Quem foi Abilio Diniz, o cofundador do Grupo Pão de Açúcar?
Com uma trajetória marcada por decisões ousadas e disputas empresariais de grande repercussão, Abilio Diniz foi protagonista na consolidação do Grupo Pão de Açúcar e desempenhou um papel decisivo na transformação do varejo brasileiro.

Figura emblemática do empresariado brasileiro, Abilio Diniz construiu um império que atravessou décadas, influenciou o varejo nacional e o consolidou como um dos homens mais poderosos do país.
Com sua morte, surge uma nova fase: como está a divisão de sua herança bilionária e o futuro dos negócios que ajudou a erguer? Neste artigo, você irá conhecer a trajetória do icônico empresário Abílio Diniz, além de entender os desdobramentos da sucessão e os rumos que a família Diniz deve seguir no cenário corporativo.
Quem foi Abilio Diniz?
O paulistano Abilio Diniz é o primogênito de seis filhos do português Valentim, que imigrou para tentar a vida no Brasil em 1929. Nascido em 1938, foi de seu pai que ele herdou o gosto pelo empreendedorismo e a vocação para pensar grande.
Seu Santos, como ficou conhecido, teve um mercado, uma padaria e, depois, entrou no mercado imobiliário. Abilio estudou Administração de Empresas e foi chamado por ele para ajudar na doceria Pão de Açúcar, inaugurada em 1948.
Naquela época, era comum no país o modelo de balcão, mas seu Santos já tinha a ideia de montar um supermercado que adotasse o conceito de autosserviço. Ou seja, os consumidores buscariam seus produtos, não havendo a necessidade de o vendedor fazer isso.
Diniz foi um empreendedor e executivo brasileiro que se destacou como um dos grandes pioneiros do varejo nacional. Com uma trajetória marcada por decisões audaciosas e intensas disputas empresariais, foi peça-chave na consolidação do Grupo Pão de Açúcar e deixou um legado duradouro no cenário econômico do país.
Transformou a doceria da família em um dos maiores impérios do varejo brasileiro, liderou a expansão internacional do grupo, atuou na gestão de gigantes como BRF e Carrefour, e se destacou também como um líder visionário, esportista dedicado e filantropo comprometido.
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Vida pessoal
Ao longo da vida, Abílio construiu uma imagem de disciplina e resiliência, marcada por hábitos como a prática diária de esportes e uma rotina rigorosa. Casou-se duas vezes e teve seis filhos, com quem manteve laços fortes e que hoje figuram entre os herdeiros de seu patrimônio.
Família
A doceria Pão de Açúcar se tornou o supermercado Pão de Açúcar em 1959, fruto da parceria entre pai e filho. Localizado em São Paulo, chegou a ser a maior rede de varejo do país. No entanto, no final da década de 1980, o ambiente familiar ia mal. Os irmãos questionavam a divisão acionária e, para completar, o negócio sofria com os planos econômicos.
Foi necessário um choque de gestão para que, em 1991, o Pão de Açúcar voltasse a dar lucro. Abílio vendeu a maior parte da operação, pagou dívidas e comprou as ações que ainda estavam com seus irmãos.
Formação
A base acadêmica de Abílio Diniz foi construída na Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV), onde se formou em Administração. Posteriormente, complementou seus estudos nos Estados Unidos, com cursos voltados à gestão e ao varejo.
Início da carreira e fundação do Pão de Açúcar
A trajetória profissional de Abílio Diniz começou ao lado do pai, Valentim Diniz, quando ambos decidiram abrir um pequeno supermercado em São Paulo, em 1959. Inspirado nos modelos de autosserviço que já faziam sucesso no exterior, o negócio foi batizado de Supermercado Pão de Açúcar. A iniciativa foi pioneira no Brasil e logo se destacou por oferecer uma experiência de compra inovadora para a época.
Com visão estratégica e espírito empreendedor, Abílio expandiu a empresa rapidamente nas décadas seguintes. O primeiro hipermercado foi inaugurado no início da década de 1970, sob a bandeira Jumbo. No entanto, o grande impulso nos negócios veio com a aquisição da Eletroradiobraz, então a segunda maior rede de supermercados do país.
Ao longo do tempo, o Pão de Açúcar se consolidou como referência no varejo nacional, passando por momentos de crescimento acelerado, fusões, internacionalizações e até disputas societárias.
A empresa chegou a figurar entre os maiores grupos varejistas da América Latina, sendo símbolo da profissionalização do setor no país e marco do capitalismo brasileiro no século XX. Antes de sua morte, Abílio Diniz ocupava a presidência do Conselho de Administração da Península Participações e figurava entre as pessoas mais ricas do país.
