As taxas dos títulos do Tesouro Direto continuam atingindo máximas históricas, refletindo a disputa de discursos entre o governo federal e o Banco Central.

Nesta terça-feira (02), após novas falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticando o BC e mencionando possível intervencionismo no câmbio, a taxa do Tesouro IPCA+ 2035 subiu 0,11 ponto percentual, alcançando 6,58%, superando o recorde anterior de 6,47% estabelecido na véspera.

Vale lembrar que a última vez que um juro real dessa magnitude foi registrado para este título foi em julho de 2015, nove anos atrás. Naquela época, no entanto, o título com vencimento mais longo era o equivalente ao atual Tesouro IPCA+ 2045.

O principal título de inflação renovou seus recordes nos últimos dois dias e deverá continuar nessa trajetória.

Uma análise da equipe de Research da XP mostrou que as NTN-Bs (Tesouro IPCA+) pagaram um prêmio nesse nível em 30,7% do tempo desde 2009. Dois eventos impulsionaram os papéis a este juro real: a crise do subprime em 2008, nos EUA, e a crise política interna no Brasil, culminando em 2016. A taxa atual remete aos níveis de juro real de 2015/2016.

Os títulos de inflação com vencimento mais curto, como o IPCA+ 2029, também registraram novas máximas. Subiram do recorde de 6,49% da véspera para 6,65% hoje, um aumento de 0,16 ponto percentual, a maior variação do dia. O histórico desse título, disponível no site do Tesouro Direto desde janeiro de 2023, mostra que este é um recorde absoluto.

Além disso, o Tesouro IPCA+ 2045 teve o menor aumento, de 6,48% para 6,53%. O último registro de um juro real dessa magnitude foi em março de 2023. 

Falas de Lula que movimentaram o Tesouro Direto

O principal motivo para a elevação das taxas nesta terça-feira foi o ruído político causado pelas declarações do presidente Lula. O líder do Executivo tem criticado o Banco Central desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Durante uma entrevista concedida nesta manhã, Lula reafirmou que o BC deve prestar contas à população, especialmente aos mais pobres, e não ao mercado. O presidente é contrário ao atual patamar da taxa de juros, e o mercado está atento às possíveis mudanças com o término do mandato do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, em dezembro de 2024, e à nomeação de um diretor mais alinhado às ideias do presidente do país.

Acompanhando as incertezas do mercado e o cenário externo, o dólar alcançou a maior cotação em mais de dois anos frente ao real, atingindo R$ 5,70 nas negociações intradiárias.

Gabryella Mendes

Redatora do Melhor Investimento.