Investidores buscam a próxima Argentina e Trump molda apostas na América Latina

Gestores de fundos de mercados emergentes estão de olho na próxima Argentina após a valorização dos ativos argentinos com a vitória de Javier Milei.

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Última atualização:  26 de nov, 2025 às 01:28
Close do rosto de Donald Trump Foto: Mark Schiefelbein/ AP

Gestores de fundos de mercados emergentes estão de olho na América Latina, buscando a próxima Argentina após a valorização expressiva dos ativos argentinos com a vitória do presidente Javier Milei nas eleições de meio de mandato. A atenção renovada é impulsionada pelo apoio norte-americano a governos de direita, especialmente aqueles alinhados com Donald Trump, e reflete uma estratégia de investidores em antecipação às eleições de 2025 e 2026 na região.

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A Argentina se tornou um estudo de caso sobre como mudanças políticas de direita podem gerar ganhos significativos em ativos de países em desenvolvimento. A vitória de Milei e o suporte político e financeiro dos EUA transformaram o país em um exemplo de como o mercado reage a governos considerados pró-Trump. Desde então, investidores buscam oportunidades similares em outros países latino-americanos, antecipando cenários de valorização com base em possíveis mudanças políticas.

Segundo Pramol Dhawan, chefe de gestão de portfólio de mercados emergentes da Pacific Investment Management Co., “Estamos diante de uma potencial mudança de tendência para a direita na América Latina. Se houver uma oscilação política, os ativos podem registrar desempenhos excepcionais, como vimos na Argentina”.

Próximas eleições e oportunidades na América Latina

Nos próximos 12 meses, Chile, Colômbia e Brasil realizam eleições presidenciais que podem redefinir o panorama político da região. Pesquisas recentes indicam frustração crescente com os atuais governos de esquerda — Gustavo Petro na Colômbia e Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil — aumentando a probabilidade de resultados mais favoráveis ao mercado.

A expectativa dos investidores é que mudanças políticas pró-mercado possam impulsionar os ativos locais. No Chile, o primeiro turno das eleições mostrou o ultraconservador José Antonio Kast como favorito para o segundo turno, marcado para 14 de dezembro, provocando valorização imediata do peso chileno.

Países mais alinhados a Trump atraem investidores

Além da Argentina, países como El Salvador e Equador têm sido observados com atenção pelos gestores de fundos, devido à percepção de alinhamento com interesses norte-americanos. Os títulos em dólar desses países renderam aos investidores ganhos de pelo menos 24% desde a eleição de Trump no ano passado, comparados a 13% de um índice global de dívida soberana de mercados emergentes.

Fundos especializados, como o brasileiro Zaftra, conseguiram registrar resultados expressivos. Em outubro, o fundo obteve seu melhor mês da história, com ganho de 9,2%, aproveitando a vitória de Milei e o movimento de candidatos de direita no Chile. Felipe Sze, gestor de portfólio da ASA, empresa do bilionário Alberto Safra, destacou a importância de estratégias direcionadas a resultados eleitorais.

O papel da política externa e do alinhamento com Washington

Analistas ressaltam que a administração Trump considera a América Latina uma região estratégica, com interesse em conter a influência chinesa em países com forte presença na mineração, como o Chile. Uma postura mais próxima dos EUA pode resultar em valorização de ativos e maior liquidez em mercados emergentes.

Petar Atanasov, da Gramercy Funds Management, afirma: “Melhorar relações com Trump é muito positivo para o Chile. Qualquer avanço nesse sentido tende a fortalecer os títulos soberanos e a moeda local”.

Limitações do efeito Trump nos mercados emergentes

Apesar da relevância, o alinhamento político nem sempre gera benefícios diretos. Na Índia, por exemplo, o governo de Narendra Modi ainda não concretizou um acordo comercial com os EUA, evidenciando que outros fatores, como reestruturações de dívida e preços de commodities, também influenciam os mercados.

Nos últimos meses, os ativos emergentes têm registrado ganhos generalizados, impulsionados por reestruturações de dívida, progressos em acordos com o FMI e alta nos preços de commodities, além da volatilidade política nos Estados Unidos, que aumenta o interesse por mercados alternativos.

Impacto até em mercados de alto risco

O efeito político também alcança mercados de crédito problemáticos. Na Venezuela, títulos inadimplentes registraram valorização de até 100% após investidores anteciparem mudanças possíveis com uma postura mais dura de Trump em relação ao governo de Nicolás Maduro. Essa situação mostra como decisões políticas nos EUA podem influenciar diretamente mercados considerados de alto risco

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