Brasil prepara plano de contingência diante de tarifas dos EUA, diz Haddad
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo brasileiro prepara um plano de contingência para proteger a economia diante da ameaça de tarifas dos Estados Unidos.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (21) que o governo brasileiro está elaborando um plano de contingência para lidar com as possíveis tarifas dos Estados Unidos (EUA) contra produtos nacionais. O anúncio foi feito durante entrevista à rádio CBN, em meio à crescente tensão comercial entre os dois países. De acordo com o ministro, o foco do Brasil é proteger sua economia — e não retaliar Washington.
Estratégia brasileira busca proteger a economia, não retaliar os EUA
A iniciativa do governo brasileiro surge como resposta à ameaça de novas tarifas dos Estados Unidos sobre produtos exportados pelo Brasil. Haddad destacou que, embora o país esteja preparado para reagir, o plano não visa punições, mas sim medidas que evitem prejuízos econômicos ao setor produtivo nacional.
“Nosso objetivo não é retaliar. É chamar atenção para o fato de que essas ações são contraproducentes. Não colaboram nem com eles, nem conosco”, afirmou o ministro, reforçando que qualquer ação adotada será previamente avaliada e discutida com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo Haddad, a equipe econômica está estudando todas as possibilidades com base em dados técnicos e impactos reais. A intenção é evitar medidas simbólicas que acabem sendo prejudiciais para os próprios brasileiros. “Tem medida que é inócua, vai ferir mais a economia brasileira [do que ajudar]”, afirmou.
Suco de laranja é exemplo de tarifa com efeito negativo
Durante a entrevista, Haddad citou como exemplo uma possível tarifa sobre o suco de laranja brasileiro, produto tradicionalmente exportado aos EUA. Para ele, uma ação como essa só traria prejuízo tanto para os produtores nacionais quanto para os consumidores americanos.
“O que se ganha com isso? Quem ganha com isso? Perde o consumidor americano, só isso. E perde o produtor brasileiro. Você destrói uma cadeia produtiva bem encadeada”, criticou o ministro, demonstrando preocupação com o impacto em setores bem estruturados da economia.
A cadeia produtiva do suco de laranja, que envolve milhares de empregos e um volume expressivo de exportações, poderia ser desorganizada com a imposição de tarifas que aumentem os custos e reduzam a competitividade do produto brasileiro no mercado norte-americano.
Haddad defende diálogo racional e transparente com os EUA
Apesar da tensão, o governo brasileiro afirma estar comprometido com um diálogo racional e técnico. Haddad pediu que os Estados Unidos esclareçam quais interesses estão por trás das possíveis tarifas. “É o etanol de milho o problema? É a balança de serviços? É a taxação das big techs? Do que nós estamos falando?”, questionou.
Essa abordagem busca estabelecer uma base sólida de negociação, evitando reações impulsivas e buscando compreender os reais objetivos da política tarifária americana. O ministro também reforçou que o Brasil está aberto a discutir alternativas que não prejudiquem as economias envolvidas.
Empresariado brasileiro atua nos EUA contra tarifas
Haddad também elogiou o papel do setor empresarial brasileiro, que vem se mobilizando junto ao Congresso dos Estados Unidos e a empresários locais para alertar sobre os riscos das medidas protecionistas. “Eles estão engajados em fazer com que o Congresso americano e os empresários locais levem um pouco de luz às autoridades dos Estados Unidos”, declarou.
Essa articulação direta busca fortalecer os laços comerciais e impedir que decisões políticas prejudiquem setores estratégicos da economia brasileira. Para o governo, esse tipo de atuação pode ser decisivo para conter o avanço de políticas comerciais prejudiciais.
Lula mantém capital diplomático; EUA enfrentam desgaste externo
Apesar da resistência do governo Trump em abrir canais de comunicação com o Executivo brasileiro, Haddad acredita que o presidente Lula ainda detém um importante capital diplomático internacional. O ministro também lembrou que os Estados Unidos têm enfrentado dificuldades em suas relações externas com diversos países, inclusive com parceiros tradicionais como o Canadá.
Para Haddad, o isolamento crescente dos EUA no cenário global reforça a necessidade de que o Brasil atue com cautela, mas com firmeza, defendendo seus interesses por meio de canais diplomáticos e técnicos.