Empresas brasileiras já sentem impacto das tarifas de Trump
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou tarifas de 50% sobre todas as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto de 2025.
Arte: Melhor Investimento
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou no dia 9 de julho de 2025 a aplicação de tarifas de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil. A medida, que entrará em vigor a partir de 1º de agosto, afetará diretamente importantes setores da economia brasileira, como o agronegócio e a indústria de base.
A justificativa, segundo Trump, seria uma retaliação às decisões judiciais brasileiras envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. O impacto nas exportações brasileiras preocupa empresários, investidores e o governo federal, especialmente diante de um ambiente econômico doméstico já pressionado pela alta da taxa Selic.
Empresas brasileiras enfrentam perdas com tarifas de Trump
A nova tarifa de importação de 50% imposta pelo governo americano representa um forte golpe sobre a competitividade dos produtos brasileiros no mercado dos EUA, tradicionalmente um dos principais destinos das exportações nacionais. Entre os setores mais atingidos estão o de carnes, com destaque para carne bovina e de frango, café, aço, alumínio e aeronaves. A escalada tarifária deve gerar perda de participação de mercado e redução das receitas de exportação.
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“A tarifa de 50% imposta por Trump tem o potencial de inviabilizar a competitividade dos produtos brasileiros no mercado americano, um dos maiores destinos das exportações do Brasil.” afirma Antonio Nogarotto, assessor de investimentos da filial de Santo André da InvestSmart.XP
Grandes empresas brasileiras que operam com forte presença internacional já sentem os reflexos da medida. A Embraer, uma das maiores exportadoras do setor aeronáutico, viu suas ações caírem logo após o anúncio. Já a Suzano, referência na produção de celulose, e a Minerva, gigante do setor de carnes, também enfrentaram oscilações negativas no mercado. A empresa Weg, reconhecida globalmente por sua atuação em equipamentos elétricos e industriais, entrou no radar de preocupação dos investidores.
“A imposição de uma taxa tão elevada torna as exportações brasileiras significativamente mais caras, reduzindo a demanda e, consequentemente, o volume de vendas para os EUA. Isso pode levar à compressão de margens de lucro, redução de investimentos e, em casos mais extremos, à necessidade de reestruturação de operações ou busca por novos mercados.” explica Antônio.
Com a elevação de custos para comercializar seus produtos nos EUA, essas companhias podem enfrentar desafios para manter margens de lucro, o que pode resultar em cortes de investimentos, realocação de operações ou até redirecionamento de exportações para outros mercados.
Mercado financeiro reage e Selic alta agrava o cenário
A decisão de Trump chega em um momento de vulnerabilidade interna. A taxa Selic, atualmente em 15% ao ano, já dificulta o acesso ao crédito e encarece o custo de capital para as empresas. A alta dos juros afeta diretamente a capacidade de investimento do setor privado, justamente quando a economia brasileira precisaria de mais estímulos para crescer e enfrentar os choques externos.
O mercado financeiro respondeu com cautela e volatilidade. O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, fechou em queda de 1,31% no dia seguinte à declaração de Trump, aos 137.481 pontos. Ao mesmo tempo, o dólar comercial se valorizou 1,06%, atingindo R$ 5,62, refletindo o aumento da aversão ao risco por parte dos investidores. Empresas exportadoras puxaram o recuo do índice, demonstrando como o cenário internacional pode rapidamente afetar os ativos domésticos.
Esse ambiente se soma a outras pressões econômicas, como inflação persistente e incertezas políticas, dificultando ainda mais a retomada consistente do crescimento.
Governo brasileiro cogita retaliações, mas riscos são elevados
Em resposta ao ataque tarifário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que o Brasil pode adotar medidas retaliatórias. Entre as ações estudadas estão a imposição de tarifas sobre produtos norte-americanos e até a quebra de patentes farmacêuticas dos Estados Unidos, um passo polêmico que pode afetar diretamente o acesso da população a medicamentos e comprometer acordos comerciais internacionais.
Analistas ouvidos apontam que uma retaliação direta pode desencadear uma guerra comercial, o que ampliaria a instabilidade econômica e provocaria novos aumentos de preços em bens importados — pressionando ainda mais a inflação e o consumo interno. O risco, segundo especialistas, é de um ciclo de sanções mútuas que prejudique ambos os países, em especial o Brasil, que tem menos poder de barganha em escala global.
O governo estuda formas de compensar perdas, como incentivos à diversificação de mercados e o reforço de acordos comerciais com outras regiões, incluindo Ásia, Europa e América Latina.
Exportadores precisam rever estratégias para enfrentar crise tarifária
Com a escalada das tarifas, empresas exportadoras brasileiras terão que rever urgentemente suas estratégias comerciais. O foco agora passa a ser a diversificação de mercados, a busca por acordos bilaterais mais favoráveis e o reforço das cadeias logísticas voltadas para países que mantenham relações comerciais estáveis com o Brasil.
Setores como o agronegócio, que historicamente têm nos EUA um parceiro importante, precisarão acelerar negociações com mercados alternativos, como China, Oriente Médio e União Europeia, onde o Brasil já tem presença, mas ainda enfrenta barreiras tarifárias e sanitárias.
Especialistas também destacam a necessidade de o Brasil reforçar sua diplomacia comercial e buscar soluções conjuntas com blocos econômicos como o Mercosul. A ampliação de acordos de livre comércio e a modernização da política industrial podem ser estratégias eficazes de médio e longo prazo para reduzir a vulnerabilidade a decisões unilaterais como a adotada por Trump.