A onda de pessimismo no mercado financeiro eleva as projeções de juros para 2025
A onda de pessimismo no mercado financeiro elevou as previsões para a taxa Selic em 2025, com instituições financeiras revisando suas estimativas para patamares mais altos.
A onda de pessimismo no mercado financeiro eleva as projeções de juros para 2025
A recente onda de pessimismo no mercado financeiro tem gerado um círculo vicioso, impactando diretamente as projeções para a Selic em 2025. Instituições financeiras, que antes previam uma taxa de juros mais amena, agora revisaram suas estimativas para cima, ajustando-as para níveis mais elevados. Esse movimento reflete as novas expectativas do mercado, que resultaram de uma comunicação mais incisiva do Banco Central do Brasil (Bacen), especialmente após a transição de comando.
O que está por trás da revisão das projeções para a Selic?
A pesquisa realizada pelo jornal Valor, com 95 instituições financeiras e consultorias, revelou que as estimativas sobre a taxa Selic para 2025 foram ajustadas substancialmente. De acordo com os novos números, os bancos projetam uma Selic mais alta do que previam há apenas algumas semanas.
Exemplificando essas revisões:
- O Banco do Brasil, por exemplo, elevou sua projeção de 13,75% para 15,25%.
- O Santander passou de 13% para 15,5%.
- O BTG, que anteriormente estimava 14,75%, ajustou sua previsão para 15,25%.
Esses ajustes refletem o impacto direto da mudança no cenário econômico, que, como veremos, é resultado de um círculo vicioso gerado pelo pessimismo do mercado.
O círculo vicioso e as expectativas do mercado
O aumento nas previsões da Selic pode ser visto como parte de um ciclo que se retroalimenta. A demanda por uma política monetária mais rigorosa, especialmente no momento de transição no comando do Banco Central, gerou uma reação do mercado financeiro. Esse movimento de pressão sobre o Bacen, que exigia uma maior comunicação sobre o compromisso com o controle da inflação, levou a uma série de projeções mais agressivas de juros.
Essa situação pode ser entendida como uma espécie de “feedback loop” onde a demanda do mercado por uma política monetária mais forte faz com que o Banco Central atue de forma mais incisiva, o que, por sua vez, eleva as expectativas de alta de juros, criando um ciclo que reforça o pessimismo geral.
O papel da comunicação do BC e a atuação de Gabriel Galípolo
A comunicação desempenha um papel fundamental nesse processo. O Banco Central, ao sinalizar um compromisso firme com a inflação, como mostrou na ata do Copom e nas declarações do futuro presidente Gabriel Galípolo, aumentou a percepção do mercado de que a taxa Selic pode subir ainda mais. Galípolo, que assumirá a presidência do Bacen em breve, foi claro ao afirmar que o objetivo é reduzir o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao centro da meta, ou seja, para 3%.
Essas declarações e a postura do Banco Central em relação ao controle da inflação indicam que os juros poderão continuar elevados por mais tempo do que se imaginava inicialmente. Essa comunicação “dura” tem sido interpretada pelos analistas como um sinal de que o Bacen está disposto a continuar sua política de juros altos até que os resultados sejam alcançados.
Ajustes na política monetária: mais aumentos à vista
O mercado, que aguardava um “guidance” mais claro do Banco Central sobre a direção da política monetária, teve suas expectativas atendidas quando o Bacen anunciou a elevação da Selic em 1 ponto percentual, passando de 11,25% para 12,25% na última reunião do Copom. A ata dessa reunião indicou que haveriam mais duas elevações da mesma magnitude, o que poderia levar a Selic a 14,25%.
No entanto, uma possível Selic de 15% também está sendo cogitada pelo mercado, embora com a ressalva de que, caso a inflação apresente sinais de recuo, os juros poderiam ser reduzidos mais cedo. Essa flexibilidade do Banco Central nas suas projeções tem gerado uma mistura de otimismo cauteloso e receio no mercado financeiro.
A visão crítica: Eduardo Giannetti da Fonseca
Apesar do cenário de pessimismo, alguns economistas acreditam que há uma reação exagerada do mercado. Eduardo Giannetti da Fonseca, renomado economista, afirmou em entrevista ao Estado de São Paulo que a situação econômica, embora desafiadora, não está à beira de uma catástrofe. Para Giannetti, há problemas a serem enfrentados, mas é necessário que o mercado financeiro adote uma postura mais equilibrada, sem ceder ao pessimismo excessivo.
Essa visão ressalta que, embora a inflação seja uma preocupação legítima, não é necessário que a reação do mercado seja tão extrema, o que, segundo ele, pode contribuir para um agravamento desnecessário da situação econômica.