A decisão de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de agosto acendeu um alerta entre analistas, empresários e investidores.

A nova tarifa, se posta em prática, tem o poder de mexer com as exportações, pressionar o câmbio, elevar a inflação e, claro, afetar empresas brasileiras listadas na B3 que dependem do mercado americano.

Mas até onde vai esse impacto? Quais empresas estão mais vulneráveis? E o que o investidor deve fazer?

Para sanar essas dúvidas, Rodrigo Vignoli, Sales de Renda Variável da Investsmart, nos ajudou a entender o cenário, e por que ele merece atenção redobrada.

O que é a “tarifa do Trump” e por que ela preocupa tanto?

As tarifas de importação impostas por Trump ao Brasil são impostos cobrados sobre produtos estrangeiros quando entram em determinado país. Quando os EUA impõem uma alíquota de 50% sobre produtos brasileiros, o resultado imediato é o aumento do preço desses itens no varejo americano.

Isso derruba a competitividade das exportações brasileiras, abre espaço para concorrentes com acordos comerciais mais favoráveis e pode levar à suspensão de contratos, devolução de mercadorias e prejuízos em setores-chave da economia nacional.

“Essa mudança já está afetando a vida real dos exportadores. Há relatos de cancelamento de contratos e devolução de cargas, como o caso de 58 contêineres de peixe que retornaram ao Brasil porque os compradores nos EUA se recusaram a pagar”, conta Vignoli.

Consequências econômicas: inflação, câmbio e impacto na produção

A consequência direta da retração nas exportações é o excesso de oferta no mercado interno, pressionando os preços para baixo em alguns segmentos, como carnes e frutas. No entanto, esse movimento não significa alívio inflacionário.

Ao mesmo tempo em que exportar se torna mais difícil, a queda na entrada de dólares pressiona o câmbio, encarece os importados e insumos produtivos e aumenta o custo da cadeia industrial. O efeito inflacionário, portanto, tende a se intensificar em setores dependentes de tecnologia ou componentes internacionais.

Estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que têm uma base agroexportadora forte, já observam sinais de alerta: menos demanda externa pode significar menos produção, menos empregos e menor faturamento.

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Efeitos nas ações da B3: quais empresas correm mais risco?

Para Rodrigo Vignoli, o investidor que acompanha o mercado de ações precisa estar, mais do que nunca, atento.

O impacto da tarifa, segundo ele, afeta principalmente exportadoras brasileiras, mas não será uniforme: tudo depende do grau de exposição internacional de cada empresa.

A seguir, veja a análise sobre companhias que estão no centro desse novo cenário comercial.

JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3): menor exposição ao risco

Essas companhias estão mais protegidas, pois possuem unidades industriais e operações robustas nos próprios EUA. Isso permite que continuem abastecendo o mercado americano sem arcar com os custos da nova tarifa. Segundo Rodrigo Vignoli, “a internacionalização dessas empresas funciona como um escudo natural contra o impacto direto da tarifa”.

💡 Isso reforça a resiliência de ações como JBSS3 e MRFG3 em contextos de tensão comercial.

BRF (BRFS3): maior vulnerabilidade

Já a BRF, que ainda concentra parte significativa de sua produção no Brasil, pode ser mais impactada. Com a tarifa, a empresa precisará realocar sua produção para mercados alternativos, o que tende a saturar a competição internacional e pressionar margens.

💡 Atenção às revisões de guidance da empresa e possíveis revisões nos canais de exportação.

SLC Agrícola (SLCE3): possível ganho no curto prazo

A SLC Agrícola, focada na exportação de grãos, pode registrar ganhos temporários no mercado interno com o redirecionamento da produção de concorrentes. No entanto, a perda de competitividade no segundo principal mercado de exportação do Brasil (os EUA ficam atrás apenas da China) traz riscos estruturais de médio prazo.

💡 Apesar de possível valorização momentânea, o investidor deve observar os efeitos sobre os preços globais de commodities, conclui Vignoli.

Escalada do conflito Brasil x EUA

Em resposta à medida americana, o governo brasileiro estuda aplicar tarifas recíprocas a produtos dos EUA, com base na Lei de Reciprocidade Econômica.

Essa escalada tarifária poderia resultar em novos choques cambiais, volatilidade no dólar e aumento dos custos de importação, afetando tanto a indústria quanto o varejo brasileiro.

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Pedro Gomes

Jornalista formado pela UniCarioca, com experiência em esportes, mercado imobiliário e edtechs. Desde 2023, integra a equipe do Melhor Investimento.