A história dos Correios se confunde com a do próprio Brasil. Como uma das instituições mais antigas do país, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) sempre teve um papel importante na vida dos brasileiros, seja para enviar cartas, encomendas, boletos ou até mesmo participar de concursos.

Mas, nos últimos anos, a estatal passou por altos e baixos, com períodos de lucro expressivo, greves marcantes e debates acalorados sobre sua possível privatização.

O Melhor Investimento conta a trajetória dos Correios: do auge financeiro aos desafios recentes, e o que está sendo feito para garantir o futuro da empresa.

De norte a sul: os correios chegam a todos os cantos

A história oficial dos Correios começa lá em 1663, e desde então a empresa cresceu até alcançar uma presença impressionante: são mais de 11 mil unidades espalhadas pelos 5.570 municípios brasileiros. Isso significa que, mesmo nas cidades mais afastadas, é possível encontrar uma agência dos Correios.

Essa capilaridade sempre foi um dos grandes diferenciais da empresa, ajudando a integrar o país e garantindo que serviços básicos chegassem até onde o setor privado nem sempre alcança.

Correios estão listados na Bolsa de Valores?

Apesar da importância estratégica, os Correios ainda são uma empresa 100% estatal, com capital fechado. Isso significa que você não encontra ações da empresa na B3, a bolsa de valores brasileira. Em alguns momentos, o governo chegou a propor a privatização, inclusive com um projeto que avançou no Congresso durante o governo Bolsonaro, mas até agora, nada saiu do papel.

Com a mudança de governo, em 2023, o presidente Lula retirou os Correios do Programa de Privatizações, alegando que a empresa tem papel social essencial, especialmente nas regiões mais afastadas e carentes de infraestrutura.

Greves dos Correios: o histórico de paralisações

Quem acompanha minimamente o noticiário já percebeu: as greves nos Correios não são um fenômeno novo. Elas acontecem com frequência e, longe de serem apenas uma dor de cabeça para quem espera uma encomenda, mostram um cenário mais profundo, um retrato das dificuldades internas da empresa e da insatisfação dos trabalhadores que mantêm o serviço funcionando todos os dias.

Durante muito tempo, os Correios foram símbolo de estabilidade, tanto para quem trabalhava quanto para quem usava os serviços. Mas, nos últimos anos, a estatal tem enfrentado uma série de desafios que vêm se acumulando: cortes de direitos, precarização das condições de trabalho, pressão para privatização e, principalmente, uma gestão que muitos consideram desconectada da realidade da ponta.

A greve de 2020

Talvez você se lembre: em 2020, no auge da pandemia, os funcionários dos Correios protagonizaram a maior greve dos Correios em São Paulo e em todo o Brasil. Foram 35 dias de paralisação em meio a um cenário caótico, onde os profissionais estavam na linha de frente sem equipamentos adequados e sob enorme pressão.

A pauta da greve ia muito além do salário. Os trabalhadores protestavam contra a retirada de mais de 70 cláusulas do acordo coletivo, incluindo o vale-alimentação nas férias, o adicional de risco, a licença-maternidade estendida e diversos outros direitos históricos. Tudo isso em um momento em que o país inteiro vivia um clima de incerteza e medo.

O movimento foi encerrado por uma decisão do Tribunal Superior do Trabalho, que determinou o retorno ao trabalho e manteve boa parte dos cortes, algo que, até hoje, muitos funcionários consideram injusto. A greve de 2020 ficou marcada como um ponto de virada no relacionamento entre trabalhadores e direção da estatal.

A greve de 2024

Quatro anos depois, em setembro de 2024, os trabalhadores voltaram a cruzar os braços. Foram 16 dias de greve, desta vez com foco em pautas como reajuste salarial, melhorias no plano de saúde e um pedido urgente por concurso público, já que o número de funcionários é cada vez menor e a sobrecarga, maior.

Mesmo com a mediação do Tribunal Superior do Trabalho, o clima era de cansaço e frustração. No fim, os Correios ofereceram um reajuste de 3,69%, o tradicional vale-peru antecipado e um abono especial. Foi o suficiente para encerrar o movimento, mas não para resolver os problemas estruturais que afetam o dia a dia nas agências e centros de distribuição.

