O Pix, revolucionário método de pagamento exclusivo do Brasil, virou alvo de monitoramento por parte dos Estados Unidos.

Um dos possíveis motivos para a reação de Donald Trump é o entendimento de que, ao lançar o Pix em 2020, o Banco Central teria prejudicado os planos de negócios da Meta, empresa de Mark Zuckerberg, aliado de Trump, que havia anunciado, em junho do mesmo ano, o lançamento da funcionalidade pouco popular WhatsApp Pay no Brasil.

O fato é que, de acordo com o Banco Central, só no ano passado o Pix movimentou cerca de R$ 26,4 trilhões e o assunto virou uma grande polêmica, levantando discussões sobre “soberania digital”. O Pix está ameaçado? Quais são os argumentos de Trump para monitorar o sistema brasileiro?

A seguir, em mais um artigo exclusivo do portal Melhor Investimento, vamos explorar os últimos acontecimentos e os fatos por trás dessa história.

Uma investigação com alvos múltiplos

Em 15 de julho de 2025, os EUA, por meio do Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) anunciou a abertura de uma investigação contra o Brasil por práticas comerciais consideradas desleais. A medida tem como base a Seção 301 da Lei de Comércio dos EUA, a mesma utilizada durante a guerra comercial contra a China no governo Trump.

Saiba mais no artigo:

A documentação oficial destaca cinco grandes frentes de preocupação:

  • Tarifas diferenciadas
  • Regulamentação ambiental
  • Anticorrupção
  • Liberdade de expressão
  • Abertura de mercado.

No entanto, analistas apontam que o verdadeiro incômodo está na ascensão de uma infraestrutura de pagamentos pública e independente: o Pix.

Por que os EUA estão monitorando o PIX?

Crédito: Made with Google AI
Imagem Criada com Google AI

Do ponto de vista econômico, o Pix reduz custos para o público geral e pequenos comércios. Para os EUA, porém, representa uma ameaça à sua influência digital. Historicamente, os EUA dominam o sistema de pagamentos global por meio de empresas que cobram tarifas por transações internacionais, exigem compliance regulatório e operam sob legislação americana, como por exemplo PayPal, Visa, Mastercard.

O Pix, ao funcionar de forma autônoma, oferece aos países emergentes a chance de fugir dessas exigências. Isso explica por que um sistema tão “doméstico” tem causado tanto desconforto na Terra do Tio Sam.

As implicações da investigação da Seção 301

A Seção 301 permite que o Governo Americano adote sanções unilaterais caso considere que outro país está prejudicando suas empresas. Na prática, isso pode levar à imposição de impostos e tarifas, restrição ou bloqueios a serviços e tecnologias.

Ainda que o documento oficial não cite diretamente o Pix, é notável que boa parte dos incômodos apontados dizem respeito a “barreiras tecnológicas, regulações protetivas e limitações ao livre mercado”. Isso pode ser lido como uma crítica à arquitetura estatal de inovação que o Brasil está exportando.

PayPal, Visa e o monopólio em risco

Empresas como PayPal e as grandes operadoras de cartão vêm perdendo espaço nos países em que sistemas semelhantes ao Pix são adotados. O modelo da Índia, chamado de UPI – Unified Payments Interface é outro exemplo citado por analistas como um risco ao monopólio das empresas americanas.

O que está em jogo é o modelo de negócio dessas empresas, baseado na intermediação e na tarifa.

O temor americano é que esses serviços deixem de ser relevantes em mercados emergentes, e que o modelo estatal seja exportado como solução. Na prática, o que se discute é: O futuro dos pagamentos estará nas mãos de governos ou corporações?

BRICS Pay desafia soberania norte americana

Lançado em 2020 pelo Banco Central do Brasil, o Pix rapidamente ultrapassou a função de sistema de pagamentos instantâneos para se tornar um símbolo de inovação no setor financeiro.

Com mais de R$ 20 trilhões movimentados em 2024 e 160 milhões de usuários, o modelo público, gratuito e universal passou a ser estudado e replicado por diversos países, inclusive dentro do BRICS.

É nesse contexto que os BRICS avançam com o BRICS Pay, um sistema internacional similar ao PIX, que visa permitir transações diretas em moedas locais, sem o dólar como intermediário.

Entenda a atuação do Brics:

Quando o BRICS Pay será lançado?

Apesar de ter sido anunciado em 2019, o BRICS Pay segue em fase de desenvolvimento e testes internos. O sistema teve seu piloto inicial lançado na África do Sul, mas ainda opera de forma limitada.

Fontes russas apontavam que a operacionalização completa ocorreria até 2025, porém, após a cúpula do BRICS realizada no Rio de Janeiro em julho de 2025, foi indicado que um novo piloto poderá ocorrer antes do final de 2026, agora sob coordenação do Brasil.

O fator Trump: protecionismo e disputa de narrativa

O retorno de Donald Trump à Casa Branca reacendeu a estratégia protecionista dos EUA, começando com uma série de decretos. Trump vê o comércio exterior como uma ferramenta de poder e não como cooperação múltipla.

Na visão do Presidente Americano, o avanço de sistemas como o Pix representa não apenas uma perda econômica, mas uma afronta à supremacia americana.

