Os Correios são uma estatal federal brasileira fundada em 1969. Como operadora nacional de serviços postais, a empresa tem o monopólio constitucional sobre cartas e telegramas, mas compete abertamente em encomendas e logística.

Desde 2022, os Correios registraram 13 trimestres consecutivos de prejuízo. Essa deterioração levou a estatal a precisar de R$ 20 bilhões para equilibrar suas contas.

Mas o que está por trás deste movimento? Vamos começar analisando o passado para entender o que nos levou à situação atual.

A “presidenta”: influência do Governo Dilma na crise dos Correios

Em 2015, o Brasil vivia uma das piores crises econômicas da sua história recente, marcada por uma recessão severa, inflação elevada e desemprego crescente. Sob o governo de Dilma Rousseff o país passou por um ciclo de deterioração fiscal e instabilidade política que deixou feridas que até hoje não se fecharam.

Como estatal, os Correios enfrentam limitações de autonomia, com suas políticas administrativas significativamente influenciadas pelo Executivo Federal, que define diretrizes estratégicas e nomeia cargos de alto escalão. Obviamente, a estatal não passou imune por essa crise. Mas como foi impactada?

Entre 2015 e 2016, os Correios enfrentaram uma crise severa, com prejuízos acumulados de R$ 2,6 bilhões, resultado de gestão ineficiente, greves frequentes e aumento da concorrência privada. A média anual de prejuízo foi de R$ 1,3 bilhão, e a dívida líquida atingiu R$ 2,7 bilhões em 2015, caindo para R$ 2,1 bilhões em 2016.

O período foi marcado por investimentos reduzidos, insuficientes para modernizar a infraestrutura e manter competitividade nos segmentos com concorrência.

A reconstrução

Em setembro de 2016, Michel Temer assume a presidência da República após o impeachment de Dilma Rousseff, o que marca o início da recuperação financeira da empresa. A mudança de governo trouxe uma nova abordagem econômica e administrativa, com foco em austeridade fiscal, reestruturação de estatais e tentativas de modernização, que influenciaram diretamente a gestão, finanças e operações dos Correios.

O cenário era de terra arrasada, e a reconstrução começou a dar frutos apenas em 2018, quando os Correios registraram o primeiro ano com lucro desde 2013.

Os anos dourados

Em 2019, tivemos a eleição de Jair Bolsonaro, que, junto de seu Ministro da Economia, Paulo Guedes, levou os Correios ao que foi chamado de “anos dourados”. Entre 2019 e 2021, a estatal teve um triênio próspero com o boom do e-commerce, entregando um lucro acumulado de R$ 3,9 bilhões no período, resultado de uma gestão técnica eficiente focada em corte de custos, melhora operacional e pagamento de dívidas.

Apesar dos cortes de custos, a empresa realizou investimentos estratégicos focados em modernização, logística e digitalização no período. Esses investimentos foram financiados pelos lucros da empresa e direcionados para infraestrutura operacional, tecnologia e novos serviços, visando atender à demanda crescente e melhorar a competitividade frente a players privados como Mercado Livre e DHL.

A partir de 2022, a situação virou para prejuízo, muito em virtude de reajustes salariais beirando a casa dos 10% por força de decisão judicial e por provisões trabalhistas na casa dos R$ 1 bilhão, que resultaram num prejuízo de R$ 768 milhões.

A volta da “visão social”

Em janeiro de 2023, Luiz Inácio Lula da Silva assume a presidência do Brasil, imputando sua visão de gestão na empresa, focada em uma abordagem estatal e social frente à visão privatizante e técnica do governo anterior. A mudança de gestão resultou em queda da receita operacional, aumento do custo com pessoal via negociações sindicais e passivos trabalhistas, diminuição do caixa e aumento da dívida líquida, gerando um prejuízo de R$ 597 milhões.

Em 2024 e 2025, tivemos o agravamento do colapso na estatal, com prejuízos recordes que superaram o acumulado na crise que perdurou de 2015 a 2017. Em 2024, a estatal fechou o ano com um rombo de R$ 2,6 bilhões, em virtude da “taxa das blusinhas” e de reajustes salariais. Já em 2025, a crise foi agravada, com um prejuízo de R$ 4,37 bilhões no 1º semestre do ano e projeção de um rombo entre R$ 8 e R$ 9 bilhões ao final de 2025. Quais foram os principais fatores que geraram esse agravamento?

No ano de 2024, tivemos a criação da “taxa das blusinhas”, que instituiu a cobrança de 20% de Imposto de Importação sobre compras internacionais de até US$ 50 (cerca de R$ 290, pela cotação atual) realizadas por pessoas físicas em plataformas como Shein, Shopee e AliExpress, o que levou a estatal a uma perda de receita e de market share.

Os fundamentos para a criação de mais esse imposto foram um aumento na arrecadação por parte do governo, que precisa de mais dinheiro para manter os intermináveis programas sociais, e gerar um suposto equilíbrio dentro do setor do varejo, tendo em vista que as plataformas estrangeiras pagavam menos impostos, o que as colocava em uma situação favorável perante as empresas brasileiras, que pagam até 60% de carga tributária.

A solução do governo foi aumentar os impostos para as empresas estrangeiras, não reduzir os impostos para as empresas nacionais.

Como consequência, os Correios enfrentaram uma diminuição no volume de encomendas internacionais. Esse cenário, aliado a reajustes salariais e pagamento de benefícios, além de investimentos mal direcionados, permitiu que empresas privadas capturassem 75% do mercado de encomendas nacionais, resultando em um rombo de R$ 2,6 bilhões.

A destruição da empresa continuou em 2025, que enfrenta o pior ano da sua história recente. Até o segundo trimestre (junho), o rombo atingiu R$ 4,37 bilhões — mais que o triplo do mesmo período de 2024 (R$ 1,35 bilhão) e já superior ao prejuízo anual anterior. O caixa operacional despencou para R$ 50 milhões em junho (próximo do zero), forçando negociações por um empréstimo de R$ 20 bilhões (com garantia do Tesouro Nacional) para cobrir 2025 e 2026.

Veja também:

Algumas justificativas dadas para tentar explicar essa deterioração agressiva dos fundamentos da empresa restam numa suposta “herança maldita” do governo Bolsonaro, além de fatores externos e obrigações sociais da estatal. Contudo, quando olhamos a realidade dos números, principalmente no período entre 2019 e 2021, é difícil sustentar tais argumentos.

Se ampliarmos o horizonte para as demais estatais federais, o resultado é de déficits desde 2023, sendo que em 2024 tivemos um rombo de R$ 6,7 bilhões, maior para um ano desde o início da série histórica, e um déficit de R$ 5,6 bilhões de janeiro a agosto de 2025, maior saldo negativo para o período da série histórica. A título de comparação, o governo Bolsonaro entregou um superávit de R$ 6,1 bilhões das estatais federais em 2022, mesmo com o prejuízo dos Correios.

Quando consideramos esses fatores, fica evidente que o principal problema reside na visão dos governantes, que frequentemente não enxergam a estatal como uma empresa, mas sim como um ente com a obrigação de cumprir uma função social.

Essa perspectiva distorcida e irresponsável em relação ao uso do dinheiro do contribuinte tem levado os Correios e outras estatais federais a se tornarem obsoletas em comparação aos seus concorrentes, resultando em prejuízos históricos que, no final das contas, recaem sobre o cidadão brasileiro.

Para reverter essa situação, é crucial uma mudança de abordagem que priorize a eficiência e a sustentabilidade financeira, permitindo que essas instituições cumpram seu papel social sem comprometer sua viabilidade econômica.

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Bruno Issa