais e operarem sob risco elevado, os múltiplos de retorno, quando bem-sucedidas, podem ultrapassar 10x, 50x ou até 400x o valor investido.
Historicamente, esse tipo de investimento era acessível apenas para fundos de venture capital e investidores institucionais. Mas hoje, esse universo se abriu para investidores pessoas físicas, que podem investir em ofertas públicas de forma 100% online e num ambiente regulado pela CVM.
Quando um investidor aplica capital numa startup, ele está adquirindo uma participação societária na empresa. O retorno pode acontecer de diversas formas:
- M&A (Mergers and Acquisitions): A startup é adquirida por uma empresa maior, e os investidores são remunerados pela venda de sua participação.
- IPO (Oferta Pública Inicial): A startup abre capital na bolsa de valores, permitindo que os investidores vendam suas ações no mercado.
- Distribuição de lucros (eventualmente): Embora raro no curto prazo, algumas startups maduras podem começar a distribuir dividendos.
- Mercado secundário: a B3, em parceria com a plataforma EqSeed, está desenvolvendo uma solução tokenizada para negociação no mercado subsequente de startups — o que será um marco quando pensamos em liquidez para o investidor.
Exemplos práticos de startups que geraram retornos para investidores
- WhatsApp
Em 2011, a Sequoia Capital investiu US$ 8 milhões no WhatsApp. A startup foi adquirida pela Meta (ex-Facebook) em 2014 por US$ 19 bilhões, o que representou um retorno de 50x para o fundo. Detalhe: a receita do app na época era quase nula. O foco sempre foi tração de usuários — e funcionou. Hoje, são mais de 2 bilhões de usuários ativos em 180 países. - Revolut
A fintech europeia captou parte de seus recursos iniciais por meio de plataformas de equity crowdfunding como a Crowdcube e a Seedrs. Investidores de varejo que aportaram £1.000 na startup em 2016 viram esse valor se transformar em £400.000, um retorno de 400x. Hoje, a Revolut é avaliada em US$ 45 bilhões e conta com mais de 50 milhões de clientes globalmente. - Knightscope
Empresa de robótica que captou via StartEngine e posteriormente abriu capital na Nasdaq, em 2022. É mais um exemplo do caminho de liquidez trilhado por meio de plataformas de investimento coletivo. - Monzo Bank
Banco digital britânico que levantou £1 milhão em apenas 96 segundos na Crowdcube. Desde então, cresceu exponencialmente e alcançou valuation de £4 bilhões em 2021.
Esses casos são só para exemplificar como o investimento em startups deixou de ser restrito e se tornou um ativo que pode sofisticar o portfólio de investidores que buscam diversificação e retornos no longo prazo.
Esse é só o ponto de partida. Nos próximos artigos, quero aprofundar as nuances do mercado de venture capital, desmistificar alguns conceitos e trazer uma visão mais robusta sobre esse segmento tão encantador do mercado financeiro.
Até lá!
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