A investigação contra o Brasil é uma mensagem clara aos demais membros dos BRICS: os EUA estão atentos a qualquer tentativa de construir alternativas fora do seu alcance. Em discursos recentes, o ex-presidente atacou abertamente o que chamou de “manobras estatais de exclusão comercial”.

A resposta do Brasil ao ataque de Trump ao Pix

Em pronunciamento oficial após o anúncio das tarifas de 50% impostas pelo governo Trump, o presidente Lula classificou a medida como uma “chantagem inaceitável” e reafirmou que o Brasil responderá com diplomacia, comércio e multilateralismo.

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Sem se deixar levar por pressões externas, o presidente brasileiro defendeu o Pix como um verdadeiro patrimônio nacional, destacando seu papel como um dos sistemas de pagamento mais avançados do mundo.

Em resposta às críticas do governo dos Estados Unidos, ele também refutou as alegações de práticas comerciais desleais, lembrando que, nos últimos 15 anos, os EUA têm acumulado um superávit comercial de mais de US$ 400 bilhões com o Brasil.

Ao mencionar a adesão de outros países ao modelo brasileiro e os recentes avanços em questões ambientais, Lula reforçou a imagem de um país que está aberto ao diálogo, mas que se mantém firme na defesa de sua soberania e interesses estratégicos.

Nas redes sociais, ele reiterou um “tom patriótico”, afirmando: o Pix é do Brasil.

O papel do Banco Central do Brasil

Desde a gestão de Roberto Campos Neto, o Banco Central tem buscado equilibrar autonomia, inovação e estabilidade. O Pix é parte de uma agenda maior de digitalização da economia, que inclui ainda o Drex (real digital) e regulação de criptoativos.

Ao manter o Pix como uma infraestrutura gratuita, o BC reforça o compromisso com a inclusão financeira e a soberania tecnológica nacional. Mas esse protagonismo também atrai pressão política, como se vê nas recentes declarações de autoridades americanas.

Soberania em tempos de nuvem

O caso do Pix mostra que a disputa por poder também se trava no campo dos pagamentos. Sistemas como Swift, PayPal e os grandes bancos internacionais sempre foram ferramentas de poder. O que muda agora é que países como o Brasil e Índia estão desenvolvendo alternativas locais de alcance global.

Pela ótica americana, a insegurança é justificado pela perda de controle sobre o fluxo de dinheiro e dados. Mas para o Brasil e outros membros dos BRICS, trata-se de uma oportunidade histórica de construir um sistema financeiro mais equitativo, acessível e soberano.

Como toda disputa de poder, esta também será travada em várias frentes: nas reuniões de negociação, nos tribunais internacionais e, principalmente, na rotina de bilhões de usuários que escolhem, todos os dias, como e com quem movimentar seu dinheiro.

FAQ: Pix, EUA, Trump e BRICS: entenda os principais pontos

O que é o Pix e por que os EUA estão preocupados?

O Pix é o sistema de pagamentos instantâneos do Brasil, desenvolvido pelo Banco Central. Por ser gratuito, rápido e estatal, ele representa uma ameaça aos modelos tradicionais de empresas americanas como Visa, PayPal e Mastercard.

O que é o BRICS Pay?

O BRICS Pay é um sistema internacional de pagamentos criado pelos países do bloco BRICS. Ele utiliza moedas locais e é inspirado no modelo do Pix. Seu objetivo é reduzir a dependência do dólar em transações internacionais.

Quando o BRICS Pay será lançado?

Ainda está em fase de testes. Um novo piloto pode ocorrer até o final de 2026, sob liderança do Brasil, mas não há data oficial para o lançamento global.

Quanto o Pix movimenta por ano?

Em 2024, o Pix movimentou R$ 26,4 trilhões. Só no primeiro semestre de 2025, o volume já ultrapassava R$ 20 trilhões. O sistema tem mais de 160 milhões de usuários.

Por que Trump quer investigar o Brasil por causa do Pix?

Trump reativou a Seção 301 para investigar o Brasil por supostas práticas comerciais desleais. Analistas acreditam que a verdadeira preocupação é o impacto do Pix sobre o mercado das big techs americanas.

O Pix prejudica empresas como PayPal e Visa?

Sim. O Pix, por ser gratuito e público, ameaça os modelos baseados em tarifas dessas empresas e contorna redes como a SWIFT, diminuindo a dependência dos EUA.

Como o Brasil respondeu?

O presidente Lula chamou a medida americana de “chantagem” e defendeu o Pix como patrimônio nacional, destacando a soberania digital brasileira.

O que é a Seção 301?

É uma lei dos EUA que permite impor sanções a países acusados de práticas comerciais desleais. Pode resultar em tarifas, bloqueios e restrições econômicas.

O Pix pode substituir o dólar?

Isoladamente, não. Mas dentro da estrutura do BRICS Pay, ele pode contribuir para reduzir o uso do dólar entre países emergentes.

O que significa soberania digital no contexto do Pix?

Significa controle nacional sobre tecnologia e dados. O Pix é gerido pelo Estado, é gratuito e opera sem influência externa, o que desperta preocupações geopolíticas nos EUA.

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Pedro Gomes

Jornalista formado pela UniCarioca, com experiência em esportes, mercado imobiliário e edtechs. Desde 2023, integra a equipe do Melhor Investimento.