A tensão entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, está em um ponto de ebulição. Na quinta-feira (17), Trump disparou críticas públicas, afirmando que, se quisesse, poderia demitir Powell rapidamente. O que motivou essa escalada de tensão, e como ela pode impactar a política monetária dos EUA? Entenda o que está em jogo para os mercados e a economia global, com a possível remoção de Powell do cargo de presidente do Fed.

O conflito começou a se intensificar depois que Powell reafirmou a independência do Fed e alertou sobre os impactos econômicos das tarifas impostas por Trump, as quais aumentaram o custo de vida para milhões de americanos. Enquanto Trump vê os juros elevados como um obstáculo ao crescimento econômico, Powell tem se mantido firme em sua postura, considerando que uma redução das taxas agora poderia agravar ainda mais a inflação, que já ultrapassa a meta de 2% do Fed.

A relação entre Trump e Powell tem sido tensa desde que Powell foi nomeado para a presidência do Fed por Trump em 2017. Porém, as críticas públicas de Trump ao presidente do Fed se intensificaram nos últimos meses, especialmente após Powell sinalizar que as taxas de juros poderiam continuar elevadas por mais tempo do que o esperado, no esforço de conter a inflação.

Trump, conhecido por suas políticas econômicas voltadas para o crescimento rápido, tem se mostrado cada vez mais frustrado com o impacto que as taxas de juros altas têm na economia americana. Em seus comentários, ele argumentou que Powell está tomando decisões “politicamente motivadas”, o que adiciona uma camada de complexidade a essa disputa institucional.

A disputa ocorre no cenário político e econômico dos Estados Unidos, onde a atuação do Federal Reserve tem um impacto global. As decisões de política monetária do Fed afetam diretamente o mercado financeiro internacional, influenciando a rentabilidade dos Treasuries (títulos do governo dos EUA) e afetando as expectativas de investidores ao redor do mundo.

Os impactos de uma possível demissão de Powell não se limitariam aos Estados Unidos, podendo ter consequências para a estabilidade econômica global. Em um mundo altamente interconectado, a confiança nas decisões do Fed é crucial para a manutenção da previsibilidade financeira e estabilidade econômica.

Como funciona o mandato do presidente do Fed?

O mandato do presidente do Fed é de quatro anos, com a possibilidade de recondução. No entanto, Powell ocupa um cargo dentro de uma estrutura mais ampla, como membro do Conselho de Governadores do Fed, com um mandato de 14 anos. Essa estrutura foi criada para garantir a independência do banco central e evitar pressões políticas diretas sobre suas decisões.

Em 2022, Powell foi reconduzido ao cargo de presidente do Fed por Joe Biden, mas sua permanência no Conselho vai até 2028, salvo renúncia ou demissão por justa causa. A legislação dos EUA estabelece que membros do Conselho, incluindo o presidente, só podem ser removidos “por justa causa”, que é interpretada como má conduta, negligência ou incapacidade, mas não divergências sobre política monetária.

Isso significa que, embora Trump tenha o poder de nomear o presidente do Fed, ele não pode demitir Powell sem uma razão legal válida. Isso tem sido um ponto de resistência para o presidente, que já consultou advogados sobre a possibilidade de remoção, mas foi aconselhado contra essa ação.

Julia Peres

Redatora do Melhor Investimento.