A inflação no Brasil ultrapassou novamente o teto da meta em 2024, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrando uma alta de 4,83% no ano. Esse resultado ficou acima do limite estipulado pelo governo, de 4,5%, e se reflete diretamente no bolso do consumidor. A principal pressão veio de alimentos e combustíveis, que, somados, responderam por cerca de 65% da inflação anual. O impacto disso no cenário econômico é grande, afetando não só os preços do dia a dia, mas também as expectativas futuras para o controle da inflação no Brasil.

O que motivou a inflação elevada em 2024?

O IPCA teve uma variação de 0,52% em dezembro, fechando o ano com um aumento de 4,83%. Esse índice, que serve como referência para a meta de inflação do governo, superou as expectativas do mercado. A previsão era de uma alta de 0,57% para o mês e de 4,88% para o ano. A principal pressão para esses números veio do aumento dos preços de alimentos e da gasolina. Em 2024, o grupo de Alimentação e Bebidas teve um aumento de 7,69%, enquanto os combustíveis, em especial a gasolina, acumularam uma alta de 9,71%.

A gasolina foi um dos maiores vilões da inflação, com aumento de 0,54% apenas em dezembro, e representando a maior contribuição no índice geral de preços. A alta de alimentos também foi impactada por condições climáticas adversas, que afetaram a produção de itens essenciais, como arroz, feijão e carne. Essas variáveis climáticas contribuíram para o aumento de preços em diferentes regiões do país.

Desafios para o BC com expectativas de inflação desancoradas

Esse cenário inflacionário tem colocado o Banco Central em uma posição desafiadora. Sob a liderança de Gabriel Galípolo, a autoridade monetária precisa lidar com as expectativas desancoradas e tomar medidas eficazes para controlar a inflação. O BC já intensificou o ritmo de aumento da taxa de juros, elevando a Selic em 1 ponto percentual para 12,25% ao ano no final de 2024. Além disso, as expectativas indicam a possibilidade de novas altas na taxa de juros, especialmente após o anúncio de medidas fiscais do governo que podem pressionar ainda mais a dinâmica inflacionária.

O Banco Central precisará explicar ao governo os motivos para o descumprimento da meta de inflação em 2024. A partir de 2025, será implementada uma meta contínua, e o Banco Central terá que se justificar ao governo se o objetivo não for cumprido por seis meses consecutivos. Esse mecanismo de responsabilidade pode aumentar a pressão sobre as ações do BC para garantir que a inflação se mantenha dentro dos limites estabelecidos.

Pressões setoriais que afetaram a inflação em 2024

A inflação de 2024 não se restringiu a alimentos e combustíveis. O setor de Saúde e Cuidados Pessoais também teve um grande impacto, com aumento de 6,09% no ano. Planos de saúde, por exemplo, ficaram mais caros, com aumento de 7,87%. Outro setor que contribuiu para o aumento da inflação foi o de Transportes, com alta de 3,30%, impulsionada pela gasolina e pelos custos de transporte público e privado.

Além disso, o setor de serviços também teve uma alta significativa, com aumento de 4,78% ao longo do ano. Esse aumento foi impulsionado não só pelo aquecimento do mercado de trabalho, que elevou a renda dos brasileiros, mas também pela demanda por serviços como educação, saúde e alimentação fora de casa. A inflação de serviços também reflete o aumento do poder de compra de uma parte da população, que está consumindo mais produtos e serviços.

Expectativas para 2025 e o papel do BC

O Banco Central terá um grande desafio pela frente, com a meta de inflação em 2025 sendo estabelecida de forma contínua. Isso significa que, se o objetivo for descumprido por seis meses consecutivos, o BC terá que justificar ao governo os motivos e as medidas para corrigir a situação. As expectativas de inflação para 2025 permanecem desafiadoras, principalmente devido à pressão de preços e à desvalorização do câmbio.

Além disso, a autoridade monetária deverá continuar a adotar uma política monetária de aperto, com altas na Selic, para tentar ancorar as expectativas de inflação e garantir que os preços se mantenham dentro de uma faixa controlável. O controle da inflação será fundamental para manter a estabilidade econômica e evitar efeitos negativos no poder de compra da população.