Altos e baixos nos negócios
Como todo grande negócio, o Grupo Pão de Açúcar enfrentou momentos de glória, mas também períodos turbulentos. No caso da rede varejista, os principais desafios vieram na forma de disputas societárias, que quase levaram a empresa à falência.
As tensões familiares, iniciadas nos anos 1980, somaram-se a um cenário econômico nacional desfavorável, agravando ainda mais a situação do grupo.
Origem das disputas familiares
Diante de um contexto delicado de endividamento, Valentim Diniz — pai de Abílio — decidiu distribuir 38% das ações da empresa entre os filhos, com base em critérios meritocráticos. Abílio ficou com 16%, enquanto seus irmãos Alcides e Arnaldo receberam 8% cada. Já as três irmãs, que não atuavam diretamente na empresa, ficaram com 2% cada uma.
Essa decisão deu início à primeira grande disputa pública da família Diniz. Embora Abílio tenha vencido a maioria dos embates, ele chegou a se afastar da companhia em meados da década de 1980, em meio ao clima de instabilidade.
Retorno e a reestruturação
Em 1990, a convite do seu pai, Abílio Diniz retornou à empresa. Três anos depois, firmou um acordo com os demais familiares e se tornou acionista majoritário, assumindo 51,1% do controle acionário do grupo. Seus filhos, Ana Maria Diniz e João Paulo Diniz, também passaram a atuar diretamente nos negócios da família.
Diante da necessidade urgente de reverter a crise, Abílio promoveu uma reestruturação rigorosa. Cortou custos, fechou lojas, realizou demissões e vendeu operações internacionais. Essas medidas duras foram essenciais para evitar a quebra do grupo.
Com a casa em ordem, a nova gestão passou a investir em inovação. Um dos marcos dessa fase foi o lançamento do Pão de Açúcar Delivery, o primeiro serviço de entrega em até 24 horas oferecido por algumas lojas da rede.
IPO do Pão de Açúcar
Para ter caixa, em 1995, o Grupo Pão de Açúcar fez seu IPO (initial public offering) na bolsa de valores de São Paulo, levantando US$ 112 milhões. Em 1997, foi a vez do IPO em Nova Iorque, que levantou outros US$ 172 milhões.
Depois dos IPOs, Abilio foi buscar um varejista internacional que topasse ser minoritário no Pão de Açúcar. A parceria veio com a rede francesa Casino, que adquiriu 24,5% dele em 1999. Os anos que se seguiram foram de sucesso para o negócio.
Chegada do Grupo Casino

Um dos capítulos mais marcantes na história do Pão de Açúcar foi o acordo com o Grupo Casino, varejista francês voltado ao mercado de massa. A entrada do parceiro estrangeiro, em 1999, deu novo fôlego à companhia, permitindo a continuidade de sua expansão, com aquisições importantes como Sendas e Sé.
Em agosto de 1999, a rede francesa adquiriu 24,5% do Pão de Açúcar por US$ 854 milhões. Os anos seguintes foram marcados por bons resultados, mas também por tensões relacionadas ao controle da empresa.
Pelo contrato firmado, Abílio permaneceria na presidência do grupo mesmo após a transferência do controle para os franceses. A cláusula previa que ele deixaria o cargo em 2012, quando o Casino se tornaria acionista majoritário — posição que começou a se consolidar já em 2005, quando os franceses aumentaram sua participação para 34%.
A disputa pelo controle do Pão de Açúcar ganhou força em 2011, quando Abílio Diniz tentou romper o acordo com o Casino. Ele propôs uma fusão com o Carrefour — rival direto do Casino na Europa — e buscou apoio do governo federal.
No entanto, a tentativa fracassou, e o Casino assumiu o comando da empresa em 2012. O conflito seguiu nos tribunais até que, em 2013, um acordo foi firmado e Abílio deixou sua cadeira no conselho.
Retorno ao mercado varejista
Quem acreditou que Abílio Diniz se aposentaria após deixar o Pão de Açúcar se enganou. Longe de encerrar sua trajetória, o empresário permaneceu ativo — inclusive no setor varejista.
Península Participações
Ainda durante sua gestão no Pão de Açúcar, Abílio e outros membros da família Diniz decidiram criar uma empresa de investimentos para administrar os ativos familiares. Assim nasceu, em 2006, a Península Participações, holding responsável por consolidar os investimentos do grupo.
Carrefour
Foi por meio da Península que Abílio Diniz retornou ao setor varejista, ao adquirir 10% do Carrefour, tornando-se um dos principais acionistas da rede francesa. Após o IPO da companhia, sua participação foi diluída para 8,6%, o que ainda lhe garantiu assentos no conselho de administração no Brasil e, na matriz francesa, participação de 12% e presença no conselho global.
