Valuation: como funciona a avaliação de empresas e ativos
Como calcular o valor de uma empresa ou ação? Bom, é ai que entra o chamado valuation. Entenda como funciona o processo e suas variáveis.

O “valuation” é um daqueles termos, ao mesmo tempo técnicos e famigerados, que circulam com frequência no mercado financeiro e no mundo dos negócios. Quem já está familiarizado com esse universo certamente já esbarrou com a palavra por aí.
Mas mesmo quem não acompanha o setor de perto pode ter ouvido o termo em outros contextos, como nos episódios do Shark Tank Brasil, programa que mistura negócios com entretenimento, em que ele costuma ser citado repetidamente.
Pensando no valuation como um termo que já furou a bolha do mercado financeiro, é natural que muita gente se pergunte, afinal, o que ele realmente significa. Para quem está mais familiarizado com o assunto, pode até ser que saiba o que é valuation, mas ainda tenha dúvidas sobre como se chega ao valor de uma empresa ou de um ativo negociado na bolsa. São justamente esses e outros detalhes que vamos explorar por aqui.
O que significa o termo valuation?
O termo valuation significa, em essência, a estimativa do valor de uma empresa, ativo ou investimento. Grosso modo, é um processo que busca responder à pergunta: quanto isso vale? Ele é amplamente utilizado no mercado financeiro, especialmente quando se fala em:
- Compra e venda total ou parcial de empresas;
- Abertura de capital (IPO);
- Captação de investimentos;
- Fusões e aquisições;
- Avaliação de ações negociadas na bolsa.
Em resumo, hoje, o valuation está envolvido em diferentes contextos atrelados ao mundo dos negócios e investimentos. No universo da bolsa, por exemplo, o conceito ganhou notoriedade com Aswath Damodaran, acadêmico e investidor conhecido como o “papa do valuation”.
Em linhas gerais, Damodaran desenvolveu métodos e abordagens que buscam identificar o valor intrínseco de uma empresa, indo além da análise fundamentalista tradicional ao incorporar uma visão mais ampla e detalhada dos ativos.
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Qual a finalidade do valuation? Para que ele serve?
A finalidade do valuation é sempre estimar o valor de uma empresa ou ativo. Essa pode até parecer uma definição simples, mas como o valuation está presente em diferentes contextos, sua utilidade também varia bastante — e se adapta conforme o objetivo de quem o utiliza.
Para o investidor da Bolsa, por exemplo, o valuation é uma ferramenta valiosa para identificar se uma ação está sendo negociada por um preço justo. Ele ajuda a perceber se o mercado está supervalorizando ou subestimando determinado papel, o que pode abrir portas para boas oportunidades de investimento.
Já no caso de um empreendedor, o valuation pode servir como ponto de partida para negociações com investidores ou novos sócios. Ao apresentar o valor estimado da empresa com base em diferentes fatores, fica mais fácil atrair capital e justificar a participação que está sendo oferecida em troca — exatamente como ocorre no Shark Tank.
Esses são apenas dois exemplos, mas, como supracitado, o valuation também é usado em fusões e aquisições, processos de venda de empresas, planejamento estratégico e até mesmo em disputas judiciais que envolvem patrimônio empresarial.
Tipos de valuation
Agora que já entendemos o que é valuation e para que ele serve, chega a hora de falar sobre os métodos disponíveis. Afinal, não existe uma única forma de projetar o valor justo ou intrínseco de uma empresa ou ação. Cada abordagem tem suas particularidades e pode ser mais adequada dependendo do contexto, do setor ou até mesmo do objetivo da análise.
Fluxo de Caixa Descontado (FCD)
O Fluxo de Caixa Descontado, ou simplesmente FCD — mais conhecido pela sigla em inglês DCF (Discounted Cash Flow) — é um dos métodos mais utilizados para se chegar ao valuation de empresas e até de projetos específicos. A lógica aqui parte da ideia de valor intrínseco: ou seja, quanto uma empresa vale hoje com base no que ela promete gerar de caixa no futuro.
Para isso, o método projeta os lucros que a empresa deve ter nos próximos anos e aplica um desconto sobre esse valor, considerando o risco do investimento. Esse desconto pode ser feito usando taxas como o CDI, a Selic ou até outras calculadas a partir de premissas específicas, como o perfil financeiro da empresa ou os riscos do setor.
De maneira geral, quanto maior o risco, maior o desconto — e menor o valor atual da empresa. O FCD costuma trabalhar com janelas de cinco a dez anos para manter um equilíbrio entre viabilidade e realismo.
Múltiplos de mercado
O método dos Múltiplos de Mercado é uma forma mais prática e comparativa de se chegar a um valuation. Ele parte da ideia de que empresas parecidas, do mesmo setor ou com características bem semelhantes, costumam ter valores próximos quando analisadas por determinados indicadores.
Na prática, o método costuma utilizar indicadores como o P/L (Preço sobre Lucro), EV/EBITDA (Valor da Firma sobre o Lucro antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização), entre outros. Se uma empresa concorrente está avaliada em 10 vezes o lucro, por exemplo, e a sua empresa apresenta números parecidos, é possível usar esse múltiplo como referência para estimar um valor justo.
Esse modelo costuma ser bastante usado por analistas e investidores quando é preciso fazer uma análise rápida ou quando não há informações suficientes para aplicar metodologias mais complexas. Apesar de ser amplamente utilizado, o método pode apresentar limitações. Encontrar empresas realmente comparáveis não é tarefa simples, e isso pode levar à desconsideração de particularidades importantes da empresa.
