Depois de toda crise, a única coisa que resta é o arrependimento. Não sei como você entende essa frase, mas faço questão de explicá-la sob a ótica de quem dedica sua vida ao estudo do mercado. 

Comecei a investir durante um dos momentos mais caóticos na política brasileira. Dilma havia sofrido Impeachment, Temer estava no poder e Joesley protagonizou um dos eventos mais traumáticos da época. No dia conhecido como “Joesley Day”, comprei minhas primeiras ações na bolsa

A selic estava relativamente alta. Ganhar próximo de 1% ao mês era fácil e parecia ser uma das únicas coisas sensatas a fazer. O medo e incerteza política ganhavam força nas matérias de jornais e todo mundo comentava sobre como o mercado tinha sofrido com tudo aquilo. Pois bem, não durou um mês sequer. 

Todas as ações que comprei no fatídico “Joesley Day” estavam com lucro na semana seguinte e eu, obviamente, estava me achando o gênio do mercado financeiro. Cometi erros depois disso? Com certeza! Mas, em resumo, aprendi já nas primeiras operações que o mercado vem e vai, e está tudo bem. 

Qualquer dia desses trago mais crises e eventos pelos quais passei, mas hoje o assunto é “Depois da crise, há arrependimento”. Qual arrependimento é o único possível? Não ter comprado mais. 

Nunca vi alguém dizer: “Caramba, ainda bem que não comprei mais… Ainda bem que arrisquei menos e mantive o meu rendimento medíocre.” 

Claro, talvez essa frase seja vista dois dias após um evento. Algumas semanas após um evento. Meses, talvez. Anos? É mais difícil, mas acontece. Agora, no final de uma crise, quando bem estabelecido que seu fim chegou, todo mundo, sem exceção, se arrepende de não ter comprado mais. De não ter esperado mais. 

Ou você vai me dizer que se pudesse voltar no tempo para o tal “Joesley Day” você não encheria sua carteira de ações

“Mas Correia, não tem como prever o futuro e nem quando uma crise acaba!” 

Nisso concordamos em partes. Quando acaba não dá mesmo para saber, mas “prever” o futuro? Claro que dá! 

Vou prever o futuro agora mesmo duas vezes, preste atenção: 

  1. Teremos outras crises. 
  2. Elas acabarão. 

Quando as crises acontecerem você terá uma série de possibilidades, mas se não investir, apenas uma consequência: Se arrepender amargamente de não ter comprado com desconto.

Gabriel Correia

Assessor e mentor de investimentos desde 2020 e investidor desde 2016, Gabriel Correia dedica seus estudos ao que chama de "análise realista", separando tradicionais discursos ilusórios da realidade dos investimentos. Atualmente, é sócio no escritório InvestSmart, vinculado à XP, e colunista de empreendedorismo e investimentos do Melhor Investimento.