IPCA desacelera em junho com alívio nos preços da gasolina e alimentos
A inflação oficial medida pelo IPCA deve desacelerar para 0,23% em junho, segundo projeções do Boletim Focus.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador da inflação no Brasil, deve mostrar uma nova desaceleração em junho. De acordo com o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, a expectativa do mercado é de uma alta de apenas 0,23%. O dado oficial será conhecido nesta quinta-feira (10) e confirma uma tendência de alívio inflacionário já observada nos últimos meses.
Desde fevereiro, o IPCA vem perdendo força: o índice registrou variações mensais de 1,31%, 0,56%, 0,43% e 0,26%, respectivamente até maio. Agora, os analistas apontam para um avanço ainda menor, impulsionado por fatores como a queda nos preços de combustíveis e alimentos in natura.
Alimentos e gasolina puxam a inflação para baixo
O comportamento do IPCA em junho reflete, principalmente, a deflação observada em dois segmentos de peso no consumo das famílias: alimentos e combustíveis. A redução nos preços da gasolina, motivada por cortes nas refinarias, tem contribuído diretamente para o arrefecimento do índice.
Além disso, alimentos in natura como frutas, verduras, arroz, feijão e ovos devem registrar recuos expressivos, segundo projeções do banco Daycoval. A instituição aponta a sazonalidade do período como fator-chave para esse movimento, comum nos meses de colheita e maior oferta de produtos agrícolas.
Já a Monte Bravo, consultoria especializada, destaca que os bens industriais também devem colaborar para conter a inflação, com destaque para eletroeletrônicos. Isso ocorre devido à reversão parcial do impacto da depreciação cambial, o que reduziu a pressão de custos sobre os preços finais.
Energia elétrica e carnes limitam desaceleração do IPCA
Apesar do alívio geral, nem todos os grupos apresentam queda. O setor de energia elétrica, por exemplo, deve pressionar o IPCA para cima em junho. A adoção da bandeira vermelha 1, determinada pela escassez hídrica e menor geração de energia, encarece a conta de luz dos consumidores e limita a desaceleração inflacionária.
As carnes vermelhas também continuam registrando aumentos, ainda que em ritmo mais moderado. Esse comportamento reflete, em parte, custos elevados na cadeia produtiva e demanda interna estável.
Serviços têm alta moderada, mas núcleo segue pressionado
Outro ponto de atenção é o grupo de serviços, que deve apresentar uma alta mais contida neste mês. Gastos com alimentação fora do lar, transporte por aplicativos e serviços automotivos são os principais responsáveis por esse avanço. De acordo com analistas, o núcleo de serviços, que desconsidera itens mais voláteis, deve subir 0,43% em junho, acumulando alta de 6,8% em 12 meses.
Os chamados serviços subjacentes, aqueles mais sensíveis à atividade econômica e ao mercado de trabalho, continuam em patamar elevado. Esse comportamento mantém o Banco Central em alerta, já que esse grupo costuma ter maior persistência inflacionária.
Projeções para 2025: inflação e juros ainda elevados
Mesmo com o recuo esperado do IPCA em junho, instituições financeiras mantêm uma visão cautelosa para os próximos meses. O Daycoval, por exemplo, manteve sua projeção de inflação em 5,1% para o fim de 2025. A avaliação é de que o cenário macroeconômico ainda apresenta riscos para a convergência da inflação à meta.
Por isso, o banco acredita que a taxa Selic deve continuar em 15% até o final do ano, com o Comitê de Política Monetária (Copom) priorizando o controle da inflação diante de pressões persistentes.
A Monte Bravo, por sua vez, revisou sua estimativa do IPCA para 2025 de 5,7% para 5,5%. A instituição baseia sua projeção na expectativa de queda dos preços das commodities em reais, impulsionada por uma desaceleração global. Outro fator relevante é a revisão na trajetória cambial, com o dólar estimado em R$ 5,80 até o fim do próximo ano.