A recente alta da taxa Selic trouxe novos desafios para as empresas de shoppings listadas na Bolsa, com reflexos imediatos nas expectativas de crescimento e rentabilidade do setor. Os analistas do Bradesco BBI revisaram suas projeções para as administradoras de shoppings, cortando os preços-alvo das ações em cerca de 20%, refletindo uma visão mais conservadora sobre o desempenho do setor até 2025. Neste artigo, vamos explorar o impacto da Selic mais alta para as empresas de shoppings, os movimentos das principais ações e o cenário que se desenha para 2025.

Aumento da Selic: como afeta o setor de shoppings?

Com a Selic elevada em 15,5%, o Bradesco BBI revisou suas projeções de crescimento para as administradoras de shoppings. O banco apontou que o cenário de juros altos prejudica a atratividade das ações dessas empresas no curto prazo, uma vez que o custo de capital mais alto aumenta a dificuldade para expandir e desenvolver novos projetos. Esse movimento impacta diretamente o valor das ações das empresas de shoppings, levando a uma redução dos preços-alvo.

De acordo com os analistas, o Brasil está em um ponto do ciclo de investimentos em que a alta da Selic torna as empresas mais conservadoras e dificulta o crescimento. As ações de shoppings tradicionalmente se destacam quando a economia está mais estável, com uma Selic mais baixa e um crescimento moderado. Esses fatores tornam as empresas do setor mais atraentes devido à sua capacidade de gerar renda passiva, especialmente através de aluguéis.

Além disso, o aumento da Selic torna o custo da área bruta locável (ABL) mais caro, o que pode dificultar as expansões das redes de shoppings. Fusões, aquisições e novos projetos imobiliários ficam mais onerosos, o que pode impactar os resultados financeiros das empresas no médio prazo.

Recomendações de investimento para as ações de shoppings

Em meio a esse cenário desafiador, o Bradesco BBI manteve uma preferência marginal pelas ações da Allos (ALOS3) e Iguatemi (IGTI11), apesar da revisão de preços-alvo. O preço-alvo da Allos foi reduzido de R$ 35 para R$ 28, e o da Iguatemi passou de R$ 34 para R$ 26. A Allos é vista com bons olhos devido à sua alavancagem mais baixa (1,4x) e a perspectiva de maiores dividendos no próximo ano, com uma taxa de retorno prevista de 9,2%, superior à de seus pares.

Por outro lado, a Iguatemi é considerada uma empresa com boas perspectivas de crescimento, com aumento nas receitas de aluguel e custos de ocupação mais baixos, além de um valuation atraente (7,3 vezes P/FFO). As expectativas para o aumento de aluguéis da Iguatemi também são positivas, com projeção de um desempenho sólido no mercado de shoppings.

O caso da Multiplan

A Multiplan (MULT3), uma das maiores administradoras de shoppings do Brasil, também foi impactada pela alta da Selic, mas ainda apresenta um prêmio de avaliação em relação aos seus pares. A empresa foi um dos principais destaques no 4T24, com a recompra de ações no valor de R$ 2 bilhões, o que foi bem recebido pelos analistas como um exemplo positivo de governança e alocação de capital.

Apesar da redução do preço-alvo de R$ 37 para R$ 31, o BBI manteve sua recomendação de compra para as ações da Multiplan, devido à avaliação relativamente atraente em termos de múltiplos (9,3 vezes P/FFO) e a taxa interna de retorno (TIR) de 10,6%, ainda favorável quando comparada a outros ativos do mercado. No entanto, o aumento das taxas de juros pode atrasar os benefícios dessa recompra de ações, o que gera certa frustração entre os analistas.