IPCA de maio: inflação desacelera, mas serviços resistem e Selic deve permanecer alta
A notícia detalha que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio de 2025 surpreendeu positivamente ao desacelerar, ficando abaixo das expectativas do mercado.

A inflação oficial no Brasil, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), surpreendeu positivamente em maio de 2025 ao apresentar uma desaceleração, vindo abaixo das expectativas do mercado. Contudo, apesar da boa notícia pontual, a persistência da alta nos preços dos serviços lança um alerta para os economistas e pode manter o Banco Central (BC) em uma postura conservadora, com a taxa Selic possivelmente estacionada em 14,75% nas próximas reuniões.
Desaceleração do IPCA
O IPCA de maio registrou um aumento de 0,26% na comparação mensal, valor inferior à estimativa consensual de 0,32% do mercado. Como resultado, a inflação anualizada do país recuou de 5,53% em abril para 5,32% em maio, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã de 10 de junho de 2025. Essa tendência de arrefecimento, observada nos últimos meses, foi impulsionada principalmente pela queda nos preços da gasolina e de bens duráveis, conforme apontado por análises como a da XP Investimentos. A valorização do câmbio também foi um fator externo que contribuiu para essa surpresa negativa nos preços de alguns itens.
Apesar da desaceleração geral, a atenção dos especialistas se volta para os núcleos do indicador, que revelam a resiliência dos preços dos serviços. Mesmo com uma moderação no mês passado, a inflação de serviços continua acelerando. Em 12 meses, os serviços básicos alcançaram 6,75%, o maior patamar desde maio de 2023. A XP Investimentos projeta que esse indicador possa avançar para 7,1% em 2025, impulsionado por um mercado de trabalho aquecido e expectativas de inflação elevadas.
Copom e a manutenção da taxa Selic
Diante desse cenário de inflação com componentes persistentes, a maioria das projeções para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima semana (reunião entre 18 e 19 de junho de 2025) aponta para a manutenção da taxa Selic em 14,75% anuais. A XP Investimentos, por exemplo, considera a leitura do IPCA de maio consistente com a visão de que o Copom não fará alterações nos juros. Embora alguns economistas ainda vejam uma pequena possibilidade de uma alta residual para 15%, o tom geral do comunicado do Banco Central deverá ser conservador.
André Valério, economista sênior do Inter, corrobora essa visão, indicando que o resultado de maio sugere um arrefecimento da inflação maior que o esperado. Ele acredita que a inflação de alimentos deve continuar perdendo pressão devido à sazonalidade, e a queda nos preços das commodities no mercado internacional pode levar a novos cortes no preço da gasolina pela Petrobrás. Valério também ressalta que o aperto monetário em curso deve seguir contendo a atividade econômica, o que, por sua vez, alivia a pressão sobre a inflação de demanda.
Fim do ciclo de alta da Selic? Perspectivas econômicas
A questão sobre o fim do ciclo de alta da taxa Selic é central nas discussões econômicas. Para Luis Otávio Leal, sócio e economista-chefe da G5 Partners, o IPCA de maio, embora seja apenas um dado isolado, oferece uma esperança de que o pior do processo inflacionário pode ter ficado para trás. Ele prevê oscilações com viés de baixa na inflação acumulada em 12 meses, estimando que o IPCA possa fechar 2025 em 5,30%. Leal reforça a percepção de que o Copom manterá os juros em 14,75% ao ano até, pelo menos, o final de 2025, sem espaço para quedas no curto prazo, mas também sem a necessidade de novas elevações.
O Itaú, apesar da surpresa positiva na quebra do núcleo, com os serviços subjacentes pressionando acima do esperado, avaliou qualitativamente os dados de forma positiva. O núcleo médio da inflação ficou em linha com a projeção do banco e, pela primeira vez no ano, se aproximou da faixa consistente com a meta ajustada para sazonalidade. Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, também atribuiu a surpresa positiva de maio aos bens industriais, que surpreenderam de forma generalizada, especialmente o setor de vestuário. No entanto, ela também reforça o alerta para o segmento de serviços, que continua mostrando resiliência.
Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital, vê o resultado do IPCA de maio como um alívio para o Banco Central, abrindo espaço para a discussão sobre a manutenção da taxa de juros na próxima reunião do Copom.
Desafios e pressões inflacionárias atuais
Apesar da desaceleração recente, o cenário ainda apresenta intensas pressões inflacionárias, o que exige cautela. O Goldman Sachs, por exemplo, destaca que as expectativas de inflação de curto e médio prazo ainda estão desancoradas, o hiato do produto é positivo, o mercado de trabalho está aquecido e há medidas recorrentes de estímulo fiscal e de crédito. Todos esses fatores, em conjunto, demandam uma calibração conservadora da política monetária.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, concorda que os dados do IPCA vieram melhores do que o esperado do ponto de vista qualitativo. Ele aponta que as variações mensais de bens industriais, serviços, serviços subjacentes, serviços intensivos em mão de obra e a média dos núcleos – itens acompanhados de perto pelo Banco Central – apresentaram desaceleração entre abril e maio. O índice de difusão, que mede o espalhamento da inflação entre os diferentes itens da cesta, também arrefeceu no período. Apesar disso, a Suno Research mantém a expectativa de uma alta de 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Copom, embora reconheça que, caso os próximos dados sejam mais benignos, o ciclo de alta de juros possa ter chegado ao fim.
A resiliência dos serviços e o caminho da política monetária
Para Matheus Pizzani, economista da CM Capital, a composição do IPCA de maio se mostrou “significativamente positiva” do ponto de vista da política monetária. Ele ressalta que os preços administrados (+0,7%) foram os principais responsáveis pela variação do indicador, enquanto os preços livres (+0,11%) contribuíram com uma parcela diminuta e consolidaram a trajetória de desaceleração.
O ponto que ainda demanda maior nível de cautela do Banco Central, segundo Pizzani, é a inflação de serviços. Este grupo, de fato, tende a ser mais resiliente, uma situação agravada pelo mercado de trabalho apertado, o crescimento da renda média das famílias e uma mudança gradual, mas relevante, na cesta de consumo dos brasileiros. Essa mudança para uma maior demanda por serviços torna a tarefa da política monetária mais desafiadora, já que essa nova categoria de serviços depende menos do crédito e mais da renda disponível.
A CM Capital projeta que o atual ciclo de aperto monetário já foi encerrado e não prevê reajustes adicionais da Selic para as próximas reuniões de 2025. Na visão da CM Capital, a materialização de uma trajetória de fato descendente nas projeções de médio prazo do IPCA pode abrir caminho para o Banco Central iniciar seu ciclo de distensão monetária ainda no final de 2025, promovendo cortes na taxa Selic em suas últimas reuniões do ano.