Moedas do Mundo: entenda a importância do dólar
A cotação do dólar americano é uma constante nos noticiários, e não por acaso. Mais do que um instrumento financeiro, a moeda é um termômetro da economia mundial, de forma que exerce forte influência sobre o preço de bens e serviços, além de impactar diretamente decisões de investimento. Utilizado em transações comerciais internacionais, reservas monetárias […]
Fonte: Freepik
A cotação do dólar americano é uma constante nos noticiários, e não por acaso. Mais do que um instrumento financeiro, a moeda é um termômetro da economia mundial, de forma que exerce forte influência sobre o preço de bens e serviços, além de impactar diretamente decisões de investimento.
Utilizado em transações comerciais internacionais, reservas monetárias e como referência para diversas commodities, o dólar exerce uma influência que vai muito além das fronteiras dos Estados Unidos.
Mas por que essa moeda é tão importante para a economia global? Neste artigo, vamos explorar os fatores que conferem ao dólar seu status de moeda dominante e entender como ele impacta diretamente a vida de pessoas e nações ao redor do globo.
Como surgiu o dólar
A origem do dólar remonta ao século XVIII, surgindo da necessidade de uma moeda forte durante a Guerra da Independência dos Estados Unidos, em 1776. Em 1786, o Congresso Continental das 13 colônias aprovou o dólar como a moeda nacional. Criado inicialmente para financiar o esforço de guerra, o dólar também tinha como objetivo impulsionar a economia da nova nação.
A oficialização do dólar como moeda dos Estados Unidos ocorreu em abril de 1792, com a promulgação do Coinage Act (Lei da Moeda, em português). Até então, o comércio na região utilizava amplamente o “real de a ocho” (dólar espanhol), uma moeda hispano-americana cunhada pelo Império Espanhol.
O sistema monetário adotado inicialmente pelos EUA era baseado no padrão bimetálico, onde o valor da moeda era garantido por reservas de ouro e prata.
O termo “dollar” tem origem no “thaler” alemão, uma moeda de prata que circulava na Europa Central no século XVI, especificamente na região da Boêmia, região que abrange partes da atual República Tcheca e Alemanha.
Essa moeda era cunhada com a prata extraída das minas da cidade de Joachimstal, e por isso ficou conhecida como joachimstaler, posteriormente abreviada para thaler. Com a imigração de alemães para os Estados Unidos, a pronúncia evoluiu até chegar ao termo inglês “dollar”.
Como o Dólar virou moeda mundial
Após a Guerra Civil norte-americana, o dólar começou a ganhar mais relevância em termos de uso, mas ainda estava longe de ser a moeda dominante que conhecemos hoje. No século XIX, a libra esterlina detinha esse status, e os Estados Unidos, com um sistema monetário fragmentado e sem regulamentação, enfrentavam desafios para estabelecer a credibilidade de sua moeda no cenário internacional.
A longa trajetória do dólar até se tornar uma moeda de destaque mundial passou por importantes marcos históricos. Entre eles, destacam-se:
- Greenbacks (1861): para financiar a Guerra Civil, o Tesouro dos EUA começou a emitir notas que ficaram conhecidas como greenbacks, por sua cor verde. Elas eram lastreadas na boa-fé e reputação do governo, podendo ser convertidas em ouro.
- National Banking Act (1863): ato que unifica a moeda nacional, estabelecendo uma base sólida para seu uso como forma de pagamento oficial.
- Federal Reserve Act (1913): criação do Federal Reserve (FED), banco central estadunidense que, por sua vez, foi um importante passo para estabilizar o sistema financeiro do país e reforçar a credibilidade do dólar.
A hegemonia do dólar, todavia, só se consolidou após a Segunda Guerra Mundial. Durante o conflito de escala global, os EUA financiaram boa parte dos aliados, que pagavam pelos armamentos e suprimentos com ouro, o que deixou o país com boa parte do ouro mundial em reserva.
Em suma, a Segunda Guerra reconfigurou a ordem mundial, com os Estados Unidos emergindo como a principal potência econômica, em contraposição a uma Europa em ruínas. Em 1944, a partir do Acordo de Bretton Woods, o dólar se consolidou como a principal moeda de reserva internacional.
Dólar como moeda de Reserva Global
Para compreender o papel do dólar enquanto moeda de reserva global, é essencial abordar novamente o que foi acordado na Conferência de Bretton Woods, em 1944. Na ocasião, 44 países se reuniram para estabelecer as bases do sistema monetário internacional no período pós-guerra
O acordo internacional substituiu o ouro pelo dólar como referência monetária global, uma vez que a moeda americana estava lastreada pelas vastas reservas de ouro acumuladas pelos EUA, em grande parte devido aos pagamentos dos aliados durante a Segunda Guerra Mundial.