Passagem pela BRF
Mesmo ainda em litígio com o grupo Casino, aceitou o desafio de liderar a BRF, gigante do setor de proteína animal. Ele chegou à companhia a convite da gestora Tarpon, uma das investidoras da BRF, que também já havia atuado no Pão de Açúcar.
O empresário comprou quase R$ 2 bilhões em ações da BRF. Abílio assumiu papel central na empresa, mas deixou a presidência em 2018, após um ano turbulento, marcado por prejuízos e desafios na gestão.
Filantropia: a frente social de Abilio Diniz
O empresário Abilio Diniz também deixou um importante legado fora do mundo dos negócios. Por meio do Instituto Península, braço de filantropia da gestora Península Participações, ele promoveu iniciativas transformadoras nas áreas de educação e esporte no Brasil.
- Singularidades e a plataforma Vivescer – criadas com foco na formação de professores. Ambas oferecem capacitação, bolsas de estudo e materiais pedagógicos para jovens de baixa renda que desejam ingressar ou se especializar na área da educação. Os docentes também recebem suporte específico para aplicar práticas esportivas dentro das escolas públicas, unindo ensino e bem-estar físico.
- Foco no esporte – O Instituto Península apoiava tanto o desenvolvimento de atletas de base quanto a manutenção de um núcleo de alto rendimento para diversas modalidades esportivas. A proposta era fortalecer o esporte nacional desde os primeiros passos até os níveis mais elevados de competição.
- Curso Liderança 360º (FGV) – Programa criado em 2010 para formar jovens líderes, com foco em autoconhecimento, planejamento de carreira e impacto social. O próprio Abilio Diniz participou como professor em algumas edições.
Produção de conhecimento e publicações
O Instituto Península também atuou na produção de conhecimento. Entre as publicações lançadas estão obras como:
- “O Papel da Prática na Formação Inicial de Professores”;
- “Desafios da Profissão Docente”;
- “Preparando os Professores para um Mundo em Transformação”;
- “Professores em foco: 80 reflexões sobre a importância da profissão para o desenvolvimento do Brasil”.
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Como estão os negócios da Família Diniz hoje?
Abilio Diniz faleceu em 18 de fevereiro de 2024, deixando um vasto legado que inclui ensinamentos, iniciativas sociais, transformações no varejo brasileiro — e uma fortuna estimada em cerca de US$ 2 bilhões. Na época, segundo a revista Forbes, ele ocupava a 31ª posição entre os homens mais ricos do Brasil.
Os negócios da família continuam sob a gestão da Península Participações, holding criada por Abilio para representar seus interesses em diversas frentes de investimento. A empresa está organizada em cinco principais verticais:
- Participações em grandes companhias;
- Investimentos de risco (venture capital);
- Gestão de recursos financeiros (fundos de investimento);
- Gestão de patrimônio da família Diniz;
- Instituto Península (braço filantrópico voltado à educação e ao esporte).
Entre os ativos mais relevantes da holding estava o Carrefour, do qual a Península chegou a deter mais de 8% da operação global, tornando-se a segunda maior acionista da rede varejista. O portfólio também incluía empresas como o e-commerce de vinhos Wine, a rede de saúde Oncoclínicas e a Padaria Benjamin.
Mais recentemente, a família Diniz encerrou oficialmente sua participação no Carrefour Brasil. A Península vendeu as ações remanescentes no grupo, movimentando cerca de R$ 850 milhões com a operação.
Livros publicados
Em 2015, a jornalista Cristiane Correa lançou o livro “Determinado, ambicioso e polêmico: A trajetória de Abilio Diniz” sobre a sua história.
O brasileiro também é autor de dois livros:
- Caminhos e Escolhas (2004);
- Novos Caminhos, Novas Escolhas (2016).
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FAQ – Perguntas frequentes
Quem é o dono do Pão de Açúcar hoje?
O controle do Pão de Açúcar pertence ao Grupo Casino desde 2012. No ano seguinte, a empresa fundada pela família de Abilio Diniz passou a ser chamada GPA.
Quem são os seis filhos de Abilio Diniz?
O primeiro casamento de Abilio Diniz foi em 1960. Com Maria Auriluce Falleiros, teve quatro filhos: Ana Maria, João Paulo, Adriana e Pedro Paulo. Em 2004, casou-se pela segunda vez. Com Geyze Marchesi, teve dois filhos: Rafaela e Miguel.
Qual a fortuna da Família Diniz?
Quando faleceu aos 87 anos, Abílio Diniz deixou uma herança avaliada em R$ 2 bilhões de reais. Na época, segundo a revista Forbes, ele ocupava a 31ª posição entre os homens mais ricos do Brasil.
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