O custo de financiamento de veículos no Brasil alcançou em fevereiro de 2025 o maior nível histórico, batendo os 29,5% ao ano. Esse aumento impacta diretamente as condições de crédito para consumidores que desejam adquirir um veículo. No entanto, a indústria automotiva segue com números positivos, refletindo a resiliência do setor, que registrou crescimento nas vendas, produção e exportações nos primeiros meses do ano.

O que está por trás do aumento do custo de financiamento?

De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o aumento das taxas de juros, impulsionado pela Selic elevada, é o principal responsável pela alta. Em 2024, a taxa estava em 24,5%, mas subiu para 29,5% nos primeiros meses de 2025, um aumento significativo que preocupa o setor. Esse dado representa o maior custo de financiamento da história, superando os índices anteriores desde o início da série histórica, em 2011.

A Selic, que passou de 10,75% para 13,25% ao ano nos últimos 12 meses, junto ao spread bancário, tem sido crucial para essa escalada nos juros. O presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, destacou a preocupação do setor com essa alta, afirmando que a situação pode impactar a continuidade do crescimento no mercado de veículos. “Até agora, os números são bons, mas isso pode afetar nosso mercado”, alertou Lima Leite durante a apresentação dos dados relativos ao primeiro bimestre de 2025.

Apesar disso, o mercado de veículos no Brasil tem demonstrado sinais positivos de recuperação econômica. Lima Leite acredita que o aumento da renda e a queda do desemprego, que ajudaram o Brasil a crescer 3,4% no ano passado, têm um papel importante na sustentação dos resultados favoráveis.

Crescimento no início de 2025

Apesar do aumento no custo de financiamento, os números de vendas e produção no início de 2025 são animadores. As vendas de veículos cresceram 9%, totalizando 356,2 mil unidades no primeiro bimestre, na comparação com o mesmo período de 2024. A produção, por sua vez, avançou 14,8%, com 392,9 mil unidades produzidas. As exportações também mostraram resultados excepcionais, com um aumento de 54,9%, alcançando 76,7 mil veículos vendidos no exterior, destacando-se principalmente para os mercados da Argentina, Colômbia, Chile e Uruguai.

O presidente da Anfavea destacou que, mesmo com os desafios impostos pela alta da Selic, a inadimplência do setor continua sob controle. Em fevereiro de 2025, a taxa de inadimplência para pessoas físicas foi de 4%, enquanto para pessoas jurídicas ficou em 2,6%, o que demonstra a saúde do mercado, mesmo em um cenário de juros elevados. A financiação de veículos segue com a aprovação de aproximadamente 45% das operações de crédito, enquanto cerca de 55% dos veículos são comprados à vista.

Aumento das importações e a concorrência com veículos chineses

Outro fator que vem gerando atenção no setor automotivo brasileiro é a concorrência crescente com veículos importados, especialmente os veículos chineses, que continuam a ganhar participação no mercado. Em fevereiro de 2025, as importações aumentaram 26,2% na comparação com o ano anterior, totalizando 75,2 mil unidades. O aumento da participação de veículos importados no mercado nacional, que representa 21% das vendas totais, tem levado o setor a pedir ações mais incisivas por parte do governo.

Diante dessa realidade, Márcio de Lima Leite defendeu a antecipação do aumento do Imposto de Importação de veículos eletrificados de 35%, originalmente previsto para 2026. A expectativa é que essa medida ajude a proteger a indústria automotiva nacional da concorrência externa, especialmente com os produtos chineses.

Impacto das políticas econômicas globais no Brasil

Além das questões internas, o setor automotivo também é impactado por fatores econômicos globais, como a política tarifária do governo dos EUA, sob a liderança de Donald Trump. O aumento das tarifas de importação de aço em 25% por parte do governo norte-americano tem gerado incertezas para a indústria brasileira, uma vez que o aço é um insumo fundamental para a produção de veículos.

Lima Leite destacou que, apesar da alta no custo do aço, não acredita que o preço do produto diminuirá no curto prazo, o que pode representar um desafio adicional para os fabricantes brasileiros. O impacto nas montadoras do México e EUA também gera insegurança, já que, com o aumento das tarifas, muitas empresas estão revisando suas estratégias e planos de produção.

Julia Peres

Redatora do Melhor Investimento.