Em resumo, as reservas internacionais, antes baseadas em ouro, passaram a ser dominadas pelo dólar, configurando a realidade até os dias atuais. A confiança no dólar americano é reforçada em virtude da solidez econômica dos Estados Unidos, que atualmente detém o título de maior economia global e é amplamente vista como um porto seguro para investimentos.
O Papel do Dólar no Comércio Internacional
Por se posicionar como a principal moeda de reserva global, o dólar americano desempenha um papel central no comércio internacional. A grosso modo, isso significa que muitos países preferem usá-lo para comprar e vender produtos e serviços entre si.
O sistema de Bretton Woods, ao estabelecer o dólar como a moeda de referência lastreada em ouro, marcou o início de sua predominância no comércio internacional. Com o tempo, essa posição se consolidou ainda mais, especialmente após o acordo de 1974 entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita, que passou a negociar o petróleo em dólares.
Esse acordo estabeleceu o conceito de “petrodólar”, reforçando o dólar como a principal moeda para transações globais.
“Em 1974, Estados Unidos e Arábia Saudita concordaram em cotar o petróleo em dólares. É o início da ideia do petrodólar, que levou à dominância da moeda americana que vemos hoje”, explica a especialista de política econômica do CRI (Conselho de Relações Internacionais), Zoe Liu, em fala ao Jornal Nacional.
Uso do dólar como moeda de troca global
Como principal referência para o comércio global, o dólar serve como base para a taxa de câmbio da maioria dos países no sistema financeiro internacional. Sua influência é tão significativa que a cotação de muitas moedas é estabelecida em relação ao dólar.
A virada no sistema monetário internacional vem com o fim do padrão dólar-ouro estabelecido pelo sistema Bretton Woods. Essa mudança traz a adoção do dólar como moeda fiduciária , desvinculando o valor do dólar de qualquer lastro em ativos físicos e o submeteu integralmente à política monetária do Federal Reserve.
A partir desse ponto, os países cuja taxa de câmbio já estava vinculada ao dólar passaram a adotar o sistema de câmbio flutuante. Nesse modelo, a variação cambial é determinada pela oferta e demanda no mercado, por sua vez, influenciadas pela dinâmica de compra e venda do dólar.
Dólar forte vs. Dólar fraco: impactos Econômicos
A força do dólar americano tem impactos significativos na economia global e nas economias locais. Em geral, uma moeda americana valorizada, resultado de uma economia robusta e altas taxas de juros, pode fortalecer a posição dos Estados Unidos no comércio internacional, mas também pressionar as economias emergentes com dívidas denominadas em dólares.
Por outro lado, um dólar fraco, geralmente associado a uma economia mais frágeis e políticas monetárias expansionistas, pode estimular as exportações americanas, mas também gerar incertezas nos mercados financeiros globais.
Em resumo, a valorização ou desvalorização do dólar pode ter impactos positivos e negativos, dependendo do contexto. Um exemplo claro disso é o efeito sobre as exportações.
Quando o dólar está valorizado, os produtos americanos se tornam mais caros para compradores estrangeiros, o que pode reduzir a demanda por exportações. Em contrapartida, quando o dólar está desvalorizado, os produtos americanos ficam mais baratos e mais atraentes para os compradores internacionais, potencialmente aumentando as exportações.
Impacto do dólar na economia brasileira
A economia brasileira está integrada à economia global, sendo fortemente influenciada por eventos internacionais, muitos dos quais são impactados pelas flutuações do dólar.
Desde 1999, o Brasil segue o regime de câmbio flutuante, em que o valor do dólar não é fixo e oscila conforme as forças de mercado. Essa variação ocorre de acordo com a oferta e demanda por dólares, influenciada pela necessidade de pessoas e empresas de comprar ou vender a moeda.
Em outras palavras, o preço do dólar, que serve como referência para a cotação do real, é determinado por essas movimentações no mercado. Essa dinâmica, determinada pela oferta e demanda, influencia diretamente diversos setores da economia, como o comércio exterior e a inflação.
Para ilustrar melhor, como esse processo ocorre, veja alguns exemplos dos principais efeitos:
- Inflação: a valorização do dólar pode aumentar a inflação no Brasil, pois muitos produtos e insumos são importados. Com o dólar mais caro, o custo desses produtos sobe, o que pode ser repassado aos consumidores.
- Exportações: um dólar forte tem a capacidade de beneficiar as exportações brasileiras. Setores que vendem seus produtos em moeda estrangeira tendem a se beneficiar.
