Shein anuncia fabricação de roupas no Brasil, gerando empregos e impulsionando a economia local
Em um evento de grande repercussão na última semana, Marcelo Claure, presidente da Shein na América Latina, anunciou a fabricação de roupas pela gigante chinesa de moda no estado do Rio Grande do Norte. A revelação foi feita na presença da governadora Fátima Bezerra (PT) e do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A produção está prevista para começar ainda neste mês.
A Shein conquistou imensa popularidade, especialmente entre os consumidores jovens, ao combinar designs modernos encontrados nas redes sociais com a acessibilidade das roupas importadas da China.
Desse modo, na tentativa de rebater as acusações de evasão fiscal e contrabando digital, e também de aliviar a pressão dos concorrentes por regulamentação governamental, a empresa decidiu investir no “Made in Brazil”, com a promessa de gerar milhares de empregos.
De acordo com a assessoria de imprensa da empresa, o estado nordestino não será o único fornecedor de roupas para a marca. Já existem 151 fábricas cadastradas no Mato Grosso, Paraná e São Paulo.
Programa Pró-Sertão
Parte da produção no Rio Grande do Norte ficará a cargo de uma fábrica pertencente à Coteminas, localizada no município de Macaíba, na região metropolitana de Natal. O grupo empresarial pertence à família de Josué Gomes, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e filho de José Alencar, que foi vice-presidente nos dois primeiros mandatos de Lula.
No entanto, a Shein também será abastecida por uma rede de pequenas oficinas de costura espalhadas pelos municípios do sertão do Seridó, uma região historicamente afetada pela seca. Em 2013, o governo do estado criou o programa Pro-Sertão, com o objetivo de “interiorizar” a atividade têxtil para gerar emprego e renda.
Como parte do programa, 2.000 profissionais de costura foram capacitados em 40 municípios por meio de uma parceria entre o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e o Instituto Federal, responsável pela oferta de cursos técnicos. Além disso, o setor tem se beneficiado de incentivos fiscais, como a redução do ICMS, nos últimos quatro anos.
Para reduzir custos em suas próprias fábricas, empresas renomadas do setor da moda nacional, como Riachuelo e Hering, já terceirizaram uma parte significativa de sua produção para essas oficinas, também conhecidas como “facções”.
Segundo Jaime Calado, secretário estadual de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte, já existem mais de cem oficinas aptas a produzir roupas para grandes marcas e varejistas. O plano é expandir ainda mais.
“Dos 2.000 contratos que a Shein vai estabelecer no Brasil, esperamos ter pelo menos 200 aqui no estado. Isso significará mais empregos”, afirmou o secretário em entrevista exclusiva para esta coluna.
Questões trabalhistas e uma “Nova Era”
Nos primeiros anos do programa Pro-Sertão, houve relatos de más condições de trabalho nas oficinas do Seridó. As reclamações mais comuns envolviam emprego sem registro em carteira, salários abaixo do mínimo e jornadas excessivas para cumprir metas de produção.
De acordo com uma série de reportagens da agência Repórter Brasil em 2015, doenças ocupacionais, como as lesões por esforço repetitivo e os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/DORT), também chamaram a atenção do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Rio Grande do Norte, que estabeleceu um programa específico para lidar com o problema.
“Estamos vivendo uma nova era”, afirmou o secretário estadual quando questionado sobre o assunto. “Atualmente, as oficinas possuem o selo Abvtex, o que garante a qualidade necessária para fornecer às grandes redes de varejo. Isso inclui o monitoramento das condições de trabalho”, acrescentou Jaime Calado.
O “selo” ao qual o secretário se refere é o programa de certificação da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex). Segundo Edmundo Lima, diretor-executivo da entidade, “a Abvtex e alguns varejistas associados têm feito esforços para melhorar as condições de trabalho nas oficinas locais e formalizar as empresas”.
De acordo com a associação, as 133 oficinas certificadas geram cerca de 19.000 empregos. A promoção da saúde e segurança e o combate à violência contra as mulheres também fazem parte do programa.
Lima também comenta a intenção da Shein de levar a produção de suas roupas para o interior do Rio Grande do Norte. “Precisamos acompanhar a estratégia das plataformas internacionais na cadeia produtiva brasileira para evitar qualquer retrocesso em tudo o que estamos construindo e transformando”, acrescentou.
Posição da Shein
Em comunicado, a assessoria de imprensa da Shein afirma que “a empresa está comprometida em gerenciar sua cadeia de suprimentos de forma responsável”.
Além disso, o documento afirma que todos os fornecedores devem cumprir um código de conduta baseado nas convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e na legislação local, sob pena de rescisão do contrato, quando necessário.
“No Brasil, gostaríamos de ressaltar que todos os fornecedores com os quais a Shein trabalha para produzir roupas localmente são empresas que operam sob mecanismos de governança reconhecidos, como os utilizados pela Abvtex”, diz o texto.
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