Taxa dos DIs dispara após Copom e mercado já prevê alta de 75 pontos-base na Selic
Após a decisão do Copom de elevar a Selic para 14,25%, o mercado reagiu com uma forte alta nas taxas dos DIs, com os investidores agora esperando um aumento de 75 pontos-base na próxima reunião.

As taxas dos DIs voltaram a subir com força nesta quinta-feira (20), refletindo a reprecificação do mercado diante das novas sinalizações do Banco Central. Após a última reunião do Copom, os investidores passaram a projetar um aperto monetário mais intenso, com muitos já apostando em uma elevação de 75 pontos-base na Selic na próxima reunião, prevista para maio.
O movimento também foi impulsionado por ordens de stop loss e realização de lucros, ampliando a alta dos contratos futuros de juros em todos os vencimentos. A curva de juros doméstica fechou o dia pressionada, enquanto o mercado ajusta as expectativas para os próximos passos da política monetária.
Copom muda o tom e taxa dos DIs reage com forte alta
Na quarta-feira (19), o Comitê de Política Monetária elevou a Selic em 100 pontos-base, levando a taxa básica de juros para 14,25% ao ano. No comunicado, o BC sinalizou que o próximo ajuste deve ser inferior a 1 ponto percentual, o que abriu espaço para diversas interpretações.
Com isso, a taxa dos DIs sofreu uma reprecificação expressiva. O mercado, que antes trabalhava com a possibilidade de alta de 50 pontos-base ou até menos, passou a precificar de forma majoritária um avanço de 75 pontos-base na próxima reunião.
Os principais contratos futuros de juros refletiram essa mudança. O DI para janeiro de 2026 saltou de 14,709% para 14,87%, enquanto o de janeiro de 2027 subiu de 14,398% para 14,645%. Nos vencimentos mais longos, o contrato de janeiro de 2031 foi a 14,56%, ante 14,292%, e o de janeiro de 2033 avançou para 14,59%.
Segundo operadores, o mercado abandonou qualquer aposta de manutenção da Selic ou alta modesta. “Saiu o zero e entrou o 75 no jogo”, resumiu um analista de renda fixa.
Pressão nos juros aumenta com dólar e cenário fiscal no radar
Além da reavaliação sobre a Selic, o avanço do dólar frente ao real ajudou a pressionar a curva de juros. A moeda norte-americana se fortaleceu no mercado internacional, o que impacta diretamente as projeções de inflação e, consequentemente, a taxa dos DIs.
Outro fator que chamou a atenção dos investidores foi o parecer final do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025, apresentado nesta quinta-feira. O relatório prevê um superávit primário de R$ 15 bilhões, acima da proposta inicial de R$ 3,7 bilhões, o que indica um esforço para cumprir o novo arcabouço fiscal.
No entanto, o texto também ampliou as despesas, incluindo R$ 8,3 bilhões adicionais para a Previdência e R$ 3 bilhões para o auxílio gás. Essas alterações aumentaram a percepção de risco fiscal, alimentando o receio de que o governo possa recorrer a manobras contábeis ou políticas populistas às vésperas das eleições de 2026.
“O maior temor é que o aumento das despesas obrigatórias acabe resultando em mais dificuldades para o governo cumprir o arcabouço fiscal no futuro”, avalia Rafael Sueishi, economista da Manchester Investimentos.
Mercado aposta em aperto monetário mais forte para conter inflação
Com o cenário de alta nas despesas e dólar pressionado, os agentes financeiros reforçaram suas apostas de que o Banco Central será obrigado a realizar um ajuste mais robusto na próxima reunião.
A expectativa de aumento de 75 pontos-base na Selic cresceu, com o mercado avaliando que o combate à inflação exige uma postura mais dura. O próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou o compromisso com o controle dos preços, mas afirmou que isso pode ser feito sem provocar uma recessão.
“Temos condições de equilibrar as contas públicas e manter a inflação sob controle sem precisar derrubar a atividade econômica”, destacou Haddad.
Cenário internacional contribui para o movimento na curva de juros
Enquanto o mercado local ajustava suas projeções, no cenário internacional os rendimentos dos Treasuries recuavam após o Federal Reserve manter os juros entre 4,25% e 4,50%. O yield da T-note de 10 anos cedia para 4,229%, o que ajudou a limitar parcialmente a alta das taxas internas.
Apesar disso, o movimento global não foi suficiente para conter a pressão sobre a taxa dos DIs no Brasil, dada a força dos fatores domésticos, como o risco fiscal e o impacto das últimas decisões do Banco Central.
Perspectivas: Selic pode encerrar o ano acima do esperado
Diante do novo cenário, os economistas começam a revisar suas projeções para a Selic ao final do ano. Se a expectativa de alta de 75 pontos-base se confirmar em maio, a taxa básica de juros poderá ultrapassar os 15% até o fim de 2025.
Esse movimento impacta diretamente diversos setores da economia, encarecendo o crédito e dificultando a retomada do crescimento. Além disso, pressiona o governo federal, que depende da queda dos juros para equilibrar as contas públicas e manter a dívida sob controle.