Leia também: Leilão dos Correios: conheça o funcionamento e como participar

A crise em 2025: prejuízo recorde e ameaça de nova greve

O ano de 2025 começou turbulento para os Correios. Desde janeiro, cresceram os rumores sobre uma nova greve, impulsionados por paralisações de transportadoras terceirizadas, atrasos nas entregas e um clima de tensão dentro das agências.

E a situação ficou ainda mais delicada com o balanço do primeiro trimestre de 2025, divulgado no dia 30 de maio: a empresa registrou um prejuízo de R$ 1,7 bilhão, o maior de sua história para um trimestre. Isso representa um aumento de 115% em relação ao mesmo período de 2024.

A principal preocupação agora é com o fluxo de caixa. O relatório interno dos Correios deixa claro que a continuidade operacional da empresa pode estar em risco caso medidas de reestruturação não sejam implementadas com urgência.

Segundo o documento, assinado pela atual presidência da estatal, sob comando de Fabiano Silva, o prejuízo reflete uma crise prolongada. Os Correios já acumulam 11 trimestres consecutivos no vermelho.

E a greve de junho?

Por enquanto, não há confirmação oficial de uma nova greve geral. No entanto, o clima é de insatisfação entre os trabalhadores. Muitos reclamam do atraso no pagamento das férias, suspensão do trabalho remoto e sobrecarga nas agências, especialmente com a demanda crescente por serviços integrados, como os do INSS.

O sindicato da categoria ainda não confirmou uma paralisação, mas bastidores indicam que a possibilidade de greve em junho é real, caso o governo não apresente uma solução concreta para equilibrar as finanças da estatal e atenda, ao menos em parte, as reivindicações da categoria.

Veja também: Justiça proíbe suspensão das férias dos funcionários dos Correios

Privatização dos Correios: em que pé está?

O debate sobre a privatização dos Correios não é novo. Durante o governo de Jair Bolsonaro, a proposta avançou e chegou a ser aprovada na Câmara dos Deputados. Mas, com a mudança de governo, o presidente Lula retirou os Correios do Programa Nacional de Desestatização em 2023.

Quem defende a venda da estatal acredita que ela ganharia mais competitividade, eficiência e modernização. Já quem é contra, teme que isso comprometa o atendimento em áreas remotas, encareça os serviços e gere demissões.

Correios e os aposentados: parceria com o INSS

Mesmo com os desafios, os Correios mostram disposição para se reinventar. Um bom exemplo disso é a parceria firmada com o INSS e o Ministério da Previdência, que começou em março de 2024.

Agora, é possível dar entrada em pedidos como o benefício por incapacidade temporária (o famoso “Atestmed”) diretamente em agências dos Correios. Isso facilita a vida de quem mora longe das capitais ou não consegue agendar atendimento digital com o INSS.

O projeto começou com um piloto em Fortaleza e Aracaju, e, com o sucesso, se espalhou para mais de 4.200 agências em 2025. A iniciativa também tem ajudado a reduzir o tempo de análise dos benefícios e pode gerar uma economia de até R$ 9,4 bilhões aos cofres públicos.

E agora? O que esperar dos próximos meses?

O futuro dos Correios permanece incerto. A estatal continua tendo relevância social e logística, principalmente em regiões afastadas, mas enfrenta dificuldades sérias de caixa, perda de mercado e pressão interna por mudanças.

Mesmo sem uma greve confirmada para junho de 2025, o clima de instabilidade já afeta a operação da empresa, com atrasos nas entregas, insatisfação do público e alerta máximo nos bastidores do governo federal.

A promessa de “continuidade operacional” feita pela presidência da empresa soa como um alívio temporário, mas sem um plano claro de reestruturação ou novos aportes financeiros, os próximos meses serão decisivos para o futuro dos Correios.

Continue acompanhando o Melhor Investimento e fique por dentro das últimas novidades do mercado financeiro!

Carolina Gandra

Jornalista do portal Melhor Investimento, especializada em criptomoedas, ações, tecnologia, mercado internacional e tendências financeiras. Transforma temas complexos como blockchain, inteligência artificial e estratégias de mercado em conteúdos acessíveis e envolventes. Com análises atuais e visão estratégica, ajuda leitores a decifrar o futuro dos investimentos e identificar oportunidades no mercado financeiro.