- Dívida Externa: o Brasil possui uma parte significativa de sua dívida denominada em dólares. Quando o dólar se valoriza, o custo de serviço dessa dívida aumenta, pressionando as finanças públicas.
Como Investidores podem se beneficiar
Os investidores podem aproveitar as flutuações do dólar de diversas formas. A questão é que tudo dependerá das estratégias adotadas e das condições de mercado.
Em tempos de dólar forte, por exemplo, investidores internacionais podem se beneficiar ao comprar ativos americanos, que ganham valor em moeda local. Investir em ações de empresas que têm receitas em dólar ou que exportam produtos pode ser uma boa estratégia. Setores como commodities, tecnologia e agronegócio são exemplos que podem se beneficiar.
De todo modo, estes são apenas alguns exemplos. Como em qualquer decisão financeira, é fundamental realizar uma análise criteriosa e embasada, considerando fatores como riscos, retornos e o cenário econômico. O planejamento estratégico de cada investimento é indispensável para maximizar as chances de sucesso e minimizar surpresas negativas.
Além disso, é crucial que o investidor esteja atento ao seu próprio perfil — seja conservador, moderado ou arrojado —, bem como aos seus objetivos de curto, médio e longo prazos. Por fim, é importante destacar que decisões financeiras mais sólidas e bem fundamentadas são facilitadas pela orientação de profissionais qualificados. Por isso, é recomendável consultar um especialista.
Estratégias de investimento relacionadas ao dólar
- Hedging: Investidores podem usar instrumentos financeiros como futuros e opções para proteger seus investimentos contra flutuações cambiais.
- Diversificação: Manter um portfólio diversificado com ativos em diferentes moedas pode reduzir o risco associado à volatilidade do dólar.
- Investimentos em Commodities: Commodities como ouro e petróleo são frequentemente cotadas em dólares, e suas flutuações podem oferecer oportunidades de lucro.
Saiba + Tripé Macroeconômico: entenda seu papel nos investimentos
Riscos e desafios da dominância do dólar
Atualmente, discute-se amplamente sobre a hegemonia da moeda estadunidense no cenário global e suas implicações. A ideia de substituir ou reduzir o uso do dólar como moeda internacional em transações globais não é nova.
Essa discussão, que ressurge periodicamente, especialmente em momentos de fortalecimento da divisa americana, foi recentemente retomada por figuras como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ex-presidente Dilma Rousseff.
“Quem decidiu que era o dólar a moeda depois que desapareceu o ouro como paridade? Hoje um país precisa correr atrás de dólar para poder exportar, quando poderia exportar com sua própria moeda e os bancos centrais poderiam cuidar disso. Todo mundo depende de uma única moeda, e tem muita gente mal-acostumada”, declarou o chefe de estado, durante a posse de Dilma na instituição, em 2023.
Mais recentemente, o Cônsul-Geral da China, Sr.Yu Peng, teceu críticas voltadas à hegemonia global do dólar. Segundo ele, é fundamental reduzir a dependência em relação à moeda estadunidense.
Ao criar “marés” de taxas de juros, o Federal Reserve considera o mercado global como sua área de inundação financeira, transferindo suas crises domésticas de forma arbitrária e se tornando a principal fonte de risco financeiro global, disse o Cônsul em artigo publicado na revista Exame, em julho deste ano.
O que diz o FED sobre a hegemonia do dólar?
Um estudo do Federal Reserve revelou que a hegemonia do dólar na economia mundial, ao longo do século passado, foi consolidada pela sólida economia americana, sua abertura comercial e financeira, e por um ambiente institucional que privilegia a estabilidade e a proteção dos direitos de propriedade.
“Como resultado, a profundidade e a liquidez dos mercados financeiros dos EUA são inigualáveis, e há uma grande oferta de ativos denominados em dólares extremamente seguros”, destaca o paper.
Qual a moeda mais cara do mundo?
Embora o dólar seja a principal referência no cenário econômico internacional, ele não é, curiosamente, a moeda mais forte do mundo. De acordo com a empresa CMC Markets, o dólar americano ocupa apenas o décimo lugar no ranking das moedas mais valorizadas.
A posição de liderança pertence ao dinar do Kuwait, seguido pelo dinar do Bahrein em segundo lugar, e pelo rial de Omã, que fecha o top 3. Em suma, esses países do Golfo Pérsico se destacam pela força de suas moedas, impulsionadas, principalmente, pelas grandes reservas de petróleo.
Interessado em saber mais sobre a força das divisas globais? Então confira nosso artigo com o ranking das 10 moedas mais valorizadas do mundo.