COE: veja o que ele ensina sobre investimentos diversificados
Com elementos de renda fixa e variável, o COE é a versão brasileira das Notas Estruturadas, já há muito conhecidas em mercados externos.”
Imagem: Envato Elements (Montagem: MI)
O equilíbrio entre segurança e rentabilidade é o ponto ideal para muitos investidores, e talvez seja por isso que o COE (Certificado de Operações Estruturadas) vem atraindo cada vez mais interesse. Unindo características da renda fixa e da renda variável, esse tipo de investimento se inspira nas notas estruturadas, amplamente utilizadas e consolidadas em mercados internacionais.
Mas como funciona o COE, e o que exatamente ele ensina sobre estratégias inteligentes de investimento?
O que é um COE e por que ele foi criado?
O COE é um tipo de investimento que combina elementos da renda fixa e da renda variável em um único produto. Ele oferece a possibilidade de obter ganhos ligados ao desempenho de ativos como ações, índices ou moedas, mas com uma estrutura que pode proteger parte ou todo o capital investido, dependendo do escolhido.
Segundo a ANBIMA, “o COE é um certificado emitido contra um investimento inicial e representa um conjunto de direitos e obrigações único e indivisível. O certificado combina características de investimento com uma estrutura de rentabilidades semelhante à de instrumentos financeiros derivativos”.
Em linhas práticas, ele funciona assim:
- O investidor faz um aporte,
- Em troca, ele recebe um título que está estruturado com base em cenários de mercado (como variação de ações, câmbio, inflação, índices internacionais etc.).
- Pode haver proteção do capital (ou seja: você recupera ao menos o valor investido se levar até o vencimento) ou capital em risco (há possibilidade de perda de parte ou total do principal) — conforme a modalidade contratada.
Finalidades
A regulamentação confirma que o instrumento foi criado para permitir que operações complexas de derivativos ou combinações de renda fixa/variável fossem oferecidas ao investidor de forma padronizada. A Resolução 4.263 do Conselho Monetário Nacional (CMN) de 5 de setembro de 2013 introduziu formalmente a modalidade.
Além disso, o COE passou a servir como uma alternativa de captação de recursos para bancos e instituições financeiras. Ou seja: além de servir ao investidor, permite que a instituição emissora monte operações estruturadas para captar dinheiro no mercado.
Como o COE combina renda fixa e risco de mercado?
Uma parte do investimento no COE é aplicada em instrumentos de renda fixa, como títulos ou ativos de baixo risco. Essa “camada” busca garantir que, em determinados casos, o valor investido seja devolvido ao investidor ao vencimento — ou ao menos limitar a perda.
Paralelamente, outra parcela menor do valor é alocada em ativos de renda variável, ou seja: moedas, índices de ações, commodities etc. É nessa parte que está a “aposta” de ganho maior, baseada em cenários de mercado favoráveis.
A estrutura funciona mais ou menos assim: o emissor — normalmente um banco — usa os recursos captados para montar uma operação que combine os dois tipos. Por exemplo: aplica grande parte em títulos de renda fixa + pequena parte em ativos que dependem da alta de um índice de ações ou câmbio.
Se o cenário previsto se concretiza, o investidor recebe retorno adicional. Se não, ele pode, dependendo da modalidade, receber apenas o valor principal ou até sofrer perdas. Tipos de COE.
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Tipos de COE
De maneira geral, os COEs podem ser classificados segundo dois grandes critérios: proteção do capital e modalidades de risco.
Proteção do capital
- Modalidade valor nominal protegido: garante que, ao vencimento, o investidor receba pelo menos o valor investido originalmente, mesmo em cenários de queda do ativo de referência
- Modalidade valor nominal em risco: não há essa garantia integral; o investidor aceita que parte ou todo o capital possa ficar em risco, em troca de potencialmente maiores retornos.
