O setor público consolidado registrou em 2024 um gasto recorde com juros, alcançando R$ 950,423 bilhões, ou 8,05% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Esse valor, o maior da série histórica iniciada pelo Banco Central em 2002, supera em mais de R$ 200 bilhões o recorde anterior, de R$ 718,294 bilhões, registrado em 2023. A despesa com juros tem sido uma das principais responsáveis pelo déficit fiscal crescente no país e pela pressão sobre as finanças públicas.

O maior gasto da série histórica

O aumento das despesas com juros reflete o impacto da elevação das taxas de juros no Brasil, além do crescimento contínuo da dívida pública. Em termos nominais, o déficit fiscal também atingiu níveis alarmantes, totalizando R$ 997,976 bilhões em 2024. Esse resultado, o segundo maior da série histórica, só perde para o rombo de R$ 1,105 trilhão registrado em 2020, durante a pandemia de covid-19.

De acordo com o Banco Central, o aumento expressivo do gasto com juros em 2024 foi impulsionado principalmente pelo crescimento da própria dívida pública e pela perda nas operações de swaps cambiais. O chefe adjunto do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Renato Baldini, explicou em entrevista à imprensa que, além do aumento da dívida, a perda nas operações de swap contribuiu significativamente para o resultado de 2024.

Causas do aumento dos gastos com juros

O crescimento da dívida pública e os prejuízos com swaps cambiais são os principais fatores que explicam o aumento das despesas com juros em 2024. Baldini destacou que, além do aumento do montante da dívida, que naturalmente faz com que os juros sobre ela também aumentem, o impacto das operações de swaps cambiais foi ainda mais relevante. Em 2024, essas operações resultaram em uma perda de R$ 115,9 bilhões, enquanto em 2023 havia sido registrado um ganho de R$ 70,9 bilhões.

As operações de swap cambial são instrumentos utilizados pelo Banco Central para garantir a estabilidade da moeda, mas, como mostrou o desempenho de 2024, podem gerar perdas significativas em momentos de volatilidade cambial. Essas perdas, combinadas com o aumento da dívida pública, resultaram no recorde de gastos com juros.

O impacto nas finanças públicas

O impacto do aumento dos gastos com juros sobre as finanças públicas é evidente. Com uma dívida crescente e taxas de juros elevadas, o governo federal tem enfrentado dificuldades para equilibrar as contas públicas. O resultado negativo de R$ 96,117 bilhões com juros em dezembro de 2024, após um rombo de R$ 92,459 bilhões em novembro, é mais um reflexo desse cenário de desequilíbrio fiscal.

A despesa com juros não é apenas um reflexo da política monetária do país, mas também das escolhas de políticas fiscais do governo. O crescimento da dívida pública, alimentado por déficits fiscais sucessivos, tem gerado uma pressão cada vez maior sobre o orçamento. Além disso, o aumento da taxa básica de juros, definido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, tem um efeito direto sobre os gastos com juros, tornando o país mais vulnerável a variações no mercado financeiro.