Riscos fiscais nos EUA e no Brasil podem frear o ímpeto da Bolsa brasileira
Os riscos fiscais tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil têm gerado um ambiente de cautela no mercado financeiro, impactando negativamente o desempenho da Bolsa brasileira, especialmente o Ibovespa.

O mercado acionário brasileiro enfrenta um momento de cautela diante dos riscos fiscais nos EUA e no Brasil, fatores que podem diminuir o ímpeto da Bolsa brasileira, especialmente do Ibovespa. Após alcançar a marca de 140 mil pontos na última terça-feira (20), o principal índice da bolsa brasileira registrou forte queda na quarta-feira, refletindo preocupações tanto com a situação fiscal doméstica quanto com os impactos das políticas econômicas norte-americanas.
Riscos fiscais nos EUA e no Brasil pressionam o Ibovespa e desafiam otimismo
O Ibovespa, referência do mercado acionário brasileiro, voltou a oscilar com forte pressão negativa após um período de valorização. A queda de 1,59% registrada na quarta-feira levou o índice para abaixo dos 140 mil pontos, mesmo com projeções positivas e a entrada de investidores estrangeiros no mercado local. A combinação dos riscos fiscais nos EUA e no Brasil tem gerado um ambiente de maior aversão ao risco.
Segundo Kevin Oliveira, sócio e advisor da Blue3, “o avanço dos juros futuros nos EUA tem sido uma importante fonte de pressão para a baixa da Bolsa brasileira, sobretudo após o Ibovespa registrar forte alta recentemente e iniciar um movimento de realização de lucros”.
Além disso, os juros pagos por títulos públicos brasileiros vêm subindo, refletindo a influência do cenário externo. Na última quarta-feira, os juros prefixados de longo prazo ultrapassaram os 14% ao ano, enquanto os juros reais dos títulos indexados à inflação superaram 7%, pressionando ainda mais a renda variável doméstica.
Cenário fiscal nos EUA: pacote de gastos e impactos no Brasil
O ambiente fiscal norte-americano está mais tenso após a aprovação pela Câmara dos Deputados dos EUA da proposta ampla de reformas tributárias e aumento dos gastos públicos defendida pelo presidente Donald Trump. Economistas estimam que essa legislação poderá elevar a dívida dos EUA em US$ 3 trilhões a US$ 5 trilhões na próxima década.
Essa perspectiva preocupa investidores, pois a elevação da dívida pública tende a pressionar a inflação, o que reduz a possibilidade de cortes nos juros americanos a curto prazo. A expectativa atual é de que eventuais reduções só ocorram a partir de setembro, mantendo os juros elevados em junho e julho.
A elevação dos juros nos EUA tem efeito direto sobre os mercados emergentes, como o Brasil, ao encarecer o custo do capital e aumentar a pressão para a alta das taxas domésticas. A Moody’s, agência de classificação de risco, já rebaixou recentemente a nota de crédito dos EUA, reforçando o clima de cautela global.
Expectativa para o cenário fiscal no Brasil
No Brasil, o mercado aguarda com atenção a divulgação do Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias, marcada para esta quinta-feira às 14h30, seguida de entrevista dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet. O relatório deverá indicar um congelamento orçamentário de cerca de R$ 10 bilhões, o que resultaria em um déficit primário de 0,26% do PIB.
Para alcançar a meta fiscal de resultado primário zero, o governo precisaria realizar bloqueios e contingenciamentos adicionais da ordem de R$ 40 bilhões, o que ainda não está garantido.
Tiago Sbardelotto, economista da XP, destaca que “se o governo sinalizar uma política fiscal mais austera e implementar cortes relevantes, o mercado pode reagir positivamente”. No entanto, ele alerta que a execução orçamentária deste ano, bem como as medidas recentes de receita, indicam a necessidade de contingenciar cerca de R$ 25 bilhões para cumprir a meta.
Possíveis soluções para o ajuste fiscal brasileiro
Apesar do cenário desafiador, existem alternativas para melhorar as projeções fiscais no Brasil. O governo pode buscar novas medidas de aumento de receita ou reestimar parâmetros econômicos para ampliar a arrecadação sem recorrer a cortes severos.
Além disso, há planos para ofertar excedentes da União provenientes de áreas do pré-sal, o que pode garantir uma receita extraordinária de aproximadamente R$ 30 bilhões. Esse montante poderia contribuir para o cumprimento da meta fiscal sem a necessidade de bloqueios expressivos.
Contudo, especialistas como José Raymundo Faria Junior, diretor da Wagner Investimentos, alertam que “cumprir a meta fiscal com receitas extraordinárias é um sinal negativo, pois não indica sustentabilidade fiscal no longo prazo”.