Valuation contábil
O valuation pelo valor patrimonial, também chamado de método contábil, considera exclusivamente o patrimônio líquido da empresa com base em suas demonstrações financeiras. A eficácia dessa abordagem depende diretamente da qualidade e da atualização da contabilidade. Ou seja, se os registros não forem fidedignos, o resultado pode distorcer a realidade do negócio.
Esse modelo também apresenta uma limitação relevante: ele desconsidera ativos intangíveis, como marcas, patentes, tecnologia ou redes de franquias. Mesmo com ajustes por depreciação e amortização, o método contábil tende a não refletir o verdadeiro potencial do negócio.
Na prática, o valuation patrimonial costuma ser mais útil em contextos como liquidação, recuperação judicial ou avaliação de empresas com forte presença em ativos físicos. Ainda assim, para uma análise mais completa, o ideal é combiná-lo com outros métodos que levem em conta o desempenho futuro da empresa ou sua posição no mercado.
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Outros modelos de valuation bem conhecidos:
- Modelo Gordon: método de precificação de ações que baseia-se na fórmula de crescimento constante dos dividendos. Geralmente, esse modelo é visto como um parâmetro auxiliar, que deve ser complementado por outras abordagens para fornecer uma avaliação mais completa e precisa dos ativos.
- Valuation Pré-Investimento e Pós-Investimento: aqui, a lógica está no momento da empresa. Em resumo, a ideia é avaliar o valor dela antes e depois da entrada de um investimento. O modelo é muito usado em rodadas de financiamento para startups e empresas em crescimento.
- Valuation de Liquidação: estima o valor da empresa considerando a venda de todos os seus ativos e a quitação de suas dívidas. Basicamente, ele calcula a diferença entre o total de ativos e passivos, sendo geralmente aplicado em situações de falência ou encerramento das operações.
Como calcular o valor de uma empresa?
Se você construiu sua leitura gradualmente até aqui, já deve estar imaginando que, para essa pergunta, “não há uma resposta única”, tendo em vista as diferentes formas existentes de estimar o valor de uma empresa. Em resumo, o método de avaliação ideal vai depender das características específicas do negócio e do nível de profundidade que o investidor pretende adotar na análise.
Mas, por se tratar de uma dúvida pertinente, vale a pena aprofundar um pouco mais em um dos métodos apresentados. Quando falamos de empresas, como dito anteriormente, o tipo de valuation mais utilizado é o FCD — o que torna válido dar um destaque especial a essa modalidade. De forma resumida, o modelo envolve os seguintes passos:
1. Projeção dos fluxos de caixa futuros
O primeiro passo é estimar quanto a empresa deve gerar de caixa ao longo dos próximos anos — normalmente em um horizonte de cinco a dez anos. Aqui, o foco está nos chamados fluxos de caixa livres para o patrimônio, ou seja, o que realmente sobra para os sócios depois de todos os custos, impostos e reinvestimentos.
2. Cálculo do valor terminal
Depois de projetar os fluxos para os primeiros anos, é hora de pensar no que vem depois. Isso significa estimar o valor da empresa após o fim do período analisado, como se ela continuasse operando indefinidamente. Esse valor é chamado de valor terminal e costuma representar uma parte significativa do valuation total.
3. Definição da taxa de desconto
Com os números em mãos, é preciso definir a taxa de desconto que será usada para trazer os valores futuros ao presente. Essa taxa representa o retorno esperado pelos investidores e pode ser baseada no custo de oportunidade do capital próprio ou no WACC — uma média ponderada do custo de capital da empresa.
4. Cálculo do valor presente dos fluxos
Por fim, os fluxos de caixa projetados — junto com o valor terminal — são trazidos para o valor de hoje, aplicando o conceito do valor do dinheiro no tempo. Ao somar tudo, você chega ao valor intrínseco da empresa com base no que ela promete gerar no futuro.
Considere cursos e consultoria financeira
Realizar um valuation envolve aplicar conceitos de matemática financeira, o que exige domínio de fórmulas, interpretação de balanços e realização de cálculos. Todo esse processo pode apresentar um certo grau de complexidade — especialmente para quem está começando a investir.
Por isso, contar com o suporte de um consultor ou assessor financeiro pode fazer toda a diferença. Além disso, é importante investir na própria formação, por meio de cursos, bons livros e outras fontes de aprendizado que contribuam para aprofundar seus conhecimentos no tema.
Importância do valuation para o investidor
Compreender a importância do valuation é essencial para quem deseja investir com segurança e clareza. E nada melhor do que ouvir quem vive o mercado de perto. Tiago Reis, analista de ações e presidente do Grupo Suno, destaca que bons negócios só acontecem quando se compra abaixo do preço justo — algo que só é possível por meio do valuation.
“Na hora que você compra uma carne no supermercado, um carro, uma casa ou mesmo uma ação, aquilo ali deve ter um preço justo. Você só vai fazer um bom negócio se comprar abaixo do preço justo. E é o valuation que vai te levar ao preço justo”, diz.
Bruno Lima, então Head do BTG Pactual Digital Equity Research, também reforçou essa ideia durante o Encontros Academy da revista Exame, em 2021:
“Quando você decide investir o seu capital, quer tomar uma decisão baseada em boas premissas, para conseguir concretizá-las em algum valor. O valuation é justamente a ferramenta que vai te capacitar para tomar uma decisão que faça sentido economicamente”, avalia
Em síntese, o valuation é muito mais do que uma estimativa numérica — trata-se de uma ferramenta estratégica para entender o valor real de uma empresa. É por meio dele que o investidor pode tomar decisões fundamentadas, como comprar ou vender ações, captar recursos, viabilizar fusões ou mesmo planejar uma sucessão empresarial.