Modalidades de risco
- Risco de Crédito: funciona de forma análoga aos títulos de renda fixa, expondo o investidor à possibilidade de inadimplência. No caso do COE, o investidor está suscetível ao risco de crédito tanto do Banco Emissor do certificado quanto da entidade, país ou empresa de referência subjacente ao investimento (Entidade/Obrigação de Referência).
- Risco de Mercado: proporciona ao investidor uma exposição a ativos com volatilidade de mercado, como Renda Variável, Câmbio (Moedas) ou Matérias-Primas (Commodities). É importante notar que, apesar da exposição a esses ativos, o risco principal desta modalidade será sempre o risco de crédito da instituição que emitiu o Certificado de Operações Estruturadas (Banco Emissor do COE).
Qual tipo de COE se encaixa no seu perfil?
Para escolher o COE mais adequado, considere seu perfil de risco, horizonte de investimento e objetivo financeiro. Confira algumas concepções básicas que podem lhe ajudar nesse sentido:
- Perfil conservador: se você prioriza a segurança do capital e está menos disposto a correr riscos, o ideal é buscar COE de capital protegido, com ativos ou estratégias mais moderadas. (Ex: proteção total + índice de menor volatilidade).
- Perfil moderado: se você aceita algum risco em troca de maior retorno, pode considerar COEs com proteção parcial ou que envolvam ativos de risco moderado (ações, moedas estáveis) e prazos médios.
- Perfil arrojado (ou agressivo): se seu objetivo é retorno elevado e você entende os riscos envolvidos, pode olhar para COEs de capital em risco, com estratégias complexas ou ativos de alta volatilidade (commodities, mercados internacionais emergentes, alavancagem).
Outros fatores a considerar: prazo até o vencimento (COEs de risco maior costumam ter prazos variados), liquidez (muitas vezes limitada até o vencimento) e instituição emissora/contrapartida (risco de crédito).
Vale a pena investir em COE hoje? Veja o que dizem os especialistas
Ajustar o investimento ao perfil e não comprometer muito capital
- Segundo Alexandre Cabral (professor de finanças da Saint Paul Escola de Negócios), o COE é um produto indicado para investidores com apetite para risco e algum grau de conhecimento no mercado financeiro. “Eu enxergo o COE para pessoas que estão começando a querer sair da renda fixa pura e dar um ‘plus’ no seu investimento”, afirmou ao Data Mercantil
- Ele recomenda que se aplique apenas uma alocação limitada da carteira — por exemplo, no máximo 10% do patrimônio em COEs, em vez de comprometer recursos essenciais ou de reserva.
Liquidez, prazo e riscos de escolha errada importam muito
- Um dos alertas mais evidentes: muitos COEs têm carência, longos prazos (2 a 5 anos ou mais), e pouca liquidez antes do vencimento.
- Também há risco de crédito do emissor (o produto não conta com a proteção do Fundo Garantidor de Créditos – FGC).
- Valter Manfro, sócio da EQI Investimentos, em fala ao Eu Quero Investir, alerta que para quem não pode abrir mão da liquidez o COE não é indicado. Segundo ele, o instrumento melhor se adequa à quem pensa em um investimento a longo prazo.
Diversificação e realidade versus promessa de ganhos exuberantes
- O COE pode ser visto como uma alternativa de diversificação, considerando que ele mescla elementos de renda fixa e variável. Para a equipe de research da XP, uma das vantagens a se considerar é a flexibilidade em diferentes cenários. “Existem COEs em que se ganha em caso de alta, ou de queda do mercado, ou até mesmo em ambos os cenários”, comentam em publicação no Expert XP.
- Mas há vozes críticas. Em um artigo publicado pela revista VOCÊ S/A em 2022, a doutora em Finanças Tássia Kastner parte da premissa que o COE “é uma ilusão” para muitos investidores, justamente porque o ganho esperado muitas vezes não se concretiza e pode ficar abaixo de títulos públicos ou outras aplicações mais simples.
- “Eles prometem ser um investimento tipo “renda fixa”, mas com os ganhos da renda variável. A verdade é que são apostas, e podem custar caro quando você perde”, critica a especialista.
Riscos e escolhas do COE
- A especialista Myrian Lund, professora de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que “tem horror a COE” porque muitos desses produtos “tratam-se de uma aposta” em que “investidor pode ganhar ou não”. Segundo a planejadora financeira, o fato de o capital investido estar garantido confere ao COE um forte “apelo de venda”, dada a natural aversão ao risco demonstrada pelos investidores.
- Manfro afirma que “não existe COE ruim; mas COE mal escolhido pelo investidor” disse ao portal Eu Quero Investir. Ele destaca que o importante é entender a estrutura do produto — “o que vai dentro” dele. “Imagine um COE com exposição ao mercado de grafeno. Se o grafeno vai bem, o COE vai bem. Se o grafeno vai mal, o COE vai mal.”
Vantagens, riscos e cuidados antes de investir
Considerando as características do produto, as opiniões de especialistas e o histórico de desempenho de investimentos em COEs, é possível delinear algumas de suas principais vantagens, riscos envolvidos e as precauções necessárias antes de aplicar recursos no produto.
No espectro dos pontos a favor do investimento, geralmente se ressaltam: diversificação e acesso a mercados globais, estrutura de proteção de capital e tributação simplificada — os rendimentos dos COEs são tributados pela tabela regressiva do Imposto de Renda, similar à renda fixa.
No que diz respeito aos riscos, são frequentemente mencionados a ausência de proteção do FGC, a liquidez limitada, devido aos longos prazos de vencimento, e o risco de retorno inferior. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas indicou que grande parte dos COEs vendidos ao varejo apresentou retorno inferior à taxa livre de risco, como a do Tesouro Direto.
De forma geral, antes de investir, a ideia é considerar, antes de tudo, alguns aspectos básicos, como:
- Entender o ativo de referência, cenários de ganho e perda, prazo de vencimento, liquidez e taxas ou comissões envolvidas;
- Verifique se o COE combina com seu apetite para risco e seu conhecimento de mercado. Em geral, esse investimento é indicado para quem deseja diversificar além da renda fixa tradicional.
- Avalie quanto do seu patrimônio será destinado ao COE. Especialistas sugerem que ele represente apenas uma pequena parcela da carteira
- Analise o risco apresentado pelo emissor. Ou seja, confira a solidez do banco emissor, haja visto que o investimento está sujeito a risco de crédito.
Leia também: Renda fixa digital x Renda fixa tradicional: entenda as principais diferenças
Como investir em COEs?
Em suma, o investimento nesses certificados inclui as seguintes etapas:
- Abrir conta/selecionar instituição financeira: escolha um banco ou que ofereça COEs ao investidor pessoa física, e que seja regulada e confiável.
- Verificar o prospecto/documento de informações essenciais (DIE): antes da aplicação, exija o Documento de Informações Essenciais (DIE), no qual constam emissor, regras, datas de início e vencimento, ativo de referência, se há proteção do capital ou não.
- Escolher o COE adequado ao perfil: avalie modalidades (capital protegido ou em risco), ativo-referência (índices, câmbio, ações internacionais etc.), prazo, liquidez, potencial de retorno e risco.
- Aplicar o valor mínimo exigido: observe o valor mínimo para aplicação — pode variar bastante de produto para produto. Alguns COEs exigem aportes relativamente altos.
- Acompanhar e manter até o vencimento, se possível: muitos COEs funcionam com “capital protegido” apenas se o investidor mantiver o título até o vencimento. Resgates antecipados podem implicar perdas ou deságio.
- Imposto de Renda: Lembre-se que os rendimentos de COE são tributados conforme tabela regressiva do IR (como em renda fixa).
⚠️Nota: As informações disponibilizadas nesta página têm caráter informativo e não configuram recomendação, sugestão ou indicação de compra, venda ou manutenção de ativos financeiros.
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